O “BLUFF” DAS MINORIAS BARULHENTAS E BEM ORGANIZADAS
Alberto Luiz Du Plessis
É bem possível que, no futuro, nossos dias venham a ser conhecidos como a época das minorias barulhentas e bem organizadas, pois, sem dúvida alguma, as minorias que hoje se agitam pelo mundo afora são suficientemente barulhentas para perturbar a vida das sociedades em que se encontram e suficientemente organizadas para aparentar uma força que, na realidade, não possuem.
Tivemos, há tempos, ocasião de comentar ("A preciosa lição das eleições de São Domingos" — "Catolicismo", n.° 188, de agosto de 1966) a situação na República Dominicana, onde uma facção chefiada pelo Coronel Caamaño, e parecendo dotada de grande força e apoio popular, pegara em armas e estivera a pique de apossar-se do governo. Sufocada a revolta, eleições realizadas pouco depois, contra cuja lisura não se levantou a menor objeção, revelaram a extrema debilidade dos caamanistas.
Quem acompanhar a situação interna dos Estados Unidos através das manchetes dos jornais — e são elas que informam a opinião pública — julgará tratar-se de um país dominado por grupos extremistas, defensores das mais variadas e esdrúxulas causas, agindo pela violência e contando com o apoio da maioria do povo, tal a falta de reação que suas atividades encontram. Não é isso porém, em absoluto, o que na realidade se verifica. O aumento do número de representantes republicanos no Congresso, e a eleição de Nixon, candidato mais conservador do que Humphrey, já bastariam para se ver que a nação não apóia essas desordens. A reação atingiu recentemente até a Suprema Corte, onde o Juiz Abe Fartas, líder da ala liberal empenhada em dar cada vez mais direitos aos criminosos e cada vez menos à sociedade, sentiu-se obrigado a demitir-se — fato insólito — devido a um mal cheiroso caso de gratificações recebidas. É de se esperar que, em breve, outros liberais da Suprema Corte se aposentem, permitindo a sua substituição por elementos mais conservadores.
Os acontecimentos que se desenrolaram na França em maio do ano passado deram a impressão de um país submerso por uma onda esquerdista irreversível. Eram greves por toda parte, por toda parte turbas de desordeiros depredando e saqueando ao seu bel-prazer, e um governo impotente e confuso, que parecia nos últimos estertores. Bastou um mínimo de energia para que o fenômeno minguasse e fosse reduzido às suas devidas proporções. De Gaulle conferenciou em Baden-Baden com o General Massu, comandante das forças francesas na Alemanha, assegurando assim o apoio do Exército, cujos tanques cercaram Paris; depois dirigiu um apelo à nação, que foi respondido por um desfile de 500 mil parisienses, clamando pela liberdade dentro da ordem. Nas eleições parlamentares que se seguiram, as formações de esquerda foram fragorosamente derrotadas.
O primeiro turno das eleições presidenciais francesas, realizado um ano depois, nada mais fez do que confirmar o quadro assim delineado. Pompidou e Poher, dois elementos representativos do centro-direita, reuniram entre si 67% dos votos, e o único candidato esquerdista que alcançou um resultado expressivo foi o comunista Jacques Duclos (21% da votação), o qual, no entanto, tratou cuidadosamente de evitar em sua propaganda qualquer tema explosivo, adotando um ar de bom vovô, no que era aliás ajudado por sua figura rechonchuda e rubicunda, muito própria para o desempenho de papéis pequeno-burgueses. Ressalte-se ainda que o trotskysta Krivine, representante do pensamento das correntes marcusianas que em maio de 1968 davam a impressão de empolgar a França, teve apenas 1,06% dos votos.
Doloroso porém é ver-se como essas movimentações de grupos, fenômenos de superfície sem sintonia nas massas, arrastam certos setores do Clero e até do Episcopado, cujos membros deveriam ter a sabedoria necessária para discernir ao menos a transitoriedade e a pouca profundidade dessas correntes. Não há desordem estudantil na Califórnia, passeata marcusiana em Paris ou desfile pelo amor livre em Amsterdã que não conte com o apoio de Sacerdotes vestidos a caráter, dos quais nem sempre se sabe se são agitadores "engajados" ou apenas bufões correndo para não perder o que julgam ser o bonde da História, em lugar de permanecer junto Aquele que venceu o mundo.
As desordens que abalaram a França em maio do ano passado davam a impressão de que o país estava submerso por uma maré esquerdista irreversível. Os fatos posteriores mostraram que tudo não passava de obra de uma minoria ululante e bem organizada, sem sintonia com a massa da população.
52 MÁRTIRES DO BRASIL
Ocorrendo no próximo dia 15 de julho a festa do Bem-aventurado Inácio de Azevedo e Companheiros, Mártires do Brasil, é com prazer que "Catolicismo" dá divulgação a esta nota, enviada pelo Revmo. Pe. A. Santiago, S. J., de Braga, Portugal:
"Se os portugueses, espanhóis e brasileiros querem ver no ano de 1970, quarto centenário do martírio, canonizados os nossos quarenta Bem-aventurados Mártires e beatificados os outros doze Mártires, que faziam parte do grupo, mas que foram martirizados no ano seguinte, têm que pedir com muita constância e confiança, neste último ano, ao Senhor, que nos conceda por intercessão destes 52 Mártires, dois grandes milagres.
Peçamos então muito ao Senhor esses milagres para canonizar os quarenta Bem-aventurados e beatificar os doze Mártires do Brasil. Não descansemos neste ano até alcançar o que pretendemos: façamos novenas, ouçamos e digamos ou mandemos dizer Missas, ofereçamos donativos, etc., e se formos constantes o Senhor ouvir-nos-á. Os pregadores não se esqueçam durante todo êste ano de falar dos nossos gloriosos Mártires; os escritores de escreverem, sobre eles e até os confessores de dar por penitência, rezar aos ditos Mártires....
Aos Revmos. Srs. Bispos de Portugal, Espanha e Brasil a quem já escrevi neste sentido, volto a fazer o mesmo pedido: 1º — que determinem que se celebre nas respectivas Dioceses a festa dos gloriosos Mártires no dia 15 de julho, dia do martírio, e que comece já êste ano; 2° —que juntamente com os supremos Chefes das três Nações, peçam ao Santo Padre a canonização dos quarenta Bem-aventurados e a beatificação dos doze Mártires em 1970. Esta será a melhor maneira de celebrarmos o quarto centenário dos 52 Mártires do Brasil, para glória de Deus, da Santa Igreja Católica, a única e verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem os Mártires deram a vida e para glória das três Nações Católicas a que pertencem os Mártires: Portugal, Espanha e Brasil.
Para comunicar as graças, enviar donativos, obter vidas, novenas e quadros dos Mártires, etc., dirigir-se a: PE. A. SANTIAGO, S. J. — LARGO DAS TERESINHAS, 5 - BRAGA, PORTUGAL".
Verdades esquecidas
Há homens que são filhos e enviados do demônio
SÃO BERNARDO
De uma carta a Henrique, Arcebispo de Mogúncia, a respeito de certo Monge Rodolfo, que pregava, incitando os fiéis à matança dos judeus:
Oh homem sem coração e privado de todo conselho e prudência, cuja necedade tem sido tão presunçosa que se exaltou a si mesma e se colocou no candelabro para que todos a possam ver e contemplar melhor! Três coisas nele acho merecedoras de muito severa repreensão, a saber, a usurpação do ofício de pregar, o desprezo que vota aos Bispos e a liberdade com que fala sobre o homicídio. [...] Sua doutrina não é sua, senão de seu pai que o enviou; e assim se compreende perfeitamente que se empenhe em seguir as pegadas de seu mestre, o qual "foi homicida desde o princípio", e "fala como quem é, por ser de si mentiroso e pai da mentira" [Jo. 8, 44]. Oh monstruosa ciência! Oh sabedoria infernal, contrária aos Profetas, inimiga dos Apóstolos, e que subverte a piedade e a graça! Oh imundíssima heresia! Oh monstro sacrílego, que uma vez impregnado do espírito de falsidade "deu à luz a injustiça: concebeu a dor e pôs no mundo a iniquidade" [Sl. 7, 15]!
De bom grado prosseguiria, mas não posso alongar-me, e assim vos direi em poucas palavras o que penso. Tenho para mim que se trata de um homem envaidecido, que talvez se julgue um grande personagem, ainda que na realidade não passe de um infeliz arrogante, muito satisfeito de si mesmo. A julgar por suas palavras e suas obras, aspira a criar para si um nome que seja glorioso entre todos os dos grandes da terra; mas falta-lhe o necessário cabedal para levantar tão alto edifício. — ["Obras completas del Doctor Melifluo, San Bernardo, Abad de Claraval", trad. do Pe. Jaime Pons, S. J. — Ed. Rafael Casulleras, Barcelona, 1929 — vol. V, "Epistolario", pp. 690-691, carta 365].