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UMA FESTA AO MESMO TEMPO NOBRE E POPULAR

Conclusão da pág. 2

- Por todos os que sofrem na imensa urbe, para que Nossa Senhora os console e ajude,

- Por todos os que lutam, vacilando entre a virtude e o pecado, por todos os que perseveram na virtude, para que Nossa Senhora lhes aumente a perseverança,

- Por todos os que pecam, para que Nossa Senhora os preserve do desespero e os reconduza ao bem,

- Por todos os que agonizam, para que Nossa Senhora lhes sorria na hora extrema.

Estas são as derradeiras palavras do Presidente do Conselho Nacional da TFP: ó minha Mãe, são as súplicas supremas, o desejo imenso de que sobre todos eles a vossa misericórdia se estenda. Assim seja!" [Aplausos prolongados].

2 — Discurso de D. Antonio de Castro. Mayer

"Este oratório teve por fim prestar uma reparação a Nossa Senhora pelo atentado de que Ela foi vítima há precisamente um ano atrás. Essa finalidade transformou-se desde logo em uma outra: de maneira espontânea, êste oratório tornou-se um lugar onde as pessoas de todas as classes e de todas as idades vieram pedir e suplicar à Mãe de Deus a proteção, os favores, as graças de que tinham mister.

Esta transformação explica-se por um certo sentido inato de ortodoxia que há nos corações de todos os fiéis. Podemos dizer que é uma espécie de assistência do Espírito Santo que é de molde a fazer com que o fiel, sem mesmo perceber, quase que inconscientemente, termine por se orientar num sentido que está inteiramente de acordo com a revelação de Nosso Senhor.

Nossa Senhora é Mãe, e por isso está disposta a ouvir as súplicas de todos os necessitados. Nossa Senhora é Mãe, e por isso deseja atender os pedidos de todos os seus filhos. Esta é uma verdade que está incrustada no coração de todos os fiéis, de todos aqueles que se deixam orientar pela Santa Igreja de Deus. Esta é uma verdade que está incrustada na Tradição que remonta já aos tempos dos Apóstolos, portanto já a Nosso Senhor Jesus Cristo. Com frequência encontramos nos Santos Padres da Igreja essa explanação de que Nossa Senhora tem na economia de toda a Redenção um lugar semelhante àquele que teve Eva, num sentido porém oposto. Como a primeira mulher foi a causa de todas as desgraças para o gênero humano, mediante a sua primeira desobediência, assim a Virgem Santíssima, pela sua obediência, tornou-se a causa de todas as alegrias do povo de Deus, daqueles que, arrependidos dos seus pecados, desejam ardentemente a reconciliação com Deus Nosso Senhor. Explica-se isto, amáveis ouvintes, explica-se isto por uma atitude que tem Deus Nosso Senhor em todas as suas obras. Deus age com sabedoria, age, portanto, de maneira arquitetônica. Deus dispõe as coisas de sorte que elas estejam no seu lugar inteiramente próprio. Ora, prezados ouvintes, quando a Santíssima Trindade dispôs que o Verbo viesse a esta terra através de Maria Santíssima, Ela não Se utilizou simplesmente desta Virgem Imaculada para ser a Mãe de Jesus Cristo, mas dispôs em sua sabedoria que essa Mulher teria um lugar singular em toda a obra que vinha realizar Nosso Senhor. Ela Se tornou não somente Mãe de Jesus Cristo, Mãe do Verbo de Deus Encarnado, Mãe do Redentor, Ela Se tornou Mãe de todos os homens. Ela Se tornou Mãe de todos aqueles que seriam regenerados pelo Sangue divino de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como diz São Pio X na Encíclica que publicou por ocasião do cinquentenário da definição do dogma da Imaculada Conceição, Nossa Senhora nesse momento tornou-Se Mãe de todos os homens, Mãe no sentido estrito da palavra, enquanto ninguém pode receber a vida da graça a não ser através de Maria Santíssima. O papel que têm as mães em comunicar a vida aos seus filhos na ordem natural, esse mesmo papel tem Maria Santíssima na ordem sobrenatural. Ninguém pode conseguir a graça, a não ser através de Maria Santíssima; ninguém adere a Jesus Cristo, a não ser através de Maria Santíssima; ninguém se torna vivo para o Céu, a não ser através de Maria Santíssima; ninguém persevera na graça, a não ser através de Maria Santíssima. Ela é o canal de todas as graças, porque Ela é a Mãe da graça. Ela é o canal por onde hão de passar todos esses benefícios que descem do Céu a fim de santificar os homens, a fim de aumentar-lhes a santidade, a fim de levá-los até a plenitude, a fim de abrir-lhes o Céu, o Paraíso. Nossa Senhora é a Mãe da graça, é o canal inefável por onde descem dos Céus todos os benefícios. Nessa sua obra divina Nosso Senhor restaura o gênero humano da mesma maneira como Ele veio habitar entre nós: assim como foi através de Maria Santíssima que surgiu no mundo o Redentor, assim é através de Maria Santíssima que todo o gênero humano volta para a Casa do Pai, volta para a amizade de Deus, volta para as alegrias do Paraíso.

Por isso é que Nossa Senhora é chamada a Medianeira de todas as graças: não há graça nenhuma que não passe por Maria Santíssima. Ela é Medianeira de todas as graças, não no sentido de que dispense a mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas no sentido de que essa mediação se completa com a mediação de Nossa Senhora. O tesouro de graças obtido por Nosso Senhor não chega a nenhum dos homens a não ser através do canal das graças que é Maria Santíssima.

Como consequência, meus prezados ouvintes, como consequência devemos recorrer a esse Trono da graça. Por isso é que estais todos aqui reunidos, por isso é que durante todo este mês não estiveram isolados os membros da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. Por isso não estiveram eles isolados nessas noites, mas tiveram sempre a companhia de outras pessoas que recorriam a esse Trono da graça para obter graças, benefícios, consolação nas aflições, — graças de ordem material, graças de ordem espiritual. Todos esses pedidos que aqui foram incinerados envolvem esse mesmo ato de fé: o de que é através de Maria Santíssima que os homens hão de obter o lenitivo para todas as suas angústias de ordem material, ou de ordem espiritual. Serão até mesmo conversões, serão pessoas inveteradas no mal, que não sabem como sair do abismo de miséria onde se precipitaram, e têm como única esperança um olhar materno de Maria Santíssima. Essa única esperança transforma-se numa ressurreição e pode transformar-se na santidade. A hagiografia o tem demonstrado, relatando a história de tantos Santos que saíram do abismo da miséria moral para o ápice da santidade.

Por isso, amáveis ouvintes, encerrado este mês de orações aos pés de Maria Santíssima como reparação das injúrias que Ela recebeu, encerrado este mês, voltemos todos para as nossas casas levando no coração o amor e a confiança em Maria Santíssima. Amor de gratidão pelos benefícios que dEla recebemos; confiança de que com sua bênção, com seu auxílio, conseguiremos realizar na terra tudo quanto é digno do nosso destino eterno, que é repousar no seio de Deus Nosso Senhor.

Amáveis ouvintes, temos a firme esperança de um dia nos reunirmos também no seio de Deus, e então teremos ainda Maria Santíssima como nossa intercessora. Porque é através de Maria Santíssima que vamos adquirir a energia necessária para contemplar a Deus Nosso Senhor, nessa contemplação de gozo inefável que há de constituir a nossa felicidade por toda a eternidade!" [Aplausos prolongados].

3 — Alocução do estudante Valdir Trivelatto

"Os militantes da Tradição, Família e Propriedade pedem para dizer uma palavra.

Nós, militantes da Tradição, Família e Propriedade que durante este mês de maio, diante deste oratório de Nossa Senhora da Conceição estivemos ajoelhados todas as noites, não poderíamos permitir que terminasse esta cerimônia sem externar de público nossa alegria e gratidão por tudo o que Nossa Senhora debaixo de nossas vistas realizou. Nós, os militantes, presenciamos o quanto este oratório foi uma torrente de graças no mês de Maria.

Uma senhora entre soluços e com voz suplicante dizia: "Minha Mãe, minha Mãe", e voltando-se para um de nós, continuou: "O Sr. poderia rezar uma Ave Maria por mim? Preciso muito de uma graça". À noite, um caminhão de lixo passa pelo oratório; três lixeiros coletam o lixo das casas. Um deles, inteiramente absorto pela imagem, ainda com o lixo nas mãos, parou a rezar. Somente se deu conta de que o caminhão havia dobrado a esquina da Rua Jaguaribe quando seus dois companheiros voltaram para chamá-lo. Esses são apenas alguns casos entre tantos outros que aqui se sucederam. Um testemunho visual convincente e emocionante, do contentamento popular pelas graças recebidas, é a quantidade de flores aqui depositadas; nenhuma flor sequer foi comprada pela TFP.

É grande a alegria do povo, mas não se pode dizer que nossa alegria seja menor. Que dizer dos benefícios em que redundou para nós a vigília do mês de maio? Nenhum de nós teria palavras para exprimir o que lhe vai na alma. Só podemos dizer que nossa alegria é enorme.

Mas no meio de tanto entusiasmo, no meio de tanta alegria, se mistura uma gota de apreensão. O Dr. Plinio declarou encerradas as vigílias. Fica em nossas almas a sensação angustiante de que o jorro das graças que aqui se vêm difundindo ficará enfraquecido, se não extinto. — Dr. Plinio, eu vos faço uma pergunta, diante do povo, diante de nós mesmos e até diante de Nossa Senhora da Conceição: nós temos o direito de encerrar esta vigília? Dr. Plinio, o Sr. atendeu à sugestão do zelador desta casa, nosso estimado Manoel, montando este oratório; o Sr. aquiesceu aos rogos dos militantes e colaboradores da TFP, concordou em que fizéssemos a vigília no mês de Maria; durante a semana que passou, o Sr. recebeu inúmeros pedidos de núcleos centrais e distritais de sócios e colaboradores da TFP, no sentido de que jamais terminem as vigílias desse oratório. Agora, Dr. Plinio, não é somente o Manoel que vos pede, nem somente os sócios e militantes. Dr. Plinio, os sócios, os militantes, o Manoel e todo o povo, é que vos imploram: não permitais que se encerrem as vigílias diárias no oratório de Nossa Senhora da Conceição!"

[Aplausos muito prolongados].

4 — Resposta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

"Quem diz jovens da TFP diz epopeia, diz desinteresse, diz abnegação, diz coragem, diz resolução de enfrentar todos os sacrifícios pela mais nobre das causas. Absolutamente não me espanta um pedido de tal maneira generoso; não me espanta também a verdadeira ovação com que tantas pessoas aqui reunidas, manifestando sua adesão ao pedido que foi feito por um dos nossos militantes, manifestam também o seu desejo de continuar a se associar a estas vigílias. Entretanto, mesmo os mais belos e mais nobres pedidos não podem escapar à análise fria, metódica e atenta da prudência. E, eu vos digo francamente, o pedido vai além do que, ao menos pelo momento e sem maior experiência, parece cabível. Vós, meus caros jovens, apesar de vossa juventude e de vossa fortaleza, tendes uma saúde para proteger, tendes obrigações para cumprir — e as cumpris tão eximiamente - tendes obrigações que verdadeiramente pesam. Não tenho no ânimo a resolução suficiente para declarar perpétua esta vigília que vossa generosidade jamais quisera encerrar. Entretanto, para não vos frustrar e para dar a Nossa Senhora algo que corresponda à generosidade de vosso ideal, eu anuncio, em nome da TFP a seguinte deliberação: até os primeiros dias de setembro a vigília continuará. [Aplausos prolongados].

Mas ela continuará com vistas a um encerramento que — disto estou certo — oferece completa satisfação a vossos mais nobres ideais. Nós não nos podemos esquecer de que o primeiro fato da História brasileira foi a proclamação da Independência. O Brasil independente teve o primeiro momento de sua existência na colina do Ipiranga, em território paulista. Vamos fazer a vigília diária até a noite de 6 para 7 de setembro na colina histórica do Ipiranga, rezando pelo Brasil... [Aplausos. Ouve-se o brado de campanha da TFP: "Pelo Brasil: Tradição! Família! Propriedade! Tradição! Família! Propriedade! Tradição! Família! Propriedade! — Brasil! Brasil! Brasil! — Aplausos]. Alegra-me ouvir de vossos peitos juvenis esse brado "Brasil! Brasil! Brasil!" que tanto se coaduna com o caráter cívico de nossa Sociedade. No Monumento do Ipiranga, na Colina histórica, nós vamos rezar para que o Brasil realize a vocação maravilhosa que lhe foi marcada desde o primeiro dia de sua existência. Com efeito, desde a proclamação da Independência, desde os primeiros tempos da História brasileira, Nossa Senhora da Conceição foi considerada Padroeira do Brasil. Levemos ao Ipiranga a Imagem de Nossa Senhora da Conceição! [Ouve-se novamente o brado de campanha da TFP. Aplausos prolongados].

Quis a Providência Divina que, neste território imenso onde Ela depositou toda espécie de riquezas, uma riqueza maior do que todas as outras fosse posta. Foi ela trazida pelos nossos ancestrais quando em memoráveis navegações implantaram aqui a Fé Católica Apostólica Romana, fundamento sacrossanto da civilização cristã, de toda ordem verdadeiramente perfeita, de toda ordem verdadeiramente digna do nome de ordem. Este imenso País, povoado por um povo imenso, tão homogeneamente dotado de uma fé imensa, foi constituído para a imensidade dos grandes ideais. Proclamemos esses ideais, proclamemo-los não de pé, mas de joelhos, na colina histórica do Ipiranga, pedindo a Nossa Senhora que o Brasil realize a favor da civilização cristã tudo aquilo que estava nas vias da Providência, nas intenções da Providência que ele realizasse, quando a voz de D. Pedro I bradou: "Independência ou morte!", e do alto do Céu, Vós, minha Mãe, destes ao Brasil novo o vosso primeiro sorriso materno. [Aplausos prolongados].

Harmoniosamente coexistentes com as nações da América Latina, formamos o bloco do futuro, o bloco imenso de nações sempre fiéis — com fraquezas talvez, que Nossa Senhora perdoará, porque Ela é a Mãe de toda a misericórdia — formamos o bloco imenso que, estou certo disso, será, para glória da civilização cristã, a grande potência do século XXI. É carregando os tesouros da tradição do passado e com olhos voltados no futuro, com o coração dilatado por toda a América Latina, que nós rezaremos para que se realizem os desígnios de Maria Santíssima, da Imaculada Conceição, nesta terra que dEla foi desde o primeiro momento em que começou a existir! Tenho dito". [Aplausos prolongados. Ouve-se o brado de campanha da TFP. Novos aplausos].


Nossa Senhora sorria

Em nosso último número referimos alguns dos fatos mais significativos ocorridos junto ao oratório da TFP, durante as vigílias de orações que a entidade levou ali a efeito no mês de maio. Em seu artigo semanal para um matutino paulista, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira apresentou o registro de mais alguns desses casos. Transcrevemo-lo para conhecimento dos leitores:

• "A prece do lixeiro. Passa um carro de lixo. Dele salta um jovem coletor, recolhe o lixo e se dirige de volta ao carro. Em frente ao oratório, olha e se detém enlevado, com a lata cheia em uma das mãos. Reza. O carro de lixo, enquanto isto, vai descendo. De longe, os companheiros o chamam aos brados. Ele interrompe a prece, cumprimenta com afeto os jovens da TFP, e desata na corrida, até alcançar o carro. Do alto do Céu, a Rainha Imaculada sorri enternecida.

• Também o engraxate. É um menino. Traz às costas sua caixa de trabalho. Recolhe-se. Em silêncio, oferece à Virgem o que lhe vai na alma. Ao sair, oscula uma das flores do oratório. E Ela, do alto do Céu, também sorri...

• O entregadorzinho se recolhe. Chega com o carrinho trazendo mercadoria a distribuir. Pára e reza. Tão recolhido está, que uma senhora, a qual também rezava diante do oratório, comovida, lhe afaga a cabeça. Ele abre um instante os olhos, e os fecha de novo. O recolhimento continua. Nossa Senhora, do alto do Céu, sorri...

• Passa a rádio-patrulha, dois guardas se descobrem dentro do carro, rezam rapidamente, e continuam em sua arriscada e nobre faina. E Nossa Senhora sorri.

• Reza a TV. Atores de uma TV fazem uma novena. Todos os dias trazem dois botões de rosas. E Nossa Senhora também sorri.

• Uma Rolls Royce imponente também para. Dela desce uma senhora distinta e coloca um botão de rosa no vaso de flores. Depois desfia com piedade as contas de seu terço. Nossa Senhora sorri.

• Galaxies, Impalas, outros carros de categoria também param, e deles descem os abastados ou os ricos. Vêm dizer à Virgem as aflições que não faltam nem a pobres nem a ricos. Rezam. E a Mãe de Deus sorri...

• Os aflitos, sim, os especialmente aflitos fazem preces que são, mais do que gemidos, verdadeiros gritos de dor. Menciono apenas o de uma mãe: "Nossa Senhora, que eu veja meu filho!" Quanto de aflição estas simples palavras exprimem! Outra senhora chora. Depois volta-se para os militantes e lhes diz: "Como é bom ver rapazes rezando assim. Isso reforça minha fé". Seria intérmino narrar todos os fatos congêneres ali ocorridos. O certo, pois a Fé no-lo ensina, é que, para cada uma destas lágrimas, Nossa Senhora tem um maternal sorriso de compaixão.

• Ouro, incenso e mirra, foi o que trouxeram os Reis Magos para o Menino Deus. Também os dons não faltaram junto ao oratório. Uma coroa de ouro em filigrana. Uma auréola em metal prateado. Três flores de prata. Mais um ramo de prata com duas flores do mesmo metal. Dois anéis. Uma pena de ouro. Um terço de prata. Tudo exprimindo amor, reverência, esperança e contrição: isto é, as disposições de alma que o ouro, o incenso e a mirra simbolizam. Como não haveria de sorrir a isto a Virgem?

• O comentário do Iscariotes. Judas rosnou. Como na ocasião em que protestou contra a Madalena, que derramava perfumes sobre os pés divinos: "O dinheiro gasto com isto, não seria preferível que fosse dado em esmolas?" Mas ninguém, junto ao oratório, deu atenção ao murmúrio soez.

• Os Anjos cantam. Sim. Os Anjos cantaram e a Virgem sorriu com ternura particular quando Sacerdotes e Religiosas se acercaram do oratório para rezar. E especialmente quando uma Religiosa ofereceu uma rosa dourada para reparar o insulto que fizera outra Freira, esta do gênero "pra frente" e "no vento". Ou quando outra Religiosa ofereceu o resplendor de que falei. E quando, enfim, em um delicado gesto de Mãe, uma Religiosa nos ofereceu dois genuflexórios bem estofados, para mitigar o cansaço dos nossos jovens durante a vigília. Quem será capaz de exprimir o sorriso especialíssimo da Virgem para as almas eleitas que se consagraram a seu Divino Filho, e se mantêm fiéis à sua consagração?

• Os "corajosos". A coragem do ímpio é fanfarrônica e covarde. Por vezes passavam pessoas de automóvel, acelerando o motor justamente diante do oratório, a fim de produzir barulho. Uma delas estourou junto ao povo um projétil junino de grande estampido. Outra atirou no meio do povo uma bomba junina, das de maior potência, que felizmente não atingiu o alvo e explodiu uns metros adiante. Algumas davam em coro gargalhadas estrepitosas. Outras gritavam blasfêmias ou ultrajes. É fácil ter coragem assim quando se passa em alta velocidade. O povo chama este tipo de "coragem", de covardia. Mas ninguém — nem povo, nem sócios ou militantes da TFP — dava atenção. Continuavam todos a rezar. E Nossa Senhora sorria a este sobranceiro e cavalheiresco desdém".


Falácias do Arcebispo de Olinda e Recife

Cunha Alvarenga

As ideias que o Sr. D. Helder Câmara vem espalhando com peculiar facúndia em suas andanças pelo mundo foram reunidas em um livro de que temos em mãos a versão francesa, publicada sob sua assinatura e com o título de "LE TIERS MONDE TRAHI" (traduzido do italiano por J. Laurent, Desclée & Cie., Paris, 1968). Trata-se de uma coletânea de escritos e falas do Arcebispo de Olinda e Recife.

Lendo esse volume, ocorreu-nos comentar sumariamente as evidentes falácias em que se apoia a exuberante verbiagem do Prelado nordestino. Fá-lo-emos sob ressalva da fidelidade da tradução francesa, pois não dispomos dos textos originais.

Como primeira dessas falácias colocaríamos as famosas "reformas de estrutura". O Autor a elas se refere de modo verdadeiramente obsessivo, sem nunca as definir, como aliás é de praxe entre os membros da chamada esquerda católica. Contenta-se em declamar a respeito delas: "[...] não confundamos a bela e indispensável noção de ordem, objetivo de todo progresso humano, com certas caricaturas desta, responsáveis pela permanência de estruturas que, na opinião de todo o mundo, não se podem conservar" (p. 8). "O mundo inteiro necessita de uma revolução estrutural" (p. 152). "A política não pode permanecer propriedade dos privilegiados que impedem as reformas de base, ou as desfiguram, ou as deixam somente no papel" (p. 155). A América Latina tem "verdadeiramente necessidade de uma revolução estrutural" (ibidem).

Mas em que consistirão essas reformas de base, apresentadas como tão indispensáveis, importantes e urgentes? Silêncio significativo. Na realidade, não constitui segredo para ninguém qual seja o tipo de reformas de que se trata, mas o embaraçoso, a esta altura do processo revolucionário, é que nenhum católico que as propugne (mormente se for membro da Hierarquia) pode explicitar-lhes abertamente o conteúdo, sob pena de perder a face perante seus irmãos na Fé, pois elas são indisfarçavelmente socialistas e confiscatórias, além de serem empurradas com a mão do gato por aqueles que lutam pela bolchevização universal através dos chamados métodos evolutivos.

Tentativa de livrar o socialismo da ronha materialista

O Arcebispo de Olinda e Recife não deixa de levantar uma ponta do véu que oculta o que lhe vai na mente, ao falar sobre o modo como entende a missão dos Seminários e ao indicar como parte da formação dos futuros Padres, além de outras coisas do mesmo gênero, "o estudo dos ensaios de um socialismo novo" (p. 32). Apesar disso, continuamos na mesma, pois em que consistiria esse "socialismo novo"? O que sabemos é que a Santa Igreja não revogou sua condenação de toda e qualquer espécie de socialismo como incompatível com o Cristianismo. Mais adiante o Sr. D. Helder tenta exorcizar o socialismo, para libertá-lo do demônio do materialismo: "Por que não reconhecer que não há um tipo único de socialismo? Por que não exigir, para o cristão, a liberação da palavra "socialismo", uma vez que ela não se acha precisamente ligada ao materialismo e não tem necessariamente o sentido de sistema que destrói a pessoa humana ou a comunidade, mas pode também querer dizer "sistema ao serviço da comunidade e do homem"?" (p. 79). Procura assim o Autor passar uma esponja sobre a doutrina da Igreja, segundo a qual não se pode conceber o socialismo, por mitigado que seja, sem a destruição da verdadeira liberdade dos filhos de Deus.

Socialismo é sinônimo de totalitarismo e o materialismo não lhe é senão inexorável sequela, como a História o demonstra, pois se trata de sistema econômico que vai contra elementares e impostergáveis direitos da pessoa humana, direitos naturais anteriores ao Estado e dele independentes. O socialismo é condenado pela Igreja em si mesmo, como sistema econômico que escraviza a sociedade justamente pela economia ou pela ação totalitária do Estado na vida econômica e social. E claro que na realidade prática e quotidiana não se pode separar o "homem religioso" do "homem econômico", pois isto equivaleria a colocar a vida religiosa, ao modo dos maniqueus, entre parênteses.

E o que se encerra na velha falácia da esquerda católica, de distinguir o socialismo enquanto filosofia de vida e enquanto mero sistema econômico. Se além de defender um sistema econômico totalitário, ainda se está a serviço de uma filosofia de vida abertamente ateia, materialista, que considera a religião como alienante e ópio do povo, temos a figura clássica do comunismo. Mas o que é incontestável é que o socialismo é o sistema econômico do comunismo e principal arma do domínio político e social por este exercido.

Melhor se percebem os pendores de D. Helder Câmara para o socialismo quando ele recomenda ao CELAM uma "tomada de posição corajosa e clara a respeito de certos anticomunismos mesquinhos e unilaterais": "O CELAM deve convencer as Conferências episcopais de evitar cuidadosamente o uso e o abuso do espantalho anticomunista. O povo de Deus deve ser posto em guarda contra os erros comunistas. O fato de que a Santa Sé não emprega necessariamente a palavra "socialismo" como sinônimo da negação de Deus é uma conquista de grande importância" (pp. 142- 143). Se conquista houve, a quem beneficia ela senão aos que porfiam em vestir à humanidade uma camisa de força totalitária, representada pela servidão socialista? Em seguida acrescenta D. Helder: "Deve-se também pôr em guarda os fiéis a respeito das origens materialistas do capitalismo". O que ele manhosamente omite é que, de acordo com a doutrina social católica, o regime capitalista (segundo o qual se acham de um lado os patrões, indivíduos ou empresas privadas, e de outro os trabalhadores) não é em si mesmo vicioso e contrário ao direito natural, como se dá com o socialismo. "Leão XIII se aplicou com todas as forças a disciplinar este ordenamento econômico [capitalista] segundo as normas da retidão, pelo que é evidente que ele não é em si mesmo condenável. E, de fato, não é por sua natureza vicioso", afirma Pio XI na "Quadragesimo Anno".

Uma questão de ideologia, e não de mero bem-estar

D. Helder Câmara faz de conta que condena de modo equânime o comunismo e o capitalismo, o que já seria errado, pois um é intrinsecamente perverso e contrário ao direito natural, e o outro pode ser ordenado segundo a reta razão. Mas nesse passe de prestidigitação, o Sr. Arcebispo de Olinda e Recife, aparentemente "equidistante" de um e de outro (segundo expressão muito cara aos demo-cristãos), na realidade quer destruir o que ainda resta de uma ordem de coisas baseada na propriedade privada e na livre iniciativa, para assim lançar a humanidade nos braços do socialismo. É portanto muito coerente da parte de S. Excia. Revma. respeitar os guerrilheiros que, na América Latina, pegam em armas para cubanizar o continente, trucidando seus próprios irmãos: "Respeito aqueles que, em consciência, se sentiram obrigados a optar pela violência, não a violência demasiado fácil dos "guerrilheiros" de salão, mas a daqueles que provaram sua sinceridade pelo sacrifício da própria vida. Parece-me que a memória de Camilo Torres e de Che Guevara merece tanto respeito quanto a do pastor Martin Luther King" (p. 161).

Particularizando um pouco mais, diz o nosso Autor que o CELAM "deverá apoiar, por uma campanha bem documentada, a promoção de verdadeiras reformas agrárias" (p. 146); porém se dispensa — ele que é tão fértil em elaborar programas — de entrar em pormenores sobre o que pensa a propósito de tão complexo e delicado problema, inclusive no que diz respeito ao Nordeste, à própria área de sua Arquidiocese. No fundo, deixa entrever que não se trata de simples busca de conforto material, mas de uma questão de ideologia, pois afirma que "todo mundo admite o princípio de que a paz sem a igualdade é uma utopia" (p. 149). Acontece que a doutrina católica nos diz justamente o contrário, isto é, que a desigualdade social reina necessariamente onde quer que haja liberdade dos filhos de Deus. Eis porque o socialismo (além de ser hipócrita, pois na realidade acaba por criar uma nova classe dirigente, que impõe à massa um jugo impiedoso) promove a igualdade à custa da verdadeira liberdade.

Citemos outra afirmação falaciosa de D. Helder Câmara: a de que a "revolta anticristã será inevitável amanhã, se a Igreja, hoje, na hora da opressão e da escravidão, ficar ausente" (p. 66). Não se trata da notória opressão e da clamorosa escravidão existentes nos países comunistas, mas daquelas que os partidários do sistema econômico capitalista fariam pesar sobre o mundo subdesenvolvido... Tal falácia se acha presa a outra, segundo a qual "as massas", no mundo livre, estariam "em estado de pré-revolução" (p. 71). A irresistível "tomada de consciência das massas subdesenvolvidas se dará, ela está em marcha, seja conosco, sem nós ou contra nós" (p. 52). "[...] conosco ou sem nós ou contra nós, os olhos das massas se abrirão um dia. Se abrindo seus olhos as massas tiverem a impressão de que a cristandade teve medo, não teve a coragem de falar claramente por receio do governo ou dos grandes proprietários, essas massas recusarão o cristianismo

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