Conclusão da pág.5

São Luís Rei

encontra paralelo nem na Antiguidade clássica. O gênio de São Tomás refulgia na Universidade de Paris, e a Faculdade de Medicina de Montpellier era célebre em todo o mundo. Angers, Orleans, Toulouse e várias outras grandes cidades possuíam sua Universidade.

A oitava Cruzada e a morte do Santo

Luís IX entretanto, não perdia de vista a Terra Santa. Seu desejo era reconquistá-la definitivamente para a cristandade. Quando o Papa Clemente IV pediu-lhe que promovesse uma nova cruzada para salvar os restos do reino cristão de Acre, ameaçados pelo emir dos mamelucos, o Monarca francês acedeu imediatamente, convocando em 1267 seus barões, para comunicar-lhes sua resolução.

Dois de seus filhos, Filipe, o herdeiro, e João Tristão, seus irmãos Afonso de Poitiers e Carlos de Anjou (êste, a contra-gôsto), seu sobrinho Roberto de Artois, bem como Thibault V, Rei da Navarra, o novo Duque da Bretanha, e muitos outros grandes senhores dispuseram-se a acompanhar o santo cruzado.

Os preparativos duraram três anos, e finalmente em julho de 1270 partiu São Luís novamente de Aigues-Mortes para lutar pelo Santo Sepulcro. Desta vez, entretanto, o destino próximo era Tunis.

Chegados às costas da África, os cruzados desembarcaram diante da fortaleza de Cartago. Mais uma vez o Santo quis ser o primeiro a pisar terra africana.

As tropas sarracenas arremeteram contra os invasores antes que estes tivessem tempo de fazer descer dos navios os seus cavalos. Cravando a ponta dos escudos e o cabo de suas lanças na areia, os cristãos enfrentaram valentemente a investida. Após um combate de várias horas, os infiéis se retiraram. Começou então o ataque à fortaleza.

Após vários dias de luta, os cruzados tomaram enfim a praça forte. Muitos soldados da guarnição se esconderam nos subterrâneos do castelo, onde foram asfixiados com fumaça pelos cruzados. Seus cadáveres, sob a ação de um calor tórrido, começaram a putrefazer-se rapidamente. A pestilência somada à falta de água potável provocou no campo dos cruzados uma terrível epidemia. Em pouco tempo São Luís e seu filho João Tristão foram atingidos.

Vendo-se às portas da morte, o Rei chamou seu filho e herdeiro Filipe, para entregar-lhe o texto de suas derradeiras instruções, das quais já citamos algumas. O primeiro desses conselhos diz respeito diretamente à salvação do futuro Monarca. Depois vêm as recomendações mais ligadas ao exercício do poder. "Filho caríssimo — escreve São Luís — a primeira coisa que te ensino é que apliques teu coração a amar a Deus; pois sem isto ninguém pode ser salvo. Guarda-te de fazer coisa que desagrade a Deus, a saber, o pecado mortal; mais vale sofrer todas as espécies de tormentos, do que cometer pecado mortal".

No dia 23 de agosto Luís IX pediu e recebeu a Extrema-Unção. Depois pôs-se a invocar Monsenhor São Tiago, Monsenhor São Dionisio da França e a Senhora Santa Genoveva, como refere Joinville. Também rezava a oração "Esto Domine" — "Santificai e guardai, Senhor, o vosso povo...".

"Foi no dia seguinte ao da festa de São Bartolomeu Apóstolo [ou seja, no dia 25 de agosto] — conta Joinville (p. 82) — que deixou este mundo o bom Rei Luís, no ano de graça de 1270 da Encarnação de Nosso Senhor. Seus ossos foram conservados num cofre, trazidos e enterrados em Saint-Denis na França, onde ele havia escolhido sepultura e onde Deus fez muitos milagres em seu nome, por causa de seus méritos". Seu filho Tristão o havia precedido no Céu.

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Em 11 de agosto de 1297, Bonifácio VIII promulgou a Bula de canonização do Rei Luís IX. Joinville, o amigo fiel, depusera no processo.

Alguns anos mais tarde, em 1303, um acontecimento terrível por seu significado ia ter por protagonistas um Rei da França e o mesmo Bonifácio VIII. Revoltado contra a ordem cristã medieval, Felipe o Belo, neto de São Luís, fez esbofetear o Papa em Anagni. Este morreu de desgosto pouco depois.

De certo modo, estava finda a Idade Média, da qual Luís IX fora um dos mais lídimos e expressivos representantes. Tinha começado o processo — magistralmente descrito pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ("Revolução e Contra-Revolução", in "Catolicismo", n.° 100, de abril de 1959) - que iria conduzir ao presente ocaso brumoso a civilização cristã: a Revolução.

Comemorando nesta edição o sétimo centenário da gloriosa morte de São Luís, "Catolicismo" não pode deixar de se dirigir ao incomparável paladino da cristandade, pedindo a ele, que do mais alto do Céu contempla este triste mundo hodierno, que obtenha de Deus, o quanto antes, a derrota final da Revolução e a implantação do Reino de Maria, prometidas em Fátima.

Para terminar, queremos citar um pensamento da historiadora Marie-Madeleine Martin em sua "Histoire de l'Unité Française", a respeito de São Luís IX e de sua época: "Houve um momento de nossa história que a lenda não poderia imaginar mais belo: aquele em que a harmoniosa hierarquia do reino trazia em seu ápice um homem chegado ele mesmo ao ápice de sua alma" (apud "Lecture et Tradition", n.° 22, p. 6).

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Conclusão da pág. 2

O EPISCOPADO

e a necessidade de Deus. Vejamos a quem o futuro dará razão [...]

[...] no futuro, a teologia já não será tanto uma reflexão sobre tal ou tal dogma, quanto uma leitura leal da História; ela tomará a História como objeto de sua pesquisa. Assim como os marxistas se esforçam por interpretar a História, o cristianismo deve buscar nesta uma significação, e espero que ambos trabalharão em conjunto na transformação da História presente [...].

Marx censurou os cristãos por interpretarem o mundo mas não o transformarem, e não lhe faltava razão" ("La théologie", in "Les Catholiques Hollandais", pp. 10-13 e 15).

Grande semelhança, se não identidade

Depois de tudo isso, quem poderá negar a grande semelhança, quando não identidade, que há entre a "nova forma da Igreja" que se vai delineando na Holanda, e a Igreja-Nova dos "grupos proféticos" e do IDOC, como no-la descreve o "Resumo analítico do artigo de "Ecclesia", publicado no número de abril-maio do ano passado, de "Catolicismo"? Se não, vejamos:

"A Igreja-Nova — escreve "Catolicismo" — não tem fronteiras. Ela abriga os homens de qualquer crença, desde que trabalhem ativamente para a verdadeira Redenção, que é o progresso terreno. Ela não é, pois, como um reino espiritual com fronteiras doutrinárias definidas, mas algo de etéreo, de fluido, que se confunde mais ou menos com qualquer igreja. Em outros termos, a Igreja-Nova é superecumênica".

E em outro tópico: "A Igreja-Nova convida a uma vida voltada inteiramente para a felicidade terrena. A Redenção-progresso não tem como objetivo levar os homens para um céu extraterreno, mas transformar a terra em um céu. [...] É óbvio, antes de tudo, que a Igreja-Nova está toda posta na ordem natural. Sua missão salvífica, ela a exerce induzindo os fiéis a se engajarem, a se comprometerem na propulsão do bem-estar terreno" (p. 7).

Prossegue "Catolicismo": "A Igreja-Nova, resultante da ação do "movimento profético", não crê num Deus pessoal, mas num Deus difuso e impessoal, que é imanente e onipresente na natureza. Ela crê na evolução, no progresso e na técnica como as grandes forças inelutáveis que animam o movimento universal, remedeiam a desdita do homem e dão rumo à História. Num lance de olhos é fácil ver que essa doutrina importa em afirmar a divinização da evolução, do progresso e da técnica. O que é extraordinariamente parecido, se não idêntico, com o conceito evolucionista e materialista de Marx" (p. 9).

"O despertar do profetismo"

E a "ascensão triunfal da heresia modernista", a que alude o ilustre Bispo de Campos, não se circunscreve à Holanda. Tomou nos anos que se sucederam ao II Concílio Vaticano uma tal amplitude, que já não passa despercebida nem mesmo a católicos de formação apenas mediana. Por toda parte ela é constatada, por toda parte ela é lamentada. Seu caráter universal transparece de forma meridianamente clara na alusão do Papa Paulo VI a um processo de autodestruição da Igreja; e já durante o Concílio o falecido Cardeal Ruffini registrava, desolado, que o modernismo está hoje entronizado na Igreja (apud D. Mayer, art. cit.).

A facção neomodernista tornou-se conhecida em alguns lugares sob o nome de "Underground Church" (Igreja subterrânea), por se desenvolver à margem da Igreja "institucional", isto é, à margem da Hierarquia e da legislação canônica vigente. Não que lhe tenha faltado, a essa "Igreja subterrânea" (que outra não é que a Igreja-Nova preconizada pelo IDOC e pelos "grupos proféticos"), o apoio escancarado de certos Prelados nos vários quadrantes da Terra. Basta lembrar o caso dos Bispos de Goya e de Rafaela, na Argentina, ligados ao péssimo Movimiento de Sacerdotes para el Tercero Mundo, e o do Bispo de Buenaventura, na Colômbia, signatário do famigerado Manifesto de Golconda. Numerosos outros preferiram "fechar os olhos", como o atesta o Pe. Laurentin, falando justamente sobre a atitude da Autoridade ante as iniciativas da "Underground Church": "Ás vezes, a resposta manifesta que a Autoridade não tem objeção de fundo, mas se sente atada por motivos jurídicos. Em muitos casos, ela sugere que fechará os olhos, à maneira italiana, desde que não haja complicações" (René Laurentin, "L'Amérique Latine à l'heure de l'enfantement", Editions du Seuil, 1969, p. 23).

Mas se é verdade que alguns membros da Hierarquia deram às escâncaras seu apoio a iniciativas "proféticas", e que numerosos outros "fecharam os olhos", é também verdade que em nenhum lugar do mundo um Episcopado, em seu conjunto, chegou a assumir a responsabilidade da Igreja-Nova, como o da Holanda. Quem no-lo atesta é o insuspeitíssimo jornalista de "Informations Catholiques Internationales" Gunnel Valquist, em artigo expressivamente chamado "O despertar do profetismo": "Por toda parte tenho encontrado a mesma coisa: de um lado a "jovem Igreja", ou a "Nova Igreja", representada por uma grande parcela de jovens, estudantes, operários e Sacerdotes. E, por outro lado, a "Igreja estabelecida", com sua Hierarquia à testa com muito poucas exceções, salvo o caso da Holanda, onde o Episcopado teve a coragem de assumir também a responsabilidade da jovem Igreja" ("Le réveil du prophetisme", I. C. I., n.° 303, p. 8). E o próprio Cardeal Alfrink o confirmou em um pronunciamento no concílio-pastoral, ao declarar que os Bispos de seu país são "executores das decisões tomadas por todos nós [membros do concílio]" (I. C. I., n.° 311, p. 7). Por essa razão, "na Holanda não há, por assim dizer, Igreja subterrânea, completa o Pe. Laurentin. O que lá se faz é mais razoável do que em outras partes, mas é feito às escâncaras" (ob. cit., p. 24).

E esse "despertar do profetismo" (para usar a expressão de Valquist) não fica em meras discussões nos antros de iniciados, ou nas gritarias do "concílio" neerlandês, que já se convencionou chamar de "circo Goddijn" (do nome de seu secretário-geral). Os fatos mostram sobejamente como os neomodernistas vão tirando todas as conseqüências doutrinárias e práticas dos erros que seus antepassados espirituais do início do século mal expunham disfarçadamente (o que, aliás, não os livrou de serem severamente reprimidos por São Pio X). E não terão dificuldade os nossos leitores em constatar que não é só no país das tulipas que medram tais flores...


INFILTRAÇÕES E INIMIGAS NA IGREJA

D. A. C.

Em uma das suas Alocuções semanais, o Papa Paulo VI qualificou a atual crise em que se debate a Igreja, como sendo a de uma autodemolição.

A alguns a expressão pareceu repugnar à indefectibilidade prometida por Jesus Cristo à Sociedade que fundou para perpetuar sua obra até o fim dos séculos.

Evidentemente, não declarou o Papa que a Igreja iria acabar. Disse, apenas, que Ela sofre de gravíssimos males internos provocados por seus próprios filhos, de maneira que sua destruição —caso fosse possível — atualmente, seria consequência não dos ataques dos inimigos de fora, mas da ação corrosiva dos membros da própria Igreja. Em outras palavras, afirma Paulo VI que é no seio da Igreja que devemos buscar seus inimigos, como a seu tempo dizia São Pio X dos modernistas.

Faz, portanto, obra de verdadeiro apostolado quem denuncia os focos de onde procede a ação demolidora da integridade da Fé e da pureza da Moral católica, seja mediante modificações substanciais na Sagrada Liturgia, ou através de contestações ao Governo hierárquico da Igreja, ou de tantos outros modos.

"Catolicismo" já apontou aos seus leitores os grandes fautores da subversão incrustados na Igreja: os "grupos proféticos" e o IDOC. Iniciativa apostólica semelhante é a dos autores franceses de uma obra coletiva intitulada "Infiltrations ennemies dans l'Eglise" (La Librairie Française, Paris). O livro tem como subtítulo "Documents et témoignages", e é um dossier que encerra trabalhos de Georges Virebeau, Jacques Bordiot, Léon de Poncins, Gilles de Couessin e Edith Delamare.

Os autores tratam das manobras da maçonaria para agir no seio da Igreja, expõem os esforços dos judeus para obterem uma absolvição geral no II Concílio do Vaticano, cuidam da política envolvente praticada pelo comunismo em relação à Igreja, desvendam a existência de um ecumenismo de mau quilate, com suas consequências na Liturgia e no plano de estabelecer uma Igreja sem dogmas, de mero sentimentalismo, e indicam os colossais meios de publicidade que estão à disposição desses inimigos das almas.

O livro, de leitura interessante, é muito instrutivo e de grande utilidade.


Calicem Domini Biberunt.

NÃO VIU BEM O PAPEL DAS TENDÊNCIAS NA REVOLUÇÃO

Fernando Furquim de Almeida

Após realçar a importância do Papado e relembrar o dever de todo soberano católico de respeitálo e protegêlo, volta o Padre Diessbach a tratar da Áustria, mostrando como os ministros e funcionários coligados no combate à Igreja Católica tinham conseguido minar a nação com os erros revolucionários.

Estudando as principais arenas por eles usadas para obterem esse resultado, a mensagem aponta principalmente duas: as medidas tomadas pelo governo imperial contra a Igreja e a tolerância com que a monarquia austríaca permitia que todos os erros se propagassem livremente.

* * *

Antes da ascensão de Leopoldo II ao trono, medidas contra a liberdade da Igreja tinham sido adotadas sistematicamente pelo governo: o eremitismo fora proibido; religiosos de ambos os sexos tinham sido obrigados a abandonar os seus conventos; muitos seminários haviam passado para a direção do Estado, impedindo-se assim que os bispos pudessem formar o clero sem o contágio de doutrinas heterodoxas; e se tinham criado variados óbices para o ministério sacerdotal. Por outro lado, a total tolerância para com o erro tivera como consequência a difusão de toda espécie de livros e periódicos, que corrompiam a população desde as suas classes mais elevadas até as mais baixas.

Protegendose o mal e cerceandose os meios que a Igreja possui para combatêlo, a corrupção moral se alastrara, e, o que é pior, a confusão das ideias e o espírito de dúvida se tinham instalado nesse povo outrora fiel à Religião de seus pais, e que dela se afastava cada vez mais rapidamente, mesmo porque a perseguição religiosa diminuíra o número de padres, dificultando assim a distribuição dos sacramentos, fontes da vida e da santificação das almas.

Pela análise que até agora fizemos da mensagem, poderia parecer que o Padre Diessbach não tinha uma noção nítida do real objetivo da Revolução, que é destruir a civilização cristã. No entanto, seu verdadeiro pensamento transparece no parágrafo que vamos citar.

Dirigindo-se ao soberano de uma monarquia católica, que no entanto dera sobejas provas de ser um revolucionário durante o tempo em que governara a Toscana (não hesitando mesmo em tentar instituir o primeiro Estado laico da Europa), esse parágrafo é também uma séria advertência a Leopoldo II, prevendo o que aconteceria com o trono imperial se ele persistisse em seguir a mesma orientação no seu novo reinado:

"Há uma conexão íntima entre alguns princípios de liberdade civil, pregados por Lutero e aprofundados pelos calvinistas, e os defendidos por Voltaire, Rousseau e Raynal; há uma conexão íntima entre o movimento dos iluministas da Baviera e o dos verdadeiros chefes da revolução na França. Esses princípios e esses movimentos, dirigidos por homens ativos e hábeis espalhados por toda a Europa, ameaçam seriamente a autoridade de quase todos os governos atuais, e a esses princípios e movimentos não há outro dique a opor senão a verdadeira Religião, aceita na teoria a na prática, com toda a sua força e intensidade; ou seja, por uma sábia proteção e uma liberdade real e inteira asseguradas pelos soberanos à Igreja Católica. Só ela possui todos os meios necessários para restabelecer e conservar a ordem. Se, no entanto, continuar a infeliz desconfiança contra o sacerdócio, que poderosos inimigos dos príncipes conseguiram nestes infiltrar, e se os príncipes continuarem a temer mais o Papa e os padres do que os Weisshaupt e os Mirabeaus, podereis, ó Monarca, retardar por algum tempo, com uma política hábil, a crise total que se prepara, mas não por muito tempo. Será então necessário ceder, sem defesa, a uma Assembleia Nacional; ou, para vos sustentardes, sereis obrigado a recorrer aos mais violentos extremos, e apesar disso vireis a ser o súdito de vossos súditos. O que há de bem certo é que Deus vos pedirá contas por não haverdes detido com todo o vosso poder o curso dos projetos destruidores do Catolicismo em vossos Estados”.

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Vemos que o Padre Diessbach percebia com uma certa clareza que a Revolução tem por fim último destruir a civilização católica; mas vemos também, por esse parágrafo, que ele não possuía uma visão completa do processo revolucionário, o que não lhe permite avaliar toda a gravidade dos fatos que se estavam dando na França. Realmente, se avaliasse bem esses acontecimentos, não deixaria de acentuar mais o perigo que a Revolução Francesa representava para toda a Europa e o dever de Leopoldo II de combatêla.

O principal defeito da visão do Padre Diessbach consistia em colocar a força motora da Revolução no terreno ideológico, sem se dar conta da Revolução nas tendências, posta em evidência pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e ContraRevolução". Portanto, não tinha ele uma noção perfeita do caráter total do processo revolucionário. É a revolução nas tendências que predispõe as almas para aceitarem a revolução nas ideias e nos fatos, e as tendências desordenadas são a força propulsora mais íntima do processo revolucionário.

* * *

Tudo isso se torna mais patente nos remédios que a mensagem propõe para deter a revolução na Áustria. Não pretendemos descrevêlos em detalhes, posto que o nosso objetivo ao estudar esse documento é apenas o de avaliar o conhecimento que a Amicizia tinha da Revolução.

Resumindo, pois, o final da mensagem, todas as medidas aí aventadas têm como pressuposto a propagação de bons livros. Numerosos conselhos são dados a Leopoldo II, quer para combater a ação nefasta dos maus conselheiros habituais das monarquias, quer para impedir que os maus livros e jornais continuassem a corromper o povo. Paralelamente a essa ofensiva contra a Revolução, não faltavam bons planos de difusão da doutrina católica, pregação de missões, etc. Como já dissemos, o Padre Diessbach termina a sua mensagem pedindo a restauração dos jesuítas, o que talvez tenha sido a razão de os auxiliares de Leopoldo II não a levarem ao conhecimento do Imperador.

O pensamento do Padre Diessbach era partilhado integralmente pelos Amigoscristãos. A sua mensagem era lida e comentada em todas as Amicizie. Isso explica, em parte, o fato de elas não se terem empenhado na luta contra a Revolução Francesa antes que esta espalhasse os seus erros por toda parte.


NOVA ET VETERA

OS JOVENS SÃO PUNIDOS. E SEUS MENTORES NÃO O SÃO?

J. de Azeredo Santos

Muito se tem escrito, ultimamente, sobre o problema da juventude contestadora, guerrilheira, terrorista. Cita-se como causa desses desatinos o inconformismo das novas gerações diante das atuais estruturas sociais, e em particular critica-se a falta de adaptação do ensino nos vários graus à mentalidade nascida após a segunda guerra mundial. Conhecido jornalista lembra as recentes conquistas tecnológicas e científicas, que seriam responsáveis pelo desequilíbrio psíquico dos jovens, por não estarem estes devidamente preparados para recebê-las.

Há um recinto, porém, em que poucos ingressam ao procurar explicações para a agitação estudantil, o qual, pelo que há nele de contundentemente óbvio, devia ser dos primeiros a atrair nossa atenção: é aquele em que se deve estudar a influência que os membros das gerações mais velhas exercem sobre as jovens mentalidades através dos poderosos meios de comunicação social que, via de regra, se acham em suas mãos. Com efeito, são em geral pessoas de idade madura que manipulam jornais, revistas, editoras, rádios e canais de televisão, ou detêm cátedras de ensino médio e universitário, lideram partidos políticos e associações de classe, ocupam púlpitos e reitorias de Seminários, etc.

O fenômeno é universal, e o que se disser sobre o que ocorre nos ambientes brasileiros poderá ser generalizado para os Estados Unidos, para a França ou para a Austrália.

* * *

A encararmos o problema do capital ponto de vista da gradação das responsabilidades, culpados em primeira linha pelos desmandos dos jovens guerrilheiros e terroristas são, sem sombra de dúvida, seus mentores intelectuais, aqueles que, o mais das vezes impunemente, anos a fio, desde os bancos do ginásio, lhes inocularam o veneno da doutrinação comunista em seus vários graus de diluição, das mais brandas lições de socialismo fabiano às mais façanhudas aulas de anarquia marcusiana.

Essa responsabilidade sobe até aqueles que, "scienter ac volenter", nomearam esses professores, ou toleraram sua pregação subversiva, muitas vezes feita sem nenhum disfarce.

Não queremos negar a responsabilidade que cabe aos membros das novas gerações, que certamente têm culpa ao praticarem ações subversivas. Mas enquanto eles sofrem as consequências de seus atos, enfrentando as armas da lei e muitas vezes curtindo seus erros no cárcere, aqueles que moldaram seu espírito em formação, introduzindo-os nessas sendas tortuosas, ou concorreram para isso com sua cumplicidade criminosa, mantêm-se comodamente em seus cargos.

Quais os responsáveis intelectuais pelo extravio de tantos jovens brasileiros que aderiram à subversão e ao terrorismo? Identificá-los é matéria para uma investigação sociológica da primeira importância para esclarecer o que vem acontecendo em nossos meios estudantis.

* * *

Ofereçamos um exemplo que nos vem de fora. Vejamos o caso do jovem intelectual marxista, especializado em guerrilhas, o malogrado Regis Debray. A quem cabe a culpa principal pelo que lhe está acontecendo? "Trata-se de Louis Althusser, professor de filosofia na Escola Normal Superior da rua d'Ulm [Paris]. Em suas obras ("Pour Marx", "Lire Le Capital") e em seus cursos, Althusser dá do marxismo uma interpretação terrivelmente abstrata, mas que incita aos desvios extremistas. Espírito falseado como a Universidade produz tantos, mas brilhantes, impressiona um auditório de jovens intelectuais que tomam a coerência do discurso por um reflexo da realidade. Althusser se torna, assim, permanecendo embora membro do Partido Comunista Francês, o mentor intelectual de um Regis Debray e de dezenas de outros que se reúnem às fileiras dos trotskistas, dos pró-castristas, ou dos pró-chineses. Desempenha nas fileiras do PC um papel eminentemente desmobilizador" (Roland Gaucher, artigo "Os grupos revolucionários" — "Itinéraires", n.o 125, de julho-agosto de 1968, p. 205).

Dirão que esse exemplo constitui caso isolado que pouco prova. Acrescentemos, portanto, outra eloquente ilustração disso que entra pelos olhos de quem quer ver. Recentemente os jornais de todo o Brasil se ocuparam da denúncia oferecida pelo promotor público da 1a Auditoria da Aeronáutica contra 81 membros do movimento subversivo denominado Ação Popular, ou simplesmente AP, jovens de ambos os sexos que assim são chamados a prestar contas à Justiça. Quem quiser conhecer as origens desse movimento leia o documentadíssimo artigo que, sob o título de "Ação Popular, capítulo deplorável na história do Brasil católico", publicou o Sr. Aloizio Augusto Barbosa Torres nas páginas de "Catolicismo" (n.° 183, de março de 1966).

Logo de início, lembra o autor como há mais de vinte e cinco anos, no livro "Em Defesa da Ação Católica", o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira deu o brado de alarma contra a Infiltração de ideias erradas que faziam a Ação Católica correr o "risco de ser voltada contra suas próprias finalidades".

Desprezada essa advertência, hoje temos a deplorar o escândalo da Ação Popular, movimento de tendências nitidamente marxistas e subversivas brotado nos meios da JEC e da JUC, com o apoio e orientação de intelectuais da chamada esquerda católica, eclesiásticos e leigos. De movimento da juventude católica aberto erradamente à colaboração com adeptos do comunismo, passou a AP à ação terrorista da linha abertamente chinesa: "Vivemos, hoje, a etapa da preparação para a guerra popular. A preparação da guerra popular deve ser vista, principalmente, do ponto de vista das classes fundamentais, tendo como objetivos a reconstrução do Partido do Proletariado [...]" (do relatório elaborado por membros da AP, citado na denúncia do promotor público junto à 1a Auditoria da Aeronáutica, apud "Jornal da Tarde", de São Paulo, 7 de julho de 1970).

* * *

Enquanto esses moços fanatizados, dignos de melhor sorte, prestam contas à Justiça, onde se acharão seus orientadores, seus mentores, aqueles que por ação e também por omissão se constituem em principais responsáveis pelo seu descaminho? Possivelmente permanecem impassíveis, como se nada tivessem com o assunto, ou para guardar as aparências, tomam ares de quem empunha um ridículo regador para simular que tenta extinguir o incêndio que ajudou a atear.