Conclusão da pág. 2

TFP faz vigília diária

vítima dos terroristas, têm-se registrado, por parte do povo, manifestações da melhor piedade marial, bem como de cálida simpatia pela entidade que teve a iniciativa das vigílias. Tampouco têm faltado mostras de ódio intenso por parte de progressistas e comunistas de vária gama. E como poderia deixar de ser assim? Não foi Nosso Senhor, Ele mesmo, uma pedra de escândalo, posta para a salvação e perdição de muitos?

Relataremos aqui algumas dessas manifestações, colhidas por jovens da TFP que se encontravam junto ao oratório. Omitimos por razões óbvias nomes e outras características que possam identificar os protagonistas.

• Poucos dias após a publicação do artigo em que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira anunciava a instituição da vigília de orações, relatando vários fatos ocorridos diante do nicho da Senhora da Conceição, entre os quais o episódio lamentável de uma Freira que havia perguntado se "aquilo" era macumba, uma Religiosa veio trazer uma rosa que ela mesma havia dourado especialmente para colocá-la aos pés da imagem. E explicou que o fazia como reparação pelo sarcasmo sacrílego referido pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: "O que uma Freira fez, disse ela, outra Freira deve reparar!"

• Outra Religiosa enviou um ramo de rosas, pedindo que se rezasse por uma Irmã de sua Congregação que estava às portas da morte.

• 1 hora e 15 minutos do dia 3. Um automóvel que passava se detém, descem dois homens, indagam da origem do oratório e dos objetivos da vigília. Leem os folhetos explicativos, e ao se retirarem, o mais jovem, de cerca de 30 anos, colhe uma rosa de um dos vasos, para levá-la à sua mãe.

• Casal de 45 anos aproximadamente: "Isso que os Srs. estão fazendo é maravilhoso!"

• Um comerciante das imediações fez um inquérito entre as freguesas de sua panificadora e constatou que grande número delas havia passado pelo oratório antes de irem às compras. Comentando o fato com um elemento da TFP, o comerciante disse que era preciso aumentar o oratório, pois já não havia ali espaço para as flores, sobretudo agora, no mês de Maria.

• De um taxi desceu uma família (casal e três moças); tinham vindo de um bairro distante para conhecer o oratório, do qual tinham tido notícia, e rezar diante da imagem de Nossa Senhora. Vários casos análogos ocorreram, em consequência do noticiário da imprensa e da TV. Houve também numerosos telefonemas para as sedes da TFP, de pessoas que queriam saber a localização exata do oratório.

• Num domingo, chegou ao local uma pequena caravana, composta de três automóveis que traziam toda uma família de japoneses. Têm parentes na TFP e tinham ouvido falar do oratório.

• Uma mulher pediu licença para colher uma rosa, a fim de colocá-la sob o travesseiro da filha que se achava doente.

• Uma noite, por volta de 21h30, três moças em trajes masculinos passaram pelo nicho e perguntaram com ar de escárnio o que era aquilo. Foi-lhes dado um volante explicativo e elas, ao terminarem a leitura, afastarem-se afirmando que está acontecendo muita coisa estranha em São Paulo e que não entendiam um fato como esse do oratório e da vigília, em nossos dias. Seriam evidentemente progressistas, quando não comunistas.

• Uma senhora de seus 35 anos, bem trajada, depois de rezar diante da imagem indagou das intenções da vigília. Ao ser informada, agradeceu, afirmando não haver obra mais meritória do que aquela. Comentários nesse mesmo sentido são sem conta.

• Um moço de cor reza diante do oratório, das 22 horas às 2 da manhã. Mora em bairro muito distante e está desempregado; sua irmã que trabalha nas imediações da sede da TFP sugeriu-lhe que fosse pedir auxílio a Nossa Senhora. O rapaz iniciou na mesma noite uma novena, para alcançar um bom emprego.

• Uma senhora espanhola afirmou que, ao deixar a pátria, lhe haviam dito que não encontraria no Brasil tanta fé quanto lá, mas o que ela estava vendo lhe parecia indicar o contrário, pois na Espanha não vira coisa análoga às vigílias promovidas pela TFP. Pediu alguns folhetos para enviá-los aos seus parentes e amigos para que eles também pudessem constatar isso.

• Muitas pessoas que param para rezar junto ao oratório põem-se, espontaneamente, a explicar aos transeuntes que se detêm interrogativos o significado do oratório, sua origem e as intenções das vigílias de orações. São muitos também os que convidam pessoas amigas, levando-as até o local para rezar.

• Uma senhora idosa que já havia tido um enfarte caiu enferma, passando mal. Sua irmã rezou por ela no oratório e levou-lhe um botão de rosa de um dos vasos colocados diante da Senhora da Conceição. Pouco depois a enferma começou a se sentir melhor. Colocado em um vaso na residência da anciã, o botão desabrochou numa rosa que permaneceu viçosa durante uma semana e agora é guardada carinhosamente pela família.

• Uma senhora residente no vizinho município de Diadema veio à Capital especialmente para rezar diante do nicho de Nossa Senhora da Conceição. Informou que uma amiga sua havia recebido num ponto de ônibus um volante falando da imagem e da vigília de orações, e que por isso resolvera também ela vir pedir uma graça à SSma. Virgem.

• 5 de maio — 17h15. Um carro de luxo para junto à sede da TFP. Descem o chauffeur e uma empregada doméstica, que trazem um jarro de flores para Nossa Senhora; não dão o nome de quem o oferecia, pois, a pessoa queria permanecer no anonimato. Aliás, é frequente a chegada de "corbeilles" entregues por floriculturas de diversos bairros, alguns distantes, as quais trazem simplesmente cartões com dizeres como estes: "Para Nossa Senhora", "A Nossa Senhora, envia uma devota", "A Nossa Senhora, em ação de graças".

• Um não católico, refugiado de país comunista, comentou com um militante: "Gostaria de ter a Fé católica para ir também rezar lá, diante da imagem dos Srs."

• Uma garotinha de 4 ou 5 anos rezava fervorosamente diante da imagem. Perguntada pelo porteiro da TFP, disse que pedia pela avó que se achava doente.

• Uma senhora ainda jovem trouxe uma braçada de flores e explicou que por ser dia de seu aniversário oferecia-as a Nossa Senhora em ação de graças.

• A Sra. Graziela Brasil Galvão ofereceu uma coroa de filigrana dourada para que se coroasse a imagem de Nossa Senhora. A sugestão foi aceita com alegria pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, ficando a coroação marcada para o dia 2 de junho, quando se encerrará o mês de vigílias.

• Uma senhora que semanalmente traz flores para adornar o oratório sugeriu que, a exemplo da vigília diária da TFP, fosse também organizado um "plantão de orações" aos sábados, a ser feito pelo povo. Argumentou que, assim como a presença de fiéis junto ao nicho de Nossa Senhora começou com pouca gente, e foi aumentando gradativamente, esse "plantão" poderia também começar com poucas pessoas, ou até com uma só, ela mesma; e acrescentou que tinha certeza de que em pouco tempo a frequência aumentaria.

• Uma Freira já idosa deu um vaso de barro para as flores do oratório, e explicou que sendo pobre não podia oferecer um presente rico a Nossa Senhora, mas que queria ver se conseguiria que alguém doasse um jarro valioso, pois tudo era pouco para Nossa Senhora, a quem se deve dar tudo e o melhor que se puder.

• Tarde da noite, trajada de um modo que não poderia passar sem reparo, uma jovem que descia a Rua Martim Francisco, parou diante do oratório. Leu o cartaz explicativo que ali se encontra e logo pôs-se a rezar, parecendo angustiada.

• Os ocupantes de um automóvel com chapa do Interior tiveram a atenção despertada pelas tochas acesas e pelo movimento junto ao nicho da Virgem. Indagaram de que se tratava e se retiraram. Vinte minutos depois voltavam com um ramo de rosas para oferecer a Nossa Senhora.

• De um carro de luxo desceu um. Casal com duas filhinhas, de seus 5 e 6 anos. Uma das meninas dispôs carinhosamente sobre o parapeito do nicho um ramalhete de flores que haviam trazido. Rezaram todos juntos alguns minutos, antes de se retirarem.

• Um automóvel parou um pouco adiante da sede da TFP. A jovem que o dirigia, vestindo trajes masculinos, chamou um militante que estava próximo e pediu-lhe que colocasse num dos vasos do nicho uma rosa que ela trouxera, explicando e com muita razão — que não queria aparecer assim diante da imagem. Caso análogo se deu em outra noite, quando uma senhora parou seu carro a uma certa distância e desceu para pedir informações, prometendo vir rezar quando estivesse em outros trajes.

• Não é raro ver rapazes com blusões desta ou daquela Escola superior pararem diante do oratório e rezarem com toda a naturalidade. Um deles, certa noite, tirou do bolso o terço e acompanhou os militantes, afastando-se logo que terminou a oração. Outras vezes são alunos que trazem na mão cadernos com o emblema de um "cursinho" que existe nas imediações e que se persignam ao passar diante do nicho, enquanto colegas mais "esclarecidos" esboçam um ar de contrariedade.

• Valerá a pena mencionar os insultos?

Os mais pesados, contra o oratório ou os que rezam diante dele, partem em geral dos "corajosos" ocupantes de automóveis, não raro de luxo, que vociferam enquanto prudentemente aceleram a marcha do veículo... Uma noite, de um Volkswagen vermelho ouviu-se um resmungo encolerizado: "Essa gente fica ajoelhada no meio da rua!" É que a calçada estava pequena para a pequena multidão de jovens da TFP e outros fiéis que rezavam a Nossa Senhora.

• Há outros motoristas que, pelo contrário, como já mencionamos, param o carro defronte ao oratório e fazem uma curta prece sem deixar o volante, enquanto outros, ainda, preferem estacionar pouco adiante e veem rezar com mais calma.

• Foi-se tornando comum o oferecimento de donativos em dinheiro para a compra de flores e velas. Os sócios da TFP e os militantes têm por norma recusar tais ofertas, agradecendo delicadamente e sugerindo que a pessoa faça o donativo em espécie.

• É comovedor ver-se mães, de todas as categorias sociais, que vêm pedir que nas vigílias se reze por seus filhos: um é doente, o outro não trabalha e só dá desgostos aos pais, outro leva uma vida licenciosa, etc.

• Não deixa também de comover o espetáculo tão frequente, de mães que trazem até junto da imagem seus filhos ainda de colo, e lhes tomam as mãozinhas para fazerem-nas traçar o sinal da Cruz.

• Uma Religiosa, tendo notado que os genuflexórios usados pelos jovens da TFP durante as vigílias eram incômodos, enviou dois outros, estofados em couro. Não satisfeita com isso, mais tarde mandou tomar as medidas destes para fazer confeccionar novas almofadas, pois não considerava que as primitivas fossem confortáveis o quanto ela queria.

• Uma pequena rosa de prata foi oferecida a Nossa Senhora por uma empregada doméstica que quis ficar no anonimato.

• Dois operários da repartição estadual de águas, que acabavam de fazer um conserto noturno em frente ao oratório, a convite de um militante associaram-se às orações da vigília durante algum tempo. Ao se retirarem, levaram satisfeitos duas rosas colhidas junto à imagem e a eles oferecidas por um dos jovens da TFP.

• A notícia do oratório, da vigília diária, da devoção popular vai-se propagando. Um Padre do Interior de São Paulo escreveu à irmã residente na Capital, recomendando-lhe que fosse rezar no oratório da TFP. De Fortaleza, no tão distante Ceará, uma família aparentada com um sócio da TFP mandou uma caixa de flores artificiais em ação de graças por um favor recebido de Nossa Senhora.


UMA FACÇÃO CAMALEÔNICA

Alberto Luiz Du Plessis

Existe, no plano político internacional, uma entidade polimórfica, de atuação muito in- tensa e importante, mas que pelo seu caráter fugidio e camaleônico é difícil enquadrar num esquema preciso. Referimo-nos às chamadas correntes liberais norte-americanas.

O próprio título já é psicologicamente bem escolhido. Quem é que não quer ser conhecido como liberal, palavra que, de acordo com o dicionário, é sinônimo de generoso, franco e dadivoso? obviamente os antiliberais são mesquinhos, insinceros e sovinas; péssimos indivíduos, em suma.

A facção é ampla e nela há lugar para todos os que quiserem entrar: o jovem milionário que desce do "Cadillac" para fazer o elogio de Fidel Castro, a escritora "evoluída" que publica artigos a favor da pílula e do divórcio, o professor que pede que a direção das escolas seja assumida pelos alunos, o artista "pra frente", e muitos outros, pois "infinitos est numerus stultorum". É de toda a conveniência arregimentar também alguns clérigos, de preferência católicos, que defendam o amor livre e o comunismo. Quanto a estes últimos não há dificuldade: o IDOC e os "grupos proféticos" mantêm um estoque sempre renovado.

Os liberais não se filiam necessariamente a um partido determinado, sendo encontradiços entre os republicanos e entre os democratas, porém o seu ideal é aparentar, se possível, uma atitude apartidária, refulgente de nobre isenção e objetividade.

Geograficamente, concentram-se principalmente na região leste dos Estados Unidos, sendo particularmente fortes em Nova York. No Meio-Oeste têm muito poucos adeptos. Aliás, que se poderia esperar de fazendeiros reacionários e de desbravadores incultos?

As correntes liberais não dominam ainda inteiramente a política norte-americana, mas a sua força é muito grande. Não conseguiram impor o seu candidato-modelo à presidência da República, o falecido Adlai Stevenson, mas a propaganda que desenvolveram reduziu consideravelmente as possibilidades do candidato conservador Barry Goldwater. Sua influência é muito forte nas duas casas do Congresso, onde a ação de senadores como William Fulbright, presidente da Comissão de Relações Exteriores, tem prejudicado muito o esforço de guerra no Vietnã.

Os ditos liberais "yankees" não têm símbolos, mas uma venda num dos olhos seria emblema muito adequado para eles, posto que decididamente só enxergam aquilo que lhes interessa. Recentemente, o jovem e trêfego senador Edward Kennedy, mal refeito de suas complicações romântico-policiais, afirmou, entre outras coisas, que o Brasil havia adquirido uma esquadrilha de aviões bimotores Caribou, com a finalidade de mais facilmente poder exterminar os índios da Amazônia ... Os negros da África do Sul, atingidos por medidas de discriminação racial, são apresentados como mártires; mas os negros do sul do Sudão, animistas ou cristãos, que são massacrados às centenas de milhares pelos árabes muçulmanos do norte, nem sequer são mencionados, por isso que esses árabes são de obediência socialista e contam com o auxílio russo... Sobre o esmagamento da Hungria, a invasão da Checoslováquia, a deportação dos tártaros na Rússia, os conflitos da Revolução Cultural na China, a guerra de Biafra, sobre tudo isso os liberais mantêm um prudente silêncio, mas se a polícia de qualquer lugar do globo dissolver com a necessária energia uma baderna anarquista, será por eles apontada imediatamente à execração universal.

Como neste mundo nem tudo são rosas, os liberais norte-americanos agora se defrontam com um dilema. Eles sempre tiveram nos meios israelitas dos EUA (com exceções, evidentemente) um dos seus mais seguros apoios eleitorais e financeiros, bastando lembrar que o "New York Times", talvez o mais importante jornal do país, e dirigido por uma família de origem judaica, é quase um porta-voz da facção liberal. Ora, nos últimos anos esta última sempre afetou o mais completo pacifismo, proclamando como princípio que nunca se deve travar uma guerra, e que é necessário perder logo alguma em que se seja envolvido, para que assim a paz volte depressa a reinar. Acontece que agora Israel está seriamente ameaçado pelos árabes, e muito liberal que não admitia que os "boys" norte-americanos morressem por Saigon, vê-se pressionado por seu eleitorado para solicitar que eles morram por Tel-Aviv. Por outro lado, para os autênticos esquerdistas que são estes liberais, Israel é uma ponta de lança do imperialismo ocidental no Oriente Médio, ao passo que os árabes são apoiados pela Rússia, a simpática Rússia. Oh impasse dilacerante!

Como se vê, trata-se de uma facção complexa e de definição difícil. Talvez a solução para compreendê-la seja pedir luzes a Nosso Senhor Jesus Cristo, e verificar como Ele procedeu, há dois mil anos, quando os fariseus procediam de maneira semelhante à de seus descendentes espirituais de hoje em dia.


Calicem Domini Biberunt.

O JANSENISMO ATACADO DE FRENTE POR DIESSBACH

Fernando Furquim de Almeida

Vamos resumir a mensagem do Padre Diessbach a Leopoldo II. Seus primeiros tópicos mencionam as dificuldades políticas que este encontrava ao subir ao trono da Áustria e que ameaçavam a própria existência do Sacro Império Romano Alemão. Para melhor compreensão, vamos expor um pouco mais pormenorizadamente essas dificuldades, que o Padre Diessbach apenas enumera.

A Hungria a os Países Baixos, onde as ideias revolucionárias tinham tomado impulso sobretudo depois dos acontecimentos que eclodiram na França em 1789, ameaçavam separarse da coroa austríaca. Por outro lado, a guerra em que a Áustria estava empenhada contra os turcos, e o crescente prestígio da Prússia, com sua sistemática política de hostilidade aos Habsburgos, tornavam extremamente delicada a situação do Sacro Império e reduziam as possibilidades de Leopoldo se fazer eleger imperador.

Tudo isso impedia esse príncipe revolucionário de transportar para a Áustria a orientação que caracterizara seu governo no Grão-Ducado da Toscana. Forçado pelas circunstâncias, pelo menos no início ele foi cauteloso. A oposição a seus desmandos na Itália era conduzida pelo clero a pela nobreza. Na Áustria, largamente contaminada pelos erros do josefismo e do febronianismo, o clero não constituía um problema para o novo soberano. Por outro lado, a generalidade do episcopado estava em luta declarada com a Santa Sé e via na aliança com o trono a sua única possibilidade de vitória. Prudentemente, Leopoldo II evitou favorecer o jansenismo como o fizera na Toscana, escondendo a sua adesão a essa heresia para não enfraquecer o apoio que recebia da hierarquia. Quanto à nobreza, conseguiu conquistála com boas maneiras, o que leva o Padre Diessbach a dizer: "Já conquistastes a nobreza, principal sustentáculo da monarquia, tão conscientemente desconhecida e desprezada".

Expostas essas dificuldades, e depois de exprimir sua convicção de que o talento e a habilidade do soberano saberiam contorná-las, a mensagem lembra que elas não seriam de todo resolvidas se Leopoldo II não se tornasse um verdadeiro príncipe católico, combatendo as heresias que pululavam em seus Estados, deixandose guiar pelos princípios do Evangelho e sendo um fiel defensor da Santa Sé.

* * *

Passa então o Padre Diessbach a enumerar e combater os erros que eram de molde a impedir o destinatário da mensagem de ser um grande príncipe. Naturalmente começa com o jansenismo, não temendo recordar a triste conivência do GrãoDuque da Toscana com Scipione de’ Ricci e Pietro Tamburini: "Protegereis o jansenismo em vossos novos Estados? Curareis as chagas que se abriram na Igreja? Eis minha dúvida.Esta se estende a esse duplo objeto, e aqui estão os fundamentos que a tornam razoável; à medida que os for expondo, sua importância surgirá por si mesma".

Depois de explicar quem eram Scipione de’ Ricci e Pietro Tamburini, conclui o Padre Diessbach:. "Entretanto, esses males persistem; eles nasceram e se multiplicaram sob vossos olhos, e nada fizestes para deter seu curso. Parece que assim procedestes pela persuasão em que vos encontrais da retidão das opiniões desse partido, persuasão que devemos infinitamente temer num caráter tão estimável como o vosso. À face de toda a Europa protegestes os autores destes males. Que devemos esperar? Protegereis, Senhor, neste vosso reino o jansenismo?"

Depois de fazer o histórico do jansenismo, mostrando como sua propaganda foi organizada e conduzida com a precisão reveladora de um programa, um partido, uma nova seita enfim, observa a mensagem: "É uma seita como todas as outras, com esta única diferença: ela sempre soube, até agora, conservarse aparentemente unida à Igreja, embora seja inimiga mortal desta e apesar de a Igreja a ter condenado".

Passa então o Padre Diessbach a refutar a doutrina jansenista, dedicando bom trecho a mostrar seus erros, enumerar os atos da Santa Sé que os denunciavam, e pôr em evidência os subterfúgios a que os sectários recorriam para tentar escapar dessas condenações. Termina com um apelo a Leopoldo II:

"Oh, preservai-nos, grande Monarca, dignaivos preservarnos de uma heresia tão perniciosa! Que as almas de vossos súditos, resgatadas pelo sangue de um Deus, vos sejam preciosas. Não onereis a vossa com a conta severa que tereis de prestar no tribunal de Deus, por sustentardes homens refratários à sua Igreja, que pregam doutrinas por ela irrevogavelmente condenadas e tão intrinsecamente criminosas. Oxalá possais, ó Monarca, apesar dos grandes cuidados que vos assediam de toda parte sem conseguir vos abater, oxalá possais sentir vivamente que as questões que interessam à Religião são maiores que todas as outras, na mesma proporção em que a eternidade se eleva acima de tudo o que passa. E sejavos dado sentir bem que o único partido que tendes a tomar, nestas questões sagradas, é sustentar vigorosamente a Igreja Católica".

Essa primeira parte da mensagem é uma refutação cabal do jansenismo. O Padre Diessbach se estende talvez um pouco demais sobre o valor literário dos livros jansenistas; é que conhecia bem a Revolução nas ideias, e desejava combatêla com seu apostolado, opondolhe a doutrina católica. Em todo caso, revela uma grande fortaleza atacando de frente o jansenismo, e nomeadamente Scipione de’ Ricci e Pietro Tamburini, dois grandes amigos de Leopoldo II que partilhavam as suas ideias e tinham sido sustentáculos de seu governo revolucionário na Toscana.


NOVA ET VETERA

Laboratórios sombrios para produzir todo erro

J. de Azeredo Santos

Tomamos conhecimento, através da imprensa diária, da seguinte notícia: "SANTA FÉ (Argentina), 3 (AFP) — Dois bispos e cento e vinte e cinco sacerdotes progressistas proclamaram ontem aqui seu "formal repúdio ao sistema capitalista e sua adesão ao processo revolucionário socialista que promova a vinda do Homem Novo". Os clérigos pertencem ao "Movimiento de Sacerdotes para el Tercero Mundo", fundado em dezembro de 1967 para protestar contra as estruturas “arcaicas” da Hierarquia católica argentina.

"A declaração foi formulada ao término das reuniões celebradas pelos Padres progressistas nesta cidade, na presença dos bispos de Goya e de Rafaela, monsenhores Alberto Devoto e Antonio Brasca.

"Nela se expressa que os sacerdotes do terceiro mundo optaram por um "socialismo latino-americano que implique necessariamente na socialização dos meios de produção, do poder econômico e político, e da cultura". Segundo os sacerdotes, a experiência peronista e a longa fidelidade das massas ao referido movimento constituem um elemento chave na incorporação do povo argentino ao referido processo revolucionário" ("Folha de São Paulo", de 4 de maio de 1970).

Em outros tempos, notícias como esta constituiriam verdadeiro escândalo, mas nos dias que correm elas vão formando parte da rotina diária. E é bem evidente que movimentos como esse registrado na Argentina não estão nascendo por geração espontânea, mas vêm sendo fomentados por certos sombrios laboratórios de ideias: é desses autênticos poços do abismo que emanam tais fumaças letais que ameaçam envenenar todo o orbe.

Em seu memorável número duplo de abril-maio de 1969 "Catolicismo" publicou impressionante documentação através da qual é desvendada toda uma rede de associações e de publicações destinadas a promover a instauração de uma "Igreja-Nova panteísta, desmitificada, dessacralizada, desalienada, igualitária, e posta ao serviço do comunismo".

Temos em mãos um desses instrumentos de subversão "profética": o número 7 [História da Igreja], de setembro de 1969, da revista internacional de teologia "Concilium", publicada em várias línguas e tendo como foco de irradiação um Secretariado Geral instalado em Nimega, Holanda (local de onde partiu o tristemente famoso "Novo Catecismo" holandês). Da edição em português (Livraria Morais Editora, Lisboa/Recife) consta a nota "Cum approbatione ecclesiastica".

Na linha da doutrinação subversiva, destacamos desse número 7 o artigo "Revolução e Dessacralização", de autoria do Secretariado Geral e de Josef Smolik. Pela nota biográfica, ficamos sabendo que este último é ministro evangélico, natural da Checoslováquia, e entre outros títulos ostenta o de professor de Teologia Pastoral em Praga.

Para que não haja dúvida sobre que espécie de revolução se focaliza, logo de começo diz o artigo que "revolução, iluminismo, dessacralização e secularização parecem ser as várias fases de um processo histórico que teve início no século XIX e ainda hoje continua" (p. 129). E mais adiante define: "O termo "revolução" pode ter muitos sentidos e ser usado em vários níveis. No entanto, entende-se geralmente como a transferência violenta da concentração do poder de uma classe social para outra que surgiu em cena. Se quisermos analisar esta definição mais pormenorizadamente, temos de situar o fenômeno revolução num contexto mais amplo. A destituição pela força só pode desempenhar um papel positivo quando a situação histórica global está já impregnada do espírito revolucionário. [...] A revolução violenta é apenas uma fase do processo revolucionário, processo mais vasto e profundo" (pp. 132,133).

Passando a tratar da "consciência revolucionária", diz o artigo: "A consciência revolucionária forma-se em pequenos círculos dentro ou, no mais das vezes, fora da Igreja institucional. Surge onde quer que o homem se consciencializa da sua humanidade e sacode as algemas do poder fetiche. Não consegue vingar onde a força e as leis da força constituem o último argumento. A essência da realidade revolucionária é a libertação de todo o poder e das suas leis, liberdade que Jesus defendeu perante Pilatos. [...] Gostaria de vincar que a tradição cristã, quando corretamente interpretada, se revela como uma fonte da consciência revolucionária" (p. 141).

Como se vê, estamos diante de um pequeno manual de ação subversiva, ao qual não faltam conselhos práticos como o da formação de "pequenos círculos" dentro ou fora da Igreja "institucional'', nem a argumentação blasfematória em que Nosso Senhor Jesus Cristo aparece como defensor da "libertação de todo o poder e das suas leis", isto é, da mais completa desalienação marxista, o reverso do que o Divino Salvador disse a Pilatos: "Tu não terias poder algum sobre Mim, se te não fosse dado do alto" (Jo. 19, 11), o que faz entender que todo poder vem de Deus, a Quem os próprios detentores do poder também estão sujeitos ou alienados.

Prosseguindo em sua faina subversiva, tratam finalmente os articulistas do programa e da estratégia revolucionária: "A consciência revolucionária do cristão e a do marxista coincidem na medida em que ambas se opõem à sacralização do statu quo. O diálogo entre eles começa no momento em que da realidade revolucionária se passa para a questão do uso da força" (p. 141). E terminam por dizer que "é dever do cristão comprometer-se num programa revolucionário humanista, cooperar com os revolucionários, mesmo que aspirem a derrubar violentamente o Estado, e prestar-lhes o serviço de ser a sua consciência" (p. 141). O programa se acha, portanto, completo: os cristãos devem dialogar com os marxistas e é seu dever comprometer-se num programa revolucionário e cooperar com os revolucionários, servindo-lhes de consciência, mesmo quando estes são partidários da derrubada violenta das instituições. Esses cristãos bem desalienados e dessacralizados permanecem sempre dialeticamente revolucionários, mesmo que os outros se transformem "em burocratas e estrategos" (p. 142). Podem ser vítimas de incompreensões, no caso de a Revolução triunfar, e ser confundidos com um contra-revolucionário ou — oh horror para os verdadeiramente "engajados" no processo revolucionário — com "um revolucionário da facção que detém o poder" (p. 142).

Ora, se a Revolução marxista é assim abertamente pregada por uma revista internacional de Teologia, que não somente circula sem entraves entre o Clero, mas traz aprovação eclesiástica e tem em seu corpo de direção nomes como Edward Schillebeeckx, Hans Küng, Chenu, Yves Congar, Jorge Mejía, Karl Rahner e Roberto Tucci, figuras exponenciais do progressismo católico, — que admira que espouquem por todos os lados movimentos subversivos como o que vem de se manifestar na cidade de Santa Fé? E, neste caso particular dificilmente poderia ser mais triste a ironia do nome do lugar escolhido para ser teatro de tamanha abominação!