A TFP DIRIGE-SE AO POVO DE 4 CAPITAIS:

"QUEM DÁ AOS POBRES EMPRESTA A DEUS"

A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade lançou em São Paulo no dia 8 de dezembro uma grande campanha de coleta de donativos em favor do Natal dos pobres. A tarefa de distribuir diretamente aos necessitados os donativos arrecadados pela TFP ficou, mediante convênio celebrado entre ambas as entidades, a cargo da benemérita Associação DAS DAMAS DE CARIDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO DA CIDADE DE SÃO PAULO.

Fundada por São Vicente de Paulo em 1617 na França, a Associação das Damas de Caridade foi introduzida no Brasil em 1854, e desde então se multiplicou em centenas de sodalícios que vêm desenvolvendo em outras tantas cidades do País um inestimável trabalho de assistência aos indigentes. A Associação da Capital paulista reúne 840 senhoras, sob a orientação do Exmo. Revmo. D. Ernesto de Paula, Bispo titular de Gerocesaréia, e mantém numerosos estabelecimentos de amparo aos desvalidos, compreendendo asilos, ambulatórios médicos, escolas, etc. Durante o ano de 1969 as Damas de Caridade fizeram 24.124 visitas domiciliares a famílias pobres de São Paulo, levando-lhes substanciosa ajuda material, acompanhada de uma palavra de conforto e de uma prece rezada em comum.

Desfile abre a campanha

A nova campanha da TFP foi aberta por um magnífico desfile de seus sócios e militantes, que percorreu artérias das mais movimentadas da Capital paulista, desde o oratório da entidade, instalado em sua sede da Rua Martim Francisco 665-669, no bairro de Santa Cecília, até a Praça do Patriarca, no centro da cidade.

Ao longo de sua caminhada de dois quilômetros, os participantes do desfile cantavam o tradicional hino "Queremos Deus", atribuído a São Luís Maria Grignion de Montfort, acompanhados por 16 surdos, caixas e bumbos, e bradavam slogans alusivos à campanha, como "Violência — não! Vence a Cruz e a caridade!" — "Quem dá aos pobres empresta a Deus!" — "A TFP convida os paulistas a ajudar os pobres!" —"A violência não resolve; a solução é justiça e caridade!" Foram insistentemente aplaudidos pelo numeroso público que se detinha nas calçadas ou saía à janela dos prédios e à porta das lojas para ver o desfile.

Chegados à Praça do Patriarca, foram os sócios e militantes da TFP recebidos pelas Diretoras das Damas de Caridade; em frente à Igreja de Santo Antônio rezaram todos pelo êxito da campanha. Depois do brado de "Pelo Brasil: Tradição! Família! Propriedade! Brasil! Brasil! Brasil!", que marca o início e o término de cada jornada de suas campanhas públicas, dirigiram-se os jovens da TFP para as cabeceiras do Viaduto do Chá e para a passarela inferior destinada a pedestres, locais por onde transitam diariamente algumas centenas de milhares de paulistanos, e principiaram a coleta de donativos. Junto aos quatro postos de coleta e sobre a marquise da Galeria Prestes Maia, na Praça do Patriarca, erguia-se um enorme "V" de metal, de 12 metros de altura, revestido com as cores heráldicas da TFP — vermelho e ouro — e uma cruz azul, também de metal, símbolos da campanha, a evocarem a vitória da caridade cristã. No alto de cada um dos quatro enormes pilones do Viaduto, dois propagandistas da TFP, de capa rubra e empunhando o estandarte da sociedade, proclamavam com megafones as finalidades da campanha.

A população paulistana acolheu com viva simpatia a benemérita iniciativa da TFP e correspondeu com generosos donativos. Já no primeiro dia a coleta atingiu a Cr$ 4.800,00, e ao término da campanha, no dia 21, haviam sido arrecadados Cr$ 57.841,46 em dinheiro, além de Cr$ 6.171,00 de donativos em espécie, como medicamentos, roupas, calçados, gêneros alimentícios, brinquedos, etc. Nos domingos 13 e 20 de dezembro foram feitas coletas domiciliares em diversos bairros da Capital paulista, com excelente resultado. Foram numerosos ainda os donativos encaminhados diretamente a sedes da TFP ou à Associação das Damas de Caridade.

É de se registrar um fato que, aliás, já tem ocorrido em outras campanhas da TFP: o silêncio quase completo da imprensa. Com duas ou três exceções apenas, os diários paulistas praticamente ignoraram uma campanha que toda a cidade via e comentava. Em compensação, quase todas as emissoras de televisão noticiaram com destaque o desfile inaugural e o desenvolvimento da campanha.

Folheto explicativo

Para informar o público a respeito dos objetivos da nova iniciativa da TFP, os jovens coletores desta distribuíram volantes tendo numa face a figura de São Vicente de Paulo, desenhada a bico de pena, e na outra este texto:

"A TFP, cujas campanhas memoráveis já estão marcando a história do Brasil contemporâneo, tem a alegria de participar das comemorações do Natal deste ano por meio de uma iniciativa que dará aos paulistanos a ocasião de satisfazer a um dos mais nobres impulsos de seu coração.

Nosso povo, cuja sensibilidade é modelada por uma tradição cristã quatro vezes secular, sente uma lacuna em suas festas de fim de ano quando se lembra de que há infelizes que nelas não podem tomar parte. E sente que algo lhe falta até no momento da oração, ao pensar que há pessoas que sofrem e cuja dor não foi mitigada. O modo de atender a tão generosos movimentos de alma nascidos dessa tradição cristã consiste em pôr ao alcance de todos uma ocasião de ajudar o Natal dos desvalidos. É o que a TFP realiza com a presente campanha. Isto explica a coleta de donativos.

Mas, por que via chegarão estes aos desvalidos? Como encontrar o desvalido autêntico? Como entregar a ele o donativo adequado? Como fazer que o auxílio lhe chegue com um sorriso de fraternal afeto cristão, com mostras de sincera participação nas suas necessidades, com uma palavra de alento e uma prece rezada em comum?

Da distribuição dos donativos incumbiu-se a benemérita ASSOCIAÇÃO DAS DAMAS DE CARIDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO DA CIDADE DE SÃO PAULO. Fundadas na França por São Vicente de Paulo, em 23 de agosto de 1617, as Damas de Caridade se têm espalhado por todos os países do mundo. No Brasil, a entidade foi introduzida em São Paulo no ano de 1887, e dessa época para cá não tem deixado de dispensar uma valiosa assistência aos pobres.

A Associação das Damas de Caridade de São Vicente de Paulo da Cidade de São Paulo mantém as seguintes obras: Casa Pia São Vicente de Paulo, Asilo e Vila dos Pobres São Vicente de Paulo, dois Ambulatórios, Escola Mista Primária Gratuita, Curso Noturno de Alfabetização de Adultos, Curso de Datilografia, Assistência Hospitalar e Dentária, Clubes de Mães. Presentemente, sua Diretoria é constituída pelo Bispo D. Ernesto de Paula, Diretor, e pelas Sras. D. Maria José Rangel Salgado, Presidente; D. Helena Moura Flori, Vice-Presidente; D. Harpalice Calazans Machado, 1.a Secretária; D. Italia Palumbo Pignatari, 2.a Secretária; D. Judith Amália da Silva Kleinpaul, 1.a Tesoureira; e D. Miriam Rodrigues Cintra, 2.a Tesoureira.

Todos os, dias, ao término da campanha, os donativos serão entregues pela TFP a essa benemérita Associação para serem por ela distribuídos aos pobres."

Também no Rio, Belo Horizonte e Curitiba

Também no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Curitiba as Secções locais da TFP, em convênio com conceituadas entidades assistenciais daquelas cidades — CASA SÃO LUÍS PARA A VELHICE, LAR DOM ORIONE e ASSOCIAÇÃO DAS DAMAS DE CARIDADE DA CIDADE DE CURITIBA — arrecadaram donativos em dinheiro e em espécie para o Natal dos pobres. Tal como em São Paulo, a população das três capitais correspondeu com a maior simpatia e generosidade a mais essa oportuna iniciativa da TFP.

Os donativos em dinheiro atingiram a Cr$ 20.467,35 no Rio (13 dias de campanha), Cr$ 9.744,97 em Belo Horizonte (8 dias) e Cr$ 11.669,36 em Curitiba (12 dias).

Nas diversas localidades onde teve lugar a coleta, o resultado desta era entregue pela TFP às associações de caridade ao fim de cada dia de campanha.

LEGENDAS:
- Conclamando o povo do alto do enorme pilone do Viaduto do Chá.
- Duas novidades neste desfile da TFP: boinas e tambores.


Verdades esquecidas

Denunciar o escândalo e procurar afastá-lo é obra de caridade

SÃO BERNARDO

De uma carta a toda a Cúria Romana contra a odiosa e simoníaca intrusão do Arcebispo de York:

A MEUS REVERENDOS PADRES, OS SENHORES BISPOS E CARDEAIS DA CÚRIA ROMANA, / O IRMÃO BERNARDO, ABADE DE CLARAVAL, / SAUDAÇÕES E ORAÇÕES.

Todos temos o direito de escrever sobre os negócios que a todos dizem respeito; de modo que não receio incorrer em censura por presunção ou excessiva ousadia ao fazê-lo agora como o faço; pois, embora seja o mais miserável de todos os fiéis, não deixo de ter muito no coração a honra da Cúria Romana. De tal maneira me consumo de pena e me aflige a tristeza, que até a vida me pesa. E é porque vi a abominação na Casa de Deus. Como me sinto sem poder bastante para remediar a tantos e tantos males, não me resta outro recurso senão apontá-los aos que têm poder para tal, a fim de que os emendem. Se o fizerdes, tanto melhor; se não, eu terei exonerado minha consciência, e vós não podereis ter nenhuma escusa justa.

Não ignorais que o Papa Inocêncio [II], de gloriosa e feliz memória, havia proferido sentença, de comum acordo convosco e com toda a Cúria Romana, dispondo que se tivesse por ilícita a eleição de Guilherme [para, Arcebispo de York], e que esta fosse considerada como verdadeira e sacrílega intrusão, no caso de o outro Guilherme, Deão da Igreja [de York], não declarar sob juramento que seu homônimo era inocente de tudo quanto lhe imputavam. Também sabeis que esta disposição tinha muito mais de indulgência que de rigor. Guilherme mesmo, o acusado, havia rogado que lhe fosse concedida essa graça.

Prouvera a Deus que se tivesse cumprido o que por mútuo acordo se havia disposto! Oxalá tudo quanto se fez contra isto fosse declarado nulo! Que aconteceu? O Deão não jurou, de modo algum, e apesar disto o outro sentou-se na cátedra da pestilência. Quem nos dera ver levantar-se um outro Finéias [Núm. 25, 7], que investisse de espada na mão contra esse fornicador! Quem nos concedera poder ver o mesmo São Pedro, vivo em sua cátedra, para exterminar os ímpios com uma palavra de sua boca! Muitos são os que clamam a vós do fundo da alma, e vos pedem de todo o coração o castigo exemplar de tamanho sacrilégio. Se não acudirdes de pronto, quanto mais tardar o remédio eu vos asseguro que há de ser mais grave o escândalo de todos os fiéis. Receio que a mesma Sé Apostólica perca grande parte de seu prestígio e se desautorize, se não fizer pesar sua mão sobre esse rebelde que calcou aos pés seus decretos, de modo tal que infunda medo aos demais e os aparte de seguir tão nefando exemplo.

* * *

Mas que direi das cartas secretas e verdadeiramente tenebrosas que Guilherme se jacta de haver recebido, não do príncipe das trevas, oxalá assim fosse, mas dos Príncipes mesmos, Sucessores dos Apóstolos? Por isso, tão logo esta nova chegou aos ouvidos dos ímpios, estes se puseram a fazer chacota das disposições da Sé Apostólica e a rir da Cúria Romana, a qual, depois de haver dado uma sentença pública, contradizia-se a si mesma enviando às ocultas umas cartas que mandavam o contrário.

Que mais acrescentarei? Se depois de tudo isso não vos perturba a visão do escândalo gravíssimo que é dado tanto a fortes e perfeitos, confio a débeis e simples; se não sentis compaixão alguma pelos pobres Abades que foram chamados a Roma dos lugares mais longínquos da terra; se não vos comove a ruína de tantas casas religiosas que inevitavelmente perecerão sob a jurisdição desse opressor; finalmente, e para terminar por onde deveria ter começado, se não vos sentis animados sequer pelo zelo da glória de Deus, — sereis indiferentes à vossa própria desonra, derivada diretamente da vergonha que cairá sobre toda a Igreja? Poderá tanto a malícia deste homem, que logre impor-se a vós? Dir-me-eis talvez: que faremos, se ele já recebeu a sagração, ainda que de modo sacrílego? Respondo a isto que tenho por mais glorioso derrubar Simão Mago do alto do espaço do que impedir-lhe o voo. Por outro lado, em que situação deixareis todos os Religiosos que creem não dever receber, em consciência, nenhum Sacramento de mãos tão manchadas de lepra? Inclino-me a crer que todos eles preferirão o desterro, antes que entregar-se à morte; antes escolherão vida errante fora da pátria, que permanecer nesta tendo que comer os alimentos oferecidos aos ídolos. Sendo assim, se a Cúria Romana os forçasse a ir contra a consciência e a dobrar os joelhos diante de Baal, que o Deus justo peça contas disso; quanto a mim, cito-vos para seu juízo perante aquela outra Cúria Celestial que não se pode corromper com nenhum suborno.

Para terminar, este vosso servo vos suplica, pelas entranhas misericordiosíssimas do Senhor, que, se algum zelo da glória divina arde ainda em vossas almas, tomeis em consideração os males que afligem a Santa Igreja, ao menos vós que sois seus amigos, e ponhais todo o vosso empenho em impedir que se confirme uma coisa tão detestável e digna de execração. ["Obras Completas del Doctor Melifluo, San Bernardo, Abad de Claraval", trad. do Pe. Jaime Pons, S. J. — Ed. Rafael Casulleras, Barcelona, 1929 — vol. V, "Epistolario", pp. 488-490, carta 236].