A VISITA DE NIXON À CHINA E UM VELHO FATO ESQUECIDO: MUNIQUE
Alberto Luiz Du Plessis
A diplomacia norte-americana tem revelado amiúde uma extraordinária capacidade de fazer coisas erradas nas ocasiões mais inoportunas. Esta capacidade foi amplamente demonstrada quando do início das negociações de paz no Vietnã, em 1968. Após um período de calmaria bastante grande, quando a guerra parecia desenvolver-se satisfatoriamente para os sul-vietnamitas e seus aliados, os comunistas aproveitaram-se traiçoeiramente da trégua do Tet para lançarem uma grande ofensiva, conseguindo ocupar várias e importantes cidades, a ponto de o próprio embaixador dos EUA ver-se exposto a risco de vida. Em todo o mundo livre teve-se a impressão de que houvera uma grave derrota norte-americana, impressão largamente alimentada pelo singular masoquismo dos jornais yankees.
Hoje em dia sabe-se que a ofensiva do Tet representou um malogro para os comunistas. Eles não encontraram o apoio popular com que contavam (o que, por exemplo, os levou a, em Hué, durante a ocupação, assassinarem da maneira mais cruel milhares de habitantes), seus melhores soldados foram dizimados pelas tropas aliadas, a ocupação das cidades durou pouco, com exceção apenas da de Hué. — Mas foi imediatamente após os combates do Tet, quando os ecos do pretenso êxito comunista ainda ressoavam por toda parte, que O Presidente Johnson deu ordem para que cessassem os bombardeios contra O Vietnã do Norte e se iniciassem as tratativas de paz, confirmando com isso a impressão de que seu país estava derrotado.
Quando a hora exige atitudes enérgicas.
Recentemente, a posição dos EUA no Extremo-Oriente sofreu novo e grave abalo, não por derrotas militares, mas pelo evidente fortalecimento dos "pombos" norte-americanos e porque estes exigem de modo sempre mais estridente a retirada no Vietnã. Além disso o governo Nixon saiu diminuído e humilhado do incidente da publicação de documentos secretos sobre a guerra, publicação que a Corte Suprema não pôde ou não quis impedir.
Para um governo decidido, estas circunstâncias impunham a tomada de medidas enérgicas, para restabelecer o prestígio abalado e impor-se ao inimigo. Fazendo exatamente o contrário, este é o momento escolhido pelo Presidente Nixon para anunciar a sua visita à China, que assume com isso o caráter de rendição.
Ademais, tudo leva a crer que os aliados mais próximos dos norte-americanos no Extremo-Oriente foram deixados inteiramente de lado na elaboração dessa iniciativa. A consternação que isso provocou na Coréia do Sul, nas Filipinas, na Tailândia, em Formosa, no Vietnã do Sul, no Japão, é facilmente compreensível. O preço da aproximação sino-norteamericana terá de ser pago por alguém, e provavelmente o será por aqueles que puseram a sua fé nas promessas dos EUA.
Estas considerações amargas podem causar estranheza, tendo-se em vista que a iniciativa de Nixon foi recebida com aplausos quase universais. A explicação de nossa atitude não é difícil.
Não esqueçamos Munique
A natureza humana aspira por tudo aquilo que lhe proporciona satisfações, e por isso mesmo lhe repugna a guerra, que certamente tem pouco de satisfatório. O desejo de paz, de si legítimo, pode, porém, toldar de tal maneira o raciocínio e causar tais desvarios, que os pacifistas "enragés" terminam por provocar a eclosão da terrível catástrofe que queriam evitar. Relembremos um episódio já antigo.
Para muitos jovens de hoje, a palavra Munique talvez não signifique mais que o nome de uma cidade alemã, mas os mais velhos ainda hão de se recordar de que foi em Munique que, em 1938, procurando a todo custo evitar a guerra que lhes parecia iminente, o Primeiro-Ministro inglês, Chamberlain, e seu colega francês, Daladier, traíram compromissos dos mais solenes e entregaram a Checoslováquia a Hitler. Consciente do que tinha feito, Daladier, ao regressar a Paris e ver a multidão que o esperava, empalideceu, temendo manifestações de desagrado e de cólera, mas logo voltou à serenidade, pois os aplausos estrugiram, de toda parte. Voltando-se para seu amigo Marc Rucart, o "Premier" disse em voz baixa: "Infelizes! Se soubessem o que estão aplaudindo!..."
É notório que o pacto de Munique, em vez de aplacar o apetite nazista, muito pelo contrário o incentivou bastante. Mas não foi só desta maneira que as concessões de Chamberlain e Daladier concorreram para a eclosão da segunda guerra mundial. Atualmente se sabe que naquela ocasião Hitler estava a ponto de ser deposto por uma conspiração de altos chefes militares alemães, chefiada pelos Generais Beck e Stulpnagel, pelo Almirante Canaris e pelo Comandante supremo do exército, Von Brauchitsch, com o apoio dos comandantes das guarnições de Berlim e de Potsdam, que se incumbiriam de prender o Fuehrer. A espantosa vitória que este obteve em Munique e a imensa popularidade que a anexação da Checoslováquia lhe proporcionou na Alemanha, tornaram inviável o golpe militar, cujo êxito anteriormente era certo. Conta-se que, ao saber que Chamberlain iria a Munique, Schacht, Ministro alemão da Economia, que detestava Hitler, andava de um lado para outro em seu gabinete, esmurrando a fronte e exclamando: "É inimaginável! O Primeiro-Ministro do Império britânico vem encontrar-se com este gangster!"
Perspectivas sombrias
É lastimavelmente certo que no Vietnã os EUA não puseram todo o empenho em, lutar pela defesa da civilização cristã — que deveria ser seu mais caro ideal — e que, para obter a paz, estão-se preparando para fazer concessões que os enfraquecerão enormemente. Como vimos no caso de Munique, adversários totalitários não costumam ser comprados por meio de manifestações de debilidade, de maneira que, no próximo impasse internacional, o governo norte-americano ver-se-á diante do seguinte dilema: ou capitula em face do comunismo, com consequências imprevisíveis para seu país e para o mundo, ou então é obrigado a resistir em posições que seus recuos anteriores terão enfraquecido, e com aliados inseguros, pois o que está acontecendo com os povos asiáticos que confiaram na aliança yankee contribui muito pouco para animar dedicações.
GENERAL ENVIA VOTOS À TFP
Realizou-se em julho último, em Manilha, a V Conferência da WACL — World Anticommunist League (Liga Mundial Anticomunista), em conexão com o congresso anual da Liga Anticomunista dos Povos Asiáticos.
Para o importante conclave, que contou com a participação de 1.500 representantes das principais nações não comunistas, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade foi convidada pela WACL a enviar observadores especiais.
Nessa qualidade viajaram para a capital das Filipinas os Srs. Marcos Ribeiro Dantas, do Diretório Nacional daquela sociedade, e Miguel Beccar Varela, dirigente da congênere argentina.
Congratulando-se com a TFP e formulando votos pelo êxito da atuação de seus delegados, o Exmo. General Humberto de Souza Mello, Comandante do II Exército, enviou ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira o seguinte ofício:
"Informado, pessoalmente, por V. Excia., de que a "Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade" havia sido convidada para participar da 5.a Conferência, da "Liga Mundial Anticomunista", em conexão com o "Congresso Anual da Liga dos Povos Asiáticos Anticomunista", venho congratular-me com a Organização que V. Excia. preside, com a nítida compreensão do que representam a TFP e o congresso em apreço, visto tratar-se de uma verdadeira barreira contra a expansão do comunismo ateu e imperialista.
Na conjuntura atual que o mundo atravessa, particularmente os povos asiáticos, e por similitude os sul-americanos, sobre quem atualmente se voltam as atenções agressivas dos comunistas, é confortador sabermos que há, fora das Forças Armadas, quem se coloca, em plano mundial, na primeira linha de combate a esta ideologia, completamente contrária aos nossos interesses, tradições e formação cristã.
Renovando meus cumprimentos pela participação da TFP no conclave mundial, apresento meus votos de pleno êxito aos Drs. Marcos Ribeiro Dantas e Miguel Beccar Varela, seus representantes, certo de suas atuações com inteligência, patriotismo e vasto conhecimento da doutrina democrática, que, seguramente, incidirão fortemente nas decisões de tão notável reunião, para a contenção da marcha do comunismo no mundo, em particular no Continente Sul-Americano".
A TFP PROMOVEU em São Paulo no mês de julho p.p. a IV e V Semanas Especializadas para a Formação Anticomunista, da qual participaram 210 jovens de quinze Estados brasileiros e de quatro países da América espanhola (página 6).
Legendas: Repleto o auditório na sessão de encerramento da IV SEFAC
Discursa o representante dos jovens semanistas do Nordeste
Aplausos à conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
Aspecto da mesa que presidiu a sessão de encerramento
Diante da sede do Conselho Nacional da TFP, os participantes da V Semana Especializada para a Formação Anticomunista