DA NOVA GERAÇÃO PODE-SE RECEAR MAS TAMBÉM ESPERAR MAIS DO QUE DA ANTERIOR
São Paulo, julho (ABIM) — A respeito de um dos mais candentes problemas da atualidade, o do contraste das gerações à luz da história contemporânea, ouvimos a palavra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.
O entrevistado, que desde jovem se destacou como professor e homem público, está largamente credenciado a se pronunciar sobre o assunto, como observador atento que é, há longos anos, das transformações por que tem passado a humanidade.
Ele é também autor do ensaio "Revolução e Contra-Revolução", em que analisa em profundidade as causas da crise do mundo hodierno.
Foram estas as perguntas feitas ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e as respostas que ele deu:
- O sr. poderia definir a sua geração: o que ela é e o que representou?
- A grande maioria das pessoas de minha geração rompeu de modo profundo, porém não completo, com os padrões ideológicos e culturais da velha Europa, e abriu-se entusiasticamente, porém de modo também incompleto, para a influência — então ultra-"moderna" — dos Estados Unidos. Neste sentido, foram "pra frente". Entretanto, do ponto de vista religioso, começaram num indiferentismo que marcava, em certa medida, até muitos católicos praticantes; e a partir de uns trinta anos para cá têm evoluído para uma atitude de interesse e respeito pela Religião. Uma ponderável parcela dessa maioria chegou mesmo à prática religiosa. Parece-me que, hoje, os de minha geração sentem certo desencanto em relação ao americanismo. Nunca esperaram o caos em que o mundo afundou. E, diante deste caos, se sentem profundamente perplexos e explicavelmente alarmados.
- Peço-lhe que descreva os acontecimentos que tiveram importância para a formação de sua geração.
- O período de "entre deux guerres", em que minha geração se formou, foi marcado primeiramente pelo zênite da influência norte-americana, pelo feminismo agressivo, pela maré de modernidade, por um transbordamento de vulgaridade, pelo entusiasmo em relação às novas invenções (sobretudo a expansão do cinema, do automobilismo e da aviação), fatos estes que se seguiram todos à primeira grande guerra mundial. Já se previa então que o comunismo seria o grande problema dos anos futuros. A questão social começava a inquietar largos círculos.
Tanta ruptura com o passado, tanto avanço para a esquerda, despertou como contragolpe apetências de reação para a direita. Essas apetências foram polarizadas, postas em delírio e deturpadas pelo nazismo, pelo fascismo e por seus congêneres, os quais, em lugar de entrarem em choque com o socialismo, instauraram um socialismo camuflado de direitismo. As experiências de Marconi abriam, pari passu, a era do rádio.
Toda esta sequência de fatos se alongou até a segunda guerra mundial. Terminada esta, iniciou-se o que eu chamaria a cancerificação do universo. Em outros termos, tudo cresceu como um câncer e tomou proporções babilônicas: os riscos da guerra nuclear, o poder dos superGrandes, o desenvolvimento da técnica, a eficácia da propaganda, a massificação do homem, a universalidade das agitações, a superespecialização das ciências, etc. Um excesso de velocidade, um excesso de abundância na produção do mal e até na de certas coisas boas, uma falta de ritmo e de compasso em tudo, transformaram o mundo num caos inumano. Daí uma infinidade, também tumultuosa, de tentativas de interpretar e "humanizar" o caos, que deram numa dispersão de forças e num desalento que atacam muitas vezes até os melhores. Acrescente-se a isso o efeito maléfico da proliferação do erotismo, da sensualidade, do freudismo e do permissivismo, e procure-se olhar todo esse caos de dentro dos olhos de quem viu a luz do dia no fim da "Belle Epoque" e formou a alma na relativa placidez do "entre deux guerres". O leitor poderá então imaginar o trauma sofrido por essas almas de minha geração embaladas outrora pelos sonhos do otimismo norte-americano. O apoio que lhes restaria seria a Igreja. Imagino o desconcerto de tantos de meus coetâneos vendo-A numa crise apocalíptica.
Digo tudo isto sentindo-me em larga medida fora de minha geração, de cujas ilusões não participei, e com cujas tendências tão frequentemente entrei em dissonância. Pois na realidade tenho sido muito mais ouvido e entendido pelos jovens do que pelos de meu tempo. Basta, para o provar, olhar para as fileiras da TFP, onde quanto mais jovem é a geração, tanto mais representantes tem.
- O progresso tecnológico, o advento da TV, até que ponto acredita o Sr. que isso terá relevância junto às novas gerações?
- Julgo que essa relevância não seria primordial se não fosse a circunstância de que tais fatores estão com demasiada frequência a serviço do caos, que assim aumenta enormemente.
- Está de acordo com a afirmação de Scott Fitzgerald de que uma geração se distingue "por um número de ideias herdadas, de forma moderada, de malucos e fora-da-lei da geração anterior"?
Esse princípio não ocorre sempre. Mas a partir do fim da Idade Média se tem verificado com frequência. Entretanto, para que ele se entenda segundo a realidade histórica, é preciso incluir entre os "fora-da-lei", não só os malucos como os que reagem com intrepidez e coerência contra a maluquice. Nas épocas em que se verifica o princípio de Scott Fitzgerald, a maioria das pessoas está a meio caminho entre a maluquice e o bom senso autêntico, e põe este e aquela fora da lei. Sobretudo o bom senso.
Em nossos dias, parece-me que o princípio de Scott Fitzgerald está seriamente exposto a não se verificar. Pois a maluquice de uma certa minoria é tal, que vai levantando contra esta o desprezo ou até a cólera da imensa maioria que até há pouco estava em posição intermediária.
- Até que ponto os conflitos mundiais foram importantes para as gerações subseqüentes, no Brasil?
- A resposta está implícita na que dei à segunda pergunta.
- Os valores de sua geração eram mais — ou menos — frágeis do que os valores das novas gerações?
- Concordo com São Pio X: segundo ele, tudo quanto há de plenamente verdadeiro e bom no mundo resulta da Religião Católica. À medida em que o mundo se afasta desta, todos os valores entram em agonia. Que dizer, então, se a Religião imortal parece, ela mesma, em agonia? A meu ver, essa doença "agônica" da Igreja, chamada progressismo, já perdeu virtualmente a batalha. A maioria a está rejeitando. O grande problema é saber se a reação antiprogressista será autêntica, ou se a maioria dos que a propugnam se deixará infiltrar pelo espírito progressista. Se for autêntica, todos os valores readquirirão firmeza. Se não o for, não há males que não nos possam cair em cima. Só uma coisa é impossível: é a Igreja morrer.
— Como o Sr. explica, o fato de as novas gerações se baterem tanto por ideais de paz e, ao mesmo tempo, se manifestarem tão violentamente para a consecução de seus objetivos?
- É uma das mil contradições de nossa época. Para explicá-la, haveria que explicar por que esta é contraditória. A explicação é simples: fugimos da verdade total, da virtude total, e queremos construir um mundo baseado em meias verdades e em meias virtudes. O resultado são esses escombros que aqui estão. E, nesta esfera de realidades, os escombros geram monstros.
- Como o Sr. definiria a nova geração?
- É algo de bem diverso da minoria de "hippies" e agitadores. Um mundo novo, cheio de lacunas e extravios, bem como de surpreendentes afirmações de valor moral, do qual se pode recear muito mais e também esperar muito mais do que de minha geração.
TFP LEVA ROSÁRIOS AOS DOENTES DO FOGO-SELVAGEM
Onze militantes da Tradição, Família e Propriedade visitaram no dia 4 de junho p.p. o Hospital do Fogo-Selvagem (Instituto Adhemar de Barros), no Mandaqui, em São Paulo, onde efetuaram a distribuição de duzentos terços aos enfermos e seus familiares,
Esses terços haviam sido oferecidos à TFP pelo Revmo. Pe. Afonso Rodrigues, S. J., para serem distribuídos no ensejo da vigília diária de orações promovida por aquela sociedade, durante o mês de maio, junto ao seu oratório da Rua Martim Francisco.
Como nessas vigílias eram especialmente lembrados todos aqueles que sofrem na cidade imensa, considerou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira oportuna a ocasião para levar algum conforto espiritual às vítimas de uma das doenças mais impressionantes que se conhecem, como é o fogo-selvagem ou pênfigo foliáceo.
Durante a visita, feita com a prévia autorização da direção daquela casa de saúde, os jovens da TFP — que envergavam suas capas rubras — percorreram todas as enfermarias, distribuindo os terços que levavam e entretendo-se demoradamente com os enfermos. Estes se mostraram agradecidos e comovidos por esse gesto de caridade cristã; muitos deles pediram que lhes fossem deixados alguns terços para seus familiares.
Legenda: Militante dirige palavras de conforto a pequenos doentes do hospital do fogo selvagem, durante a distribuição de terços.
CONSTERNAÇÃO E PROTESTO PELO ATENTADO TERRORISTA
Por ocasião do sequestro do Embaixador da República Federal da Alemanha junto ao Governo brasileiro, a TFP distribuiu comunicado que teve ampla divulgação na imprensa diária. É o seguinte o texto do documento, datado de 12 de junho p.p.: "A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade vem a público para externar a sua consternação e o seu protesto pelo ato de sequestro do Embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, ocorrido ontem no Rio de Janeiro, no decorrer do qual perdeu a vida um agente da Polícia Federal, tendo outro ficado gravemente ferido".
O comunicado acrescenta que a entidade fez-se representar nos funerais do agente Irlando Souza Regis por quatro militantes da Tradição, Família e Propriedade. Estes compareceram ao velório revestidos de suas capas rubras, tendo acompanhado o féretro até o cemitério.
Legenda: A TFP fez-se representar nos funerais do agente Irlando Regis
Verdades Esquecidas
A desigualdade é base e vínculo da vida social
• SÃO JOÃO CRISÓSTOMO •
Das desigualdades que neste mundo vemos entre pobres e ricos, os inimigos da piedade formam um argumento especioso contra a Divina Providência. Mas se fizessem o devido uso de sua razão, advertiriam que essa decantada desigualdade é como que a base e o vínculo da sociedade humana. É ela quem liga os homens uns aos outros, fazendo com que se prestem mútuos serviços; ela é a mãe do trabalho e da indústria; ela é quem desde a infância destina os filhos dos pobres a aprender um ofício; é ela quem levanta as casas e as cidades pela mão das classes necessitadas, pagas pelos ricos; ela quem desafia as tempestades na pessoa audaz dos marinheiros e, rompendo as ondas com a frágil quilha, leva os alimentos e as mercadorias às nações mais distantes, pondo-as em estreita comunicação umas com as outras, e fazendo cosmopolitas os frutos da terra. Que seria da sociedade se todos os homens fossem igualmente ricos? Não haveria quem trabalhasse, não haveria quem se dedicasse a ocupações manuais e laboriosas; os campos estariam sem cultivo, reinaria a ociosidade nas cidades, o comércio, a indústria e todas as artes pereceriam. E ainda se acusa a Divina Providência de não haver enriquecido a todos por igual? Nada prova tanto sua sabedoria e a eficácia dos recursos que Ela emprega no governo e conservação da sociedade humana como essa recíproca dependência que estabeleceu entre os filhos de Adão por meio das desigualdades de fortuna. O rico, para comer, para o cultivo de suas terras, para vestir-se, para viajar, e, em uma palavra, para tudo, necessita do concurso, da indústria e dos bons ofícios dos pobres, de sorte que não vive nem goza se não os sustenta. E quem, senão a Providência, estreita esse laço firmíssimo e indissolúvel, por meio do qual o pobre vive a expensas do rico e o rico com o suor do pobre? Motivo era êste para louvá-La, exaltá-La e admirá-Lá. Calem, pois, e escondam a face atrevida no pó seus néscios detratores. —["LA PROVIDENCIA / Pensamientos escogidos de las obras del Santo y ordenados por D. Juan Manuel de Berriozábal, Marqués de Casajara" — Editora Cultural, Buenos Aires, 1943 — pp. 42-44).