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O PORQUÊ DESTE NÚMERO

Estão inteiramente esgotados os exemplares remanescentes das duas edições do livro "Frei, o Kerensky chileno", do Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira, cujo texto esta folha publicou em primeira mão, há três anos, em seu número 198-199, de junho-julho de 1967. Está esgotado também o estoque que conservávamos daquele nosso número.

Em dez dias de uma campanha inaugurada em 11 de setembro p.p. — com uma Missa pelo Chile, celebrada em São Paulo pelo Exmo. Bispo de Campos — sócios e colaboradores da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, envergando suas já consagradas capas rubras com o leão heráldico, venderam 4.700 exemplares do livro e 2.800 exemplares do n.° 198-199 de "Catolicismo" nos principais logradouros públicos de Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Ouro Preto, Vitória, Niterói, Campos, Rio de Janeiro, São Paulo, Olímpia, Ribeirão Preto, São Carlos, São José dos Campos, Curitiba, Lages, Londrina, Ponta Grossa, Rio Negro, Florianópolis, Blumenau, Mafra, Rio Negrinho e Porto Alegre.

Diante da enorme atualidade que o trabalho de nosso colaborador adquiriu depois das recentes eleições chilenas — um jornalista comentou que a obra mais parecia hoje um retrospecto do passado do que uma análise feita há três anos, tal o acerto de suas previsões — resolvemos aceder a um pedido da TFP, reeditando neste número de "Catolicismo" o texto integral de "Frei, o Kerensky chileno". Assim, poderão conhecê-lo os nossos numerosos novos assinantes, que em 1967 ainda não recebiam o jornal. Sobretudo, poderá assim prosseguir a campanha da TFP, interrompida momentaneamente com o esgotamento do estoque do livro e do jornal.

Preferiu a TFP, em vez de promover uma reedição da profunda e palpitante reportagem de Fabio Xavier da Silveira sob a forma de livro, recorrer a "Catolicismo", pois a experiência com a divulgação do número desta folha sobre o IDOC e os "grupos proféticos" (n.° 220-221, de abril-maio do ano passado) provou que esta maneira de apresentação é grandemente adequada às conveniências do público brasileiro, já que 165 mil exemplares daquela nossa edição escoaram-se em setenta dias.

Pronunciamento oficial da TFP

Esta reapresentação de "Frei, o Kerensky chileno" permite, como dissemos, o prosseguimento da campanha da TFP. Visa essa campanha, sobretudo, o esclarecimento do público brasileiro acerca do que se passa atualmente no Chile. Com efeito, sob o título de "Toda a verdade sobre as eleições no Chile", o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou, na "Folha de São Paulo" de 10 de setembro p.p., um artigo, admirável pelo seu descortino, acerto e precisão, que constitui uma tomada de posição sobre a crise em que se vê envolvida a nação irmã. Dessa crise, que culminou com a vitória eleitoral de um candidato marxista — fato que ocorre pela primeira vez na história do comunismo, no mundo inteiro — podem decorrer profundos e nefastos efeitos para o Brasil e toda a América Latina. Daí o interesse com que a opinião mundial vem acompanhando o que se passa no Chile.

Esse artigo do notável pensador e escritor brasileiro, a TFP o fez seu, como manifesto oficial à nação. Com acréscimo apenas de alguns subtítulos, foi ele profusamente distribuído, sob a forma de 460 mil volantes, durante a fase inicial da campanha da TFP, e integra hoje esta edição de "Catolicismo", com o título de "A posição da TFP ante a vitória marxista no Chile" (p. 3).

História de um livro

Quando, em 1967, saiu a lume a obra do Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira, a ninguém ocorrera ainda chamar Frei de "Kerensky chileno". Agora, essa merecida alcunha, repetida primeiro pela imprensa nacional, está em todos os lábios e nas colunas de todos os jornais, em nosso País como no Exterior. Hoje, passados três anos, a obra do jovem membro do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade está alcançando uma verdadeira consagração, pela exatidão com que suas lúcidas e dramáticas previsões se vêm realizando.

A Democracia-Cristã é por toda parte mais ou menos a mesma. Em boa medida, suas bases são sadias mas politicamente ingênuas. Suas cúpulas são ambíguas, à primeira vista; constituídas habitualmente por elementos que vão de um centrismo conservador — passando por todas as gamas intermediárias — até um esquerdismo extremado, a influência dominante nelas jamais é dos direitistas ou centristas, mas dos esquerdistas. Estes últimos acabam por arrastar sempre mais para a esquerda (com relutância maior ou menor dos demais elementos) as cúpulas demo-cristãs, e com as cúpulas também as bases. Por esta forma, embora tais cúpulas blasonem-se de anticomunistas, a maior parte de seus membros entretanto nada omitem para tornar mais e mais conforme às tendências ou até às doutrinas comunistas tudo em que põem as mãos. Pregoeiros da concórdia a todo preço, daí deduzem a conveniência de um entendimento cordial e até uma genuína cooperação com o marxismo. Mas, frente aos anticomunistas de truz, a Democracia-Cristã esquece todo o seu pacifismo, e se transforma em adversária iracunda, constante e irredutível. E à luz de tudo isto a ambiguidade das cúpulas cessa de existir para o observador arguto, dando lugar ao quadro de uma DC que outra coisa não é senão um dispositivo ideológico e político próprio a arrastar para a extrema-esquerda direitistas e, principalmente, centristas incautos (cf. Plinio Corrêa de Oliveira, prefácio a "Frei, o Kerensky chileno").

Foi por ter percebido isto com clareza, que o Sr. Fabio Xavier da Silveira se abalançou a escrever sua reportagem e alertar a opinião nacional para o perigo dessa trama.

Seu livro alcançou rapidamente um êxito invulgar, sucedendo-se as edições no Brasil (Editora Vera Cruz, São Paulo, 2 edições, 10 mil exemplares), na Argentina (Ediciones "Cruzada", Buenos Aires, 6 edições, 30 mil exemplares) e na Venezuela (2 edições promovidas pelo "Grupo Tradicionalista de Jóvenes Cristianos Venezolanos", 6 mil exemplares). Ainda na Venezuela, um resumo do livro foi publicado nos diários "El Nacional" (170 mil exemplares) e "La Verdad" (30 mil exemplares), ambos de Caracas, e na revista "Panorama" de Maracaibo (20 mil exemplares).

Em nosso número 205, de janeiro de 1968, estampamos um amplo noticiário a respeito da extraordinária repercussão que o livro vinha obtendo em toda a América Latina e mesmo na Europa. Não nos é possível reproduzir agora todos os detalhes desse noticiário. Registremos, apenas, que a circulação da obra foi proibida no Chile, onde o governo Frei chegou a violar o sigilo postal para impedir que os destinatários a recebessem pelo Correio, quando remetido do Exterior. Essa proibição, conquanto tenha impedido uma maior divulgação do livro, contribuiu para despertar ainda mais o interesse por ele. Formaram-se filas para o ler em algum exemplar emprestado, posto que era muito difícil a compra (vendia-se num como que "mercado negro", a 20 dólares o exemplar...).

Diplomatas chilenos no Exterior tudo fizeram para abafar a enorme repercussão que o livro ia alcançando por toda parte. A Embaixada do Chile na Venezuela polemizou a respeito com o jornal "La Verdad". O Embaixador em El Salvador protestou contra elogios feitos ao livro. O Embaixador do Chile em Lima perdeu as estribeiras — não cabe outra expressão — com "La Prensa", onde Frei fora chamado de Kerensky. No Brasil, o Embaixador andino enviou a esta folha uma carta de protesto por motivo da publicação de "Frei, o Kerensky chileno", ao mesmo tempo que a Secretaria de Imprensa da Embaixada divulgava uma nota acusando o livro de injurioso para com o Presidente da nação irmã.

Atitude arbitrária do governo chileno

Já o governo demo-cristão do Chile havia tomado contra o próprio Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira, antes mesmo que ele redigisse a sua reportagem, uma atitude das mais arbitrárias, que fazia prever a campanha que moveria contra sua obra.

Com efeito, estando o Sr. Xavier da Silveira de viagem pelo Chile, em agosto de 1966, realizou uma conferência na cidade de Temuco sobre problemas brasileiros, sem qualquer alusão aos assuntos internos do país andino. Esta conferência, entretanto, tendo criticado a reforma agrária do Presidente João Goulart, foi considerada subversiva pelo governo Frei, razão pela qual convidou ele o conferencista a em 72 horas abandonar o país.

Diante de tão insólito e injustificável procedimento, o Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira solicitou e obteve uma audiência do então Ministro do Interior chileno, Sr. Bernardo Leighton, ao qual ofereceu trazer, além de testemunhas, a fita magnética com a gravação da conferência que havia pronunciado. Debalde. O Ministro recusou-se a ouvir a gravação e as testemunhas; apenas, num excesso de "benignidade", ampliou de 72 horas para cinco dias o prazo para saída do Chile!

Hoje todos reconhecem

Infelizmente, as previsões de Fabio Vidigal Xavier da Silveira não se fizeram senão confirmar.

O Presidente Eduardo Frei prosseguiu em sua política esquerdizante, avançou pelas reformas de estrutura confiscatórias e conduziu o país à beira do abismo. Nas últimas eleições presidenciais venceu, embora por mínima vantagem, e nas condições que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira aponta em seu já citado artigo (p. 3 desta edição), o candidato marxista Salvador Allende.

Hoje, todos percebem como o Sr. Xavier da Silveira tinha razão. Já aludimos à opinião do Sr. Lenildo Tabosa Pessoa, segundo o qual a justeza das previsões do livro é tamanha, que ele mais parece escrito "post factum" ("Jornal da Tarde", de São Paulo, de 8 de setembro p.p.). Também o Sr. Mario Busch, colaborador de "O Estado de São Paulo", reconhece que a análise feita em "Frei, o Kerensky chileno", a qual a muitos "parecia um exagero "direitista" inspirado num "macartismo" crioulo", foi plenamente comprovada pelos fatos ("O Estado de São Paulo", de 13 de setembro p.p.).

O livro do brilhante membro do Conselho Nacional da TFP é hoje um livro histórico.

Cartas de aplauso

Quando da publicação do livro, numerosas personalidades do Brasil e do Exterior externaram seu aplauso em cartas ao Autor. Não sendo possível transcrevê-las aqui, limitamo-nos a registrar os nomes dos signatários: Cardeal Nicolás Fasolino, Arcebispo de Santa Fé, Argentina; Almirante Augusto Hammann Rademaker Grunnewald, Ministro da Marinha, hoje Vice-Presidente da República; General Afonso Augusto de Albuquerque Lima, Ministro Extraordinário para a Coordenação dos Organismos Regionais; Coronel Jarbas Passarinho, Ministro do Trabalho e Previdência Social; Sr. Paulo Pimentel, Governador do Estado do Paraná; Dom Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D., Arcebispo Metropolitano de Diamantina; Mons. Alfonso Maria Buteler, Arcebispo de Mendoza, Argentina; Mons. Antonio Corso, Bispo de Maldonado-Punta del Este, Uruguai; D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos; D. José Mauricio da Rocha, Bispo de Bragança Paulista; Sr. Carlos Lindenberg, Senador pelo Estado do Espírito Santo; Sr. Caio de Alcantara Machado, depois Presidente do Instituto Brasileiro do Café; Sr. Plinio Franco Ferreira da Costa, Vice-Governador do Estado do Paraná; Sr. Celio Marques Pereira, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sr. José Felicio Castellano, Secretário do Governo do Estado de São Paulo; Sr. Orlando Zancaner, Secretário de Turismo do Estado de São Paulo; Sr. João Franzen de Lima, Secretário do Interior Justiça do Estado de Minas Gerais; Pe. Balduino Barbosa de Deus, Secretário da Educação e Cultura do Estado do Piauí; Deputado Ultimo de Carvalho, Vice-líder da ARENA na Câmara dos Deputados; Sr. Edmundo Monteiro, Deputado federal e Diretor dos "Diários Associados", Deputado Manoel Costa, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais; Almirante Carlos Penna Botto, Presidente da Cruzada Brasileira Anticomunista; Coronel Jonas Pereira da Silva, Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais; Sr. Salvio de Almeida Prado, Presidente da Sociedade Rural Brasileira; etc.

A Igreja não tem medo da História — disse-o Leão XIII

"Catolicismo" está certo de cumprir um dever ao solidarizar-se com a nova campanha da TFP, a qual alerta o povo brasileiro, fundamentalmente anticomunista, para que não se deixe intimidar por aquilo que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira classificou, muito adequadamente, de "vitória de opereta" do candidato marxista no Chile.

Como bem prova o citado artigo do Presidente do Conselho Nacional da TFP, a vitória eleitoral de Allende não foi uma vitória do comunismo. E não indica também um progresso do comunismo na opinião mundial.

De qualquer modo, o pronunciamento da TFP, consubstanciado nesse artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, põe de manifesto a gravidade da atuação do Clero esquerdista no Chile, e realça a importância da histórica Mensagem em que dois milhões de brasileiros, argentinos, chilenos e uruguaios pediam a Paulo VI, em 1968, que pusesse cobro à infiltração comunista na Igreja. Não vai nisso, por parte da TFP, uma estéril expansão de tristeza e muito menos um inútil desabafo de amargura diante do fato de que essa Mensagem, reverente e filial, não tenha sido atendida. Trata-se, isto sim, de dar consciência ao nosso povo de que os apelos da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, inspirados no mais alto e desinteressado amor à civilização cristã e à Pátria, merecem toda a confiança que têm encontrado por parte de um número sempre crescente de brasileiros. O pronunciamento da benemérita entidade deixa patente, também, que esses apelos não merecem nem o desdém nem os incontáveis ataques de que vêm sendo objeto da parte da agitada e ruidosa minoria esquerdista que se encontra entre clérigos e leigos.

A Igreja não tem medo da História, disse Leão XIII, ao franquear aos historiadores os arquivos do Vaticano.

Os fatos a que aludimos, e outros fatos conexos, são históricos. Não compreendem a História os que temem pela Igreja vendo-os divulgados.

Aberrações do fanatismo "sapo"

Uma última palavra para os "sapos", que, a propósito desta campanha da TFP, têm coaxado que o assunto é chileno, sem interesse para nós, brasileiros.

Seria como dizer que, se 30 ou 40% dos moradores da casa vizinha estão atacados de cólera, esse é um assunto que só interessa ao vizinho...

Tal modo de ver é inteiramente anacrônico — o que não espanta nos progressistas, os quais não hesitam em tomar as atitudes mais anacrônicas quando isso lhes parece indispensável como pretexto para levantar objeções contra alguma ação anticomunista. Eles raciocinam a respeito da crise político-ideológica do Chile, como se o Brasil estivesse rodeado por uma muralha chinesa. Na realidade, nesta época em que todos falam de integração interamericana, em que os vínculos entre todos os países vão-se estreitando, é absurdo não querer ver que os acontecimentos de determinado país têm uma necessária repercussão em todos os outros. Se de Cuba, tão pequena e tão distante, o comunismo soube tirar tanto proveito para perturbar toda a América Latina, quanto mais o fará com o Chile!

Ademais, é uma atroz falta de caridade cristã ver um país inteiro imergir no regime comunista, e exclamar desdenhosamente: o assunto é deles! Tudo isto mostra bem a que aberrações o fanatismo "sapo" pode chegar.

Missa de D. Mayer inaugura o campanha

A pedido da TFP, o Exmo. Revmo. D. Antonio de Castro Mayer celebrou em São Paulo uma Missa para que o Chile não caia sob o domínio comunista. O ato religioso teve lugar no dia 11 de setembro p.p., na Igreja de Santo Antônio da Praça do Patriarca, a ele comparecendo sócios e propagandistas da TFP daquela cidade e numeroso público. O Exmo. Revmo. D. Bruno Maldaner, Bispo-Auxiliar de São Paulo, fez-se representar pelo Revmo. Pe. Afonso Hansen, S. J. Esteve presente também a Deputada Dulce Saltes Cunha Braga.

Antes da Missa, os sócios e colaboradores da TFP desfilaram pela Rua Barão de Itapetininga, Praça Ramos de Azevedo, Viaduto do Chá e Praça do Patriarca, ostentando um magnífico estandarte vermelho de 12 metros de comprimento, além de dezenas de estandartes menores, todos com o áureo leão rompante.

Ao longo da caminhada, os jovens da TFP, precedidos pelos membros do Conselho Nacional tendo à frente o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, gritavam slogans como os seguintes: "Leia nosso comunicado oficial: Pastores entregaram o Chile ao lobo vermelho!"; "Nosso comunicado oficial demonstra: o comunismo não progrediu no Chile"; "Plínio Corrêa de Oliveira denuncia a trama progressista no Chile"; "O livro de Fabio Xavier da Silveira: Frei, o Kerensky chileno".

Depois de assistir a Missa, os jovens propagandistas da TFP dividiram-se em diversos grupos postados ao longo do Viaduto do Chá e adjacências, distribuindo o pronunciamento oficial da TFP sobre as eleições chilenas (o artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira transcrito na íntegra na p. 3 desta edição) e vendendo exemplares do livro "Frei, o Kerensky chileno".

Os "sapos" coaxaram, como dissemos, mas foi excelente a receptividade do público em geral.

Inaugurou-se assim mais uma campanha de âmbito nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (fotos nas pp. 19 e 20).


A POSIÇÃO DA TFP ANTE A VITÓRIA MARXISTA NO CHILE

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

O profundo impacto causado na opinião pública do Brasil e de toda a América do Sul pelo resultado da recente eleição presidencial chilena, torna indispensável uma análise serena e objetiva do que no país irmão acaba de ocorrer.

Tal análise, esperam-na da TFP os incontáveis brasileiros que se vêm habituando a receber dela — nas horas de incerteza e de dor — a palavra que esclarece, estimula e sugere uma solução. Assim, externo aqui o pensamento de nossa invicta entidade.

Avanço ou retrocesso do comunismo?

O primeiro ponto a tratar é o alcance das eleições do Chile como indício dos rumos ideológicos da opinião naquele país, bem como em toda a América do Sul.

Com efeito, vai ganhando terreno entre nós a impressão de que o comunismo registrou um grande avanço no Chile, avanço este que estaria a indicar uma profunda transformação na atitude até aqui anticomunista das massas latino-americanas. Em outros termos, a vitória do comunismo no Chile pressagiaria análoga vitória para ele em nosso País e nas demais nações irmãs.

Tal conclusão é de molde a desalentar toda ação anticomunista. E com isto só tem a ganhar o comunismo. Pois — segundo ensinava Clausewitz — vencer um adversário não importa necessariamente em esmagá-lo: por vezes basta tirar-lhe a vontade de lutar.

Assim, o mais urgente, para o esclarecimento da opinião brasileira, consiste em tornar claro que o resultado do recente pleito chileno revela não um progresso, mas antes um retrocesso do marxismo no país amigo. Por mais que essa afirmação possa surpreender à primeira vista, funda-se ela em fatos e cifras incontestáveis. Estas últimas, colhemo-las na fonte mais genuinamente "allendista", isto é, o diário comunista chileno '"El Siglo", de 5 do corrente:

a) Em 1964, concorreram à disputa pela suprema magistratura dois candidatos, Eduardo Frei e Salvador Allende. O primeiro alcançou 1.409.012 votos, que constituíam 55,7% do eleitorado. O segundo obteve 977.902 votos, isto é, 38,7% do eleitorado.

Os votos dados a Frei provinham da coligação do PDC com dois outros partidos, o Conservador e o Liberal.

Allende — e este fato é capital — não era apoiado senão pelos comunistas, ou seja, pelo Partido Socialista (marxista), pelo Partido Comunista e por certos corpúsculos comunistas dissidentes. Assim, toda a votação de Allende era comunista, e toda a votação comunista era de Allende.

b) No pleito de 1970, pelo contrário, Allende se apresentou como candidato de uma coligação. Ou seja, além dos votos comunistas acima referidos, Allende recebeu o apoio do Partido Radical e de uma dissidência do PDC (MAPU). Era, pois, de esperar que o eleitorado de Allende tivesse crescido e fosse agora nitidamente maior.

Ora, sucedeu precisamente o contrário. Ou seja, no último pleito, o candidato socialista teve apenas 36,3% dos votos (contra 38,7% da eleição anterior).

Daí se deduz que o contingente marxista minguou. Pois agora — mesmo somado a outras forças — ele alcançou menor porcentagem de votos do que em 1964.

Pedecistas e outros esquerdistas, responsáveis pela vitória de Allende

Mas, objetar-se-á, se é verdade que a porcentagem eleitoral dos contingentes marxistas decaiu, pode-se pelo menos dizer que o número dos marxistas cresceu no interior de outras correntes políticas. Pois, do contrário, elas não teriam apoiado Allende.

Infelizmente, nós brasileiros temos boas razões para saber que tal não é a verdade. Enxameiam aqui clérigos de passeata, políticos com "p" pequeno, intelectuais e intelectualóides sequiosos de publicidade, que não se fartam de repetir que os não comunistas, embora conservando-se escrupulosamente alheios ao marxismo, devem fazer frente única com os adeptos deste, para derrubar o que chamam a oligarquia ora dominante. Há 20 ou 30 anos que isto se diz e se repete no Brasil.

Ora, segundo observava Napoleão, a repetição é a melhor figura de retórica. À força de pregar a coexistência pacífica, a "mão estendida", a colaboração com o marxismo, os cripto-comunistas têm arrastado, em mais de um país, para votar em candidatos comunistas, contingentes maiores ou menores de inocentes-úteis, que não são comunistas.

"Há algo pior que o comunismo: é o anticomunismo”, disse Frei. Sua lição frutificou. Das próprias fileiras do PDC, a que Frei pertence, uma apreciável força eleitoral se destacou para Allende. Quem semeia ventos colhe tempestades...

O Clero esquerdista, fator importante da vitória marxista

Uma circunstância especial reforça este argumento em prol da tese de que boa parte da votação dada a Allende no último pleito não era constituída de comunistas.

Em 1964, a infiltração comunista no Clero chileno era bem menor. O Clero todo trabalhou então por Frei, contra Allende.

Em 1970, essa infiltração assumiu proporções alarmantes. Agravando ainda a situação, o próprio Cardeal Silva Henríquez, Arcebispo de Santiago, declarou à imprensa ser inteiramente licito a um católico — que, por definição, não é comunista — votar em candidatos marxistas (cf. jornais "Ultima Hora" e "Clarín" de Santiago, de 24-12-69).

Supondo tratar-se de um engano de imprensa, a TFP chilena escreveu ao Purpurado, pedindo-lhe um esclarecimento ou uma retificação. A resposta foi o silêncio.

Quem conhece o estofo dos nossos clérigos vermelhos, bem pode avaliar quantos votos de inocentes-úteis os clérigos vermelhos do Chile — prestigiados e estimulados por fato tão propício a seus intentos — terão encaminhado para Allende.

Inocentes-úteis, o peso decisivo

Insistimos. Não cresceu no Chile o número dos marxistas. Cresceu, isto sim, o número de inocentes-úteis que se deixam iludir pelo sonho de aproveitar o apoio marxista para a realização de certas reformas... sem chegar ao marxismo.

A TFP previu — A vitória de um grande livro

Isto posto, convém passar a outra consideração.

O Brasil ficou vendo, no exemplo chileno, a suma nocividade dos grupos de pressão da chamada "Terceira Força", contra cuja atuação a TFP não tem cessado de alertar a opinião pública, em campanhas que já hoje fazem parte da História. Entre essas campanhas, merece no momento uma especial referência a difusão, pelas vastidões de nosso imenso território, do livro "Frei, o Kerensky chileno” (Editora Vera Cruz, São Paulo, 1967), de autoria de um dos diretores da entidade, o Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira.

Essa obra teve edições na Argentina e na Venezuela, e repercutiu intensamente na imprensa de toda a América Latina. Escrita com uma notável lucidez de doutrina e de observação, provou, há três anos, que o resultado da atuação de Frei seria a vitória da minoria comunista.

Entre nós, os grupelhos cripto-comunistas e os "sapos" não gostaram. Aqui estão os resultados...

Se Paulo VI tivesse atendido a nosso brado de alerta

Uma palavra sem nenhuma amargura, mas cheia de dor.

Em 1968, 120 mil chilenos uniram-se a 1.600.358 brasileiros, 280 mil argentinos e 40 mil uruguaios para pedir a Paulo VI medidas contra a infiltração comunista nos meios católicos.

O silêncio mais frio e completo seguiu-se à súplica entretanto filial, respeitosa, submissa, angustiada, ardente.

Nada se fez no Chile (para só falar dele), que pusesse cobro à onda.

A História registrará que essa omissão teve trágica importância no drama que está prestes a começar.

Agora exulta o comunismo internacional

Ou antes, no drama que já começou.

Enquanto, pelo menos até o momento, que saibamos, nenhum jornal católico oficial ou oficioso se ergueu para lamentar o escândalo do apoio de católicos ao comunismo no Chile, os jornais comunistas do mundo inteiro celebram a vitória de Allende como um triunfo do marxismo. E Fidel Castro procura desfazer com loas a Allende a impressão de derrota causada pelo seu discurso sobre o fracasso da safra açucareira cubana.

A vitória de Allende: maioria de opereta

De sua parte, Allende, que alguns otimistas incorrigíveis apresentam como um moderado, já começou a marcha para a ilegalidade e, portanto, para a violência.

A vontade popular só se exprime em maiorias palpáveis, pois, como é óbvio, pequenas diferenças eleitorais podem ter causas tão irrelevantes e várias, que são inadequadas para manifestar as aspirações autênticas e profundas de um país. Considerando isto, a Constituição Chilena dispôs de um modo sábio que, em casos como o presente, cabe ao Congresso escolher livremente o Presidente da República, entre os candidatos mais votados.

Ora, o comando da Unidade Popular — união eleitoral pró-Allende — dando um golpe de Estado branco, acaba de contestar ao Congresso essa atribuição legal, declarando pura e simplesmente que a vitória de seu candidato é irreversível. O que quer dizer que ele recorrerá ao golpe de Estado vermelho, se o Congresso não se dobrar ao golpe de Estado branco.

Allende tenta começar a tragédia

Allende teve 36,3% do eleitorado. Alessandri 34,9%. A diferença é irrisoriamente pequena. Qualquer questiúncula entre cabos eleitorais, qualquer episódio a-ideológico de aldeia ou subúrbio a pode ter ocasionado.

Baseado, entretanto nessa minoria ínfima, nessa vitória de opereta, Allende já começou — em nome da democracia — a demolição do Congresso. Assim, anunciou ele o propósito de dissolver o Senado e a Câmara dos Deputados, instalando uma "Assembleia do Povo", a ser eleita com o Chile sob o tacão da bota comunista.

Ao mesmo tempo, já pediu a instituição de juízes eletivos. Ou seja, da barbárie. Pois num país em que os juízes são nomeados sem prova de saber notório, e trabalham sem as garantias da vitaliciedade, da inamovibilidade e da irredutibilidade das rendas, domina, não o direito nem a lei, mas a barbárie.

DC tem a decisão nas mãos

No Congresso, os votos dos deputados da DC decidirão se o Presidente será Allende ou Alessandri. Ou seja, se o Chile imergirá ou não na barbárie comunista. Levará a DC a triste coerência de sua posição de Terceira Força até o extremo de optar pela barbárie? A este respeito, há um suspense não só no Chile e na América, mas no mundo. Todos se perguntam até onde irá, neste episódio, a DC. E o que ainda podem temer desta os outros países em que há PDCs fortes.

Paulo VI poderá ainda salvar tudo

Voltamos novamente agora nosso olhar para Roma. Uma só voz há no mundo, que pode prevenir este mal. É a voz augusta de Paulo VI.

Será que ainda agora ele se manterá silencioso, omitindo pronunciamento oficial, claro, previdente, forte, paterno, que mesmo à beira do abismo ainda poderá salvar tudo?

É com toda a alma que imploramos à Providência essa palavra salvadora ...

Irritação não convence; só argumentos

É de se prever que certas afirmações aqui contidas causem desagrado e até protestos em alguns círculos, especialmente nos do chamado progressismo cristão.

A esses lembramos simplesmente que os fatos que alegamos são incontestes e incontestáveis....

Súplica

Resta-nos pedir a Nossa Senhora do Carmo, Padroeira do Chile, que se condoa desse país, querido irmão do nosso. E abra os olhos dos brasileiros para a tremenda nocividade das correntes que se rotulam de a-comunistas, mas estendem a mão ao comunismo.

O restante do jornal é a reprodução do livro “Frei o Kerenski chileno”, publicado por “Catolicismo” no seu número duplo 198-199 de junho-julho de 1967.