(continuação)

Tal como a Revolução, o progressismo é sempre pacifista e antimilitarista

comedimento, de reformadores da mesma Igreja. [...] Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. — Estes realmente, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja tramam seus perniciosos conselhos; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dEla que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles A conhecem" (Encíclica "Pascendi Dominici Gregis", de 8 de setembro de 1907). E obstinadamente "eles continuam; continuam, com desprezo das repreensões e condenações, ocultando sua audácia inaudita com o véu de aparente humildade. Simulam finalmente curvar a cabeça; no entanto a mão e o pensamento prosseguem o seu trabalho com ousadia ainda maior. E assim avançam com toda a reflexão e prudência, tanto porque estão persuadidos de que a autoridade deve ser estimulada e não destruída, como também porque precisam permanecer no seio da Igreja, para conseguirem pouco a pouco assenhorear-se da consciência coletiva, transfomando-a" (São Pio X no Documento citado).

Com o progressismo vemos a adoção da mesma tática, porém com um maior grau de desembaraço no que diz respeito à propagação do erro. Quanto à persuasão de que a autoridade deve ser estimulada e não destruída, mais um passo foi dado pelos progressistas no sentido revolucionário: acatam seus superiores, mas unicamente quando estes pensam como eles. Se a autoridade não for progressista, ou se o seu progressismo não estiver na medida do de seus comandados, é certa a explosão de indisciplina, registrando-se expressivos exemplos nesse particular em todo o orbe católico.

Alta velocidade e marcha morosa

A obra revolucionária vem sendo realizada em diferentes velocidades, através dos séculos. O progressismo, que surgiu na presente fase da Revolução, de certo modo participa de todas elas, seja da alta velocidade dos que aderem sem mais à linha marcusiana ou anarquista, seja da marcha morosa dos partidários da terceira-força, aos quais parecem repugnar os excessos dos ferrabrases da revolução radical, mas que votam pertinazmente uma hostilidade velada e muitas vezes aberta aos contra-revolucionários que não pactuam com qualquer espécie de disfarce da Revolução.

Poder-se-á objetar que é injusto equiparar aos progressistas os adeptos da terceira-força. Os fatos, porém, costumam ter mais eloquência que as palavras. Podemos admitir que maior ou menor número deles não pertença ex professo às hostes progressistas, mas a verdade é que, consciente ou inconscientemente, a terceira-força trabalha como uma espécie de linha auxiliar do progressismo, pelo menos ao obstar os esforços daqueles que lutam contra a hidra revolucionária.

Um estado de coisas baseado no sonho gnóstico

Se considerarmos a Revolução como a define o estudo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (Parte I, cap. VII, 2), isto é, como um movimento que visa destruir a ordem legítima, para pôr em seu lugar um estado de coisas ilegítimo, veremos que o progressismo se enquadra rigorosamente dentro do plano revolucionário.

O que o progressismo se empenha em destruir é toda uma ordem de coisas legítimas, toda uma visão do universo e um modo de ser do homem, para substituí-los por outros radicalmente contrários. Nem se diga que estamos confundindo a atual "ordem estabelecida", que os progressistas tanto increpam, com uma ordem de coisas baseada na Revelação e na Lei Natural. Fazendo parte do processo revolucionário, o progressismo, através de seus mais autorizados expoentes, deseja aquilo que deseja a Revolução: a eliminação da Igreja que chamam constantiniana e da Cristandade, para substituí-las por um estado de coisas baseado no sonho gnóstico que constitui a essência de todos os grandes movimentos heréticos surgidos ao longo dos últimos vinte séculos.

Levanta-se o orgulho revolucionário contra a hierarquia religiosa e social, e em seu lugar se propõe implantar o mais completo igualitarismo. Levanta-se a sensualidade contra o freio a que devem estar sujeitas as paixões desordenadas, e em seu lugar se propõe implantar o mais descabelado domínio dos instintos.

Como consequência do liberalismo e do socialismo que lhe são afins, o progressismo acaba por negar a própria noção de pecado. E assim "a conceição imaculada" da pessoa humana e das massas é um falso conceito que o progressismo partilha com as demais alas revolucionárias.

Falsamente pacifista, e antimilitarista

Encerremos estes comentários com mais um aspecto revolucionário do progressismo, que é seu caráter falsamente pacifista, e antimilitarista, como decorrência do sonho utópico da abolição das guerras, e por conseguinte das Forças Armadas, pelas conquistas da ciência e da técnica sob a égide do totalitarismo socialista. Os conselhos de D. Helder Câmara ao Pentágono, no recente pronunciamento a que atrás aludimos, correm por essa rampa que conduz a humanidade para dias sombrios, se a Providência Divina não nos socorrer, evitando que a Revolução atinja seus últimos desígnios.

Em visão sobre a Paixão do Divino Salvador, diz o Profeta Zacarias: "Que chagas são essas no meio de vossas mãos? E Ele responderá: Fizeram-Me estas chagas em casa daqueles que Me amavam" (Zac. 13, 6). A Santa Igreja passa hoje por um Calvário como aquele em que o Filho de Deus morreu pelos nossos pecados. Os últimos Soberanos Pontífices por mais de uma vez fizeram alusão a esse fato. E não foi por outra razão que o Santo Padre Paulo VI declarou recentemente achar-Se Ela em processo de autodemolição.

Que nos resta fazer nesta triste conjuntura? Ponhamos toda a nossa confiança no Senhor, para permanecermos firmes como o Monte Sião, certos de que os piores inimigos da Igreja e de seus filhos não se acham todos do lado de fora, mas também dentro de nós mesmos. Servos inúteis, só com essa compreensão de nossas próprias deficiências e de nossas fraquezas é que conseguiremos eficazmente colaborar no trabalho de destruir a hidra da Revolução, a que nos incita esse inspirado estudo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, cujo décimo aniversário de ação benfazeja comemoramos neste mês de abril.


ESCREVEM OS LEITORES

Exmo. Revmo. Sr. D. Felipe Condurú Pacheco, Bispo titular de Decoriana, São Luís (Est. Maranhão): Há três dias apenas recebi os nos 212/214 e 215 de CATOLICISMO. Muito grato pela remessa desse utilíssimo mensário, cuja leitura, não obstante a minha catarata, ainda me põe ao par de certos acontecimentos relacionados com a Igreja.

Em tempo manifestei-me claramente contra as ideias do Pe. Comblin e, não obstante ponderações do nosso Exmo. Metropolita relativas ao modo cortês (?) dos estudantes locais, ainda escrevi algumas linha sobre a recepção (?) dos heroicos moços da TFP [que foram a São Luís para coletar assinaturas na mensagem ao Papa contra a infiltração esquerdista em meios católicos], as quais me atraíram o ridículo de certo diário desta Capital. Lamentando a interpretação inconsistente de alguns dos nossos hierarcas, parabenizo de todo o coração os intimoratos defensores da TFP".

Dona Géssy Marques da Costa, Dom Pedrito (Est. Rio Grande do Sul): "Almejando-lhe constante êxito com seu CATOLICISMO, que ele consiga trazer de volta muitos progressistas e elucidar outros desorientados [...]".

Sr. Paulo Afonso Pereira Mesquita, Uberlândia (Est. Minas Gerais): "[...] este prestigioso jornal [...]. Aproveito a oportunidade para expressar-lhes os meus mais sinceros votos de felicidades e o meu apoio total em todas as suas campanhas. Continuem lutando pela vitória da Santa Igreja de Deus e contem com o meu modesto apoio".

Prof. David Piussi, Teutônia, Município de Tapera (Est. Rio Grande do Sul): "Tendo eu, por razões especiais, solicitado o cancelamento da assinatura desse jornal há alguns anos, venho, novamente, levado pelo valor e profundidade dos artigos nele apresentados, solicitar assinatura para o ano de 1969".

Revmo. Pe. Frei Teodoro de A. Chaves, O. F. M. Cap., pelo Convento São Francisco, Garibaldi (Est. Rio Grande do Sul): "Formulamos nossos votos mais sinceros que CATOLICISMO continue na sua campanha de iluminação e discriminação, nestes tempos de erros e confusionismo, que podemos constatar no campo da mesma Igreja Católica.

Se estamos convencidos, baseados nas palavras imperecíveis do Mestre, que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja... não é menos verdade que o "inimicus homo" não cessa de semear a cizânia, no meio do trigo do Pai de família. Além do joio há, hoje, na Igreja muita construção de "madeira, feno e resteva", que, esperemos, dentro em breve o fogo reduzirá em cinzas (cf. 1 Cor. 3, 12 ...). "Veritas autem Domini permanet in aeternum".

Exmo. Revmo. Mons. João de Barros Uchôa, Campos: "[...] hoje, em dia, quando as festas carnavalescas seduzem os moços [...], uma turma de 75 jovens [...] deixam tudo isso para se internarem em retiro, em uma piedosa casa, sob a presidência do seu Pastor, sábio, ilustre, culto e santo, o Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer, que, com zelo apostólico, pregava-lhes quatro vezes ao dia [...].

Era edificante admirar o comportamento e silêncio destes jovens, que nos davam a ideia de piedosos seminaristas quando se preparavam para o dia suspirado da recepção de suas ordens sacras!

[ ...] Que alegria foi para o querido Pastor ver o contentamento destes queridos jovens, que muito o amam e reconhecem o seu zelo apostólico, [...] atendendo com solicitude aos que o consultavam e a todos ouvindo carinhosamente.

S. Excia. Revma. ainda conseguia tempo para atender às jovens que faziam retiro na Fundação Santa Teresinha, celebrando a Santa Missa e pregando às retirantes.

É admirável!

[...] Estes jovens retirantes, além de receberem as Cinzas, e fazerem a sua Comunhão durante a Santa Missa, ouviram à estação do Evangelho a palavra do celebrante que lhes pedia a resolução da perseverança em os seus propósitos e, principalmente, a devoção à Santíssima Virgem, rezando todos os dias em família o Santo Terço.

Era de admirar a alegria destes jovens, após o "Deo gratias".

Aí logo explodiram em vivas ao Papa e ao Senhor Bispo”.

Prof. José de Alencar Feijó Benevides, Macapá (Território do Amapá): "Comunico que recebi regularmente todos os números deste grande e destemido mensário, relativos ao ano findo — 1968".

Revmo. Pe. Alexandre [ilegível], Paróquia São Miguel, Irati (Est. Paraná): "[...] peço que suspenda a minha assinatura, que vinha em nome da Paróquia São Miguel, bem como a do Sr. Zenoni Biernaski. Aproveito a oportunidade para lhe pedir que faça um sério exame de consciência para ver se percebe quanto mal já tem causado à Igreja de Cristo com o citado jornal".

Sr. Alcindo Moreira, Irati (Est. Paraná): "[...] minha palavra de estímulo pela continuidade de tão prestigioso órgão da imprensa católica".

Dona Ana das Neves Carvalho Pinto, Santo Amaro (Est. Bahia): "Este precioso mensário tem sido uma bússola seguríssima para nós, peregrinos do Reino da Verdade. Não conheço jornal mais autenticamente católico e rogo a Deus, por intermédio de sua Mãe Santíssima, que cumule de bênçãos tão valorosa milícia!

Sinto apenas que nos chegue com tanto atraso e, que parece, sou a única assinante na cidade".

Sr. Hugo Eguiluz Paullier, Legação da Ordem de Malta, Montevidéu (Uruguai): "Acabo de recibir el n.° 219 de CATOLICISMO, editado en marzo de 1969, en el que se publica un precioso artículo sobre "Cómo se celebró en Malta la Vigilia de San Juan de 1565", bajo la firma del Sr. Alberto Luiz Du Plessis.

En nombre de los Caballeros de Malta uruguayos y en el mío propio, agradezco emocionado a la Dirección de CATOLICISMO su recuerdo hacia una "de las gestas más brillantes de nuestra milicia en defensa de la santa Fe. Y le ruego transmita nuestras felicitaciones y gratitud al ilustre autor del trabajo".

Dona Maria Helena de Souza Gomes, e mais quatro assinaturas, ilegíveis, Rio (Est. Guanabara): "Esse jornal no número 212-214 difunde vários documentos considerados "estarrecedores".

Documentos tão indecentes, podem ser inventados por pessoas e mandados para o jornal.

Para merecerem crédito tinham de ser assinados. CATOLICISMO tem esses documentos, ou cópia, assinados? Se tem, porque não publicou as assinaturas?

Os leitores gostariam de saber as assinaturas porque se alguma não fosse verdadeira, a pessoa protestava publicamente.

Falta de espaço é que não foi, dada a importância que teriam os nomes".

• Trata-se das mensagens de Sacerdotes seculares e regulares de diversas Dioceses e Estados do Brasil, que reproduzimos em nosso n.° 212/214, de agosto/outubro de 1968, sob o título de "5 documentos estarrecedores". .

Conforme registramos ao publicá-los, esses documentos foram enviados por seus autores à reunião plenária da CNBB, realizada no Rio em julho do ano passado. Cópias mimeografadas foram distribuídas aos Exmos. Prelados participantes da assembleia. Nessas cópias figuram os nomes dos signatários (exceção feita da cópia do documento dos Padres e Freiras de Nova Friburgo, a qual, como consignamos, menciona que as assinaturas "estão em mãos do Sr. Presidente da CNBB e do Sr. Bispo Diocesano").

Divulgados assim os nomes dos signatários, estava assegurada a possibilidade de protestos contra qualquer hipotética falsidade.

Quando nosso n.° 212/214 veio a lume, já eram passados três meses... sem nenhum protesto. "Et pour cause".

Nessas condições, é bem de ver que representaria um desperdício de espaço o publicarmos as 782 assinaturas. Tampouco julgaram útil publicá-las os jornais diários que estamparam esses documentos e, especialmente, o boletim "SEDOC — Serviço de Documentação", da Editora Vozes, que os reuniu num só fascículo (vol. I, setembro de 1968).

Assim respondidas as indagações dos missivistas, cabe-nos, por nossa vez, perguntar por que será que pessoas tão convictas de que "os leitores gostam de saber as assinaturas", nos mandam uma carta na qual, de cinco assinaturas, quatro são ilegíveis e inidentificáveis? ... Falta de espaço é que não foi.


Conclusão

O TEXTO DE "ECCLESIA"

OS PEQUENOS GRUPOS E A "CORRENTE PROFÉTICA"

Concluímos hoje a publicação, iniciada em nosso último número, da tradução do trabalho intitulado "Os pequenos grupos e a corrente profética", dado a lume pela revista "Ecclesia", de Madrid (n.° 1423, de 11 de janeiro p. p.), órgão oficial da Ação Católica Espanhola:

4. Desenvolvimento e manifestações concretas

Holanda

O Centro "De Horstink", que foi até 1965 Centro Nacional de Ação Católica, abandonou o "mandato" para converter-se em um "Centro de Comunicações entre a Igreja e o Mundo", que realiza seu trabalho em colaboração com protestantes e ateus (Grotaers, conferência citada, p. 15).

Bélgica

O pós-guerra é a hora dos grupos proféticos, que surgem por toda parte por causa das limitações impostas pela Hierarquia ao compromisso temporal dos movimentos apostólicos (Grotaers, conferência citada, p. 11).

Itália

O "clericalismo político" — que dá à república um matiz confessional em virtude da concordata — freia a ação missionária. Nesta situação as vocações mais dinâmicas do apostolado leigo desvincularam-se da Ação Católica, derivando para grupos de estrutura mais flexível, sem mandato, que proliferam de modo incrível (Grotaers, conferência citada, p. 12).

Alemanha Oriental

As experiências são particularmente interessantes.

Existem em primeiro lugar os "Cristãos do Diálogo". São pequenos grupos de católicos que, abandonando a posição da Igreja institucional, e opondo-se à maioria dos católicos, assumem "a grande missão" de ocupar postos no governo e colaborar com o regime, numa tentativa de tornar compatíveis com o Cristianismo os pressupostos da sociedade comunista. Ao atuar deste modo, creem cumprir uma missão histórica providencial.

Junto a eles, os grupos da "Gossner Mission", fortemente influenciados por Bonhoffer e pelos Padres-operários franceses da primeira hora, que pretendem demonstrar que se pode ser cristão e viver em uma sociedade socialista, e mesmo tornar-se comunista sem deixar de ser cristão. Negam que o comunismo tenha que ser necessàriamente ateu. Combatem duramente o abstencionismo dos católicos fiéis ao Magistério. O estilo de vida destes grupos está na linha de muitos outros do Ocidente. Celebram também a Eucaristia em casas particulares, por considerar superado o culto no templo.

Também os grupos "Studentengemeinden", formados por protestantes e católicos, dão prova de um grande "dinamismo" no mundo estudantil. Reúnem estudantes, futuros professores, humanistas e teólogos. Encontram-se, "como é natural", numa certa oposição à Igreja oficial. Seu compromisso implica em uma reforma teológica, especialmente nas relações Igreja-mundo, assim como na busca de novos caminhos na celebração litúrgica.

Paralelamente a estes grupos, as "Academias Evangélicas" põem em questão a tradição eclesiástica, em nome da "Igreja do amanhã". Em suas jornadas de estudo tratam de todos os problemas possíveis e imagináveis que tenham relação com o compromisso "com a nova sociedade".

Tanto estas academias como alguns centros católicos de pastoral tentam chegar a novas criações teológicas, partindo de considerações tais como "o Sacerdote como leigo e o leigo como teólogo" (I.C.I., 15 de fevereiro de 1968, pp. 30 e ss.).

Alemanha Federal

Diante de uma Igreja "afogada e enredada no contexto sócio-político em que está comprometida", surgem pequenos grupos que se esforçam em renovar as estruturas eclesiais e tirar os católicos de seu "comodismo espiritual e moral".

O movimento "Catolicismo crítico" (chamado também "Kapo", oposição católica extraparlamentar) nasce em 1968 do reagrupamento de várias associações, entre as quais "Pax Christi". Propõe-se como fim renovar e democratizar a Igreja. Seu pensamento se diz inspirado nas teorias do teólogo de Münster J. B. Metz, segundo as quais a Igreja deve desempenhar um papel crítico ante a sociedade.

Seus membros intervieram no 82º "Katholikentag", celebrado em Essen de 4 a 8 de setembro de 1968. Nele, sua crítica e sua ação — como a dos "grupúsculos" franceses do mês de maio nos meios estudantis — encontraram um terreno favorável. Unidos aos representantes da BDKJ (Federação de Associações Católicas de Jovens, "antes conhecida por sua docilidade"), pediram:

- a crítica em face da autoridade;

- a dissolução das relações Igreja-Estado;

- democratização do ensino e supressão do ensino confessional;

- contatos com o Leste;

- uma revisão fundamental, por parte do Papa, da doutrina sobre o controle de nascimentos, isto é, sobre a "Humanae Vitae";

- supressão do "imprimatur";

- supressão da regulamentação sobre os matrimônios mistos;

- mais democracia e publicidade na gestão financeira das Dioceses;

- democratização da imprensa eclesiástica;

- substituição do "Katholikentag" por um Concílio Nacional como o da Holanda;

- e criação de um "Kirchentag", organizado em comum com as igrejas protestantes.

O "Grupo 55" e o "Grupo de Munique" trabalham em silêncio, mas publicam a revista mensal mais esquerdista do catolicismo alemão. É a "Werkhefte", "revista para os problemas da sociedade e do Catolicismo". Em agosto de 1968 organizou um colóquio com os marxistas.

Outro grupo é o dos "Universitários do Rühr". A paróquia de estudantes católicos de Bochum está muito unida aos protestantes. Um estudante de teologia diz: "Como nos é impossível dialogar com nosso Bispo, não resta mais do que uma solução: provocar a Instituição. Como? Pronunciando-nos a favor do Vietnã ou fazendo entrar a política na Missa".

Em outubro de 1967 fundou-se um "Grupo de trabalho democrático e católico" sob a presidência de um professor, um jornalista e um estudante, Este círculo propõe-se a democratização do pensamento e das estruturas da Igreja Católica, ou, ao menos — como diz Hans Friemund, que trabalha na Rádio Berlim — "fazer ver a urgência desta democratização" (I. C . I. , n.° 325, pp. 11-13).

França

A Igreja e a revolução

(I. C. I., n.° 315, pp. 36-40).

Com base nos acontecimentos de maio os cristãos de esquerda acusam a Igreja institucional:

- de não se comprometer realmente com os acontecimentos;

- de não ser revolucionária, em virtude do fato de que "as Igrejas estabelecidas dão objetivamente apoio aos regimes capitalistas"; "sua estrutura é alienante".

Os "grupúsculos" organizam numerosos debates públicos sobre "os cristãos e u revolução". Um destes foi organizado em 8 de junho na "Sorbonne livre" pela Irmã Maria Edmon, auxiliar e diretora da revista "Echanges", a pedido do CRAC (Comitê Revolucionário de Agitação Cultural), sobre o tema: "De Che Guevara a Jesus Cristo".

A revolução na Igreja

(I. C. I., ibidem).

Os cristãos de esquerda "contestam" (protesto global) as estruturas eclesiásticas; esta "contestação" reveste formas variadas, desde as extremamente revolucionárias até as mais "dialogantes":

• 1 - O movimento "Bíblia e Revolução":

- quer suscitar assembleias populares fora das horas de culto;

- pede "que um próximo Concílio se realize contando com a base".

• 2 — A federação dos grupos "Témoignage Chrétien":

Esta federação "alegra-se" de que haja "contestação" também na Igreja, e faz uma proposta concreta: a criação por eleição, em todos os níveis da comunidade cristã, de conselhos de leigos dotados de grandes poderes de organização e orientação.

• 3 — Assembleia celebrada na Igreja de São Pedro e São Paulo de Lille:

Formou-se uma equipe de trabalho com o fim de procurar novas estruturas que permitam descobrir as causas do mal-estar reinante na comunidade eclesial.

Uma vintena de cristãos, homens e mulheres, médicos, engenheiros, economistas, sociólogos, estudantes, catedráticos, convocaram uma assembleia tão heterogênea como numerosa para propor uma questão: — a Igreja é em Si mesma um obstáculo para o cumprimento de sua missão? por que? de que modo?

O Pároco, apesar da oposição de uma parte do Clero paroquial, deu seu consentimento e o Bispo sua autorização.

O assistente da cadeira de Geografia da Faculdade de Letras, Sr. Jean Pierre Angrand, abriu o debate e expôs o porquê e o como da assembleia. Partindo dos pontos que passamos a enunciar:

- "desde há trinta anos, e particularmente graças ao desenvolvimento dos movimentos de Ação Católica, nós, cristãos, estamos presentes no mundo, participando da vida social, econômica e política da nação";

- "esta presença permite-nos viver em contato com pessoas não crentes e com cristãos "marginalizados", que não praticam";

- "nós nos perguntamos: por que estes cristãos se acham nos limites ou fora da Igreja? não haverá alguma causa dentro da própria Igreja (administração, mentalidades, estruturas, de leigos e clérigos)?";

- "consideramos um dever vir hoje aqui para pôr a nós mesmos esta questão. Todos podereis intervir..., mas sem acusações ou pedido de justificação. Pedimos aos Padres que ouçam pacientemente, sem dar resposta alguma, em nome próprio ou da Igreja. Nesta noite não vamos responder nada";

- "apresentaremos um dossier para refletirmos todos juntos. Vamos iniciar um trabalho de busca

- que não se deve bloquear com perguntas prematuras — para ver a causa de nossas dificuldades";

- pouco a pouco foi-se analisando tudo: o quadro, já superado, da paróquia; os movimentos de Ação Católica dirigidos pela Hierarquia, cujas estruturas é preciso modificar para dar maior responsabilidade a seus membros; o compromisso temporal-político do cristão e da Igreja como tal;

- "pode um cristão comprometer-se com um movimento político de extrema esquerda?" A isto se respondeu que "a Igreja deve comprometer-se muito mais";

- "põe-se em questão a estrutura piramidal da Igreja. Pede-se a participação dos leigos "na base", mas também nos postos mais elevados: Bispos e - por que não? - Papa";

- as opiniões estiveram muito divididas. Uns consideravam maravilhosa a assembleia; outros não;

- "é uma pena que este movimento de "contestação" não tenha existido antes, para influir no Concílio";

- "esta reunião - disse um pastor protestante - é perigosa, caso não se confie verdadeiramente na palavra de Deus..., porque se se trata só de pensamentos humanos, poderiam estes levar-nos longe demais";

- os dirigentes da assembleia prometeram um "cahier de doléances" da Igreja.

• 4 - Debate permanente organizado em Paris — durante os acontecimentos de maio — no "Centro de Saint-Yves" de estudantes católicos de Direito, dirigido pelos Dominicanos:

Na fachada, um grande cartaz: "Estudantes, trabalhadores, a revolução e os cristãos".

Participam dos debates abertos, da mesma forma que na Sorbonne, estudantes, jovens operários, pessoas de idade adulta e de diferentes ambientes, não crentes, e, às vezes, os transeuntes que ao passarem se interessam.

Fala-se: da atitude dos cristãos em face dos acontecimentos, das relações entre marxistas e cristãos, da necessidade da revolução.

Um antigo dirigente de movimento estudantil cristão se apresentou como revolucionário "par état" e denunciou ante os presentes:

- a alienação religiosa;

- o fato de que a Igreja é cúmplice do imperialismo e do capitalismo;

- falou da morte de Deus e proclamou que só importa "Jesus Cristo, morto e ressuscitado".

- "a Hierarquia não serve para nada, e o Papa faria bem em dizê-lo e ir-se embora", disse.

Um Sacerdote disse também: — tudo pode ser "contestado" na Igreja, menos Cristo; assim como tudo pode ser "contestado" na sociedade, menos o homem.

Ouviram-se algumas intervenções por parte de cristãos sobre "os profundos traumatismos" provocados pelas "estruturas eclesiais superadas".

• 5 — Debates públicos no Instituto. Católico de Paris:

Pediu-se que se desenvolvesse no Instituto Católico "um movimento em coerência com o movimento da Sorbonne", e mais geralmente "que . fossem postos em prática, no interior da Igreja, os princípios que reconhecemos válidos para a "contestação" da sociedade".

• 6 — Grupos de estudantes da Faculdade de Teologia protestante de Paris:

Protestam contra:

- uma teologia que se centra exclusivamente sobre o ministério pastoral;

- que não faz mais que confirmar as contradições do sistema capitalista, do qual participa a instituição eclesiástica;

- põem em questão as estruturas da sociedade (Igreja) "que busca os quadros alienantes de que necessita para sobreviver". Aprendemos isto nas barricadas, de um modo definitivo.

• 7 — Grupo ecumênico de catorze Sacerdotes, pastores e leigos de Paris:

Lançam um apelo aos cristãos propondo-lhes que "se agrupem segundo as iniciativas que julguem mais adaptadas e eficazes, para definir, na maior liberdade, e para criar as condições para esta renovação da existência cristã" (I .0 . I ., n.° 313-314, pp. 21 e ss.).

Itália

• Ocupação da Catedral de Parma (I.C.I. no 325, p. 13):

Os participantes explicaram assim o objetivo da ocupação:

- não queremos que a Igreja de Santo Evasio, atualmente em construção em um bairro periférico da cidade, seja construída com os fundos da Caixa Econômica (Cassa di Resparmio);

- não aceitamos que um Sacerdote seja transferido sem consulta aos fiéis diretamente afetados;

- denunciamos o desequilíbrio existente nas situações econômicas respectivas dos Sacerdotes da Diocese;

- opomo-nos a que se continue a gastar dinheiro na manutenção do semanário católico diocesano, subproduto do clericalismo burguês;

- consideramos urgente reformar os seminários para que deixem de produzir Sacerdotes subcultos;

- constatamos com dor que estas situações intoleráveis são a consequência lógica da Igreja entendida como autoritarismo e apoio do poder constituído.

Chile

• Ocupação da Catedral de Santiago do Chile (2 de agosto de 1968):

Uns duzentos cristãos, que se declararam membros do movimento "Jovem Igreja", celebraram a Eucaristia entre si e depois promoveram uma entrevista coletiva à imprensa.

No dia 13 de agosto os ocupantes explicaram o sentido de seu gesto, em um manifesto publicado no jornal comunista "El Siglo", sob o título: "As estruturas da Igreja impedem o compromisso com o povo e com sua luta".

O manifesto é um requisitório "contra a estrutura do poder de dominação e de riqueza, na qual se exerce freqüentemente a ação da Igreja, e contra a mentalidade das organizações que condicionam e adulteram o trabalho da Hierarquia Eclesiástica".

É ao mesmo tempo um arrazoado:

- em prol de uma estrutura evangélica,

- de uma igreja pobre, livre, aberta ao homem.

Tudo é objeto de crítica e "contestação" (protesto global):

- o Congresso Eucarístico,

- a viagem do Papa,

- as boas palavras a que não se seguem efeitos positivos,

- a convivência da Igreja institucional com os poderosos,

- a opressão da Igreja sobre as consciências,

- a condição do Sacerdote.

"Como não acreditamos nas possibilidades de diálogo na Igreja, recorremos a um gesto violento: a ocupação da Catedral".

México

Quarenta e oito organizações de leigos mexicanos pedem a reforma das estruturas e da autoridade da Igreja. "O estilo da vida católica não dá lugar à honestidade, à crítica, à discussão aberta e pública" (I .C.I., 1.° de setembro de 1968, p. 7).

Uma formação estudantil em escala mundial

(I.C.I., n.° 313-314, junho de 1968, pp. 14-15).

Pequenas minorias de caráter "carismático" e "profético" arrastaram à agitação as massas de estudantes em todo o mundo.

Os diferentes pretextos de ordem material ou moral, que constituíam o ponto de partida desta agitação — falta de locais, falta de liberdade acadêmica, escassez de professores, protestos contra o racismo, a guerra do Vietnã, o autoritarismo do Estado, etc. — foram constituídos por um sentimento revolucionário mais geral: a "contestação" global da sociedade.

Esta "contestação" da sociedade civil inclui também a "contestação" das estruturas atuais da comunidade eclesial.

E isto ocorre também tanto nas Universidades católicas como nas Faculdades de Teologia católica e protestante.

Por toda parte, mas sobretudo na América Latina, os estudantes revolucionários adotam "uma forma de renovação marxista". Sem excluir os estudantes cristãos, que, como todos, chegaram a ver num marxismo renovado (científico, mas recusando a ortodoxia de Moscou) a única força viril capaz de afrontar a revolução.

Os cristãos, partindo da mesma análise da situação e das mesmas reflexões que os marxistas, passam a tomar parte nos mesmos compromissos.

Não creem que seja preciso assumir "uma atitude cristã específica" perante os acontecimentos.

Não veem contradição entre o marxismo científico e sua fé cristã. Pelo contrário, pensam que sua fé tomará neste combate revolucionário uma nova forma de expressão.

Entre eles há grupos que se separam pràticamente da Igreja. Há movimentos de jovens cristãos comprometidos, nos quais já não se fala da Igreja, porque a Igreja não importa. Ainda que digam conservar a sua fé, não veem já razão para permanecer nas comunidades cristãs.

Ante a recusa da Igreja de autorizar o compromisso político dos movimentos de estudantes cristãos como tais, os elementos mais dinâmicos destes movimentos saem da Igreja.

Na Europa as juventudes estudantis cristãs estão ainda absorvidas por suas relações jurídicas com a Hierarquia Eclesiástica, mas em alguns países (entre os quais a Espanha) começam já a refletir séria e abertamente sobre os problemas atuais de nossa sociedade.