Prorrogadas até 7 de setembro as vigílias de orações da TFP
UMA FESTA AO MESMO TEMPO NOBRE E POPULAR
Texto de
Gustavo Antonio Solimeo
"Esses ideais para os quais o Brasil foi criado, proclamemo-los não de pé, mas de joelhos, na colina histórica do Ipiranga, pedindo a Nossa Senhora que nossa Pátria realize a favor da civilização cristã tudo aquilo que estava nas intenções da Providência que ela realizasse, quando a voz de D. Pedro I bradou "Independência ou morte!", e do alto do Céu Vós, minha Mãe, destes ao Brasil novo o vosso primeiro sorriso materno". Com estas palavras o Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, anunciou sua deliberação de, a pedido dos jovens que militam com a entidade, prorrogar até o dia 7 de setembro a vigília diária de orações que a TFP levou a efeito, durante todo o mês de maio, junto ao oratório instalado em sua sede da Rua Martim Francisco, nos 665-669, em São Paulo. Como se sabe, esse oratório recorda a explosão de uma bomba terrorista que destruiu parcialmente o edifício da referida sede e danificou uma imagem de Nossa Senhora da Conceição ali venerada. Na noite de 6 de setembro essa mesma imagem será levada até o Monumento do Ipiranga e na colina histórica será feita até a manhã da festa nacional da Independência uma vigília de preces pelo Brasil.
Encerrando as vigílias do mês de Maria
Uma verdadeira festa popular marcou o encerramento, na noite de 2 de junho, do mês de vigílias que a TFP promoveu diante do oratório de Nossa Senhora da Conceição, vítima dos terroristas. Uma multidão calculada em oitocentas pessoas ocupava a pequena praça improvisada, em frente à sede da entidade, numa extensão de 30 metros da Rua Martim Francisco que o DET fechou durante duas horas para o trânsito de veículos. Trezentos e cinquenta sócios e colaboradores da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, com o Conselho Nacional à frente, ostentavam suas capas rubras e grandes estandartes marcados pelo leão rompante. Ao lado dos da TFP, rezando com eles, cantando com eles, aplaudindo com eles, havia uma densa massa de moradores do bairro e outros devotos de Nossa Senhora. Uma quantidade enorme de flores — oferecidas todas pelo povo — transbordava do oratório para a calçada. Contribuía a seu modo para acentuar o ambiente de alegria a intensa iluminação do local feita por cineastas que para lá se dirigiram a fim de filmar o ato. Na ocasião falaram o Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mayer, e o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, bem como um militante da Tradição, Família e Propriedade; o Coro São Pio X, da TFP, cantou diversos hinos e motetes de polifônico e gregoriano.
Foi, como escreveu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em artigo para a imprensa diária, "uma festa ao mesmo tempo recolhida e pública, nobre e popular, que impressionou a fundo".
Nuvem de fumo leva pedidos ao Céu
A solenidade foi aberta às 18h35 pelo Coro da TFP, que cantou em gregoriano a antífona "Tota pulchra es Maria". Enquanto o Exmo. Bispo de Campos descerrava o véu que cobria o oratório — cujo vidro, que o separa da rua, fora retirado especialmente para a cerimônia — todos os presentes cantaram o hino "Viva a Mãe de Deus e nossa".
Procedeu-se então à incineração de grande número de pedidos que os fiéis haviam depositado aos pés da imagem da Mãe de Deus.
Enquanto as labaredas e o fumo elevavam-se para o céu — representando, num belo simbolismo, as súplicas que subiam até o trono da Virgem — fez uso da palavra o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que enalteceu o significado da vigília diária de orações, bem como a dedicação dos sócios e militantes da TFP que a haviam levado a efeito, e a fervorosa acolhida do público, o qual se associou com notável constância às preces destes últimos.
Mencionou o orador algumas manifestações muito significativas dessa adesão dos fiéis às vigílias: uma Religiosa ofereceu a Nossa Senhora uma rosa dourada; outra levou uma auréola para adornar a imagem; moradores do bairro doaram uma coroa de ouro para cingir a fronte da Virgem, rosas de prata (uma delas foi oferecida por modesta empregada doméstica da vizinhança), um terço de prata, uma pena de ouro, um crucifixo de madrepérola, diversos vasos, velas e flores incontáveis. Flores vieram também de Fortaleza e outras de Buenos Aires.
A Medianeira de todas as graças
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira passou a palavra ao Exmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer, a quem saudou como um dos mais ilustres Bispos do Brasil e teólogo de renome tanto em nossa terra como no Exterior.
S. Excia. Revma. discorreu, com a segurança, a elevação e o brilho que lhe são característicos, sobre a Mediação universal de Maria, lembrando que Nossa Senhora é o conduto pelo qual Deus vem aos homens e estes chegam até Deus. O Bispo de Campos manifestou seu júbilo com a vibrante homenagem que estava sendo prestada a Maria Imaculada, e terminou seu discurso exortando os presentes a terem uma devoção cada vez mais ardente para com a Mãe de Deus, e recorrerem com confiança a Ela em todas as vicissitudes da vida.
Estampamos em outro local desta edição o texto da oração do Sr. D. Antonio de Castro Mayer, bem como o dos outros discursos da noite.
"Levemos ao Ipiranga a Senhora da Conceição!"
Concluída a alocução do egrégio Prelado, uma voz se ergueu dentre os militantes da Tradição, Família e Propriedade. Era o estudante de Direito Valdir Trivelatto que, em nome de seus companheiros, solicitava ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que não desse por encerradas as vigílias de orações, mas, antes, as tornasse perpétuas. Argumentou que o Presidente do Conselho Nacional da TFP havia atendido à sugestão do porteiro Manoel Salvador, instalando o oratório, e ao desejo dos militantes, instituindo as vigílias; não poderia agora recusar-se a atender aos rogos não só do porteiro e dos militantes, mas também de todo o povo que ali se achava presente. Uma verdadeira ovação popular coroou essas palavras, ratificando de modo entusiástico o pedido que fora feito.
Respondendo, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira salientou o quanto lhe alegrava tal pedido, mas acrescentou que não ousava aquiescer em que as vigílias se tornassem perpétuas, como o desejava a generosidade dos militantes, pois sabia o quanto isso representava de sacrifícios para eles, tão sobrecarregados já de obrigações escolares e profissionais, bem como de atividades no âmbito da Sociedade. "Não tenho no ânimo, afirmou, a resolução suficiente para declarar perpétua esta vigília diária que vossa generosidade jamais quisera encerrar". Entretanto, para atender em parte ao desejo dos jovens militantes, sancionado pelo aplauso popular, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira anunciou a deliberação de prorrogar a vigília diária de orações até 6 de setembro, e de nesse dia levar a imagem da Senhora da Conceição até o Monumento do Ipiranga. Na colina histórica a TFP fará uma vigília até a manhã do dia da Independência, para pedir a Nossa Senhora que o Brasil realize a missão a que a Providência o chamou, de constituir com os demais países da América Latina o bloco do futuro, a grande potência do século XXI. Depois de lembrar que logo após a Independência o Brasil se considerou sob a especial proteção da Imaculada Conceição concluiu: "Levemos ao Ipiranga a imagem de Nossa Senhora da Conceição!"
As palavras do Presidente do Conselho Nacional da TFP foram várias vezes interrompidas pelo brado de "Pelo Brasil: Tradição! Família! Propriedade! — Brasil! Brasil! Brasil!", proferido pelos sócios e militantes da entidade, acompanhados pelo povo.
Participação entusiástica do povo
Merece um registro especial a parte que o povo tomou em toda a cerimônia. Já dissemos que ele rezava, cantava e aplaudia em uníssono com os sócios e colaboradores da TFP. E era com júbilo e entusiasmo que fazia isso. Para não falar senão dos aplausos, as palavras do Exmo. Bispo de Campos e do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira receberam verdadeiras ovações; tampouco faltaram palmas prolongadas para a oração do representante dos militantes.
Ao término da solenidade, os fiéis se aproximaram para oscular as fitas azuis que pendiam da imagem. Muitos colheram rosas que adornavam o oratório, para levá-las como recordação, e como penhor das graças da Senhora da Conceição, vítima dos terroristas.
Depois, como comentou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no artigo a que aludimos, "ninguém queria sair. É que, no fundo das almas, Nossa Senhora sorria".
O texto dos discursos
As palavras pronunciadas durante a solenidade pelo Sr. D. Antonio de Castro Mayer, pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e pelo estudante Valdir Trivelatto foram registradas em gravador. Nós as reproduzimos aqui, na íntegra, sem revisão dos oradores.
1 — Discurso do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
"No momento em que se procede à incineração dos pedidos endereçados por tantos fiéis a Nossa Senhora da Conceição, neste momento em que simbolicamente sobem aos Céus sob a forma de labaredas e de fumaça os anelos de tantas almas fiéis, neste momento a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, pela voz do Presidente do seu Conselho Nacional, não poderia deixar de dizer uma palavra. Esta palavra é sugerida pela natureza mesma do quadro que vemos diante de nós. Uma imagem coroada de espinhos, uma imagem mutilada, uma imagem trazendo em si todos os sinais da devastação, — uma imagem coroada de ouro, uma imagem com resplendor de prata, uma imagem cercada de flores, uma imagem tendo aos pés flores de prata e uma flor áurea, uma imagem adornada com tudo aquilo que a piedade dos fiéis costuma usar para exprimir sua veneração, seu amor e sua gratidão. Esta antítese entre a devastação de um lado e a glorificação de outro lado, é bem a história deste oratório que aqui está diante de vossos olhos. Uma bomba o inaugurou, porém mais possante do que a bomba que destrói, que representa o ódio que arrasa, que nega, que procura calcar aos pés tudo quanto há de mais sagrado, muito mais possante do que a bomba, e do que o poder da destruição, é a fé e o poder da construção. Onde espinhos fizeram sangrar o Coração Imaculado de Maria, onde o ódio danificou a sagrada imagem que aqui está, onde o estampido derrubou uma pequena coroa de prata que cingia a fronte desta imagem e que não se encontrou mais no meio dos escombros e das ruínas, aí mesmo se abriu um rio de graças.
Nossa Senhora figurada pela sua imagem aí está presente. Uma coroa de ouro substituiu a coroa de prata. Uma coroa de ouro que representa tanto, como afirmação da convicção da realeza de Nossa Senhora sobre todo o universo. Rainha dos Anjos, Rainha dos Santos, Rainha dos Patriarcas, Rainha dos Profetas, Rainha da Igreja Gloriosa, Rainha da Igreja Militante, Rainha da Igreja Padecente, Nossa Senhora tem em Si todas as realezas, que Deus Nosso Senhor pôs em suas mãos. As mãos de Nossa Senhora, as mãos da imagem estão mutiladas, mas se é verdade que as mãos mutiladas podem dar ideia de impotência, de incapacidade de agir, de incapacidade de distribuir graças, é verdade também que essas mãos feitas para a prece e para carregar o rosário nos lembram pela sua própria ausência, o quanto é inútil atentar contra o poder de Nossa Senhora. Sua realeza negada foi reafirmada, suas mãos, canais de graças, decepadas, abrem-se num fluxo enorme de graças para tantas pessoas que aqui acorrem. Neste oratório, a imagem não tem mais as mãos para segurar o rosário, mas uma alma piedosa colocou-lhe um rosário em torno do pescoço, como para indicar que nada faz cessar de rezar a alma verdadeiramente fiel.
Por outro lado, temos diante de nós um mês inteiro de orações, de vigílias feitas por jovens admiráveis, — e dou graças a Nossa Senhora pelo valor desses jovens que Ela mobilizou nas lutas cívicas pela causa da Tradição, da Família e da Propriedade, princípios básicos do direito natural e da ordem cristã. Esses jovens se revezaram noites a fio, com grande sacrifício, continuando a estudar, continuando a trabalhar como sempre, apesar das longas vigílias, noites a fora. Esses jovens foram testemunhas de tantos dramas de alma, de tantas pessoas com a consciência vibrátil e dolorida por mil peripécias da vida, que vinham aqui rezar a horas caladas da noite e que vinham pedir a eles o auxílio de uma oração para obterem alguma graça muito desejada. Diante desta imagem, o amor se manifestou maravilhoso. Durante o dia tantos dos que aqui estão presentes pararam para rezar; tornou-se tão frequente aos pés deste oratório ver essa cena completamente inusitada na Paulicéia modernizada de nossos dias, tornou-se frequente ver pessoas dos dois sexos, de todas as idades, de todas as classes sociais, ajoelhadas diretamente na calçada, apresentando a Nossa Senhora os seus votos, os seus anelos, as suas aflições e as suas esperanças. E o atendimento foi copioso; foi tão copioso, que as flores que cobrem este oratório representam as graças recebidas. Não há uma flor aqui adquirida pela TFP; todas foram mandadas por pessoas que têm rezado neste oratório. Todos os objetos valiosos que aqui estão representam atos de piedade ou de agradecimento de devotos de Nossa Senhora. É preciso que o reconhecimento da TFP mencione especialmente dois dons de grande significação: uma rosa dourada, enviada pela Revda. Irmã Ana Eugênia, da Congregação do Sion, e uma auréola de prata, trazida por uma Religiosa que tinha suas razões para querer ficar anônima. Esta devoção de duas Religiosas de Congregações diferentes, que, sem se conhecerem, contribuíram para nimbar de glória a cabeça veneranda desta imagem, esta devoção é bem a afirmação de que o vendaval das ideias progressistas nada pode contra a Igreja, firme como uma rocha, que o comuno-progressismo nada alcança, porque nada vence as causas que têm o apoio das almas verdadeiramente generosas, piedosas, cristãs. A TFP menciona com especial emoção o gesto de D. Graziela Galvão Brasil, que foi a doadora espontânea — como espontâneos foram todos os outros doadores — da coroa de ouro que cinge a fronte de Nossa Senhora. A Sra. Fanny Partika, que deu o terço de prata que está ao pescoço de Nossa Senhora. Uma rosa de prata muito formosa oferecida pelo Sr. e Sra. Edmundo Iório. Uma rosa de prata também formosa, oferecida em condições muito significativas pela Sra. Laurentina Paradinha. Um anel de pérola, um outro anel de ouro, uma pena de ouro, oferecidos por anônimos; um crucifixo de madrepérola, com indulgências da Via Sacra, oferecido também por um anônimo. Flores que vieram de tais latitudes, que umas são do Ceará, e outras são de Buenos Aires. Esta foi a amplitude do raio de ação das graças de Nossa Senhora neste oratório.
Uma palavra sobre o ódio. O amor e o ódio se acompanham como a luz e a sombra. E onde há muito amor há muito ódio. Nas horas caladas da noite, por vezes passavam automóveis com pessoas gritando ultrajes. Pessoas confortavelmente situadas na vida, em carros de luxo, blasfemando contra a ordem de coisas cujas vantagens elas fruem. Passavam automóveis fazendo um barulho estrepitoso, para indicar rancor e protesto, apóstolos sinistros da cacofonia, aos pés de um oratório em que todas as harmonias se reúnem. Mas tudo isso passou e, ó minha Mãe Santíssima, ó Virgem da Conceição, uma coisa só ficou, e esta coisa é a firme vontade vossa de continuar neste oratório a dispensar torrentes de graças para todos aqueles que aqui acorrem.
É preciso lembrar mais uma vez as intenções pelas quais este mês de vigílias foi feito; é preciso lembrar que os jovens da TFP rezaram e que nós daqui a pouco rezaremos ainda nesta hora derradeira deste mês de vigílias:
- Pela Igreja, para que Nossa Senhora A livre do progressismo,
- Pelo Brasil, para que Nossa Senhora o livre do comunismo,
- Pelas pessoas visadas pelo terrorismo, para que Nossa Senhora as ajude, fortaleça e preserve,
- Pelos terroristas, para que Nossa Senhora lhes toque o coração e os converta,
Na cerimônia de encerramento das vigílias de orações levadas a efeito pela TFP durante o mês de maio, uma multidão calculada em 800 pessoas lotou inteiramente a pequena praça improvisada diante da sede da entidade, num trecho de 30 metros da R. Martim Francisco que fora interditado para o trânsito de automóveis. Ao término da cerimônia os fiéis se aproximaram para oscular as fitas azuis que pendiam da imagem de Nossa Senhora da Conceição; numerosas pessoas permaneceram ainda durante muito tempo junto ao oratório, ajoelhadas na calçada, rezando o terço com os sócios e colaboradores da TFP. Estes compareceram com suas capas rubras e levando um grande número de estandartes.