(continuação)
SOBRE A MISSA NOVA: REPERCUÇÕES QUE O PÚBLICO BRASILEIRO AINDA NÃO CONHECE
referidas pedem às Autoridades competentes:
1 — Que, se o novo "Ordo Missae" não for ab-rogado, como muitos julgam necessário, seu texto seja pelo menos radicalmente reformado, de tal modo que desapareçam todas as ambiguidades de ordem dogmática [...].
2 — Que seja assim proposta sem equívocos, e salvaguardada de modo eficaz, a doutrina que os fiéis jamais deixaram de receber do Magistério ordinário e universal da Igreja sobre o Sacrifício da Missa, a Presença real e o Sacerdócio.
3 — Que os Sacerdotes e fiéis que usem o "Ordo" de São Pio V não sejam inquietados na posse secular desse costume" (18).
• Em seu número de setembro-outubro de 1969, a revista "Nunc et Semper", de Munique, Alemanha Ocidental, publicou um artigo de seu diretor, Dr. Fritz von Haniel-Niethammer. Ali se lê que no novo "Ordo" "revela-se uma concepção da Missa tendente a igualá-la à cerimônia protestante da Ceia do Senhor" (19).
• Antes da entrada em vigor do "Ordo" de 1969, os Cardeais Alfredo Ottaviani e Antonio Bacci escreveram (20) a Paulo VI uma carta em que faziam graves restrições à nova Missa. O documento só foi entregue à imprensa a 29 de outubro, quando — segundo tudo indica — se tornou patente que nenhuma medida seria tomada para atender às ponderações que SS. Emcias. haviam apresentado (21). Dessa carta, traduzimos alguns tópicos:
"Após examinar e fazer examinar o "Novus Ordo Missae" preparado pelos peritos da "Comissão para a Aplicação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia", e após longa reflexão e prece, sentimos o dever, diante de Deus e de Vossa Santidade, de exprimir as considerações seguintes:
1 — Embora breve, o referido exame crítico — obra de um grupo seleto de teólogos, liturgistas e pastores de almas — demonstra suficientemente que o "Novus Ordo Missae", considerados os elementos novos, susceptíveis embora de avaliações diversas, que nele aparecem subentendidos ou implicados, representa tanto no seu todo como em suas partes um afastamento impressionante em relação à teologia católica da Santa Missa, tal como foi formulada na Sessão XXII do Concílio de Trento, o qual, fixando de modo definitivo os "cânones" do rito, ergueu uma barreira intransponível contra qualquer heresia que ofendesse a integridade do Mistério.
2 — [...] Quanto de novo figura no "Novus Ordo Missae", e, por outro lado, quanto de perene ali só se encontra num lugar secundário ou indevido, se é que se encontra, poderia dar força de certeza à dúvida — que infelizmente já serpeia em numerosos ambientes — de que verdades sempre cridas pelo povo cristão possam ser modificadas ou caladas sem infidelidade ao sagrado depósito doutrinário a que a Fé católica está vinculada para sempre. As recentes reformas demonstraram, à saciedade, que novas transformações na liturgia não conduziriam senão à total desorientação dos fiéis, que já apresentam sinais de impaciência e de uma inequívoca diminuição da fé. Na parte melhor do Clero, isso resulta numa torturante crise de consciência, de que temos testemunhos inumeráveis e quotidianos.
3 — Estamos seguros de que estas considerações, inspiradas apenas no que ouvimos pela voz vibrante dos Pastores e do rebanho, não podem deixar de encontrar eco no coração paterno de Vossa Santidade, sempre tão profundamente solícito das necessidades espirituais dos filhos da Igreja. Sempre se admitiu que os súditos, cujo bem a lei visa, caso esta se mostre pelo contrário nociva têm o direito, e mais ainda o dever, de pedir ao legislador, com confiança filial, a ab-rogação da própria lei. [...]" (22).
Segundo informa o boletim parisiense "Courrier de Rome" (23), depois dessa carta o Cardeal Ottaviani dirigiu a Paulo VI uma outra, em que pedia que o novo "Ordo" fosse submetido a uma comissão de teólogos que o Papa nomearia especialmente para esse fim.
Posteriormente, circulou na Europa uma carta atribuída ao Cardeal Ottaviani, em que S. Emcia. teria abrandado substancialmente sua oposição à nova Missa. Esse documento foi objeto de ampla polêmica, sem que seu valor e sua autenticidade tenham ficado inteiramente ao abrigo de interrogações. Acresce que, em face dessa polêmica, em que se envolveram algumas das principais publicações antiprogressistas europeias, S. Emcia. permaneceu em silêncio. Assim sendo, é difícil precisar no momento qual o verdadeiro pensamento do ilustre Purpurado a respeito da nova Missa. A carta a Paulo VI parcialmente reproduzida acima conserva entretanto grande interesse documentário, quer pelos argumentos que apresenta, quer pela assinatura que traz do Cardeal Bacci.
• Do "Breve Exame Crítico do Novus Ordo Missae", ao qual os Cardeais Ottaviani e Bacci se reportam em sua carta a Paulo VI, destacamos apenas algumas passagens que revelam o tom incisivo em que os referidos teólogos, liturgistas e pastores de almas fizeram reservas ao novo "Ordo" (24).
"Não subsistindo, portanto — observa logo de início o "Breve Exame" — motivos para apoiar essa reforma, a própria reforma se apresenta destituída de fundamento racional que, justificando-a, a torne aceitável pelo povo católico" (p. 5).
Depois de minuciosa análise do novo "Ordo", o documento observa: "É evidente que o "Novus Ordo" não deseja mais representar a Fé de Trento. A essa Fé, contudo, a consciência católica está vinculada para sempre. Portanto, o verdadeiro católico está posto, com a promulgação do "Novus Ordo", numa trágica necessidade de opção" (p. 25).
E conclui : "O abandono de uma tradição litúrgica que durante quatro séculos foi o sinal e o penhor da Unidade de culto (para substituí-la por uma outra que só poderá ser sinal de divisão, dados os inúmeros abusos que implicitamente autoriza, e que pulula ela própria de insinuações ou erros evidentes contra a pureza da Fé católica) apresenta-se, se quisermos defini-lo do modo mais brando, como um erro incomensurável" (pp. 28-29).
• Do Pe. Louis Coache, diretor do boletim francês "Le Combat de la Foi": "Em breve deverá entrar em vigor o novo "Ordo Missae"; eminentes teólogos acabam de provar que ele tem sabor de heresia. Nele a Missa perde seu caráter de oblação sacrifical. Saibam os Padres que, dentro da mais perfeita obediência, podem conservar o "Ordo Missae" multissecular de São Pio V, em virtude dos costumes autorizados pelos direitos canônico e litúrgico; quanto aos fiéis, façam tudo para recusar essa nova Missa, a qual frequentemente correrá o risco de ser inválida. Também aí, é melhor fazer o sacrifício de não assistir à Missa, do que ser intoxicado ou tornar-se cúmplice" (25).
• No mês de novembro de 1969, o Dr. Joachim May, de Schaftlach, escreveu que muitos católicos querem "anular o poder de atração da Igreja Romana, a ponto de transformá-La num picadeiro comum a todos: desde os shintoístas, passando pelos budistas, pelos maometanos, pelos adeptos de uma religião natural e pelos que cultuam divindades míticas, até os protestantes e franco-maçons [...]. O novo "ordo missae" já é o passo decisivo em direção a essa meta. Se ele for aplicado, a Igreja Católica entrará em estado de delírio" (26).
• A escritora francesa Edith Delamare, colaboradora do jornal parisiense "Rivarol", através de numerosos escritos vem-se opondo à nova Missa. Em artigo intitulado "Onde está o Papa está a Igreja?" fez ela a seguinte observação: "Que a questão da validade da nova Missa possa ter sido posta, é coisa que indica a perturbação dos espíritos e a comoção das almas. Numerosos Padres continuarão certamente a celebrar a antiga Missa, com ou sem permissão de seus Bispos, às escondidas. Tanto melhor para eles" (27).
• Em artigo estampado em novembro de 1969 no boletim informativo "C. I. O.", de Madrid, B. Monsegu escreveu:
"[...] não se pode dizer nem ridículo, nem presunçoso, nem atrevido, o fato de se exporem as razões que há contra a lei, os danos que se seguiriam de sua aplicação e a conveniência, daí decorrente, de ab-rogá-la ou de modificá-la. Isso é conciliável com a submissão e com a obediência.
Muito pertinentes e prudentes foram, a esse propósito as palavras do Arcebispo de Madrid, Mons. Morcillo, ao correspondente de "Informaciones" que aludiu a semelhantes dificuldades do Cardeal Ottaviani. Não conheço — disse ele quase textualmente — o documento em questão. Mas tenho a dizer, primeiramente, que a Instrução sobre a Missa não havia sido apresentada às Conferências Episcopais; em segundo lugar, que há nela certas omissões que chamaram a atenção desde o primeiro momento, creio que em todo o mundo. Por exemplo, o fato de não se falar, senão num artigo escondido, sobre a Missa como sacrifício do Novo Testamento, enquanto se diz e se repete muito que é comemoração da Última Ceia. E isto é perigoso, porque a Missa é o verdadeiro sacrifício de Cristo que Se faz presente no altar. Dizer que é simplesmente uma comemoração da Ceia, é doutrina protestante.
Aí fica posta em seus devidos termos pelo Sr. Arcebispo e Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, por conseguinte a voz mais autorizada, a principal dificuldade contra o novo Missal — que é também aquela que motivou a carta de Ottaviani ao Papa" (28).
• Em folheto distribuído na Itália pela organização "Gaudium et Spes", de Roma, às vésperas da entrada em vigor do novo "Ordo", lemos: "CATÓLICOS, sabei manter íntegra vossa Fé e a Doutrina transmitida pelos Padres — garantia única na tão incerta, crepuscular e equívoca hora presente — recorrendo apenas a Sacerdotes doutrinariamente seguros, e assistindo exclusivamente à Santa Missa celebrada de acordo com o antigo Missal Romano de São Pio V" (29).
ENTRA EM VIGOR O NOVO ORDINÁRIO DA MISSA
• No dia 30 de novembro de 1969, em que entrou em vigor o novo "Ordo", um dos principais diários de Roma, "Il Tempo", publicou um artigo sobre a matéria, intitulado "La nuova Messa". Nele, o jornalista Carlo Belli escreve que a introdução da nova Missa "significa que o mundo espiritual do homem cristão católico apostólico romano foi praticamente supresso, para ser substituído por um outro cristianismo, muito próximo ao das confissões protestantes".
• Em dezembro de 1969 o Sacerdote mexicano Pe. Joaquín Sáenz y Arriaga deu a lume a obra "La nueva Misa no es ya una Misa católica" (30), em que, ao lado das primeiras críticas feitas nos mais diversos países contra o novo "Ordo", apresenta alguns comentários pessoais seus. Desses comentários, transcrevemos aqui alguns tópicos:
"[...] ante nossa consciência católica coloca-se um dilema tremendo: obedecemos a Deus ou obedecemos aos homens? A mudança de MENTALIDADE que de nós exigem [com o novo "Ordo"] é uma mudança DE FÉ, e a ela nossa consciência resiste" (p. 77).
"Autodemolição da Igreja é como o Papa reinante denominou esta incrível revolução religiosa que presenciamos. Creio que, neste processo de dolorosa demolição, estamos avançando a passos de gigante, e que para isso as últimas mudanças litúrgicas estão contribuindo poderosa e eficazmente" (p. 80).
O autor pergunta: "Teremos na Igreja Católica uma Missa próxima da heresia? Obrigar-nos-ão a profanar assim o culto divino?" (p. 93). E mais adiante afirma, peremptório: "Essa Missa já não é uma Missa católica. A obediência, neste caso, não nos obriga" (p. 102).
• Em artigo de dezembro de 1969, assinado por seu diretor, R. F. Bergin, a revista "Voice of Fatima International", de Brisbane, Austrália, publica artigo em que critica o novo "Ordo" no que se refere à doutrina sobre o inferno, ao uso do vernáculo, à devoção a Nossa Senhora, à falta de profundidade espiritual, à imprecisão doutrinária, etc. No que diz respeito à heresia que nega a virgindade de Nossa Senhora, o artigo afirma: "As barreiras litúrgicas contra esta heresia caíram" (31).
• O boletim francês "Le Combat de la Foi", dirigido pelo Pe. Louis Coache, publicou em dezembro de 1969 um artigo sobre a nova Missa, do qual extraímos alguns tópicos:
"Frequentemente, o altar torna-se uma mesa (a tal ponto, que a Pedra sagrada já não é sempre necessária!), e a celebração torna-se uma refeição; o Padre não é mais do que um PRESIDENTE - todas essas, noções doutrinárias e essenciais reprovadas por Pio XII ("Mediator Dei") e pelo Concílio de Trento.
O relato da Ceia termina, logo antes da Consagração, com dois pontos — o que tende a dar às palavras consecratórias UM GÊNERO NARRATIVO, e já não imperativo. Muitos Padres, não mais crendo na Presença real, dirão portanto as palavras da consagração como um simples relato do que fez Jesus; Daí, a INVALIDADE. Ademais, a desenvoltura com a qual é agora tratado o Santíssimo Sacramento (genuflexões e purificações supressas, ritos da Comunhão, etc. ...), não fazem senão ressaltar o aspecto de memorial, em detrimento do aspecto de Sacrifício e Presença.
Numa palavra, nesses textos está o TRIUNFO DAS TESES PROTESTANTES. A Missa não é mais um sacrifício, mas uma comemoração.
Que dizia Lutero? "Transformou-se a missa num sacrifício; acrescentaram-se-lhe ofertórios. A missa não é um sacrifício ou a ação de um sacrificador. Encaremo-la como sacramento ou cano testamento. Chamemo-la bênção, eucaristia, mesa do Senhor, Ceia do Senhor, ou memorial do Senhor. Dê-se-lhe qualquer outro título que se queira, desde que não se venha a maculá-la com o título de sacrifício ou de ação..."
E Lutero acrescenta: "Quando a missa for destruída, creio que teremos destruído todo o papado. Pois é sobre a missa, como sobre uma rocha, que se apoia inteiramente o papado com seus mosteiros, seus bispados, seus colégios, seus altares, seus ministérios e doutrinas... Tudo isso desabará necessariamente quando desabar sua missa sacrílega e abominável" (32).
• A revista católica de Washington, "Triumph", de dezembro de 1969, afirma: "O novo "Ordo" é manifesta e incontestavelmente criticável porque cala, atenua, e não define, ou define incompletamente, certas doutrinas católicas essenciais relativas à natureza da Missa e da Eucaristia. Pior ainda, muitas dessas ambiguidades são positivamente favorecidas pelas "Instruções Gerais" que acompanham o "Ordo" (33).
• A 4 de agosto de 1969, a Asociación de Sacerdotes y Religiosos de San Antonio Maria Claret, de Barcelona, que congrega seis mil Padres, escreveu uma carta ao Exmo. Revmo. Mons. Casimiro Morcillo, Arcebispo de Madrid e Presidente da Comissão Episcopal Espanhola, pedindo que S. Excia. Revma. intercedesse junto a Paulo VI a fim de que fosse conservada a Missa de São Pio V (34).
• A 11 de dezembro de 1969, a mesma associação dirigiu ao Revmo. Pe. A. Bugnini, Secretário da Sagrada Congregação para o Culto Divino, o documento que transcrevemos a seguir:
"Revmo. Padre,
Escrevemos-lhe em nome de seis mil Sacerdotes, membros de nossa Associação. Tendo lido, com muita atenção, seu comentário "Ad un mese dall'introduzione del Nuovo Ordo Missae" ("Osservatore Romano", 31 de outubro de 1969, p. 3), cremos que há sobre o assunto um mal-entendido que importa esclarecer o quanto antes. Precisamente porque somos Sacerdotes que a vida toda obedecemos calados, cremos chegado o momento em que é nosso dever estrito erguer a voz. Não somos "Sacerdotes idosos preocupados por já não terem a força e a possibilidade física de aprender outras normas para celebrar o novo Ordo". Nós as temos perfeitamente: é a possibilidade moral, intelectual e espiritual que não temos. Nós, Sacerdotes católicos, não podemos celebrar uma Missa da qual M. Thurian, de Taizé, declarou que podia celebrá-la sem deixar de ser protestante (35). A heresia não pode jamais ser matéria de obediência. Pedimos, pois, a Missa de São Pio V, para cuja celebração recebemos as Ordens sacerdotais. A maioria dentre nós somos Párocos, possuímos, pois, uma experiência pastoral direta. Nossos paroquianos nunca teriam tido a mais leve ideia de pedir outra Missa. Estes são fatos que julgamos de nosso dever levar ao seu conhecimento" (36).
• Na mesma ocasião, a Asociación de Sacerdotes y Religiosos de San Antonio Maria Claret escreveu a Paulo VI:
"Santíssimo Padre,
É com profunda dor que Lhe enviamos, em anexo, fotocópia da carta que nossa Associação acaba de dirigir ao Secretário da Sagrada Congregação para o Culto Divino, e que nós mesmos queremos levar ao conhecimento de Vossa Santidade.
A questão do novo "Ordo" começa a ser uma questão de consciência de extrema gravidade para milhões de católicos, tanto Sacerdotes quanto leigos. Não falaremos aqui das razões de doutrina católica, pois não poderíamos expô-las melhor do que o documento "Breve Exame critico del Novus Ordo Missae", que Vossa Santidade recentemente recebeu, acompanhado de carta assinada pelos Cardeais Ottaviani e Bacci. Será necessário refutar esse documento ponto por ponto, com base na doutrina do Concílio de Trento, se se quiser demonstrar a ortodoxia do "Novus Ordo". Não falaremos disto, mas sim das razões relacionadas com os protestantes.
A seguir, o documento cita o texto já conhecido em que o pastor luterano Max Thurian diz que é teologicamente possível a comunidades não católicas celebrar a nova Missa. E os Padres da Associação de Santo Antonio Maria Claret comentam: "Se, pois, é teologicamente possível a celebração [da Missa] por um protestante, isto significa que o novo "Ordo" já não expressa nenhum dogma com o qual os protestantes estejam em desacordo. Ora, o primeiro dentre estes dogmas é o da Presença real, essência e centro da Missa de São Pio V. Poderia por acaso um pastor protestante celebrar o novo "Ordo" se tivesse que consagrar com a mesma intenção com que o faz a Igreja Católica? "Lex orandi, lex credendi": a Liturgia é a mais alta expressão de nossa fé. Aonde iremos parar se, na melhor das hipóteses, a Missa silencia as verdades católicas? O bom povo que, sem o saber ou contra sua vontade, é assim impelido para a heresia, salvará sua alma caso conserve os costumes cristãos (infelizmente não os conserva). Mas o mesmo não se dará com aqueles que o tenham impelido. Santíssimo Padre, nós não queremos assumir essa responsabilidade [...]" (37),
• Em dezembro de 1969 veio a lume na Inglaterra o opúsculo de Hugh Ross Williamson, "The Modern Mass — A Reversion to the Reforms of Cranmer" ["A Missa Moderna - Uma Volta às Reformas de Cranmer"], que expunha as modificações introduzidas na Missa pelo arcebispo anglicano de Canterbury, Thomas Cranmer, no século XVI, e as comparava com as recentes alterações do "Ordo" católico. O folheto, de 32 páginas, que teve larga difusão nos países de língua inglesa, termina com a seguinte frase: "A Missa Tridentina, composta para ser uma arma perpétua contra a heresia, é agora abandonada, dando lugar a uma forma nova, que é sumamente compatível com as heresias de Cranmer e de seus sequazes. Alguns de nós perguntamos por que isso se fez" (38).
• Em fins de dezembro de 1969 foi amplamente distribuída na França, pelo boletim "Combat de la Foi", uma folha mimeografada com uma relação incompleta das capelas e igrejas em que se continuava a celebrar a Missa de São Pio V. Eram nada menos de dezenove igrejas e capelas em Paris e 102 em 36 cidades de província.
• A revista norte-americana "The Remnant", de St. Paul, Minnesota, tem publicado numerosas críticas à nova Missa. Dentre elas, destacamos a seguinte: "O fato é que existem hoje muitas pessoas - inclusive nós mesmos - que literalmente sofrem no mais íntimo da alma, a propósito do novo "Ordo Missae", e que, simplesmente não conseguem entender a maior parte dos argumentos que têm sido apresentados em sua defesa. As cartas que recebemos, sobretudo de Sacerdotes, refletem abatimento espiritual e sofrimento. Um amigo nosso, Padre e teólogo bem conhecido, refere-se à "nova Missa" como "algo de sumamente aflitivo", que "me enche de agonia ante a simples ideia de que a devo celebrar" (39).
• A secção de correspondência da revista suíça "Das Zeichen Mariens" tem publicado muitos documentos reveladores da maneira pela qual o novo "Ordo" vem repercutindo entre os povos de língua alemã. Damos a seguir alguns exemplos.
Uma Irmã de caridade que trabalha em hospital comunicou à revista que, em carta a ela endereçada, um Vigário escrevera: "A nova Missa que está para entrar em vigor, e que se vem chamando de "mini-Missa ou Missa de Bugnini", justifica grandes dúvidas em relação ao seu caráter sacrifical" (40).
De uma leitora do Tirol do Sul: "Por que o Cardeal Gutt e outros têm cedido sempre aos inovadores, e nos presentearam por exemplo com uma Nova Missa que nem sequer apresenta a garantia de ser válida?" (41).
Passagem de carta de uma leitora de Zurich: "Também eu estou convencida de que a nova Missa representa apenas um primeiro passo no caminho que conduz à Ceia protestante, a que os inovadores aspiram" (42).
Por sua vez, em carta dirigida aos leitores, o diretor da revista, Paul Schenker, escreveu: "O Santo Padre nos atingiu duramente com o novo "Ordo Missae" e com a aprovação da comunhão na mão. Sinto ter de dizê-lo, mas creio que aos poucos deve tornar-se claro, também aos indecisos e fracos, que o Santo Padre cometeu e ainda comete erros muito graves [...]. Onde terminará isto? [...] A decadência terminará num terrível castigo de Deus" (43).
• Trechos da declaração publicada pelo Revmo. Pe. R.-Th. Calmel, O. P., na revista parisiense "Itinéraires":
"Permaneço fiel à Missa tradicional que foi codificada, e não inventada, por São Pio V no século XVI, em conformidade com um costume plurissecular.
Portanto recuso o "Ordo Missae" de Paulo VI. Por quê? Porque na realidade este "Ordo Missae" não existe. Existe apenas uma Revolução litúrgica universal e permanente, assumida ou desejada pelo atual Papa e que, no momento, usa a máscara do "Ordo Missae" de 3 de abril de 1969.
Todo Sacerdote tem o direito de negar-se a usar a máscara dessa Revolução litúrgica. Considero de meu dever sacerdotal recusar-me a celebrar a Missa num rito equívoco.
[. . .] o Sacerdote que se dobra ao novo rito, forjado em todos os seus elementos por Paulo VI, contribui de sua parte para a progressiva instauração de uma Missa enganadora, na qual a presença de Cristo não será mais verdadeira, mas se transformará num memorial vazio [...].
Sustento que o Papa Paulo VI comete um abuso de autoridade excepcionalmente grave ao criar um novo rito da Missa, baseado numa definição de Missa que não é mais católica. [...] Na Missa católica, o Sacerdote não exerce uma presidência qualquer; marcado por um sinal divino que o distingue por toda a eternidade, é ele o ministro de Cristo, Que por seu intermédio celebra a Missa; é absolutamente impossível equiparar o Sacerdote a um pastor qualquer, delegado pelos fiéis para o bom andamento de sua assembleia. Tudo isto é evidente no rito da Missa prescrito por São Pio V, ao passo que é dissimulado ou escamoteado no novo rito.
A simples honestidade, pois, e, infinitamente mais, a honra sacerdotal, pedem-me que não tenha a impudência de fazer compromissos a propósito da Missa católica, recebida no dia de minha Ordenação. Quando se trata de ser leal, sobretudo em matéria de uma gravidade divina, não há autoridade no mundo, ainda que pontifícia, que me possa reter.
Por outro lado, a principal prova de fidelidade e de amor que o Sacerdote deve dar a Deus e aos homens, consiste em conservar intacto o depósito infinitamente precioso que lhe foi confiado quando o Bispo lhe impôs as mãos" (44).
• Depois de estabelecer diversos pontos de semelhança entre o novo "Ordo" e a missa anglicana de Cranmer, o boletim "Saint Anthony's Hammer" ["Martelo de Santo Antônio"], de Phoenix, Arizona, Estados Unidos, escreve: "O novo "Ordo Missae" é o culto oficial da Igreja VERNÁCULA. Como vimos até agora, a Nova "Missa" será o que se quiser, mas não é católica" (45).
• Em termos simples e incisivos, o Revmo. Pe. M.-L. Guérard des Lauriers, O. P., disse: "declaro não poder utilizar o novo Ordo Missae" (46).
• Texto de trabalho divulgado em janeiro de 1970 pelo boletim parisiense do C.I.C.E.S. ("C.I.C.E.S. — Bulletin du Cercle d'Information Civique et Sociale") :
"[...] em artigo publicado pela revista "La Pensée Catholique" (n.° 122), um grupo de eminentes teólogos franceses [...] não hesita em afirmar que o novo "Ordo Missae" "passa inteiramente sob silêncio a doutrina do Concílio de Trento relativa à Missa". Secundando as críticas apresentadas ao Papa pelos Cardeais Ottaviani e Bacci, esses teólogos franceses consideram que o novo Ordinário da Missa não leva em conta nem o dogma da Presença real, nem o da Missa como Sacrifício. "Ele se vincula, de fato, não à doutrina do Concílio de Trento, mas sim à que prevaleceu nas igrejas protestantes". A doutrina de Trento foi posta de lado através de diferentes artifícios, dos quais os mais eficazes são: o silêncio (supressão do Ofertório tão contestado pelo protestantismo), a alienação (o Padre não exerce mais uma função instrumental em relação a Cristo, mas uma função presidencial em relação à Assembleia) e a subversão (a Prece eucarística torna-se unicamente uma prece de ação de graças, que prevalece sobre o Sacrifício). "Forçoso é, pois, concluir que, de fato e concretamente, o "Ordo Missae" substitui a doutrina do Concílio de Trento por OUTRA doutrina. Sem dúvida, isso não se fez direta e explicitamente, mas sim pelo emprego de diversos artifícios indiretos" [...].
Jamais alguém negou que a prece de ação de graças faça parte do Santo Sacrifício da Missa, mas é de temer que, "sendo a lei da oração, a lei da fé", conforme diz o conhecido axioma, os católicos venham pouco a pouco, e inconscientemente, a negligenciar o aspecto sacrifical da Missa, em favor da refeição comunitária. Tal é, ademais, a definição de Missa apresentada em nosso novo Catecismo" (47).
• No mesmo estudo publicado por um grupo de teólogos na revista parisiense "La Pensée Catholique", lemos: "O "Ordo Missae" tenderia a instaurar na Igreja Católica Romana um ofício na realidade muito parecido com a ceia das igrejas protestantes" (48).
• No citado número de janeiro de 1970 do boletim parisiense "C.I.C.E.S.", encontramos ainda as seguintes notas:
"Desta feita é o Sr. G. Siegwalt, professor de dogma na Faculdade protestante de Estrasburgo, quem escreve ao Bispo daquela cidade para pedir-lhe que "autorize os cristãos evangélicos que venham a desejá-lo, a comungarem numa igreja católica romana", pois "nada há, na missa agora renovada, que possa constranger verdadeiramente o cristão evangélico" (carta citada por "Le Monde", de 22 de novembro de 1969)" (49).
"É por fim o Sr. Jean Guitton, da Academia Francesa, que confia a "La Croix", de 10 de dezembro, seu espanto ao ler as linhas seguintes "numa das maiores revistas protestantes de língua alemã": "As novas preces eucarísticas católicas fizeram desaparecer a falsa perspectiva de um sacrifício oferecido a Deus" (50).
• Têm tido ampla divulgação nos Estados Unidos e em outros países os boletins em que Hugo Maria Kellner, de Caledônia, Nova York, há anos vem combatendo o progressismo. Sobre sua posição a respeito do novo "Ordo", é significativa a seguinte passagem: "O Novo Missal publicado por Paulo VI deve tornar absolutamente claro para todos os Sacerdotes que ainda têm dúvidas a respeito, que o objetivo de todas as anteriores modificações litúrgicas, agora coroadas pelo Novo Missal, é a assimilação da liturgia católica ao culto protestante, como um meio de alinhar o Catolicismo segundo um protestantismo apóstata e centrado no homem" (51).
• Em princípios de 1970 a revista belga "Bulletin Indépendant d'Information Catholique" publicou o artigo do qual extraímos este tópico: "Fazendo nossas as decisões adotadas pelas diversas organizações de católicos tradicionalistas das quais "Rénovation de l'Ordre Chrétien" se fez porta-voz na França; apoiando-nos sobre as análises convergentes publicadas pelos periódicos "Forts dans la Foi", "Le Courrier de Rome", "La Contre-Réforrne Catholique", "Nouvelles de Chrétienté", "Lumière", "Le Combat de la Foi", "La Pensée Catholique", "Itinéraires", etc.; fazendo nossos os argumentos publicamente invocados por SS. Emcias. os Cardeais Ottaviani e Bacci, e guardando - a seu exemplo - nossa inteira fidelidade à Sé de Pedro, CONSIDERAMO-NOS DISPENSADOS DE TÔDA OBRIGAÇÃO MORAL OU DISCIPLINAR DE ACEITAR O NÔVO "ORDO MISSAE" e, por outro lado, obrigados em consciência a realizar tudo o que depender de nós para provocar sua retirada ou pelo menos uma reestruturação que o torne compatível — sem possibilidade de equívoco — com a integridade da Fé autenticamente católica" (52).
• Em artigo publicado no mesmo número do "Bulletin Indépendant d'Information Catholique", o Pe. Henry Saey, de Québec, Canadá, se refere a "nossa Mãe, a Santa Igreja, amada e defendida por uns (os fiéis), odiada e abandonada pelos outros (os infiéis). ... e isto [ . .] principalmente... nestes anos sombrios - os mais tristes, os mais negros da história eclesiástica - neste último ano sobretudo, NO QUAL OS HERESIARCAS MODERNISTAS ACABAM DE FERIR NOVAMENTE, COM A LANÇA, O PRÓPRIO CORAÇÃO DE JESUS CRUCIFICADO! "Qui potest capere... capitat!" Quem tem coragem e fé, bem sabe que me refiro ao novo Ordo Missae!" (53).
• Em fevereiro de 1970, o Prof. Dr. Manfred Erren, docente da Universidade de Friburgo, Alemanha Ocidental, publicou artigo intitulado "Tradicionalismo e progresso", onde escreve:
"[...] o novo "Ordo Missae", ao contrário do antigo, é uma forma vazia, pois nele se pode, com a mesma facilidade, inserir tanto um sacrifício da Missa inválido, quanto um válido; tanto uma farsa carnavalesca ou uma missa satânica, quanto uma (melancólica) festa católica agradável a Deus.
[...] O novo "Ordo Missae" é a exata expressão litúrgica da doutrina comunista da redenção; pode-se dizer que representa a mais significativa vitória do comunismo internacional até agora obtida, a qual dá início à última batalha da Revolução mundial" (54).
• A revista madrilena "Qué Pasa?" publicou em fevereiro de 1970 resumo de conferência pronunciada em Nice pelo teólogo francês Fr. Nicolás-Louis Benoit sobre o novo "Ordo". Ali lemos:
"A reforma da Missa não é apenas uma pequena modificação de pormenores exteriores, mas uma mudança na essência e no sentido da Missa. Significa o princípio de uma nova "época na História da Igreja" e representa uma ruptura com o Santo Sacrifício que Nosso Senhor instituiu e que a Igreja conservou até agora com algumas variações de pormenores, mas idêntico no fundo e no significado, apesar da variedade de ritos.
[...] a Missa, que como todos os atos da Igreja deve ter por finalidade principal reafirmar a Fé, tem com o novo "Ordo" EXATAMENTE A FUNÇÃO INVERSA, OU seja, diminuí-la e diluí-la.
Os que aceitam a reforma, cujo sentido protestantizante a ninguém escapa, colaboram para uma transformação da Fé e muito provavelmente para a constituição de uma nova Igreja católica reformada. Esta talvez tenha êxito, por ser mais fácil e menos exigente, mas dificilmente poderá ser seguida se se quiser guardar a fidelidade à Fé pregada por Cristo e perpetuada pela tradição de modo invariável durante vinte séculos. Quem não for indiferente não poderá subtrair-se ao seguinte dilema: ou protestantizar-se com a nova Missa, ou perpetuar a Fé com a antiga" (55).
• Em sua conferência, Fr. Nicolás-Louis Benoit cita um estudo que o teólogo
(continua)
Notas na pág. 8