SOBRE A MISSA NOVA: REPERCUÇÕES QUE O PÚBLICO BRASILEIRO AINDA NÃO CONHECE
(continuação)
Pe. Miguel de Santa Maria enviou da Cidade do Vaticano, em 28 de agosto de 1969, a numerosos correspondentes. Desse estudo reproduzimos alguns tópicos apresentados por "Qué Pasa?":
"Tomar posição pró ou contra o novo "Ordo Missae" torna-se agora uma necessidade de primordial importância. Com efeito, esta nova Missa, ao mesmo tempo sendo e não sendo luterana, faz perigar certo número de dogmas fundamentais e incita a duvidar de várias verdades admitidas pela Igreja ao longo de toda a sua História [...].
A preponderância do aspecto Missa-banquete sobre a Missa-sacrifício diminui nos fiéis a ideia da importância DA REDENÇÃO pelo Sacrifício do Filho de Deus e sua renovação incruenta no altar. Conduz à concepção de que o principal é a comemoração ou memorial [...].
Insistir sobre a presença espiritual de Cristo na assembleia, pelo fato de achar-se esta reunida, diminui a importância do ponto central da Missa, que é a Transubstanciação, ou faz esquecê-lo. Com isso, ataca-se insidiosamente a Eucaristia" (56).
• Ao apresentar essa resenha da conferência do Pe. Nicolás-Louis Benoit, o artigo da revista "Que Pasa?" faz o seguinte comentário: "Na conferência que noticiamos, não só se defendeu a tese de que é lícito opinar sobre a nova liturgia e mesmo criticá-la, mas afirmou-se que, dada a importância dessas reformas, torna-se culpado quem diante delas mantém-se indiferente, e todos devemos cuidar de compreender seu significado e suas consequências, pois não se trata de questões de pormenor, nem de elucubrações de especialistas teólogos, mas de princípios gerais ao alcance de todos os fiéis e que a todos interessam" (57).
• O Padre W. W. E. D., colaborador assíduo da revista "Das Zeichen Mariens", tecendo várias críticas à nova Missa, escreve: "[...] um dos sinais mais seguros do mal que há no novo "Ordo" está na falsidade e na má fé sorrateiras com as quais ele é apresentado aos fiéis desprevenidos" (58).
• Em março de 1970, A. Roig escreveu de Toulouse um artigo para a citada revista madrilena "Qué Pasa?", no qual lemos:
"A revolução litúrgica que estamos sofrendo suscitou na mente de não poucos católicos a recordação de outra revolução litúrgica, que se verificou em pleno século de Voltaire, o século XVIII [...].
O Clero secular daquela época, especialmente o das cidades, mostra-se totalmente saturado pelas modas e pelo espírito de sua época: teses da Enciclopédia, triunfo do racionalismo, admiração pela religião naturalista de Rousseau, e também o gosto da vida frívola e superficial. Enquanto as classes dirigentes daquela "sociedade de consumo" são presa da irreligião, outros leigos ou seculares, unindo-se com outros Sacerdotes, implantaram na liturgia tradicional a mais importante revolução que até então conhecera a França, desde as origens da Igreja. Torna-se evidente a partir de então, que TODA REVOLUÇÃO LITÚRGICA CONDUZ AO DECLÍNIO DA FÉ RELIGIOSA. [...].
Em tais circunstâncias, uma seita hábil intenta implantar uma nova religião. É a seita dos jansenistas. Em suas paróquias, introduzem eles as inovações litúrgicas que estamos conhecendo de algum tempo para cá. Uma das inovações espetaculares daquela época — hoje repetida em não poucos lugares — consiste em que antes do canto das Vésperas uma mulher lia em "vernáculo" o Evangelho do dia. Cinquenta anos depois, em Paris, seus habitantes colocarão sobre o altar de Notre Dame, em substituição ao Santíssimo Sacramento, uma mulher que intitularão de "Deusa Razão". Em Toulouse é o famoso Loménie de Brienne, célebre por sua incredulidade, que impõe os novos missais em francês. Loménie de Brienne será um dos quatro Bispos que votarão a favor da Constituição Civil do Clero. Dos que traduziram para o francês esses missais, um cronista da época escreveu: "Alguns eram jansenistas declarados; outros foram solenemente condenados pela Santa Sé; outros morreram sem Sacramentos". Entre eles encontramos "animadores" das assembleias revolucionárias e promotores da Constituição Civil do Clero, como os Padres Grégoire e Sieyès... E logo houve uma proliferação de ritos diferentes uns dos outros. Houve na França cerca de vinte liturgias particulares para 57 Dioceses; acrescentem-se ainda as fantasias que eram criadas por cada paróquia que não queria ser menos que as outras em seu repúdio do passado, em seu afã de mudar tudo, com traduções lamentáveis e heréticas. Nem Lutero nem Melanchton realizaram uma mudança tão profunda como a que levou a cabo parte do Clero da França no século XVIII. Dois séculos depois, durante a segunda metade do século XX, após o Concílio Pastoralista Vaticano II, reproduz-se a "renovação litúrgica". Também hoje domina, em boa parte do Clero, a acomodação aos ditames do "mundo moderno".
Mas no século XVIII, na Igreja da França surge também uma contrarreforma. São Vicente de Paulo; o Bispo de Marselha, Henri de Belsunce; o de Lodève, Félix Henri de Funel; o Bispo de Sens, são seus primeiros paladinos. Essa reação tornou possível que a maioria dos Bispos e muitos Sacerdotes se negassem a jurar a Constituição Civil do Clero. Muitos subirão à guilhotina com seus trajes sacerdotais. A fidelidade à Roma contra-revolucionária — então o era — dará alento às Carmelitas para subirem ao cadafalso, e nos campos do Poitou, da Bretanha, da Vendéia, os filhos daquela terra, cantando o "O Crux Ave", e ostentando sobre o peito o emblema do Sagrado Coração de Jesus, confirmarão com seu heroísmo e seu sangue a fidelidade da França católica à sua Fé e às suas tradições. Tudo se passará do mesmo modo como, muito tempo depois, em 18 de julho de 1936, na Espanha das Cruzadas.
Hoje, como naquela época, impõe-se novamente defender a Fé católica com uma nova contrarreforma" (59).
• Em artigo dado a lume em março de 1970, o Prof. Dr. Franz Goelles, docente de Escola Superior em Graz, na Áustria, escreveu:
"O novo "Ordo" confere aos fiéis uma posição autônoma ("absoluta") e nisso está totalmente errado, como já se vê pela definição introdutória.
[...] O novo "Ordo Missae" conscientemente atribui o último lugar ao mistério da Presença real de Cristo e da Transubstanciação. Daí, bem como do caráter narrativo e não imperativo [das palavras da Consagração], resulta de fato uma liturgia que mesmo um pastor protestante com sua comunidade podem celebrar.
[...] Assim sendo, o novo "Ordo Missae" agradará também a todos aqueles que se agitam à beira da apostasia e da heresia" (60).
• Passagem de circular do Revmo. Pe. Louis Coache a seus amigos, datada de 5 de abril de 1970, anexa ao boletim "Combat de la Foi":
"Mantende-vos firmes, caros Amigos. A Nova Missa "protestante" causa-nos um grande sofrimento; recusai-a, pois ela tem sabor de heresia: em certos casos ela corre o risco de ser inválida [...]. Se não tendes nenhuma possibilidade material de assistir a uma Missa segura, é melhor faltar à Missa — que aliás não é mais uma Missa católica — do que ser cúmplice da heresia e arriscar-se a participar de um "simulacro"; pois os Padres modernistas ou duvidosos poderiam excluir a Presença real, conformando sua intenção aos novos textos (que se aproximam de modo espantoso das proposições luteranas) [...].
Chegaram os momentos decisivos. Cabe aos católicos fiéis, em massa, forçar os hereges (instalados deliberadamente no interior da Igreja) e seus chefes a refletirem sobre seus atos! Dobrar-se é favorecer a extensão do mal" (61).
• De artigo vindo a lume na revista "Vigília Romana", em abril de 1970: "[...] o "Novus Ordo", de preferência a reportar-se aos princípios doutrinários do Magistério, da Constituição Litúrgica e da "Mysterium Fidei" de Paulo VI, é um instrumento para favorecer a unidade na heresia de todos os cristãos protestantes com os católicos, e lembra a negação feita por Lutero do Sacrifício da Missa, sobre a qual Grisar escreve: "Quem entrava, após a vitória de Lutero... na igreja paroquial do lugar, ainda encontrava no serviço divino as antigas vestes eclesiásticas e ouvia os antigos cânticos em latim. Durante a Missa, na elevação, erguia-se a hóstia, que assim era mostrada ao povo. Aos olhos dos fiéis a Missa era ainda sempre a mesma, só que Lutero havia querido que se omitissem todas as orações que apresentavam aquele ato litúrgico como um sacrifício. Ao povo, propositadamente nada se dizia... A forma da celebração da Missa, explicava Lutero, é algo de estritamente exterior; as palavras condenáveis, alusivas ao sacrifício, de preferência sejam supressas, quando isto se faça sem escândalo, e desde que os cristãos comuns também não o percebam" ("Lutero, la sua Vita e le sue Opere" — Torino, SEI, 1956, p. 208)" (62).
• Em artigo publicado em abril de 1970 na revista chilena "Tizona", o seu diretor, Sr. Juan Antonio Widow, assim justifica a tomada de posição contrária à nova Missa por parte daquele periódico: "[...] há um momento em que o silêncio não pode perdurar, sob o risco de que aquele que o mantém se converta, diante de Deus e da própria consciência, em cúmplice de uma situação de caos que induz muitos ao desespero" (63).
• Palavras do conhecido escritor católico Jean Madiran, diretor da revista "Itinéraires":
"Não teria sido difícil aos autores do novo rito incluir (ou deixar) nos textos da Missa as afirmações católicas, simples e nítidas, concernentes à Presença e ao Sacrifício. Eles as ATENUARAM OU SUPRIMIRAM.
Somos assim lançados em algo que constitui, pelo menos, um enorme e formidável equívoco, contra o qual formulamos reclamações que não cessarão jamais" (64).
• As revistas argentinas "Roma", de Buenos Aires, e "La Tradición", de Salta, publicaram uma súplica dirigida a Paulo VI pela Asociación Argentina "Una Voce". Desse documento, destacamos os seguintes tópicos:
"Prostrados aos pés de Vossa Santidade, atrevemo-nos a elevar reverentemente uma súplica para que seja restabelecido como único rito da celebração da Santa Missa, em toda a Igreja Latina, o Missal Romano decretado pelo Papa Pio V, Antecessor de Vossa Santidade.
As múltiplas dificuldades e dúvidas que por toda parte se levantaram desde o início da aplicação do "Novus Ordo Missae", tanto entre leigos como entre Sacerdotes, e a dolorosíssima perplexidade de muitos fiéis, especialmente dos mais piedosos e afetos ao Primado do Romano Pontífice, movem-nos a unir a modesta voz desta obra, fundada para servir à Igreja Católica e defender a Sagrada Liturgia, realização dos Sucessores de Pedro, à voz de quantos pedem a Vossa Santidade a derrogação do "Novus Ordo Missae" (65).
• Os "Slaves of Jesus through Mary" ["Escravos de Jesus por Maria"], de South Bend, Indiana, Estados Unidos, publicaram em meados de 1970 um amplo estudo em que são acusados de cisma aqueles que rejeitam a nova Missa. O trabalho mostra com particular nitidez que a oposição ao "Ordo" de 1969 tem-se feito em todas as gamas: desde a rejeição absoluta, até uma aceitação com restrições. Assim é que os "Slaves of Jesus through Mary", embora combatam em termos enérgicos os que recusam de modo absoluto o novo "Ordo", no entanto escrevem: "Há uma heresia explícita no novo "Ordo"? Não, não há. Há muitas expressões ambíguas e equívocas, e isso é diabolicamente hábil [...]. Deve-se resistir à linguagem ambígua e equívoca. Podemos resistir a esse "abandono" da autêntica linguagem católica tradicional, usando nossos velhos missais ortodoxos. É nosso dever RESISTIR a qualquer afrouxamento em matéria de terminologia" (66).
A seguir, a publicação indica vários meios de resistir ao que qualifica de ambiguidades e equívocos do novo "Ordo": continuar a ajoelhar-se nas partes da Missa em que os fiéis tradicionalmente se ajoelhavam; receber a comunhão de joelhos; as mulheres conservarem a cabeça coberta, etc. (67).
• A promulgação do novo "Ordo" deu origem a vasta polêmica entre os católicos ingleses. Basta folhear, por exemplo, a secção de correspondência da revista católica londrina "The Tablet", para dar-se conta da amplitude das dúvidas e da questão de consciência que veio afligir muitas almas.
Além da renúncia de Mons. Bryan Houghton à sua paróquia — que já mencionamos, e que teve larga repercussão na imprensa — é particularmente significativa a crise que se estabeleceu na Latin Mass Society [Sociedade para a Missa em Latim]. A promulgação do novo "Ordo" levou a quase totalidade dos membros da diretoria da entidade a orientar seus esforços no sentido da conservação da Missa tridentina, e não mais do simples cultivo do latim. Em vista disso, alguns diretores que aceitavam a nova Missa separaram-se da sociedade, fundando a Association for Latin Liturgy [Associação para a Liturgia Latina]. Posteriormente, o presidente da Latin Mass Society, sir Arnold Lunn, demitiu-se também de seu cargo, por não concordar com a orientação cada vez mais combativa em favor do "Ordo" de São Pio V que vinha sendo imprimida à entidade pelos demais diretores. Merece atenção o fato de que, ao explicar ao público as razões de sua demissão, sir Arnold Lunn sugeriu que ambas as sociedades unissem os seus esforços com vistas não só à preservação do latim, mas também à "obtenção de modificações tais na nova Missa, que a tornem mais aceitável por muitos que estão perturbados e angustiados pelo novo rito" (68).
• É digno de particular registro o autorizado pronunciamento, datado de Roma, 5 de junho de 1970, do ilustre Prelado francês Mons. Marcel Lefebvre, Arcebispo titular de Synnada, que já ocupou os cargos de Arcebispo de Dacar e de Superior Geral dos Padres do Espírito Santo. Assim se exprimiu S. Excia. Revma.:
"Após o magistério, é o ministério sacerdotal que se atribui agora a todo o Povo de Deus. É em virtude desse ministério que o Povo de Deus constitui a Assembleia Eucarística e realiza o culto comunitário, do qual o Padre é o presidente e em breve será o delegado eleito. Seu caráter sacerdotal e seu celibato não têm mais razão de ser. Não se pode negar que as reformas litúrgicas prestam seu concurso a esta orientação. Todos os comentários a essas reformas se exprimem à maneira protestante, minimalizando o papel do Sacerdote, a realidade do Sacrifício e a Presença real e permanente de Nosso Senhor na Eucaristia. [...].
Esta atitude de vigilância tornou-se necessária devido a todos os escândalos de que somos testemunhas dentro da própria Igreja. Não podemos negar os fatos, os escritos, os discursos que tendem à subjugação da Igreja de Roma e à sua destruição como Mãe e Mestra de todas as Igrejas, e que além do mais tendem a tornar-nos protestantes. Resistir a esses escândalos é viver a própria fé, guardá-la pura de todo contágio, conservar a graça nas nossas almas; não resistir é deixar-se intoxicar de modo lento, mas certo, e tornar-se inconscientemente protestante" (69).
• Em editorial assinado por seu diretor, Sr. Yves Dupont, a revista católica australiana "World Trends", de junho de 1970, diz que o novo rito da Missa "anulou muitos séculos de culto católico e abriu o sinal verde para um rito revolucionário, chocantemente semelhante ao de Cranmer, Zwinglio e Lutero" (70).
• Em junho de 1970, cerca de 1.500 católicos tradicionalistas de diversos países participaram de uma peregrinação a Roma, com o objetivo de pedir ao Sumo Pontífice a manutenção da Missa de São Pio. V e de protestar contra os novos Catecismos.
Durante três dias os peregrinos cumpriram vasto programa de Missas segundo o "Ordo" tridentino, orações, vigílias A cânticos piedosos em lugares tradicionais de devoção. Junto ao túmulo de São Pio X, prestaram o juramento antimodernista. Realizaram uma marcha da Basílica de Santa Maria Maggiore à de São Pedro, ao longo da qual rezaram o rosário e entoram hinos em latim. Um dos principais atos da peregrinação foi uma reunião no Coliseu, onde se celebraram várias Missas; lá estavam, entre outros Sacerdotes, o Pe. Louis Coache, francês, que proferiu o sermão; o Pe. Stefano, Agostiniano de Munique; o Pe. Schmidt, da Alemanha; o Pe. Joaquín Sáenz y Arriaga, do México.
Entre os organizadores da peregrinação, teve lugar de destaque a Dra. Elisabeth Gerstner — a quem já nos referimos — que se encarregou da promoção do movimento nos países de língua alemã.
Na festa de São Pedro e São Paulo, as organizações que se fizeram representar em Roma deram a público uma mensagem, intitulada "Nem rebeldes, nem contestatários", da qual reproduzimos estes tópicos:
"[...] a doutrina infalível e irreformável do Concílio de Trento sobre o Santo Sacrifício da Missa foi traída pelos novos ritos [...].
Nesta situação angustiosa, já não é lícito calar: é tempo de dizer BASTA!" (71 ) .
A peregrinação foi, na ocasião, noticiada em todo o mundo, ao menos resumidamente, pela grande imprensa. Esta deu especial destaque ao fato de o Sumo Pontífice ter-se recusado a receber os peregrinos, ao passo que logo após concedeu breve audiência a três líderes guerrilheiros da África portuguesa, tidos como comunistas.
Sempre com o objetivo de informar nossos leitores, reproduzimos a seguir dois comentários a essa recusa, feitos por personalidades que, como figuras de destaque, participaram da marcha: o Pe. Louis Coache e o Príncipe Guglielmo Rospigliosi.
"É triste — disse o Sacerdote francês — que o Santo Padre tenha julgado oportuno não nos receber. Parece-nos que deveriam ter sido concedidos a nós pelo menos os mesmos direitos que vêm sendo amplamente reconhecidos aos chefes comunistas, que ele recebe em audiência, com os quais se entretém, e a quem envia felicitações natalícias" (72).
O Príncipe Rospigliosi escreveu que os peregrinos não foram recebidos pelo Papa "por não terem sido julgados suficientemente progressistas e de esquerda" (73).
• Em fins do primeiro semestre de 1970, a diretoria do conhecido movimento "Una Voce" da Itália publicou uma carta dirigida aos seus sócios, da qual transcrevemos algumas passagens:
"Ainda uma vez o "sensus fidelium" — o instinto espiritual do povo cristão — mostrou-se lúcido e preciso.
As cartas que "Una Voce" recebeu nestes últimos cinco meses, quer dos leigos mais cultos, quer dos mais simples, têm todas um único móvel e um único objetivo: a Missa romana, a Missa de sempre, contraposta, com instinto semântico preciso, à CEIA. - "Onde encontrar Missas e não. Ceias comemorativas?" — "É ainda lícito celebrar o Sacrifício incruento da Cruz, e não apenas o memorial da última Ceia?" — "Como conseguir ainda que para um nosso defunto seja oferecido o Sacrifício propiciatório e expiatório por um único Sacerdote, em vez de se apresentar não se sabe que intenção entre tantas outras, naquela absurda Ceia concelebrada?"
Não nos deteremos para fazer observações sobre a maior ou menor legitimidade dessas discriminações. O "sensus fidelium", já o dissemos, raramente se engana. E se reabrirmos o "Breve esame critico del Novus Ordo Missae" apresentado pelos Cardeais Ottaviani e Bacci a Paulo VI, se relermos as singelas e intrépidas declarações publicadas por grandes teólogos e canonistas Landucci, Calmel, Guérard des Lauriers, Dulac — teremos a confirmação disso" (74).
• O boletim "St. Michael's News" ["Notícias de São Miguel"], publicado em New Jersey, Estados Unidos, sob a direção do Revmo. Pe. Marian Palandrano, O. S. J., dedicou seu número de julho de 1970 a um longo artigo sobre a nova Missa. A frase com que se inicia o texto condensa todo o pensamento ali expresso: "A nova Missa só se tornou possível com a violação da profissão de fé tridentina e do juramento antimodernista" (75).
• No número de junho-julho de 1970 da revista argentina "La Tradición", seu diretor, o Revmo. Pe. Hervé Le Lay, escreve: "Publicam-se em todo o mundo, menos aqui na América do Sul, livros e folhetos contra a nova Missa, denunciando seu caráter senão de todo herético, pelo menos muito próximo da heresia" (76).
• No mesmo número de "La Tradición", o Pe. Hervé Le Lay publica a seguinte nota: "De Melbourne, na Austrália, chega-me uma carta de um fervoroso propagandista das devoções ao Sagrado Coração de Jesus, ao Coração de Maria e a Santa Teresinha. Comunica-me ele um artigo publicado no diário irlandês "Catholic Herald" de 28 de novembro de 1969, escrito por Hugh Ross Williamson, anglicano convertido e ordenado Sacerdote [...]. O autor diz que a nova Missa é fundamentalmente aquela introduzida na Inglaterra por Thomas Cranmer para destruir toda ideia de Sacerdote sacrificador" (77).
• Em artigo que escreveu sobre o novo "Ordo", o Prof. Dr. Reinhard Lauth, catedrático da Universidade de Munique, observou: "[...] a nova Missa cala deliberadamente verdades fundamentais da Fé, que normalmente deveriam nela figurar [...]. Para permitir uma interpretação protestante, suas palavras são de uma dubiedade quase insuportável" (78).
• A revista "Christendom", dos Padres Oratorianos de Lexington, Kentucky, Estados Unidos, tem publicado numerosos pronunciamentos contrários à nova Missa. Em seu número de julho de 1970, por exemplo, reproduz diversas cartas nesse sentido, recebidas dos Estados Unidos e de outros países. Nelas, o novo "Ordo" é qualificado como "a ceia comemorativa de Lutero e Paulo VI", e como "sacrílego"; e as recentes reformas litúrgicas são designadas como "loucura neo-ariana". A direção da revista não contesta tais asserções (79).
• De artigo estampado pela revista francesa "Forts dans la Foi", dirigida pelo Revmo. Pe. Noêl Barbara, em seu número de setembro-outubro de 1970:
"Na redação do novo "Ordo" colaboraram, além do Sr. Bugnini, o que por si só já constitui uma referência, cinco hereges: dois anglicanos (um inglês e um norte-americano), um membro da Federação Mundial Luterana, um do Conselho Mundial das Igrejas e um luterano de Taizé. Nós o dizemos com muita dor e para vergonha de nossos Bispos, que aceitaram tal situação: o novo "Ordo" foi fabricado com a participação de hereges [...].
Dado que o novo "Ordo" favorece a heresia, e dado que nenhum poder no mundo, mesmo um Papa ou um Anjo, pode obrigar-nos a uma ação que favoreça a heresia, nós Padres temos o grave dever, e a fortiori o têm também os Bispos, de recusar o novo "Ordo", uma vez que, aceitando-o, nos tornaríamos culpados da heresia que ele favorece.
É esta uma questão sobre a qual cada um deve deliberar em consciência. Quem quer que tenha tomado consciência desse dever prestará contas a Deus do modo pelo qual o venha a cumprir.
Na Igreja pós-conciliar, em que se parece dar tanta importância à consciência, só a consciência dos tradicionalistas não terá o direito de ser respeitada?" (80).
EXPLICAÇÕES E MODIFICAÇÕES NÃO FAZEM CESSAR OPOSIÇÃO
Em vista da oposição com que foi recebido em largos círculos católicos o novo "Ordo Missae", a Santa Sé tomou várias medidas tendentes a explicar ou modificar os textos num sentido tradicional. Dentre elas destacam-se certas passagens dos Discursos papais de 19 e 26 de novembro de 1969, bem como algumas das alterações introduzidas na "Institutio" e no texto da Missa por ocasião da publicação do novo Missal, em maio do ano passado.
A corrente favorável ao "Ordo" de Paulo VI tem apresentado esses documentos como prova de que a doutrina tridentina sobre a Missa não fora contraditada pela reforma de 1969.
Os Discursos papais de 19 e 26 de novembro de 1969
Na audiência geral de 19 de novembro de 1969, Paulo VI declarou que a mudança introduzida na Missa "representa algo de surpreendente e extraordinário, uma vez que a Missa é considerada como expressão tradicional e intangível de nosso culto religioso e da autenticidade de nossa fé".
Depois de qualificar como "novidade tão singular" a recente reforma da Missa, e de dizer que ela era "devida a uma decisão tomada pelo Concílio Ecumênico recentemente celebrado", Paulo VI prosseguiu: "Como se vê, a reforma, que está para ser divulgada, é a resposta a um mandado autorizado da Igreja. É um ato de obediência".
Adiante, disse o Santo Padre: "A Missa é e continua a ser a recordação da última Ceia de Cristo, na qual o Senhor, mudando o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue, instituiu o Sacrifício do Novo Testamento e quis que, por meio da virtude de seu sacerdócio, conferida aos Apóstolos, esse Sacrifício fosse renovado em sua identidade e apenas oferecido de modo diverso, isto é, de modo incruento e sacramental, para recordação perene dEle até o dia de sua volta".
Paulo VI afirmou ainda o caráter propiciatório do Sacrifício sacramental de Cristo: "As consequências [da reforma] previstas, ou melhor, desejadas, são de uma participação mais inteligente, mais prática, mais aproveitada, mais santificadora dos fiéis no mistério litúrgico, ou, em outros termos, na audição da Palavra de Deus, que está viva e ressoa na história de cada uma de nossas almas e na realidade mística do Sacrifício sacramental e propiciatório de Cristo" (81).
Uma semana depois, na audiência geral de 26 de novembro de 1969, Paulo VI voltou ao tema, dizendo:
"A novidade em questão [a reforma da Missa] não é pequena. Não nos deixemos impressionar pelas aparências de sua forma externa nem pelo aborrecimento que, porventura, ela nos venha a causar [...].
Trata-se da vontade de Cristo. Trata-se de uma inspiração do Espírito Santo, que leva a Igreja a essa mudança. Devemos reconhecer nela o momento profético por que passa o Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja.
Adiante, Paulo VI se refere ao "sacerdócio real" de todos os fiéis, que os autoriza "a entrar em colóquio sobrenatural com Deus, no rito oficial, tanto do anúncio da Palavra de Deus, como do Sacrifício Eucarístico, partes estas de que se compõe a Missa".
Disse ainda o Papa: "Finalmente, observando bem, veremos que a ideia fundamental da Missa será sempre a tradicional, não só em seu significado teológico, mas também em seu significado espiritual".
Depois de afirmar que a nova Missa manifestará uma riqueza ainda maior do que a antiga, o Pontífice observou: "As relações da alma com Cristo e com os irmãos atingem assim uma nova intensidade vital. Cristo, Vítima e Sacerdote, renova e oferece, mediante o ministério da Igreja, seu Sacrifício redentor no rito simbólico de sua última Ceia que nos deixa, sob as aparências do pão e do vinho, seu Corpo e seu Sangue para nosso alimento pessoal e espiritual e para nossa fusão na unidade de seu amor redentor e de sua vida imortal" (82).
Na parte final de seu discurso, Paulo VI deu normas que vieram ampliar os casos em que os Sacerdotes podem celebrar em latim.
Modificações nos textos da nova Missa
Em maio do ano findo, por ocasião da edição do novo Missal, o público tomou conhecimento de uma nova redação da "Institutio" e do "Ordo" de 1969.
A "Institutio" vinha agora precedida de um proêmio, no qual se introduziram noções que não constavam do documento: transubstanciação, presença real, propiciação. Salientavam-se também as ideias de sacerdócio ministerial do celebrante, de que a Missa constitui um sacrifício e uma renovação do Sacrifício da Cruz, etc. Citava-se numerosas vezes o Concílio de Trento.
No texto da "Institutio" foram feitas algumas modificações, a mais importantes das quais diz respeito à aparente ou real definição de Missa apresentada no n.° 7.
As mudanças feitas nas partes fixas da Missa são de alcance reduzido.
Comentários aos Discursos pontifícios de novembro de 1969
Um leitor desejoso de informar-se cuidadosamente sobre o assunto de que vimos tratando perguntará, sem dúvida, se os referidos Discursos de Paulo VI e as modificações introduzidas na nova Missa alcançaram seu objetivo presumível, de torná-la aceita nos meios em que causara tanta perplexidade e tantas objeções.
Como veremos a seguir, nesses meios manteve-se intacta a persuasão de que o "Ordo" é passível de críticas. Mais ainda: neles manifestou-se de modo tão agudo a impressão da insuficiência das aludidas intervenções da Santa Sé, que parece ter surgido um sentimento, de frustração, ou até de indignação. Tal sentido reflete-se, nos pronunciamentos mais recentes dos opositores, com um vigor de repulsa que não encontramos nos textos até aqui citados.
O leitor verá alguns exemplos disso nos comentários que transcreveremos adiante.
Devemos inicialmente observar que já pelas críticas à nova Missa por nós acima apresentadas, torna-se claro que os Discursos
(continua)
Notas na pág. 8
+ Catolicismo convida seus leitores e amigos para assistirem à Santa Missa que, por alma do
Dr. Geraldo de Barros Brotero
pai de seu colaborador Dr. Eduardo de Barros Broteo, será celebrada por S. Excia. Revma. o Sr. Bispo Diocesano, no dia 25 de fevereiro, às 8 horas, na Capela do Palácio Episcopal.
+ Catolicismo convida seus leitores e amigos para assistirem à Santa Missa que, por alma do
Sr. Carlos Corrêa de Souza
pai de seu colaborador Dr. Carlos Alberto Soares Corrêa, será celebrada por S. Excia. Revma. o Sr. Bispo Diocesano, no dia 26 de fevereiro, às 8 horas, na Capela do Palácio Episcopal.