Durante o mês de Maria, junto à Imagem atingida pela bomba terrorista
TFP faz vigília diária de orações
Texto de
Gustavo Antonio Solimeo
Teve início no dia 1° de maio a vigília diária de orações que a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade decidiu promover, durante o mês de Maria, diante da imagem da Senhora da Conceição que se venera no oratório instalado na sede da Presidência do Conselho Nacional da entidade, à Rua Martim Francisco, n.° 665-669, bairro de Santa Cecília, na Capital paulista.
Como é do conhecimento geral, a referida imagem foi atingida pela bomba terrorista que destruiu parcialmente aquela sede da TFP, na madrugada de 20 de junho do ano passado. Em reparação ao agravo assim feito à SSma. Virgem, a TFP instalou um nicho, dando para a rua, no local mesmo onde fora colocado o petardo, e ali expôs à veneração pública a imagem danificada. Esse nicho foi inaugurado no dia 18 de novembro de 1969, como já noticiamos.
Uma devoção popular, simples e espontânea, começou logo a se manifestar junto a esse oratório: eram moradores do bairro que vinham rezar ali, eram transeuntes que se detinham para uma ou duas Ave-Marias; em pouco tempo surgiram ofertas de flores e velas para a imagem. Essas ofertas começaram de maneira despretensiosa: uma modesta dona de casa da vizinhança pediu, alguns dias depois da inauguração do nicho, autorização para ali colocar diariamente uma flor. Nos dias que se seguiram, a boa senhora continuou a trazer as suas flores; outras pessoas imitaram o seu exemplo e alguém doou um vaso. Pouco a pouco passaram a chegar ramalhetes, cestas e até magníficas "corbeilles" (atualmente, o afluxo de flores é muito grande: em um só dia — neste mês de maio — a Senhora da Conceição chegou a receber treze dúzias de rosas, de diferentes doadores, além de palmas, camélias, orquídeas, etc.). Ao mesmo tempo foi crescendo o concurso de devotos, incluindo já então pessoas provenientes dos mais diversos pontos da cidade, que vinham até o oratório para rezar, fazer promessas, agradecer favores recebidos de Nossa Senhora.
Essa crescente devoção popular levou os jovens da TFP — sócios da entidade e militantes da Tradição, Família e Propriedade — a pedirem ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a instituição de uma vigília diária junto ao nicho de Nossa Senhora durante o mês de maio, para rezar pelas pessoas aflitas, necessitadas, expostas a riscos materiais ou morais em toda a Capital. O Presidente do Conselho Nacional da TFP de bom grado aquiesceu a tal pedido, acrescentando a essas intenções mais algumas, conforme expôs em artigo para a imprensa paulista, que transcrevemos ao lado.
O ato inaugural da vigília
O ato inaugural da vigília diária de orações teve lugar no dia 1° de maio, às 22 horas. Na manhã daquele dia, sócios da TFP e militantes da Tradição, Família e Propriedade haviam percorrido as ruas do bairro convidando a população para a solenidade e distribuindo folhetos nos quais eram explicadas as intenções pelas quais se rezaria à Virgem Imaculada. Desde o entardecer era já grande o número de pessoas que afluía ao oratório levando flores e velas para a sua ornamentação, ou transmitindo pedidos de orações.
Às 22 horas, com a presença do Revmo. Frei Jerônimo van Hintem, O. Carm., do Revmo. Pe. José Olavo Pires Trindade, de Religiosas, do Tenente-Coronel Josué de Figueiredo Evangelista e Senhora, e de numeroso público, os sócios da TFP e os militantes, tendo à frente o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, reuniram-se diante da imagem, envergando suas características capas e levando quarenta estandartes rubros com o leão dourado.
Inicialmente, todos os presentes cantaram o hino "Queremos Deus"; a seguir, o Coro São Pio X, da TFP, entoou o motete "Monstra te esse Matrem", polifonia clássica do século XVI, de autoria do compositor espanhol Tomás Luís de Victoria. Depois, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira acendeu duas tochas que foram colocadas de ambos os lados do oratório, e que arderiam em todas as noites do mês, durante a vigília de orações; o Revmo. Pe. Pires Trindade iniciou então a recitação do terço, seguido da Ladainha de Nossa Senhora.
A solenidade encerrou-se com o brado de "Tradição! Família! Propriedade!".
Ato contínuo, dois militantes, postados de joelhos junto ao oratório, deram início à primeira vigília.
O Conselho Nacional também participa
A vigília de orações estende-se do pôr do sol ao raiar da aurora, ou seja, das 18 horas de um dia às 6 da manhã seguinte, e é feita por duplas que se revezam de hora em hora.
Além dos dois que estão de turno — ajoelhados em genuflexórios postos sobre a calçada — são sempre numerosos os sócios e militantes que se sucedem em oração junto ao nicho, sem que seu nome figure na escala do dia, pois o número dos que querem participar da vigília é bem superior ao de horas disponíveis.
Cada dia da semana está a cargo de um núcleo de militantes, ou grupo de sócios e Diretores. Os membros do Conselho Nacional também fizeram questão de participar dos turnos de orações.
As orações e intenções
A abertura da vigília é feita diariamente segundo um cerimonial singelo, mas expressivo, com a presença do Presidente do Conselho Nacional da TFP. Os dois vigiliários designados para a primeira hora revestem suas capas e apresentam as duas tochas ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que ateia fogo a estas e dá início às orações da noite com a recitação do "Angelus" (ou, no Tempo Pascal, do "Regina Coeli"). Começa então a recitação contínua de rosários, que se iniciam com o Credo e terminam com a Salve Rainha e a Ladainha de Nossa Senhora. Entre uma dezena e outra é intercalada a jaculatória que Nossa Senhora ensinou aos videntes de Fátima para ser incluída no terço: "Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem". Ao fim de cada terço é rezado um "Lembrai-Vos", a bela oração atribuída a São Bernardo.
Antes da recitação de cada um dos terços do rosário são lidas as intenções da vigília, que são as seguintes:
— Pela Igreja, para que Nossa Senhora A livre do progressismo;
— Pelo Brasil, para que Nossa Senhora o livre do comunismo;
— Por todos os que sofrem na imensa urbe, para que Nossa Senhora os console e os ajude;
— Por todos os que lutam, vacilando entre a virtude e o pecado, por todos os que perseveram na virtude, para que Nossa Senhora lhes aumente a perseverança;
— Por todos os que pecam, para que Nossa Senhora os preserve do desespero e os reconduza ao bem;
— Por todos os que agonizam, para que Nossa Senhora lhes sorria na hora extrema;
— Pelas pessoas visadas pelo terrorismo, para que Nossa Senhora as ajude, fortaleça e preserve;
— Pelos terroristas, para que Nossa Senhora lhes toque o coração e os converta;
— Por intenção de todos aqueles que se recomendaram às nossas orações.
Ao fim de cada hora, os dois sócios ou militantes que vão ser substituídos põem-se de pé, tendo a seu lado os que os devem substituir; os quatro fazem uma vênia à imagem e com a jaculatória "Dignare me laudare te, Virgo sacrata. Da mihi virtutem contra hostes tuos" é feita a rendição.
É de se notar que, a não ser nas horas mais tardias da noite, os da TFP nunca estão sós junto ao oratório: há sempre um número apreciável de pessoas de ambos os sexos, das mais diversas idades e condições sociais, que acompanham as orações da vigília.
Repercussões
A vigília diária de orações instituída pela Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade alcançou ampla repercussão tanto na Capital paulista, como também no Interior e em outros Estados. Dos pontos mais diversos têm chegado cartas de aplausos pela iniciativa, ou pedidos de orações. A imprensa de São Paulo publicou com destaque reportagens ilustradas sobre o ato inaugural, e nos dias subsequentes vários canais de televisão enviaram cinegrafistas ao local para filmar o oratório com as pessoas rezando diante dele.
Junto à imagem da Senhora da Conceição,
Maio de 1970:
DOIS JOVENS REZAM POR VOCÊ
Plinio Corrêa de Oliveira
Quando, na madrugada de 20 de janeiro do ano passado, os terroristas estouraram uma bomba na sede da Presidência do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, imaginavam estar vibrando um rude golpe nessa entidade. Na realidade, era precisamente o contrário que sucedia: a Providência Se serviria do fato para abrir pouco depois — precisamente naquele local — um rio de graças.
Com efeito, entre os objetos mais danificados pelo atentado criminoso, estava uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Guardamo-la carinhosamente. E, concluída a restauração do edifício, nosso dedicado porteiro Manuel nos deu esta linda sugestão: fazer um oratório dando para a rua, no local preciso onde a bomba explodira, a fim de ali expor à veneração pública a imagem danificada. Com isto se repararia a ofensa feita à Virgem Mãe de Deus.
Atendendo ao apelo, decidi que a imagem fosse transportada em um desfile solene, de nossa sede da rua Pará para a da rua Martim Francisco, n.o 669.
* * *
Só quem frequenta assiduamente a rua Martim Francisco 669 pode formar uma ideia global do efeito benfazejo que a presença dessa imagem e desse oratório produz sobre a população.
Desde o ato inaugural do oratório — no dia 18 de novembro do ano passado — até hoje, a imagem tem estado continuamente florida. São rosas esplêndidas, são orquídeas de qualidade, são flores comuns, são até as modestas florinhas populares, a se acumularem dentro do oratório, e — o mais das vezes — a transbordarem fora dele, marcando a rua com uma nota festiva. Nem uma só vez foram estas flores compradas pela TFP: são ofertas espontâneas de devotos da Senhora da Conceição.
Procedem tais ofertas, na maioria dos casos, de pessoas das redondezas. Mas algumas delas chegam de bem longe. Pois os devotos da imagem começam a estender-se pela enorme cidade. Um bilhete pedindo graças foi deixado junto ao oratório por uma senhora que informava residir na Liberdade. Lindas flores chegaram há dias, enviadas por uma floricultura do Paraíso. Um objeto perdido no local trazia o endereço de uma pessoa do Jardim América...
Nas horas mais diversas do dia e da noite, há pessoas que rezam diante do oratório. Assim, nas primeiras horas da manhã, passam rápidos os empregados de todo tipo, à demanda de seus locais de trabalho. Em frente ao oratório, alguns se detêm para uma rápida prece. Outros, que não têm tempo de parar, se persignam e continuam seu caminho. Logo depois começam a passar, menos apressadas, as donas de casa, que vão para a missa ou para compras. Diante do oratório, numerosas são as que, por sua vez, se persignam, ou param e rezam. Aos poucos, a rua vai começando a se atravancar de automóveis. Passam carros particulares, táxis, caminhões e ônibus. É frequente notar que, dentro deles há gente que faz o sinal da cruz: homens e mulheres, crianças, jovens e velhos, passageiros e “chauffeurs”.
Pela calçada, a quantidade de pedestres cresce também, e se vai tornando heterogênea. Continuam numerosos os que se persignam de passagem. Mas vários outros se detêm, às vezes demoradamente. Não raras vezes, fazem uma genuflexão até o chão. Ou mesmo se ajoelham, pura e simplesmente, em plena calçada, como se estivessem em uma igreja... Entre estes, não poucos jovens. E até algum “play-boy”. De quando em quando, alguma pessoa entrega flores para agradecer ou pedir favores.
Com a entrada da noite, o movimento decresce. O oratório vai ficando isolado. Vão chegando suas horas mais belas e mais pungentes.
Se, durante o dia, a Virgem favoreceu os que passaram na luta pela vida, à noite Ela recebe com amor o triste desfile, que começa, das almas agoniadas, das almas solitárias... dos pecadores.
São pessoas que, às horas mais tardias, saltam de um Volks ou de um Gordini, de um Karman-Ghia ou de um Impala, se recolhem um instante, e saem. Para onde vão? Para um repouso honesto? - Talvez. Mas, muitas vezes, as circunstâncias não permitem duvidar: saem do pecado, ou vão para ele. Algumas soluçam, como um jovem melenudo, que de mãos postas e joelhos em terra exclamava: “Nossa Senhora, acertai minha vida”. A Providência conduz esses noctâmbulos para junto daquela que sabe corrigir todos os vícios, perdoar todos os arrependidos, tocar todos os empedernidos, e consolar todos os aflitos. No meio desses lances de dor as ações de graças continuam. São carros em que vêm, muitas vezes, o esposo e a esposa, com algum filho, trazendo em ação de graças — mesmo tarde da noite — braçadas de flores. Ou até “corbeilles”. E assim corre o tempo, até que a manhã traz novo desfile de outras esperanças, outras alegrias e outras aflições. Como, por exemplo, o de uma septuagenária, que em pleno dia e sem se incomodar com o bulício do trânsito, chorava junto ao oratório pedindo que Nossa Senhora a livrasse — não se chegou a ouvir bem — se de um desemprego ou um despejo...
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Blasfêmias, insultos? Também os há, mas raros.
Uma vez, por exemplo, um jovem enfurecido escarrou na parede em que está encaixado o oratório.
Outra vez, umas moças “proféticas” passaram protestando contra o desperdício de flores. — Judas fez análogo comentário quando viu Santa Maria Madalena a ungir os Pés divinos.
Certa pessoa acercou-se, uma feita, do oratório onde tantos fiéis encontram as graças da Rainha do Céu, e perguntou sarcasticamente: “O que é isto? É macumba?” — Era uma freira...
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De todos estes “flashes”, a imagem que se desprende é a de uma grande cidade em que a graça esparge favores insignes, na qual a virtude resiste e vence as situações mais adversas... mas onde, também, tanto o pecado como a dor, em todas as suas formas, rondam, campeiam, devastam.
Isto levou os admiráveis jovens da TFP a me fazerem um pedido. Estou certo de que tal pedido comoverá até o fundo da alma todos os leitores que ainda tenham na alma alguma profundidade.
Ocupados embora o dia inteiro com seus estudos, seus empregos, suas atividades em prol da Tradição, da Família e da Propriedade, sugeriram-me eles de se revezarem durante a noite uns aos outros, ao longo de todo o mês marial que se aproxima, rezando continuamente o rosário junto à imagem que os terroristas danificaram.
Por que intenções queriam eles fazer essas preces em horas tão heroicas? - Por todos os que sofrem na imensa urbe, para que Nossa Senhora os console e ajude. Por todos os que lutam, vacilando entre a virtude e o pecado, por todos os que perseveram na virtude, para que Nossa Senhora lhes aumente a perseverança. Para todos os que pecam, para que Nossa Senhora os preserve do desespero e os reconduza ao bem. Para todos os que agonizam, para que Nossa Senhora lhes sorria na hora extrema.
Aquiesci. — E como não haveria de aquiescer?
Entretanto, acrescentei a essas esplendidas intenções algumas outras: pela Igreja, para que Nossa Senhora A livre do progressismo — pelo Brasil, para que Nossa Senhora o livre do comunismo — pelas pessoas visadas pelos terroristas, para que Nossa Senhora as ajude fortaleça e preserve — e pelos terroristas, para que Nossa Senhora lhes toque o coração e os converta.
Por fim, recomendei: rezem particularmente pelos terroristas que danificaram a sede e a imagem. Se nós, de todo o coração, os perdoamos, quanto mais os perdoa a Mãe de todas as misericórdias!
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Saibam, pois, todos os que lerem este artigo, que, se em alguma noite deste maio próximo, sentirem necessidade do auxílio de uma prece cristãmente fraterna, naquela hora exata dois jovens universitários, estudantes secundários, comerciários ou operários estarão rezando para que tal auxílio lhes seja concedido.
(Transcrito da “Folha de S. Paulo” de 26.4.70).
Legenda:
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Aspectos da vigília de orações levada a efeito pela TFP durante o mês de maio: a imagem de Nossa Senhora da Conceição vítima dos terroristas
— O oratório com o estandarte da Sociedade e duas tochas, as quais ardem ao longo das doze horas de cada vigília
— A afluência de fiéis para rezar com os sócios e colaboradores da TFP.
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Nas fotos pequenas: diariamente o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira reza as orações de abertura da vigília; em baixo: o porteiro da sede da TFP, Manoel Salvador, que deu a sugestão de se instalar um oratório onde explodira a bomba.