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Difundindo de norte a sul do Brasil o no 220-221 de "Catolicismo"

TFP SAI ÀS RUAS CONTRA OS PROFETAS DO ATEÍSMO

Foi na manhã ensolarada, mas um tanto fria do dia 23 de junho que teve lugar, em São Paulo, a abertura oficial da nova campanha da TFP. Trata-se, desta vez, de alertar os brasileiros para a existência semiclandestina, dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, de organismos empenhados numa diabólica trama que visa revolucioná-La inteiramente, transformando-A numa Igreja-Nova, laica, igualitária, atéia e, ao mesmo tempo, ecumênica. O assunto foi objeto de nosso número duplo, correspondente a abril-maio p.p., e a campanha da TFP consiste exatamente em difundir essa edição de "Catolicismo" que denuncia o IDO-C e os "grupos proféticos".

Ao mesmo tempo que na capital paulista, também em Campos, Brasília, Rio, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis tiveram início os trabalhos da campanha, com enorme receptividade por parte do grande público. A TFP logo estendeu sua iniciativa — com igual acolhida popular — a outras localidades. Merece destaque que uma caravana de sócios da entidade e militantes da Tradição, Família e Propriedade partiu de Recife para divulgar o número duplo de "Catolicismo" em Fortaleza, Sobral, Baturité, João Pessoa, Garanhuns e outras cidades do Nordeste.

Falamos em enorme receptividade por parte do grande público. Prova disso é o fato de mais de 20 mil exemplares vendidos nos primeiros 8 dias, totalizando 37.565 os que se escoaram até o momento de encerrarmos esta edição. Tratando-se da difusão de um jornal cuja matéria interessa, por sua natureza, a um público menos amplo do que o atingido pela imprensa comum, pode-se ter uma medida do extraordinário êxito que representam esses primeiros resultados. E isto sem falar que o preço de dois cruzeiros novos por exemplar está acima das condições econômicas de um número incontável de interessados (o que fez pensar numa tiragem popular de nosso mensário, a qual já está no prelo).

Novos recursos de propaganda

Lutando contra adversários que dispõem de um poder publicitário imenso — o IDO-C foi comparado, com razão, a um dinossauro — os dirigentes da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade introduziram novos recursos de propaganda nesta sua campanha.

Entre essas inovações cumpre destacar a capa de tecido rubro e brilhante que estão usando, nas ruas de norte a sul do Brasil, os sócios e militantes postos pela TFP a vender "Catolicismo".

Marcadas por uma nota de distinção e solenidade, bem como de entusiasmo e desassombro, essas capas - assim foram denominadas pelo público e pela imprensa, embora fosse mais exato chamá-las de capelo - consistem numa como que écharpe de tecido acetinado que, presa ao ombro direito, daí desce em pregas elegantes e másculas, sobre o peito, para depois subir até o ombro esquerdo, onde cai novamente, como um manto curto, sobre o braço. Um leão dourado, de metal, posto no alto do peito, à direita, completa com nobreza e força a beleza viril do capelo.

Foi extremamente feliz o sócio da TFP que, fazendo às vezes de figurinista, projetou essa capa, conseguindo comunicar a ela toda um conjunto de imponderáveis que impressionou vivamente o público.

Não faltaram, por isso mesmo, os aplausos. Para não falar dos elogios, devemos consignar que em mais de um lugar houve quem, maravilhado, quisesse comprar uma das capas. Numa rua de bairro em São Paulo, um desenhista pôs-se, até, a copiar o modelo, com o manifesto intuito de o plagiar!

Além da adoção da capa, a TFP resolveu, desta vez, colocar os seus propagandistas não mais em bancas fixas, mas caminhando em grupos, de uma ponta de rua para outra.

Um grupo começa numa das extremidades, e outro na outra. Ao se cruzarem, os dois grupos se reúnem em torno dos estandartes e dão o brado de: "Pelo Brasil" e — três vezes — "Tradição, Família, Propriedade".

A todo momento, os jovens vendedores gritam slogans como estes: "Revistas de Londres e Madrid denunciam: Trama secreta para revolucionar a Igreja"; "Grupos ocultos na Igreja a serviço do comunismo"; "A TFP alerta os brasileiros: infiltração na Igreja em favor do comunismo"; "Leiam "Catolicismo", jornal de cultura", etc.

Uma novidade: ousadia a serviço do bem

Qual o alcance da presença e dessa forma de atuação de tantos jovens, revestidos de capas vermelhas, nas ruas mais movimentadas das principais cidades do País?

Uma crítica, certamente exagerada ou até injusta, comumente feita às hostes católicas, era a de serem estas moles e tímidas diante dos seus adversários. A figura do carola passou a ser, para muitos, a representação do católico freqüentador de igreja.

É forçoso reconhecer, infelizmente, que uma certa falta de energia e de espírito de combatividade, um tanto disseminada em alguns meios católicos, contribuiu para dar visos de realidade ao que não passava de uma distorção e de uma caricatura.

O que se dizia das forças católicas em particular, se estendia, por via de conseqüência, às forças conservadoras em geral, no que toca à atuação cívica, social ou política destas últimas.

Esta visualização das hostes católicas e conservadoras constituía um não pequeno motivo de desalento para todos aqueles que queriam reagir diante da audácia, sempre crescente, dos fautores da revolução e da desordem, em particular os comunistas.

Ora, toda a história da TFP — entidade cívica que luta, no campo exclusivamente ideológico, pela preservação dos valores da civilização cristã — tem sido um desafio frontal a essa visualização.

Dando agora um passo à frente, para fazer seus sócios e cooperadores aparecerem aos olhos do público com uma vistosa e ousada capa vermelha realçada com um heráldico leão dourado, movimentando-se desenvoltamente pelas ruas principais de cada cidade, e proclamando em voz sonora os seus slogans, é evidente o efeito que o novo aparato publicitário da TFP devia produzir.

Encorajando um sem-número de desalentados, que só percebiam audácias do lado do mal, e para quem os partidários da boa causa pareciam estar sempre "entocados" e intimidados, pode-se medir o quanto a ousadia da TFP representa de estímulo e tônico para as forças sadias da nação.

Sem falar, pois, no dano que está causando aos "grupos proféticos" e demais organizações enquistadas na Igreja Católica a revelação de seus desígnios ocultos, êste encorajamento dos bons não é o menor dos serviços que presta ao Brasil a atual campanha da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.

Senso das realidades

Por outro lado, um curioso fenômeno de opinião pública se observou, desta vez, quando a TFP saiu às ruas com seus novos recursos de propaganda.

É inegável que as capas, sobretudo, chamaram enormemente a atenção, causando um impacto considerável. Não obstante, tal tem sido a coragem demonstrada pela TFP em suas campanhas anteriores, que aquilo que constituía uma tremenda ousadia — e que todos se davam conta de que era tal — foi, ao mesmo tempo, recebido com a maior naturalidade. Dir-se-ia que o público já esperava por isso, e ficaria decepcionado se a TFP, em sua nova campanha, não apresentasse nada de novo.

Característica, nesse sentido, foi a reação de uma moça de classe média, em Belo Horizonte, que passando de ônibus e vislumbrando na rua as primeiras capas vermelhas, logo comentou : "Deve ser a gente da TFP!"

E assim se prova também o apurado senso das realidades que a entidade revelou fazendo uso dos novos recursos de propaganda.

Um anti-Brasil arruaceiro e odiento

Não se deve pensar, entretanto, que a acolhida simpática do grande público tenha sido até agora a única nota da campanha da TFP. Esta, denunciando a trama instalada dentro da Igreja e que favorece em toda a linha o comunismo, não podia deixar de irritar os da seita vermelha e os progressistas de todos os matizes. Assim é que, logo no primeiro dia de campanha em São Paulo, arruaceiros a soldo de comunistas — ou, quem sabe, partidários da Igreja-Nova — procuraram armar um incidente com o claro objetivo de sufocar em seu nascedouro a benemérita iniciativa da TFP.

Para narrar a cena, emprestemos as palavras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que num de seus artigos semanais para a "Folha de São Paulo" assim a descreveu:

"Na segunda-feira, centenas de jovens, sócios, militantes ou cooperadores da TFP - universitários, comerciários e operários - vendiam o jornal no Triângulo central da Capital paulista. A certa altura, uma garotada, que nada entendia de assuntos religiosos, se pôs a vaiar e insultar os jovens da TFP. Era visível que obedeciam a uma palavra de ordem bem estudada, e seguiam os métodos clássicos de agitação.

Por que comunistas queriam interromper a difusão de um jornal que fala contra a Igreja-Nova? Sem analisar aqui o fato, digamos somente que a vaia parecia prestes a contagiar outros magotes de desordeiros esparsos pela praça, como a intimidar o público simpático, mas indefeso.

Entretanto, os jovens da TFP reagiram com um élan admirável. Depois de revidar sumária e moderadamente algumas agressões físicas dos arruaceiros, foram os da TFP avançando aos brados compassados de "Agressores! agressores! — Liberdade! Liberdade!" E diante desta pacífica investida dos arautos da Tradição, Família e Propriedade, que com seus grandes estandartes rubros e suas capas da mesma cor davam uma nota épica ao lance, a baderna recuou. Esse o episódio central de uma luta que a firmeza e a paciência da TFP impediu de ser cruenta.

Nesta hora, uma estrela brilhou com força maior em teu horizonte, ó leitor. Era a afirmação de um Brasil jovem, heróico e ordeiro, a pôr em retirada um anti-Brasil arruaceiro, odiento, implacável. Um Brasil inautêntico made in Havana, Pequim ou Moscou".

Seria preciso acrescentar que o Presidente do Conselho Nacional da TFP (que se encontrava no local, nesse momento) participou ativamente dos acontecimentos, à testa de outros dirigentes da entidade e dos jovens propagandistas. A participação do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, com seu tino e destemor, constituiu o fator decisivo para que o episódio redundasse nessa brilhante vitória da boa causa.

Uma bomba na sede da TFP

De quanto ódio causa aos adversários a atuação da TFP é uma prova insofismável a bomba que terroristas depositaram, às três horas da madrugada de 20 de junho, nos escritórios da Presidência do Conselho Nacional da entidade, à Rua Martim Francisco, nos 665-669, em São Paulo (noticiário na última página).

Permitimo-nos, ainda uma vez, extrair de notável artigo que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu para a "Folha de São Paulo", intitulado "A bomba, a estrela e o sapo", o comentário que o fato merece:

"Vamos antes de tudo à bomba. Ela não arrebentou em tua pessoa, leitor, nem em teus haveres. Mas ela te feriu em algo ainda mais precioso. Sim, a bomba de dinamite, que em horas calmas da noite, um braço anônimo depositou em uma das sedes da TFP, estourou em tua dignidade. O estampido enorme que alcançou vários bairros, anunciou a toda a cidade êste fato lúgubre: procura-se algemar o Brasil, procura-se algemar-te a ti, leitor. Intenta-se fazer de ti, brasileiro independente e cristão, um pobre servo da pior das tiranias, a do terrorismo.

Eis porque o digo: o que valeu à TFP pergunto — a honra daquela bomba? A convicção, o denodo e a eficácia com que ela se afirmou em 1961-1963 contra a reforma agrária de Jango, com que ela se opôs em seguida ao divórcio, e clamou depois contra a infiltração comunista na Igreja. Pois nenhum outro fato há que possa explicar tal ódio contra nossa entidade.

Ora, se qualquer destas atitudes merece como pena um atentado a bomba, decretado por personagens embuçados no anonimato, igual "castigo" se estende, em rigor de lógica, aos 27 mil agricultores que — fundados em sua consciência cristã — protestaram conosco contra a reforma de Goulart. Ela cabe também aos 1.042.359 brasileiros que, fiéis ao mandamento de Cristo, assinaram nossas listas em favor da indissolubilidade do matrimônio. Ela alcança, por fim, aos 1.600.368 brasileiros que conosco exprimiram a firme e inabalável vontade de ver a Igreja livre da infiltração comunista.

Se estás entre estes sentenciados, não é verdade que os que jogaram esta bomba contra nós quiseram acovardar-te a ti? E, supondo-te capaz de um acovardamento de tua consciência, não é verdade que feriram tua dignidade cristã,... à espera do momento em que te firam nos bens e na vida?

E ainda se não concordaste com nossas várias campanhas, ó leitor, não é bem verdade que teu senso de dignidade protesta inconformado ao ver que conspiradores sem entranhas querem, por esta forma, oprimir milhões de teus irmãos?"

Parece evidente que a bomba colocada na sede da TFP às vésperas da nova campanha tenha sido, ao mesmo tempo, uma manifestação de violento ódio, e uma advertência seríssima para que a campanha não se realizasse. O que ressalta o desassombro dos dirigentes da TFP em levá-la adiante, não obstante tão eloqüente ameaça...

Os sapos coaxaram mais alto

Uma nota que é invariável na atuação da TFP — exatamente ao contrário do que gostariam os esquerdistas que acontecesse — é que, quanto mais modesta a camada social atingida por uma campanha, tanto maior simpatia esta desperta. Não quer isto dizer que a entidade não encontre também boa acolhida nas classes altas; o que se passa é que, nelas, o número de opositores — sempre minoritários — é muito mais sensível do que nas outras classes.

Passando, na rua, pelos rapazes da TFP, um certo gênero de pessoas abastadas, pertencendo, aparentemente, ao alto mundo dos negócios, ostentou desde os primeiros dias uns ares de quem não queria nem tomar conhecimento da campanha, olhando para os propagandistas de "Catolicismo" como se estes fossem transparentes. "Trabalhar e produzir é a solução", pareciam dizer essas pessoas. "Vocês, agitando uma ideologia, nada mais fazem do que irritar os

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Destacada de um flagrante da campanha no Rio, esta é uma imagem do élan com que sócios e cooperadores da TFP se empenham, por todo o Brasil, na venda do n.° 220-221 de "Catolicismo".


Em Buenos Aires é grande a receptividade encontrada pela revista "Tradición, Familia, Propiedad" que também denuncia os falsos profetas

Na Argentina, êxito brilhante

A revista "Tradición, Familia, Propiedad", que se edita em Buenos Aires sob a égide da Sociedade Argentina de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, publicou também (em seu número 4-5, correspondente a junho-julho), o texto de "Approaches" sobre o IDO-C e o de "Ecclesia" sobre os "grupos proféticos", juntamente com os comentários estampados por "Catolicismo" a propósito de cada um desses artigos, inclusive o estudo que deles fez o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Lançando mão de recursos de propaganda análogos aos da TFP brasileira — especialmente as capas rubras, completando o efeito visual dos já tradicionais estandartes flamejantes — a TFP argentina alcançou na difusão desse número especial um êxito que se pode chamar estrepitoso. No primeiro dia de campanha, 8 de julho, na Av. Santa Fé, em Buenos Aires, com apenas seis horas de trabalho, foram vendidos 611 exemplares do periódico; no mesmo local, dias depois, em três horas de trabalho, 970 exemplares. A verdadeira avidez do público em comprar o jornal fez-se sentir também junto ao Parque Palermo, onde os proprietários dos automóveis que paravam nos semáforos solicitavam com insistência a presença dos vendedores. Até o momento de fecharmos esta edição escoaram-se, na Argentina, 6 mil exemplares de "Tradición, Familia, Propiedad".

O uso das capas rubras pelos propagandistas da TFP argentina tem sido alvo de reações favoráveis ainda mais expressivas do que as observadas no Brasil.

A campanha recebeu manifestações de apoio altamente encorajadoras, dadas verbalmente ou por escrito. Dentre estas últimas, merece especial destaque a carta que o Exmo. Revmo. Mons. Alfonso Buteler, Arcebispo de Mendoza, dirigiu ao Sr. Cosme Beccar Varela Hijo, Presidente da TFP argentina. Foram estas as incisivas palavras do venerando Prelado: "A atitude do Sr. e de seus colaboradores é reconfortante. Nem todos os filhos da Santa Madre Igreja voltaram-Lhe as costas. Ainda há quem sinta o santo orgulho de lutar por Ela. O Sr. e seus companheiros compreenderam que é um honroso dever o de lutar na defesa da verdade, desmascarando os inimigos emboscados dentro das próprias fileiras dos fiéis. Não abandonem a luta. A Virgem Mãe, que esmagou tantas heresias, fará sentir a sua intervenção nesta campanha pela verdade e a honra da Igreja. Do meu posto de velho Pastor, acompanho-os com a minha pregação, minhas orações e minha bênção".

Pode-se afirmar que a campanha da TFP platina se transformou num acontecimento nacional. Acontecimento, entretanto, que... não "aconteceu" para uma boa maioria dos órgãos da imprensa do país irmão, os quais, como muitos de seus confrades brasileiros, recusam-se obstinadamente a tomar conhecimento dele.

Ressalve-se, a bem da verdade, que as emissoras de televisão têm dado um razoável destaque à iniciativa da Sociedade Argentina de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.


UM REQUERIMENTO E UM DESPACHO;

UMA RESPOSTA E O SILÊNCIO

Em data de 25 de junho p.p., o Sr. Antonio Rodrigues Ferreira, na qualidade de Presidente da Secção de Minas Gerais da TFP, apresentou o seguinte requerimento ao Sr. Joaquim Ferreira Gonçalves, Secretário da Segurança Pública do Estado montanhês:

"Antonio Rodrigues Ferreira, Presidente da Secção de Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, vem expor e requerer a V. Excia. o seguinte:

• 1 — Em todo o Brasil vem a TFP realizando, com apoio das autoridades competentes, a difusão do conhecido mensário de cultura "Catolicismo", o qual se edita em Campos, com a aprovação eclesiástica do ilustre Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mayer.

• 2 — No número que está sendo distribuído nos termos do item anterior, se trata de um assunto de interesse genuinamente religioso, isto é, de organizações semiclandestinas — o IDO-C e os "grupos proféticos" — que visam difundir o ateísmo e a amoralidade nos meios católicos.

• 3 — "Catolicismo" reproduz e comenta nesse número artigos das revistas católicas "Approaches" de Londres e "Ecclesia" de Madrid, e traz um artigo do preclaro Bispo de Campos denunciando como heréticas as referidas entidades clandestinas.

É compreensível que em todo o País os comunistas, ateus por definição, se desagradem com êste combate à propaganda atéia dentro da Igreja Católica, como é evidente que qualquer cerceamento desta campanha lhes beneficie valiosamente o jogo.

• 4 — Por isso têm os comunistas tentado criar distúrbios em algumas cidades com o intuito de turvar a campanha da TFP, e as autoridades têm entendido que devem reprimir tais perturbações, pois estas ferem a liberdade de culto e a liberdade de pensamento, princípios basilares da Constituição.

Assim, venho requerer a V. Excia. as medidas que julgue necessárias para tutelar — em face das investidas comunistas contra a TFP, que V. Excia. afirmou recear — a liberdade religiosa em todas as vias públicas desta cidade, inclusive as do centro, isto de maneira que a TFP possa difundir por todos os métodos lícitos de propaganda o citado mensário "Catolicismo".

Não quero crer que V. Excia. negue esta proteção e que se possa dizer que, no regime inaugurado a 13 de dezembro para combater o comunismo, é lícito aos comunistas, embora colocados fora da lei, impor ao Governo Estadual que vete a liberdade de católicos se proclamarem católicos no centro desta católica cidade... simplesmente porque esta proclamação irrita aos comunistas.

Esperando do alto espírito cívico de V. Excia. E de seus sentimentos cristãos favorável acolhida, / Nestes termos, / Pede deferimento".

"A Polícia não pode nem deve autorizar este método de campanha"

Esse requerimento foi indeferido no dia 26, por despacho do titular da pasta da Segurança Pública, exarado nestes termos:

"Antonio Rodrigues Ferreira, declinando sua qualidade de Presidente da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, Secção de Minas Gerais, requer que a Polícia garanta a liberdade religiosa em todas as vias públicas desta Capital, a fim de que a Instituição possa difundir todos os métodos de propaganda [sic] do mensário "Catolicismo". Procurando fundamentar a súplica, diz o signatário que a TFP vem realizando, em todo o Brasil, com apoio das autoridades competentes, a difusão do citado jornal. Alega, ainda, que o órgão reproduz e comenta artigos de revistas católicas, com trabalho do preclaro Bispo de Campos, denunciando como heréticas entidades clandestinas a que alude. Pondera, ainda, ser compreensível o desagrado que esse processo de combate causa aos comunistas e que o cerceamento dessa campanha lhes beneficia valiosamente, pois procuram turvar os objetivos da TFP. Não invoca, todavia, a norma legal que ampare a pretensão.

Sem ferir o mérito do angustioso problema tratado no requerimento, não posso deferir o pedido, por não encontrar, na lei, qualquer fundamento para a ação da polícia, no sentido de dar à requerente a tutela para a campanha objetivada. Muito ao contrário, a concessão importaria em flagrante ofensa à lei municipal n.° 151, de 17 de julho de 1950, que regulamenta o assunto, além de resultar numa espécie de concorrência desleal a outros órgãos de divulgação, cujo funcionamento é legalmente permitido. Pelas notícias que chegam a esta Pasta, quanto ao processo empregado pelos agentes da TFP, em pontos de maior afluxo popular e intensidade de trânsito de veículos, a atual campanha da Entidade em apreço vem trazendo sérios aborrecimentos ao povo, pela forma agressiva posta em prática, além de contribuir para fermentação de discórdias, capazes de gerar clima propício a reações, com retorno a uma fase inteiramente superada, graças ao profícuo trabalho da Revolução. Esta não foi instituída apenas para combater o comunismo, outras formas de subversão, a corrupção e a dissolução dos costumes. Veio, também, para restabelecer o princípio da legalidade, da igualdade de todos perante a lei, para restaurar a normalidade da vida democrática, enfim. A Polícia não pode nem deve autorizar que êste método de campanha se desenvolva em vias públicas e se a TFP desejar divulgar o mensário de cultura — "Catolicismo" —, poderá fazê-lo pelos meios regulares, utilizando-se de bancas de jornais, cujos funcionamentos são permitidos pelo poder competente, através de distribuição domiciliar ou por meio de assinaturas.

Secretaria de Estado da Segurança Pública, em 26 de junho de 1969. / a) Joaquim Ferreira Gonçalves / Secretário de Estado da Segurança Pública".

Cópia dessa decisão foi enviada por seu prolator, através de carta da mesma data, ao signatário do requerimento, Sr. Antonio Rodrigues Ferreira.

"Causou compreensível alegria entre comunistas e progressistas"

Tomando conhecimento desse despacho, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, enviou ao Secretário Joaquim Ferreira Gonçalves, em data de 27, o ofício que passamos a transcrever:

"Exmo. Sr. Dr. Joaquim Ferreira Gonçalves, DD. Secretário da Segurança Pública / Belo Horizonte — Minas Gerais.

O despacho exarado por V. Excia. no requerimento protocolado sob n.° 4221, em que a Secção mineira da TFP pede garantias contra agressões de arruaceiros, causou a mais viva surpresa — e até mesmo desconcerto — aos membros do Conselho Nacional desta entidade.

A situação criada em Minas pelo despacho de V. Excia. está tendo reflexos profundos em todo o Brasil, pois, divulgada pelos jornais, rádio e televisão de Belo Horizonte com um estrépito anormal, repercutiu intensamente em numerosos outros Estados, causando nos círculos comunistas e progressistas uma alegria fácil de conceber.

Assim, o assunto está em estudo no Conselho Nacional da TFP, e antes de formarmos sobre ele uma idéia global, pedimos a V. Excia. queira entrar em diálogo conosco a fim de obtermos esclarecimentos sobre alguns aspectos da matéria.

Na perspectiva de que — cavalheiro como o é, naturalmente, o membro do Governo de um Estado de tão alto nível de cultura e educação como Minas Gerais — V. Excia. não se recuse a tal diálogo, permito-me apresentar-lhe, relativamente a seu despacho, as seguintes perguntas:

• 1 — o perigo de distúrbios referido por V. Excia. em seu despacho, resulta apenas dos métodos de propaganda empregados pela TFP ou também do conteúdo ideológico da propaganda?

• 2 — Se resulta apenas dos métodos, peço a V. Excia. informar no que esses métodos são próprios a gerar tais discórdias. Pois se é simplesmente pelo que V. Excia. qualifica de agressividade dos jovens da TFP, creio que o mal poderia se remediar por uma vigilância da própria entidade para cercear esta "agressividade".

• 3 - Se o caráter provocador dos métodos reside em algum outro ponto que não percebo, rogo a V. Excia. indicar qual é esse ponto, para que a TFP estude modos de realizar sua propaganda nas praças e ruas centrais da cidade, sem suscitar as reações temidas por V. Excia.

• 4 — Se a razão das possíveis agressões aos jovens da TFP não resulta só dos métodos de propaganda, mas do conteúdo ideológico desta, peço a V. Excia. que o diga claramente, e haja igualmente por bem explicitar de que setores ideológicos — segundo as informações da Secretaria da Segurança de Minas Gerais — tais agressões poderão provir: se de círculos católicos desagradados de nossa denúncia contra organismos ateus semiclandestinos, ou se de ambientes comunistas. --- Estou certo, de antemão, que V. Excia. não se recusará a um diálogo assim proposto, pois é um dos mais belos traços de nossa índole de brasileiros preferir a composição à repressão, e o diálogo ao exercício autoritário do mando. A imensa maioria da opinião pública compreenderá melhor uma colaboração de V. Excia. para enquadrar nossa campanha dentro das normas que, segundo a lei, V. Excia. queira e possa ditar, do que a supressão pura e simples da campanha nos logradouros públicos centrais, onde ela tende a se desenvolver pela própria natureza das coisas. Além do mais, ainda que dito diálogo não resulte no entendimento que o Conselho Nacional da TFP tão vivamente almeja, as informações aqui pedidas são indispensáveis para que nossa entidade possa, dentro da lei, proceder à tutela de seus direitos. Razão a mais para estarmos certos de que V. Excia. no-las dará.

Permita-me V. Excia. acrescentar ao pedido de informações acima três considerações.

Uma é sobre a lei municipal n.° 151, de 17 de julho de 1950. A mim se me afigura que ela diz respeito claramente à concessão de bancas fixas para a venda de jornais e revistas por pequenos jornaleiros, e não à venda desses órgãos de publicidade por pessoas adultas e maiores de idade.

V. Excia. alude, em seu despacho, à igualdade de todos perante a lei. Se se trata de igualdade entre os membros da TFP, entidade cívica que defende a lei, e os comunistas — ora exultantes com a decisão de V. Excia. — que estão fora da lei, parece-me que tal igualdade legal não existe.

Por fim, peço a V. Excia. que me permita pôr em dúvida a objetividade das observações encaminhadas a V. Excia. sobre a "agressividade" de nossos jovens. Conheço-os, e sei que são eximiamente corteses e delicados. Mas a ter havido qualquer irregularidade deles neste assunto, o mal é tão fácil de remediar, que creio não haverá nisto empecilho maior para o prosseguimento da campanha.

Rogo a V. Excia. queira entregar sua carta de resposta diretamente à sede da TFP na cidade de Belo Horizonte (Rua Tomé de Souza, n.° 429). Um estafeta da mesma no-la trará com a maior urgência.

Agradecendo de antemão a acolhida que der à presente, subscrevo-me, / Atenciosamente, / a) Plínio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional".

O longo silêncio

Passados 18 dias — até o momento de encerrarmos a presente edição — o Conselho Nacional da TFP ainda não recebeu resposta do Sr. Joaquim Ferreira Gonçalves a esse ofício.


Tem chegado à TFP e a esta redação significativas manifestações de apoio e aplauso à iniciativa de denunciar a trama do IDO-C e dos "grupos proféticos", destacando-se entre elas as cartas altamente expressivas que escreveram a respeito os Exmos. Revmos. Srs. D. Orlando Chaves, Arcebispo de Cuiabá, e D. Antonio Mazzaroto, Bispo resignatário de Ponta Grossa e titular de Ottabia. Publicaremos em nosso próximo número uma notícia pormenorizada de todos esses pronunciamentos.