(continuação)
Não há traço característico do progressismo que não esteja de algum modo relacionado com os grupos "proféticos"
carta de alforria: estão dessacralizadas e desalienadas da Religião.
e . Ainda mais, a Igreja-Nova é pobre no sentido material do termo. Ela não só recusa as Catedrais e Basílicas, em que o sacral estadeava triunfalisticamente a sua superioridade, mas, existindo na era dos pobres, rejeita qualquer riqueza, a qualquer título que seja.
f . Por fim, a Igreja-Nova é pobre porque é a Igreja dos pobres. Inimiga de todas as alienações, ela se sente adversa a todos os alienantes, de qualquer tipo e ordem, e conatural com a causa de todos os alienados. Por isto, os explorados e alienados da sociedade atual têm na Igreja-Nova o seu lugar próprio. E ela é por essência a defensora deles contra os detentores de autoridade ou superioridade terrena. Por razões análogas em sentido inverso, a Igreja “constantiniana” está acumpliciada, por sua própria natureza, com todas as oligarquias alienantes e exploradoras.
4ª desalienação da Igreja: em relação à Hierarquia Eclesiástica
Uma vez que a autoridade é sempre alienante, é mister que não exista. E se existir, será somente na medida em que faça a vontade dos alienados, que assim escapam – pelo menos em larga medida – ao jugo da alienação.
Na Igreja “constantiniana”, a Hierarquia está investida do tríplice poder de ordem, de magistério e de jurisdição. A Igreja-Nova, esvaziando de conteúdo sobrenatural os Sacramentos, que estão sob o poder da Hierarquia de ordem, negando o Magistério, tinha em rigor de lógica que atentar contra a Hierarquia de jurisdição.
Assim, a existência de um Papa, Monarca espiritual rodeado do Colégio dos Príncipes eclesiásticos, que são os Bispos – dos quais cada qual é, na respectiva Diocese, como que um monarca sujeito ao Papa – não é compatível com a Igreja-Nova. Como também não podem subsistir os Párocos, que regem, sob as ordens do Bispo, porções do rebanho diocesano.
Cumpre, para desaliená-la inteiramente da Hierarquia, democratizar a Igreja. É preciso constituir, nEla um órgão representativo dos fiéis que exprima o que os carismas dizem no íntimo da consciência destes. Órgão eletivo, é claro, e que represente a multidão. Órgão que faça pesar decisivamente sua vontade sobre os Hierarcas da Igreja, os quais, também é claro, deverão, daqui por diante, ser eletivos. Em nosso entender, em rigor de lógica, esta reforma da estrutura da Igreja pleiteada pelo “movimento profético” só pode ser vista como uma etapa da realização cabal dos objetivos dele. Pois a desalienação completa envolveria, em estágio ulterior, a abolição de toda a Hierarquia.
Considerando, entretanto, tão somente a reforma que os “grupos proféticos” agora explicitamente pleiteiam, podemos dizer que ela transformaria a Igreja numa monarquia como a da Inglaterra, isto é, um regime efetivamente democrático, dirigido fundamentalmente por uma Câmara popular eletiva, onipotente, no qual se conserva pró-forma um Rei decorativo (no caso da Igreja-Nova, o Papa), Lords sem poder efetivo (os Bispos e Párocos), e uma Câmara alta de aparato (o Colégio Episcopal). E ainda, para que a analogia entre o regime da Inglaterra e a Igreja-Nova fosse completa, seria preciso figurar um Rei e Lords eletivos (isto é, Papa e Bispos eleitos pelo povo).
Para completar o quadro da democratização, cumpre acrescentar que, na Igreja-Nova, as paróquias seriam grupos fluidos e instáveis, e não circunscrições territoriais definidas como soem ser hoje. Esta fluidez, pensamos, também se estenderia, em rigor de lógica, às Dioceses. A Hierarquia já não seria na Igreja senão um nome vão.
5ª desalienação da Igreja: em relação ao Poder Público
Esta forma de desalienação já está incluída, a títulos diferentes, nos itens anteriores. A Igreja “constantiniana”, que tem um governo próprio e soberano em sua esfera, deseja a união e a colaboração com o Poder Temporal. Nisto, de algum modo Se alienaria a ele, e de algum modo o alienaria a Si.
A Igreja-Nova, por todos os motivos expostos, declara não precisar do Poder Público, nem desejar com ele relações de Poder a Poder. A mútua alienação terá, deste modo, cessado.
Em conclusão
Assim em conclusão, a Igreja-Nova será inteiramente desalienada, e deixará inteiramente de ser alienante.
III – Só a luta de classes conseguirá a desalienação dentro da Igreja
1 . a Hierarquia ajudou a execução do programa “profético” de desalienação; porém, não pode dar o passo final
A desalienação total, pela qual a Igreja “constantiniana” Se deve metamorfosear em Igreja-Nova, poderão os “grupos proféticos” esperá-la da Hierarquia?
Tendo em vista que membros desta têm apoiado muitas medidas desalienantes, dir-se-ia que sim. Tanto mais quanto os “grupos proféticos” afirmam que a obra do Concílio Vaticano II teve um caráter desalienante, isto é, dessacralizante e igualitário, que representa um primeiro passo – se bem que tímido – no caminho de mais radicais transformações.
Entretanto, sem desdenhar o proveito que asseveram auferir da exploração de atitudes de certos Hierarcas e das decisões do II Concílio Vaticano, os “grupos proféticos” julgam que a desalienação completa só poderá vir de uma luta de classes entre o Episcopado e o Clero de um lado, e os leigos de outro.
A razão disto, alegam eles, está em que de um Hierarca simpático à desalienação se podem esperar concessões que lhe reduzam os poderes; mas, por mais simpático que seja, não há como esperar dele uma renúncia completa, que equivaleria a um suicídio.
2 . O meio para chegar à vitória da revolução desalienante na Igreja: a insurreição do laicato
Assim, cumpre conscientizar o laicato para que, em luta com os Hierarcas, exija as reformas de estrutura na Igreja, que A democratizem. Em suma, o remédio está na luta de classes dentro da Igreja.
Essa luta deve ser feita por etapas:
a – campanha de descrédito contra a Igreja “constantiniana”;
b – insuflação do desejo das reformas de estrutura da Igreja;
c – agitações, greves;
d – capitulação da Hierarquia e implantação das reformas.
IV – Os “grupos proféticos”, artífices da luta de classes pela desalienação da Igreja
Os novos carismas de cuja vida a Igreja-Nova viverá, recebe-os hoje não mais a Hierarquia, mas o povo fiel. Cabe pois à Hierarquia, como vimos, obedecer ao povo.
A todo o povo? Este deve ser, se não governado, pelo menos iluminado e liderado pelos grupos carismáticos e proféticos que o Espírito suscita na Igreja para darem testemunho.
O conjunto desses grupos formará, pois, dentro da Igreja invertebrada com que sonham, uma rede de influências à qual tocará o verdadeiro poder.
Isto aumenta o interesse do estudo sobre a estrutura e os métodos dos “grupos proféticos”, que adiante faremos.
É aliás entre os seus membros, representantes naturais do laicato, que se deverá recrutar a Câmara popular dentro da Igreja-Nova.
Quais são os meios de que dispõe o “movimento profético” para promover a subversão reformista na Igreja?
1 . A extensão do “movimento profético”
Os “grupos proféticos” são em grande número. Existem em muitos países. Eles correspondem – pelo convívio íntimo que proporcionam – a anseios de sociabilidade profundos, do homem contemporâneo perdido e isolado no anonimato das grandes multidões. Por este e outros motivos, seu número tende a multiplicar-se indefinidamente.
2 . A estrutura secreta do “movimento profético”
Essa estrutura é flexível e muito adequada para promover a subversão na Igreja.
Os “grupos proféticos” são verdadeiras células, de número variável de pessoas. Em todo caso, tal número nunca chega a ser grande. Dessas pessoas, nem todas se põem ao corrente, com a mesma profundidade, dos fins, dos métodos e das conexões do grupo. Cada uma das células é assim uma minúscula sociedade secreta.
Cada célula tem contato habitual com outras do mesmo gênero, o que faz do movimento uma imensa engrenagem de uma miríade de pequenas peças.
A essa unidade funcional se soma outra, mais preciosa: todas visam o mesmo fim, ou seja, a luta de classes para impor na Igreja uma reforma desalienante.
Há que mencionar ainda a uniformidade com que empregam, quer para o recrutamento, quer para a subversão, os mesmos métodos complicados e subtis. Destes métodos falaremos adiante.
Todos estes fatores fazem dos “grupos proféticos”, vistos em seu conjunto, um movimento impressionantemente uno.
Terão eles, como expressão dessa unidade, uma direção central suprema? O estudo de “Ecclesia” não o diz explicitamente. Mas os dados fornecidos pela revista tornam impossível não responder pela afirmativa. Pois não se vê como conservar fiéis a uma doutrina complexa, manter uniformes em sua estruturação interna delicada, em seus métodos requintadamente especializados, uma tal miríade de corpúsculos existentes em países diversos e distantes. Quanto maior a multiplicidade e a variedade de um todo, tanto maior a necessidade de um vínculo estrutural forte para o manter unido. Também em sua direção central, os “grupos proféticos” são, pois, - concluímos nós – uma organização clandestina.
Por que modo essa direção central mantém efetivo e ignorado o seu poder sobre as células? As aparências, respondemos, fazem pensar em um compromisso assumido por elementos mais graduados que, eles sim, seriam postos ao corrente da existência da direção central.
Qual o motivo de se manter isto em mistério? A razão é simples. Os “grupos proféticos” se apresentam como fruto espontâneo de uma chuva de carismas a animar um laicato que uma evolução profundamente natural, e também espontânea, tornou adulto. Eles não podem, pois, tomar ares de um movimento organizado por uma pequena cúpula, astuta e eficiente.
3 . Os métodos de recrutamento e formação; a iniciação “profética”
Um “grupo profético” penetra, vive e se multiplica sempre em um ambiente ou instituição católica, como a bactéria penetra e vive no corpo. Ele nasce, em geral, da ação de um ou alguns agitadores discretos, que fazem reuniões sobre temas simpáticos e muito genéricos, - a paz, por exemplo. Entre os ouvintes dessas reuniões se recruta o primeiro punhado de adeptos.
Para não despertar desconfianças, os agitadores convidam, para uma ou outra reunião algum Sacerdote ou Bispo que – ingênuo ou cúmplice, supomos – aprove e abençoe.
Recrutado paulatinamente um número maior de membros, começa a inoculação subversiva.
Essa inoculação tem duas fases. Na primeira, procede-se à difamação gradual da Igreja “constantiniana”. Na segunda, ateia-se fogo aos espíritos, fazendo-os desejar as reformas que transformem a Igreja “constantiniana” em Igreja-Nova.
Esse trabalho começa lentamente, por pequenos sarcasmos lançados aqui e acolá, por frases soltas, por slogans cuidadosos. Os membros que corresponderem favoravelmente a esses estímulos subversivos irão sendo promovidos ao conhecimento de maiores horizontes revolucionários. Os outros serão postos em estagnação, emudecidos ou alijados.
V . Como os “grupos proféticos” fazem a luta de classes na Igreja
Formada assim uma rede suficientemente ampla de “grupos proféticos”, o movimento está apto para sair da sombra e entrar estrepitosamente em ação. Está aos olhos de todos como se faz uma agitação eclesiástica. Limitamo-nos a resumir o que todos veem.
Ajudados habitualmente por uma forte publicidade, à qual tudo leva a crer que o IDO-C não seja alheio, certos ativistas começam a promover greves de paroquianos contra algum Bispo ou Padre que não aceite de pronto reivindicações descabeladas. Se não são greves, são passeatas, ocupação de igrejas, manifestos pela imprensa, etc. Em suma sempre uma luta de classes para levar o laicato a destruir as alienações de que o Clero seria o beneficiário alienante e explorador.
A publicidade que tais atos alcançam é evidentemente de molde a atrair para a agitação novos recrutas impressionáveis, ou desejosos de aparecer. O movimento engrossa, e assim se torna apto a mais ousados atos de subversão.
O conjunto destes fatos cria um clima de terrorismo publicitário contra os recalcitrantes, que isola deles amigos e até familiares e desse modo reduz ao mutismo quase todos os que estariam dispostos a reagir.
Esse terror – nos lugares onde há “grupos proféticos” – é preparado com longa antecedência por estatísticas e inquéritos sociais tendenciosos, elaborados e divulgados pelos “grupos proféticos”. Estes conseguem, assim, fazer crer que a imensa massa dos fiéis deseja as reformas na Igreja, que tal é o espírito irrefragável dos tempos, e que opor-se às reformas é o mesmo que querer deter com as mãos a maré montante. Os sintomas, reais ou forjados, das tendências revolucionárias das multidões são os “sinais dos tempos”. Captam-nos com perspicácia especial os que possuem “carismas proféticos”. Graças ao alarido dos “grupos proféticos”, a subversão eclesiástica, obra de uma minoria, parece corresponder assim aos anseios mal contidos de multidões inteiras enfurecidas por se julgarem alienadas.
O espírito da época, percebido “profeticamente” nos “sinais dos tempos”, é a norma suprema, ensinam os “grupos proféticos”. Não há maior loucura do que tentar resistir-lhe: é ser anacrônico, ridículo, desprezível. A Igreja “constantiniana” tinha a pretensão de modelar os tempos: a Igreja-Nova sabe que, pelo contrário, deve deixar-se modelar por eles.
Assim, ou a Igreja aceita as reformas impostas pela evolução e Se transforma em Igreja-Nova, ou morre.
A esta pressão, feita no interior mesmo da Igreja, em tantos países, pela boca de todos os membros dos “grupos proféticos” e pelas grandes tubas publicitárias do IDO-C, é dificílimo resistir.
A resistência só é possível a espíritos muito seletos, de uma firmeza de princípios inabalável, dispostos a arcar com os maiores dissabores. E os mais inesperados.
VI – Relações entre o “movimento profético” e o progressismo
O público brasileiro já conhece de sobejo o conjunto de aspirações, doutrinas, transformações e tumultos que caracterizam, na ordem do pensamento e da ação, o chamado progressismo católico. E tal é a afinidade dos “grupos proféticos” – como aliás também do IDO-C – com o progressismo, que nossos leitores se terão perguntado a todo momento qual a relação entre este e aqueles.
A pergunta é das mais procedentes, pois não há um só traço característico do progressismo que não esteja explícita ou implícita, próxima ou remotamente relacionado com os “grupos proféticos”.
A ação do progressismo é tão ampla, e tão variada a gama de seus matizes – que vão desde o “moderado” e “conservador” até o revolucionário comunista – que nos parece exagerado atribuir ao “movimento profético” e ao IDO-C a causalidade da corrente progressista em todo o mundo. É certo, entretanto, que as “minorias proféticas” merecem ser qualificadas de progressistas.
Esta observação alerta o espírito para outro problema. Se, ao contrário do que à primeira vista se pode supor, o “movimento profético” tem sua causa em uma organização semiclandestina definidamente estruturada, também não haverá uma entidade mais vasta, que seja a causadora do progressismo em toda a Igreja? A resposta a esta importante pergunta transborda dos limites do presente comentário.
VII – Os “grupos proféticos” estão a serviço do comunismo
Pelo que até aqui ficou exposto, consideramos que é gravemente de se suspeitar que os “grupos proféticos” estejam a serviço do comunismo. Para tal, basta ponderar que:
a – os “grupos proféticos” são afins com o comunismo;
b – eles são úteis ao comunismo;
c – como os adeptos deste soem criar e dirigir movimentos afins que atuam em proveito da causa comunista, é sumamente provável que os “grupos proféticos” tenham sido criados pelos comunistas e sejam por estes dirigidos;
d – é tática marxista habitual infiltrar-se nos grupos afins para os pôr a serviço da causa comunista; nestas condições, mesmo no caso de os “grupos proféticos” não terem sido criados pelos comunistas, é pelo menos altamente provável que sejam dirigidos por estes, para a infiltração vermelha na Igreja;
e – fatos expressivos adiante indicados corroboram fortemente estas suspeitas.
Detenhamo-nos um pouco no assunto.
As afinidades entre os objetivos dos “grupos proféticos” e os do comunismo são evidentes: os primeiros visam desalienar, e portanto dessacralizar e tornar rigorosamente igualitária a Sociedade espiritual, que é a Igreja, e incitam os católicos em favor das desalienações na sociedade temporal; o comunismo visa desalienar e tornar rigorosamente igualitária a mesma sociedade temporal. Pode-se dizer, assim, que os “grupos proféticos” fazem a revolução comunista dentro da Igreja.
À medida que faz adeptos, a Igreja-Nova forma simpatizantes do comunismo e até comunistas militantes
Que vantagem tem nisto o comunismo? A Igreja-Nova, resultante da ação do “movimento profético”, não crê num Deus pessoal, mas num Deus difuso e impessoal, que é imanente e onipresente na natureza. Ela crê na evolução, no progresso e na técnica como as grandes forças inelutáveis que animam o movimento universal, remedeiam a desdita do homem e dão rumo à História. Num lance de olhos é fácil ver que essa doutrina importa em afirmar a divinização da evolução, do progresso e da técnica. O que é extraordinariamente parecido, se não idêntico, com o conceito evolucionista e materialista de Marx. A Igreja-Nova não tem, para se opor ao comunismo, os mesmos motivos religiosos invencíveis que tem levado a Igreja “constantiniana” a Se opor a este como a seu pior adversário. Pelo contrário, a teologia da Igreja-Nova prepara os espíritos a aderir a ele.
Em outros termos, à medida que faz adeptos, a Igreja-Nova forma simpatizantes do comunismo, ou até comunistas militantes.
Também em face dos aspectos sociais e econômicos do marxismo, a atitude da Igreja-Nova difere da posição tradicional da Igreja “constantiniana”. Com efeito, esta última – com base no 7º. e 10º. Mandamentos – condena o regime social e econômico comunista como imoral, e afirma a legitimidade da propriedade individual, do capitalismo e do salariado, de sorte que, ainda se um regime vermelho reconhecesse à Igreja existência legal e liberdade de culto, Ela seria irredutivelmente anticomunista. Pelo contrário, a Igreja-Nova, infensa a todas as alienações, só tem motivos para ver com bons olhos a supressão de situações patrimoniais e relações de trabalho que o comunismo tacha de alienantes.
Assim, a vitória da Igreja-Nova teria como consequência fatal a transformação da Religião Católica – também em matéria social – de força irredutivelmente contrária ao comunismo, em força auxiliar ou até propulsora deste.
Qual o alcance concreto dessa eventual transformação?
Há no mundo cerca de 500 milhões de católicos; transformá-los de inimigos inflexíveis em auxiliares ou militantes do comunismo, que estupenda conquista seria para este!
O que o comunismo até aqui não conseguiu, e jamais conseguiria pelas perseguições mais atrozes, ele o alcançaria, sem nenhuma violência e nenhum risco de suscitar perigosas reações, pela simples metamorfose incruenta da Igreja Católica em Igreja-Nova.
Diante desta perspectiva, as graves suspeitas que, baseados no estudo de “Ecclesia”, levantamos inicialmente sobre a posição do movimento comunista perante o “movimento profético”, mudam de colorido. Elas se transformam em certeza moral. Quem conheça a suma habilidade do comunismo internacional em infiltrar e neutralizar as forças adversárias, e em apoiar todos os movimentos subversivos favoráveis, não pode admitir que os dirigentes comunistas estejam indiferentes, inertes e alheios em face do êxito tático incomparável que lhes poderá advir da infiltração dos “grupos proféticos” entre os 500 milhões de católicos, da neutralização desta força imensa, e até de seu aproveitamento em favor da causa marxista.
Ninguém de bom senso pode admitir que, favorecendo em tão grande escala o comunismo, a Igreja-Nova, por sua vez, não seja por ele largamente ajudada. Dado in concreto o proselitismo sanhudo e a incontável cópia de recursos do comunismo, tem plena aplicação nesta temática o raciocínio: pôde, quis, logo fez (“potuit plane; si igitur voluit, fecit”). Apliquemo-lo aos fatos:
os comunistas podem ajudar de mil modos o triunfo da Igreja-Nova, e nesta só encontram predisposição para aceitar este auxílio;
ora, é claro que os comunistas querem ardentemente tal triunfo;
logo, eles favorecem potentemente o “movimento profético”, artífice da Igreja-Nova. E se o favorecem tão largamente, é claro que tem todos os meios para nele se infiltrar e o dirigir.
No estudo de “Ecclesia” há mais de um dado concreto que fala em favor desta conclusão.
Um deles é que os “grupos proféticos” aconselham os seus membros a recusar qualquer cooperação com os regimes não comunistas, por considerá-los alienantes. Porém recomendam que colaborem com os regimes comunistas, pois os consideram desalienantes.
Outro fato, noticiado no tópico final de “Ecclesia” que deixamos para publicar no próximo número, é que os “grupos proféticos” alcançaram bom desenvolvimento na Alemanha Oriental, o que jamais seria possível sem o agrado das autoridades comunistas.
Não seria demais lembrar as afinidades do IDO-C com o movimento comunista. Sendo o IDO-C também afim com os “grupos proféticos”, decorre igualmente daí uma afinidade entre estes e o movimento comunista. Pois duas entidades afins, sob o mesmo título, com uma terceira, são afins entre si.
VII – Viabilidade do plano comunista acerca da Igreja-Nova
Uma última pergunta, de alcance estratégico, ainda resta por formular. Os “grupos proféticos” e seus comparsas marxistas esperam seriamente conseguir a metamorfose de toda a Igreja “constantiniana” em Igreja-Nova? O estudo de “Ecclesia” nos fornece, sobre este ponto, alguns dados que servem de matéria para conjecturas.
A despeito de inculcar seu programa reformista como um imperativo dos tempos, ditado pelo clamor indignado de imensas multidões de alienados em revolta, os líderes do “movimento profético” confessam que, impostas integralmente na Igreja suas reformas, estas acarretarão tantas dispersões e apostasias, que a Igreja-Nova ficará reduzida provavelmente a um pequeno número de fiéis.
Isto posto, pergunta-se, que lucro teria o comunismo em tal caso?
Imaginemos verificadas as esperanças dos reformadores. Alguns tantos Hierarcas e Sacerdotes cúmplices, e outros tantos débeis e atemorizados, iriam cedendo a pressões, sempre mais violentas, dos “grupos proféticos”. A onda reformista ir-se-ia avolumando ameaçadoramente. A heresia se iria tornando então mais patente. A reação legítima dos fiéis também cresceria. E, à medida que crescesse, começariam os atos persecutórios dos maus pastores contra estes: censuras de cá, excomunhões de lá, interditos de acolá. Um fosso se abriria entre ambos os lados. Ninguém sabe que proporções alarmantes a crise poderia ganhar em tal caso. Basta pensar na heresia ariana do século IV, que conquistou quase toda a Cristandade. Naquela conjuntura, que confusões terríveis, que provações tremendas a Providência permitiu para castigo dos homens.
Confusão também estarrecedora ocorreu sob o pontificado de Honório I. Os teólogos afirmam que esse Papa, por suas omissões e sua ambiguidade, favoreceu a heresia monotelita. Como é sabido, escreveu ele uma carta ao Patriarca Sérgio, de Constantinopla, vazada em termos tais, que veio a ser condenada pelo VI Concílio Ecumênico, aprovado pelo Papa São Leão II. A confusão criada por esta carta foi tamanha, que até hoje grande número de teólogos ainda considera obscuro o problema.
Será suficiente que os comunistas abram qualquer compêndio de História Eclesiástica, para verem que desgraças dessas são possíveis. Em consequência, está na lógica das coisas que tentem tudo para as reproduzir em nossos dias.
É o que por certo eles visam com os “grupos proféticos”, e isso ainda mesmo que estes não consigam reunir em torno de si senão poucos católicos, ou antes, “ex-católicos”. Que imenso lucro teria o comunismo se esta hipotética revivescência do passado se transformasse em realidade...
Claro está que, mesmo em tal caso, o Espírito Santo velaria pela integridade do depósito da Fé. A infalibilidade papal jamais deixaria de existir. A Igreja imortal não morreria, e em sua constituição divina haveria remédio para tão calamitosa situação(2).
(2) Sobre essas complexas matérias, é interessante estudar, por exemplo: Papa Adriano II (All. 3 Conc. VIII act. 7); Papa Inocêncio III (sermo IV in cons. Pont.); S. Antonino (S. Th., III, 23-24); S. Roberto Bellarmino (De R. Pont. 2, 30; 4, 6 ss.); Suárez (De Fide, X, 6; De Leg., IV, 7); S. Afonso (Th. Mor., I, nn. 121-135); Bouix (Tr. De Papa, II, p. 635-673); Wernz-Vidal (I. Can, II, pp. 517 ss.); Card. Billot (De Eccl. Chr. Pp. 609 ss.); Vermeersh-Creusen (Ep. J. Can., I, n. 340); Card. Journet (L’Egl. Du Verbe Inc., I, pp. 625 ss.; II, pp. 821, 1063 ss.). Ver também Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, artigos “Qual a autorid. doutr. dos Doc. Pont. e concil.?” , “Não só a heresia pode ser condenada pela Autorid. Ecl.”, “Atos, gestos, atitudes e omissões podem caracterizar o herege”, “Respondendo a objeções de um imaginário leitor progressista”, em “Catolicismo” , n.os 202, 203, 204 e 206, de out., nov. e dez. 1967 e fev. 1968.
Peçamos à Providência que poupe isto à Esposa de Cristo. Mas ainda que Ela permitisse esta prova, a Igreja acabaria por triunfar. Assiste-A a promessa divina, e A reconfortam as palavras de Nossa Senhora de Fátima: “Por fim meu Imaculado Coração triunfará!”.
Conclusão da página 6
A SUPER POTÊNCIA PUBLICITÁRIA
imprensa católica de maior calibre. Em seguida, esta palavra de ordem vai ecoando nos jornais e revistas de porte médio, e obtém sua repercussão última nos órgãos de imprensa ínfimos. Assim, por uma verdadeira “correia de transmissão de ideias”, o “Catholic Establishment” domina toda a imprensa segundo a qual se modela a opinião católica norte-americana.
Como consequência desse influxo indireto do “Establishment” sobre os jornais que não lhe pertencem, são muito poucos os periódicos católicos dos Estados Unidos que hoje não servem para fazer eco, em larga medida, aos pontos de vista do “Establishment” e para amplificá-los. E como estes periódicos são ainda razoavelmente ortodoxos, sobre eles se exerce constante e crescente pressão para que se “atualizem” e se tornem progressistas. Quanto aos jornais e revistas de âmbito nacional, os que ainda militam contra o “Establishment” são apenas dois: “The Wanderer”, o semanário católico nacional que se publica em Saint Paul, Minnesota, e “Triumph”, revista mensal recentemente fundada e publicada por Brent Bozzel.
Entre os principais jornais do “Catholic Establishiment” estão o “National Catholic Reporter”, “Cross Currents”, “Jubilee”, “Commonweal”, “Continuum”, e “The Critic”. Merece destaque o controle que o “Establishment” adquiriu recentemente sobre a importantíssima “Catholic Press Association”.
Mútua propaganda dos “raptores de microfones”. No seu afã de dominar a opinião católica, o “Establishment” constituiu uma verdadeira confraria – aberta, mas exclusiva – de dezenas de eruditos, jornalistas, ativistas e editores, a qual se “apoderou de todos os microfones em sua determinação de falar pela Igreja”. Esses “raptores [sizers] de microfones” agem de pareceria e praticam o método que se poderia denominar de “mútuo incensamento”: “Escrevem para os periódicos católicos mais influentes e os editam... Publicam os manuscritos uns dos outros, fazem recíprocas e calorosas recensões de seus respectivos livros, citam-se mutuamente nas conferências que se convidam uns aos outros a dar, reúnem essas conferências e artigos em livros para um novo turno de discussões favoráveis”. Tudo isto é John Leo quem o refere.
Se ainda acrescentarmos que o “Catholic Establishment” dos EUA controla “a maioria das grandes séries de conferências”, como confessa John Leo, e isto através, sobretudo, de duas agências destinadas a organizar conferências – a “University Speakers” e o “National Lecture Service” – entenderemos claramente o significado do termo “raptores de microfones”.
Despistamento. Mas para evitar a impressão de que os intelectuais orquestrados pelo discreto dinossauro não têm autonomia e obedecem à mesma batuta, alguns debates sobre pontos secundários são organizados entre eles. Assim, criam a ilusão de livre debate (cfr. John Leo, art. cit.).
Conspiração. Aplicando o método do mútuo incensamento, os integrantes do “Establishment” conseguem fabricar artificialmente a reputação de seus confrades, e mesmo de membros do Episcopado alinhados à sua ideologia, os quais são convertidos, da noite para o dia, em figuras populares. Aos Prelados que não se ajustam à linha do “Establishment” este trata imediatamente de desacreditar, o que representa um meio eficacíssimo de dissuadir os seus colegas de procederem da mesma maneira.
Fica, pois, claro que estamos em presença de uma verdadeira conspiração. É o que reconhece John Leo, referindo-se nestes termos ao “Catholic Establishment” dos EUA. “Embora seja difícil intitulá-lo de conspiração no sentido político moderno da palavra, ele o é no sentido dado por John Courtney_Murray, de “respirar junto”. No “Establishment” todos respiram junto”.
“Establishment” católico e “Establishment” laico
Como seria fácil de prever, estabeleceu-se desde logo uma ligação entre o “American Catholic Establishment” e o análogo grupo de pressão laico dos EUA. Esta ligação se detecta a partir do Centro de Estudo das Instituições Democráticas, que “Approaches” apresenta como o máximo pilar do “Secular Establishment”. Quatro importantes membros do “Catholic Establishment” têm parte ativa nos trabalhos desse Centro.
O Centro de Estudo das Instituições Democráticas é constituído por elementos de todos os matizes – católicos-progressistas, protestantes, maçons, judeus, comunistas, angustiados peritos em demografia, ardorosos planificadores da família, cavalheiros ultra humanitários, pacifistas irredutíveis, coexistencialistas frenéticos, etc. Entre os seus objetivos, “Approaches” assinala o intento de promover uma fusão do comunismo e do capitalismo sob os auspícios de “algum sistema de governo mundial”. Como metas “práticas”, o Centro propugna no momento a admissão da China Comunista na ONU e a retirada dos Estados Unidos do Vietnã, além de uma revisão radical da política exterior do Ocidente, que considera muito recalcitrantemente anticomunista.
“Approaches” se detém em mostrar a fundamental importância, para o “Catholic Establishment”, de sua ligação com o “Secular Establishment”. Foi graças a este que o grupo congênere católico conseguiu que sua voz fosse difundida através da poderosa “mass media” leiga. Foi-lhe possível, assim, dar a impressão de que, enquanto a Igreja “pré-conciliar” era um “ghetto”, fechado, afastado por completo dos assuntos da sociedade humana, a Igreja encabeçada pelo “Establishment” é capaz de dizer uma palavra decisiva nos conselhos e assembleias humanas, e quem quer que se interponha no caminho de sua marcha para a frente, não pode ser amigo de Deus.
No caso particular do “Catholic Establishment” francês, é a suas ligações com o “Establishment” laico (maçônico e comunista) que ele deve o fato de que seus pontos de vista sejam espelhados fielmente em “Le Monde” (por Henri Fesquet), em “Le Figaro” (pelo Pe. Laurentin), e até em “L’Humanité” (órgão do Partido Comunista francês).
Onde entra o IDO-C
A ligação entre o IDO-C e o “Catholic Establishment” fica suficientemente visível quando se considera que cinco pessoas dentre as 21 que compõem o Comitê Internacional para o Desenvolvimento da Documentação e Informação Religiosa (do IDO-C) são figuras-chave do “Establishment”. Na Inglaterra essa vinculação se manifesta, sobretudo, através do certamente pró-comunista Neil Middleton, de “Slant”, o qual é, ao mesmo tempo, do “Establishment” inglês e do Comitê Executivo Internacional do IDO-C. “Approaches” cita outros exemplos de ligações desse gênero.
Tendo seu centro em Roma e estendendo suas ramificações pelo mundo inteiro, o IDO-C vem a ser para o “Catholic Establishment” uma organização inapreciável para reforçar suas pretensões de se substituir ao Magistério da Igreja. Por outro lado, o IDO-C pode “mostrar a sua face”, enquanto o grupo de pressão internacional fica na sombra.
Graças ao IDO-C, tornou-se possível a infiltração da ideologia do “Catholic Establishment” em certas zonas da comunidade católica que até então se haviam mostrado impermeáveis a ele.
Foi também através do IDO-C que, nos EUA, o “Catholic Establishment” conseguiu estabelecer relações diretas e quase institucionais com o poderoso “Establishment” leigo, cujas tendências esquerdizantes já apontamos.
Ramificações do IDO-C pelo mundo inteiro
“Approaches” termina seu dossier sobre o IDO-C apresentando uma lista de membros do Comitê Internacional para o Desenvolvimento da Informação e Documentação Religiosa, pertencente ao IDO-C. Nessa relação – procedente do próprio IDO-C – constam nomes do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, Uruguai, além de países de outros continentes. É interessante percorrer essa lista para se ter uma ideia da extensão, no mundo inteiro, da conjuração progressista a cargo do IDO-C.
Ressalva
É bem evidente que, dado o caráter sub-reptício da atuação do IDO-C, não se pode afirmar que cada uma das pessoas que a ele se filiaram sirva consciente e intencionalmente à causa dele. É uma ressalva de “Approaches” que parece até desnecessária à vista da própria índole do IDO-C...
Doutrina integral
Qual será o “credo integral” que o IDO-C infiltra assim nos meios católicos?
As informações de “Approaches” não fornecem maiores dados a respeito. Para se ter uma resposta completa é preciso ler o artigo de “Ecclesia” que “Catolicismo” reproduz nesta mesma edição.
De qualquer modo, é incontestável a enorme importância das revelações de “Approaches”, que registramos para a análise de todos os interessados.