LIBERDADE PARA TODOS,
SALVO PARA OS QUE OUSAREM DISCORDAR
Alberto Luiz Du Plessis
O liberalismo hodierno é, em grande parte, fruto das ideias de Rousseau e de seu "Contrato Social", segundo as quais a humanidade é naturalmente boa e, uma vez libertada de constrangimentos ilegítimos, tenderá certamente para o bem, pois pode-se enganar alguns homens durante algum tempo, mas não todos os homens durante todo o tempo: "A vontade geral não pode errar. Ela é sempre reta e tende sempre para a utilidade pública" (Contrato, 2, 3).
Salientar a oposição completa entre estas concepções e a doutrina católica é salientar o óbvio. Estamos todos enfermos do pecado de nossos primeiros pais, nossas inclinações naturais são para o mal, e o bem é para nós fruto de uma ascensão penosa, possibilitada pela graça divina, e não, como diz Rousseau, um ponto de equilíbrio facilmente atingível.
De Rousseau tiraram os liberais o princípio (pelo menos para uso externo) de que todas as ideias, mesmo as mais esdrúxulas, têm o direito de serem expostas livremente, por isso que o homem, armado de seu bom instinto, inevitavelmente escolherá, em curto prazo, as melhores. Porém, junto com o liberalismo, medrou sua irmã gêmea, a incoerência, e na verdade os liberais estão sempre prontos a clamar pela liberdade de debate desde que as ideias a serem discutidas sejam de seu agrado. Rousseau pregava: "Crer em uma divindade benfazeja, previdente e provedora, na felicidade dos justos e no castigo dos maus, na santidade do contrato social e das leis"; a propósito comenta um autor: "É no fundo todo o culto da Razão e do Ente Supremo que transparece aqui e que será celebrado pela revolução montanhesa. Precedendo Saint-Just, ele banirá a intolerância... SALVO PARA COM AQUELES QUE NÃO ACEITAREM A RELIGIÃO CIVIL" (François Dreyfus, "Le Temps des Révolutions").
Examinar a flagrante contradição entre o dizer e o fazer dos liberais, através dos tempos, alongaria excessivamente este artigo, de maneira que nos limitaremos a citar dois exemplos atuais de retidão liberal, tomados no seio da Santa Igreja Católica, onde, infelizmente, apesar da luta titânica de um Pio IX e um São Pio X, tais erros prosperaram tanto.
O intransigente Episcopado da Holanda
Vejamos em primeiro lugar um caso ocorrido recentemente na Holanda. Como se sabe, a pobre Holanda, de pacífica terra das tulipas e dos moinhos, viu-se transformada, de repente, em país de loucuras. Ali, das redações de jornais católicos sai a exaltação das doutrinas comunistas e socialistas, o amor livre e o homossexualismo recebem a sua absolvição do púlpito (passe o anacronismo) das igrejas, e toda espécie de "concelebrações eucarísticas" católico-protestantes põem em perigo os fundamentos da Fé. A isto tudo a liberal Hierarquia assiste complacente.
No meio de tantos desvarios, a Santa Sé nomeou Bispo de Rotterdan um Sacerdote de nome Simonis, que passa por menos progressista do que seus colegas. Isto foi o bastante para que o Episcopado Holandês, tão cioso, pelo menos em palavras, dos "direitos humanos", o intimasse a sobrestar a tomada de posse de sua Diocese e a abster-se de qualquer pronunciamento público. Este gesto, cuja prepotência atinge o ridículo, pois Mons. Simonis não deve obediência a outros Bispos mas sim ao Santo Padre, mostra bem a verdadeira face da tolerância liberal.
Libertários espanhóis indiferentes à liberdade
Um outro exemplo, este vindo da Espanha. As atividades políticas de muitos Sacerdotes espanhóis estão nas manchetes de todos os jornais. Açulando greves, algumas evidentemente anarquistas, tomando parte em todas as desordens, mesmo as mais graves e atentatórias à integridade da nação, como no caso do separatismo basco, veem-se sempre Padres esquerdistas, que fazem alarde de defender todas as liberdades. O Mosteiro de Monte Serrat, na Catalunha, palco de tantos incidentes, é foco de uma agitação libertária constante.
Divergindo da assuada esquerdista, um Capelão militar ousou, em recente cerimônia comemorativa da Guerra Civil, lembrar em termos elogiosos a memória dos que tombaram para pôr fim aos desmandos comuno-anarquistas. Isto foi suficiente para que o Vigário Castrense da Espanha baixasse uma determinação proibindo todos os Capelães militares de se referirem de público a esse assunto. Se lembrarmos que, por ocasião da mesma Guerra Civil, foram massacrados pelo vermelhos, ao lado de dezenas de milhares de fiéis, dezesseis mil Padres e onze Bispos, o ato do Bispo Castrense causa viva estranheza. Ora, nenhum Padre progressista espanhol saiu em defesa da liberdade de palavra de seus colegas Capelães.
Não temos por que nos surpreender
Não temos, portanto, que nos surpreender quando encontramos Vigários, tão liberais com todos os erros, que, ao deparar com os propagandistas da TFP difundindo a boa doutrina, tornam-se mais rubros que os nossos estandartes e lastimam não ter à mão uma Gestapo ou uma NKVD para pôr cobro a semelhante "abuso".
Verdades esquecidas
HÁ PAIS QUE SE ALEGRAM COM A MORTE DOS FILHOS
A propósito dos pais que fazem oposição egoística a que seus filhos se consagrem ao serviço de Deus, assim se exprime SÃO BERNARDO:
Oh pai duro! Oh mãe bárbara! Pais cruéis e ímpios! Mas que digo, meus pais? Meus assassinos, que se doem da conservação de seu sangue, e se consolam com a morte de seu filho; que mais querem ver-me perecer com eles, do que reinar sem eles; que ainda me querem expor a um naufrágio, de que me livrei todo nu; a um fogo, de que apenas me salvei meio queimado; aos ladrões, que me deixaram meio morto: mas graças ao socorro do Samaritano, que estou um pouco curado. Eles querem arrancar da porta da glória um soldado de Jesus Cristo, que está a ponto de triunfar, depois de ter arrebatado o Céu. (Eu não me atribuo esta glória, mas ao Senhor, que venceu o mundo). Eles procuram arrastar-me outra vez ao século, como um cão ao seu vômito, e um porco ao seu atoleiro. Abuso espantoso! A casa arde, a chama me persegue, eu fujo, impedem-me que saia, aconselham-me que volte, e os que me aconselham são os mesmos que se acham envolvidos neste incêndio, e que por uma loucura sem igual, por uma obstinação incompreensível, não querem sair do perigo. — [apud "Sentenças Espirituaes dos Santos Padres, e Doutores da Igreja, traduzidas da língua francesa" — Lisboa, 1800 — tomo II, pp. 280-281].
Gomide visita a nova sede da TFP
O SR. ALOYSIO GOMIDE, o Cônsul brasileiro sequestrado pelos tupamaros no Uruguai, esteve em visita à nova sede do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. O agora Conselheiro Gomide foi recebido pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, e pelos Diretores Srs. Eduardo de Barros Brotero, Caio Vidigal Xavier da Silveira e Prof. Paulo Corrêa de Brito Filho. A visita teve lugar no dia 14 de março p.p.
Gomide não conhecia ainda a bela mansão na qual se instalou a TFP à Rua Maranhão, no tradicional bairro paulistano de Higienópolis, pois essa sede foi montada precisamente durante seu longo cativeiro em poder dos tupamaros. Manifestou ele sua alegria pelo progresso que representa a nova sede em relação à anterior, da Rua Pará, n.° 50.
LEGENDAS:
Junto ao estandarte da TFP, os Srs. Paulo Corrêa de Brito Filho, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Aloysio Gomide e Caio Vidigal Xavier da Silveira. Em cima, outra foto da visita.
O Conselheiro Gomide conversa com sócios e militantes da TFP.