(continuação)
ELEIÇÕES CHILENAS: TFP ESCLARECE E ALERTA
não havendo nenhum popular sofrido qualquer violência por parte dos jovens, cuja cortesia no contato com o público é notória.
O "Diário de Minas" confunde alguns agitadores, postados no local do conflito, com o povo, ao afirmar: "Os membros da TFP prosseguiram, subindo a Afonso Pena, cantando hinos, sob a vaia de quase mil pessoas, que estavam esperando os resultados".
Durante todo o trajeto, o desfile da TFP despertou admiração generalizada e até aplausos de transeuntes, não tendo logrado os agitadores realizar seu intento por não encontrarem apoio popular.
O noticiário da TV
A TV Vila Rica, Canal 7, noticiou simplesmente esta aberração: "Os impetuosos rapazes da TFP foram em cana por agressão e a partir de agora vão ter que parar com as perturbações à população".
A notícia afirma ainda que os "membros da "Tradição, Família e Propriedade" promoveram verdadeira batalha hoje, no centro da cidade, espancando diversas pessoas, que se encontravam nas proximidades..." E acrescenta que o espancamento se deu porque "diversas pessoas não participavam de seu pensamento".
Aos olhos do grande público, um ato de legítima defesa é descrito por esta forma, sendo qualificada de "massacre" a ação defensiva dos militantes. Do grandioso desfile o comentarista apenas constatou uma inexistente "indignação popular".
A TV Globo, Canal 12, quis ver na assistência à Missa, programada dias antes, na intenção de que o Chile não caia sob o jugo comunista, uma fuga da polícia. O fato foi noticiado nestes termos: "Depois da passeata, eles [os rapazes da TFP] se refugiaram na Igreja dos Sagrados Corações, ao lado do Instituto de Educação, para fugir da polícia".
Rádio Guarani
A TV Itacolomi, no seu noticiário de ontem, registra ainda uma inverdade, desmentida em nosso comunicado do dia 1o de outubro: na "Igreja do Coração de Jesus, agrediram o repórter Dirceu Pereira, da Rádio Guarani. Na fúria dos membros da TFP, o jovem Leo Nino Foscolo Daniele perdeu o controle e foi preso, depois de ameaçar a imprensa com o mastro das bandeiras, ora usados como lança. Foi preso pelo DOPS, por determinação do Delegado Tarcísio Menezes, que contou também com a ajuda de autoridades federais. A partir de agora e por ordem da polícia, os membros da TFP não sairão mais às ruas, tendo sido cancelada a grande concentração desta noite".
Esse episódio foi largamente explorado pela Rádio Guarani, que transmitia diretamente do local, criando um clima de grande sensacionalismo.
O estrondo publicitário foi de requinte em requinte, a ponto de fazer afirmações que a cidade inteira sabe serem falsas. Por exemplo — como acima foi mencionado — afirmou-se que a Igreja do Sagrado Coração de Jesus é "ortodoxa brasileira", quando a população toda da cidade tem conhecimento de que é católica apostólica romana.
Novamente a TFP volta às ruas
Constituiu virtual e irrespondível desmentido às asseverações da caudalosa ofensiva de terrorismo publicitário o fato de que hoje, entre 15 e 18 horas, duas bancas de propagandistas da TFP, nas proximidades da Igreja São José e do Edifício Acaiaca, desenvolveram livre e pacificamente a venda do jornal "Catolicismo", o que certamente não teria sido permitido pelas autoridades competentes, se fossem verdadeiras as imputações feitas à entidade, através da fantasiosa campanha.
O público de Belo Horizonte acolheu com indisfarçável simpatia o reaparecimento, na Av. Afonso Pena, dos rubros estandartes marcados pelo leão heráldico da TFP, e acorreu em grande número às bancas, a fim de comprar o mensário de cultura "Catolicismo".
240 PROFESSORES APÓIAM A CAMPANHA
A propósito da campanha de esclarecimento, promovida pela TFP, sobre o verdadeiro sentido da vitória de Allende no Chile, 240 professores do ensino superior, secundário e eclesiástico, sobretudo da Guanabara e do Estado do Rio, subscreveram significativa mensagem de apoio àquela entidade. Destacamos entre os signatários os nomes dos Srs. Desembargador Christovam Breiner, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tarcísio Padilha, da Universidade do Estado da Guanabara, Hanns Ludwig Lippmann, da UFRJ, da UEG e da Universidade Gama Filho, Paulo Carvalho, da UFRJ e da UEG, Fernando Corrêa de Barros, do Instituto de Geociências da UFRJ, Everton Paes da Cunha, Diretor da Faculdade de Medicina de Campos, Baptista Netto, da Universidade Federal Fluminense, Nilton Braga de Oliveira, da PUC da Guanabara, e Sérgio De Moyo Hamilton, da Universidade Católica de Petrópolis. Assinalamos especialmente os nomes do Exmo. Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mayer, e dos. Revmos. Srs. Côn. José Luiz Villac, Pe. Benigno de Britto Costa e Pe. José Olavo Pires Trindade, Reitor e professores do Seminário Maior desta Diocese.
Eis a íntegra do documento:
"Diante do perigo de uma nação irmã, o Chile, cair sob o jugo da mais vil das tiranias ideológicas, transformando-se numa nova Cuba, nós, professores universitários e secundários, como também eclesiásticos, vimos a público manifestar a nossa repulsa ante esse fato e nosso apoio a mais uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, que, saindo às ruas das principais cidades do país, denuncia a trama progressista que está conduzindo o país irmão rumo ao comunismo.
Congratulamo-nos com o artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — "Toda a verdade sobre as eleições no Chile" ("Folha de São Paulo" de 10 de setembro p.p.), que constitui a tomada de posição oficial da TFP sobre a crise em que se vê envolta a nação irmã, demonstrando com argumentos incontestáveis que o comunismo não progrediu no Chile.
Lamentamos que o Clero esquerdista, com suas falácias, tenha sido um fator de suma importância da vitória eleitoral marxista.
Lembramos com tristeza o fato de o Cardeal Silva Henríquez, Arcebispo de Santiago, ter declarado à imprensa ser inteiramente lícito a um católico — que por definição não é comunista — votar em candidatos marxistas (cf. jornais "Ultima Hora" e "Clarín", de Santiago, de 24 de dezembro de 1969).
Lembramos também que, em 1968, 120 mil chilenos uniram-se a 1.600.358 brasileiros, 280 mil argentinos e 40 mil uruguaios, para pedir a Paulo VI medidas contra a infiltração comunista nos meios católicos.
Entretanto, nada se fez no Chile (para só falar dele) que pusesse cobro a esta onda católico-esquerdista.
Até o momento, que saibamos, nenhum jornal católico oficial ou oficioso se levantou para lamentar o escândalo do apoio de católicos ao comunismo no Chile.
Nessa situação, uma só voz há no mundo que pode prevenir este mal. É a voz augusta de Paulo VI.
Juntamos a nossa voz à da TFP que, através de seu insigne Presidente, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, pede a Paulo VI um pronunciamento oficial, claro, previdente, forte, paterno, que, mesmo à beira do abismo, ainda poderá salvar tudo.
Por fim, pedimos a Nossa Senhora do Carmo, Padroeira do Chile, que se condoa da querida nação chilena. E abra os olhos dos brasileiros para a tremenda novicidade das correntes que se rotulam de a-comunistas e "cristãs", mas que estendem a mão ao comunismo".
ATENTADO SACRÍLEGO PROVOCA INDIGNAÇÃO
No encerramento da campanha de esclarecimento da opinião pública sobre o alcance da eleição de um marxista para a Presidência do Chile, a Secção de Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade convidou a população belo-horizontina para rezar um terço por intenção da desditosa nação irmã. Para esse efeito foi improvisado diante de uma das sedes da entidade, à Rua dos Timbiras, n.° 1387, um oratório no qual foi colocada uma imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que já é histórica para a TFP montanhesa.
De fato, em janeiro de 1964, em plena era janguista, uma caravana de ônibus e automóveis organizada por pujante grupo de universitários católicos mineiros, cujos membros hoje militam nos quadros da TFP, conduziu aquela imagem da Padroeira do País até Brasília, para solicitar do Presidente da República a proibição de um espúrio Congresso Continental de Trabalhadores da América Latina, programado para Belo Horizonte, a princípio, e depois para a capital federal. Esse congresso tinha como principal objetivo a fundação da chamada Central Única de Trabalhadores da América Latina — CUTAL, entidade destinada a promover a subversão comunista entre o operariado do continente.
A inauguração do oratório
À hora prevista para a recitação do terço pelo Chile, considerável número de pessoas afluiu para a Rua dos Timbiras, em frente à sede da TFP, apesar da torrencial chuva que caía sobre a cidade. O Coro da Secção mineira da entidade entoou um motete a Nossa Senhora, tendo em seguida início a reza dos mistérios dolorosos do Santo Rosário.
Ao término da singela cerimônia, a pedido de um militante da Tradição, Família e Propriedade, ratificado pelo aplauso dos presentes, decidiu o Diretório Seccional da TFP instalar de modo definitivo um oratório naquele local, para perpetuar a lembrança da memorável campanha que se encerrava e para pedir a especial proteção da Mãe de Deus sobre o Brasil.
O pequeno oratório que assim se instalou, dando diretamente para a rua, desde logo chamou a atenção dos transeuntes e tornou-se conhecido em todo o bairro, sendo grande o número de fiéis que começou a ir ali rezar.
O atentado
Na madrugada do domingo 8 de novembro a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida venerada no oratório da TFP foi objeto de estúpido e sacrílego atentado, que feriu profundamente os sentimentos católicos da população belo-horizontina, provocando geral repulsa. A propósito o Serviço de Imprensa da TFP distribuiu o comunicado que passamos a transcrever:
"A imagem de Nossa Senhora Aparecida do oratório instalado em uma das sedes da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, localizada à Rua dos Timbiras, n.° 1387, em Belo Horizonte, foi alvo, no último domingo, às 3 horas da manhã, de um brutal apedrejamento, que causou a quebra do vidro protetor e a queda da imagem. A coroa de ouro que ornava esta foi, na ocasião, roubada pelos agressores.
Demonstrando profunda emoção e repulsa em face desta sacrílega violência, grande número de populares têm manifestado sua indignação.
Um operário da Cia. Força e Luz comentou que pessoas como as que cometeram o sacrilégio "precisam ser punidas".
Um bom número de passantes, ao se certificarem do ocorrido, não se contêm, e manifestam através do pranto seu protesto por esse ato ignominioso. O ataque à Virgem, porém, não fez senão aumentar o fervor daqueles que recorrem à sua proteção. Assim, apesar de copiosa chuva que caiu durante o dia, no domingo, cresceu o número de pessoas que, de joelhos ou em pé, rezavam diante da imagem da Virgem Aparecida, pedindo à Padroeira do Brasil que proteja nossa Pátria contra o perigo terrorista.
Tanto pessoas simples, passando a pé pela calçada, quanto as de classe mais elevada, em seus carros, têm-se manifestado traumatizadas com o fato.
Nestes momentos, a alma católica se sente no dever de reparar este atentado bárbaro: assim, foi grande o número de flores ofertadas à imagem no dia seguinte à profanação. Também devotos que foram beneficiados com graças da Mãe de Deus através dessa imagem de Nossa Senhora Aparecida, têm trazido velas para expressar sua constante gratidão.
Todos se indignam: crianças, jovens, pessoas maduras e idosas. Não há ninguém que não tema pela sorte dos perpetradores do crime, pois Deus costuma atingir com sua mão vingadora aqueles que atentam contra sua excelsa Mãe. Por isto mesmo, muitos se propõem a rezar por eles.
Mas o que é muito significativo é que numerosas pessoas têm incentivado a Diretoria local da TFP a recompor o oratório, de modo que cresça ainda mais, agora com uma nota de reparação, a tradicional e arraigada devoção dos mineiros à Virgem Aparecida. A Secção de Minas Gerais da TFP não deixará de atender a esse piedoso pedido de seus co-estaduanos".
No momento de encerrarmos esta edição, o oratório já está parcialmente restaurado, faltando ainda substituir o vidro externo; é maior ainda do que antes o número de devotos da Virgem que vão rezar diante dele. A propósito do atentado foi instaurado inquérito policial.
Verdades esquecidas
A HERESIA ANDA SEMPRE ANEXA À CONFUSAO E INCOERÊNCIA
PADRE MANUEL BERNARDES
Da "Nova Floresta":
A heresia, como é corrupção espiritual do entendimento, e contrária à luz da lei, da razão e da verdade, sempre anda anexa à confusão e incoerência: tudo baralha e mistura; e, ao mesmo tempo que se mostra escrupulosa em pontos de menos momento, concede e devora os maiores absurdos. ["Nova Floresta", volume IV, página 94 — apud "As mais belas páginas de Berrardes", selecionadas por Mário Ritter Nunes — Edições Melhoramentos, São Paulo, 1966, p. 184
PARA ONDE VAI O INSTITUTO DOS IRMÃOS LASSALLISTAS? - 2
Fidelidade ao Santo Fundador ou engajamento revolucionário?
João Batista da Rocha
Analisando um volumoso dossier publicado pela revista francesa "Documents-Paternité" — por iniciativa de "um grupo de Irmãos das Escolas Cristãs" — a respeito da situação reinante no Instituto Lassallista, tratamos longamente, em artigo anterior, da estranha doutrina do Superior Geral daquela Congregação, Irmão Charles Henry Buttimer ("Para onde vai o Instituto dos Irmãos Lassallistas? —1 / A Igreja pós-cristã e seu contra-evangelho", "Catolicismo", n.° 237, de setembro p.p.).
Essa doutrina, expressa em duas conferências pronunciadas em novembro de 1968, em Roma, constitui uma verdadeira súmula dos principais erros neomodernistas. O Irmão Charles Henry teve o triste mérito de expor às escâncaras o que numerosos outros progressistas, de todas as categorias, "não têm a coragem, ou a inteligência, ou a ingenuidade de afirmar claramente", segundo a expressão de um Bispo que teve contato com o dossier a que aludimos ("Documents-Paternité", n.° 141, p. 35).
Parece-nos interessante referir hoje alguns fatos que se têm passado no Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs. Tais fatos, vistos na perspectiva das conferências do Superior Geral, revelam um sistema, e o leitor não terá dificuldade em constatar como as teses reformistas do Irmão Charles Henry não são fruto do calor momentâneo e imprudente da eloquência, mas pelo contrário, constituem as linhas mestras de um novo programa destinado a ser posto em prática na Congregação Lassallista.
Falamos desta Congregação, porque é o caso que temos no momento debaixo dos olhos. Não é difícil, entretanto, transpor para outros setores da Igreja tudo o que vemos no Instituto fundado por São João Batista de La Salle. Como observa o Bispo a que nos referimos há pouco, "isto é um exemplo típico do que se faz em quase todas as Congregações Religiosas" (loc. cit.). Se não temos à mão os dados que comprovam tal afirmação, isso em nada diminui o valor de testemunho tão abalizado.
Educação "self-service" e "laicidade aberta"
A França conta com 327 estabelecimentos de ensino sob direção lassallista, nos quais estudam 105 mil alunos; nenhuma outra Família Religiosa masculina possui tantas escolas naquele país.
Pois bem. Dentro da Cúria Generalícia da Congregação a responsabilidade por todos esses estabelecimentos, com seus alunos e com os Religiosos que ali lecionam, recai sobre o Assistente da França, que é atualmente o Irmão Patrice Marey.
E que rumos deseja esse Assistente imprimir ao ensino ministrado pelos Irmãos das Escolas Cristãs na França? Vamos encontrar a resposta em declarações do próprio Irmão Patrice à AFP e em uma circular sua de 8 de dezembro de 1968.
À AFP S. Revcia. informa que — por efeito das agitações que abalaram a França em maio de 1968! — "podemos atualmente imaginar uma gestão de nossos estabelecimentos que associaria de modo orgânico os pais, os professores e os alunos mais velhos". Acrescenta o Irmão Assistente que nos últimos cinco anos o liberalismo fez progressos consideráveis nas Escolas Cristãs, e que hoje são nelas admitidos incrédulos e ateus; no horário do curso de instrução religiosa, esses alunos podem passar para uma outra sala. Na opinião do Irmão Patrice, nada de mais auspicioso. A este novo estilo de ensino dos Lassallistas ele chama de educação "self-service" (Doc.-Patern.", n.o 141, p. 50).
Em sua circular de 8 de dezembro de 1968 o Irmão Assistente na França convida seus confrades a refletir sobre uma "outra forma de engajamento escolar: uma escola onde os educadores se reagrupariam segundo uma concepção coerente do homem verdadeiro, mas sem apresentar de modo explícito o conteúdo propriamente evangélico do destino sobrenatural (laicidade aberta)". A expressão "laicidade aberta", posta entre parênteses, é do próprio Irmão Patrice ("Doc.-Patern.", n.° 141, p. 50).
É chocante o contraste entre essa concepção do ensino e as palavras do Santo Fundador, quando define, na Regra, a finalidade da Congregação: "O fim do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs — afirma São João Batista de La Salle — é dar uma educação cristã às crianças; e é por esta razão que em seu âmbito se mantêm escolas, a fim de que as crianças estando nestas sob a direção dos mestres desde manhã até a noite, estes mestres lhes possam ensinar a viver bem, instruindo-as dos mistérios de nossa santa Religião, inspirando-lhes as máximas cristãs, e, assim, dar-lhes a educação que lhes convém" (Regras, Cap. 1 — "Doc.-Patern.", n.° 141, p. 51).
Não há comentário a fazer.
Hino da "Revolução Lassallista"
Não basta laicizar a escola. É preciso, segundo os novos figurinos, pô-la a serviço da Revolução.
Assim, uma reportagem da AFP reproduzida por numerosos jornais franceses fala de Irmãos lassallistas que "participaram das discussões febricitantes da Sorbonne" durante a agitação estudantil de maio de 1968, e de outros que aderiram nessa ocasião às greves de protesto de professores esquerdistas; o Irmão Thierry, ex-Diretor da Escola São Tomás de Aquino, de Paris, fala desses fatos com entusiasmo: "É inegável que nos faltava audácia e que o movimento de maio estava destinado a ter um efeito benéfico em nossos estabelecimentos". Acrescenta o Irmão que "esses acontecimentos tiveram efeitos diversos segundo as casas. Mas mesmo nas mais conservadoras a agitação se manifestou bem cedo. Cela a bougé en profondeur. Nossos irmãos, nossos professores, nossos alunos fizeram também eles sua contestação". Esclarece a reportagem da AFP que numerosas reivindicações igualitárias foram apresentadas a partir dessa época por mestres e alunos lassallistas: liberdade de trabalho, direito dos alunos de organizarem como bem entenderem seus programas de estudo, supressão das notas de aproveitamento, participação dos alunos na gestão das escolas, etc. Em alguns estabelecimentos começou a funcionar um organismo estudantil, o "comitê de classe", que, em colaboração com o prefeito de disciplina, "julga os casos que lhe são submetidos, decide que sanções aplicar e vela por sua execução" ("Doc.-Patern.", n.° 141, pp. 49-50).
Mas se para Religiosos como o Irmão Thierry, aderir às inovações revolucionárias propostas por outros é bom, parece que ainda não é o ideal; a escola nova lassallista seria mais autêntica se tomasse ela mesma a bandeira da Revolução.
Assim, no Capítulo Nacional do Instituto, realizado em Quimper no ano passado, foi redigido pela 2a Comissão um documento que recebeu o título de "Hino da Revolução Lassallista". Este documento trata da "dimensão política da escola", ou seja, a maneira de colocar a escola a serviço da Revolução.
Para os autores do "Hino" a escola tem um papel político, e deve desempenhar esse papel promovendo a Revolução. A maneira de promover a Revolução é, permanecendo dentro da sociedade atual, contestá-la para fazê-la evoluir. É o que denominam "entrismo".
O documento começa por perguntar o que é a política, e passa a defini-la em três níveis:
"1.o _ As finalidades políticas: realizar urna cidade justa, isto é, a serviço do homem, permitindo o desenvolvimento do homem todo para todos os homens.
2.° — As opções políticas: que caminho tomar para se orientar rumo a estes ideais? O socialismo é um destes caminhos. A socialização é um dos momentos da implantação de um socialismo de face humana.
3.° — A ação política ao nível do possível concreto. [...] quer dizer, engajamentos que dependem de uma apreciação da situação local, apreciação necessariamente discutível. [...]
Transportou-se nossa concepção da sociedade e das relações humanas ao terceiro-mundo. Quis-se modelar uma sociedade à nossa imagem (ocidental). Não se trata agora de ir fazer a revolução no terceiro-mundo, para transformá-lo. É necessário fazê-la em primeiro lugar em nosso meio. É a nossa própria imagem que é necessário corrigir".
A partir desse núcleo de pensamento, revolucionário, o documento desenvolve uma teoria da ação, de nítida inspiração marxista. Seu texto apresenta alguns pressupostos necessários "para fazer a revolução pela escola".
"A escola reflete a imagem da sociedade que a engendra". "É a partir do interior que devemos contestar esta sociedade, para fazê-la evoluir. Nada de evadir-se. Praticar o "entrismo".
"Toda escola — prossegue o documento — cristã ou pública, está ligada a um sistema, pelos laços da finança ou da burocracia [...]. Seria utópico sonhar com uma escola livre de todo entrave. É preciso, entretanto, estar sempre alerta para não aderir aos imperativos do sistema e a seus ideais sem os criticar.
A escola deve tornar-se crítica.
"Não posso aceitar o sistema. Mas não posso
(continua)