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TFP difunde pelo Brasil a Carta Pastoral sobre Cursilhos de Cristandade

NOTAS SOBRE UMA GRANDE CAMPANHA

Foi com um interesse excepcional — atingindo, em círculos cursilhistas, às raias do assombro — que o público paulista leu, naquela tépida manhã de 25 de novembro, a notícia sensacional, estampada na primeira página da "Folha de São Paulo", de que no dia seguinte, domingo, viria a lume uma entrevista do Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mayer, apontando perigosos desvios doutrinários, inclusive tendências esquerdizantes, em setores dos Cursilhos de Cristandade.

Até então praticamente incontrovertidos na imprensa, rádio e TV, os Cursilhos de Cristandade passavam, aos olhos distraídos do grande público, como um movimento que produzia conversões inesperadas, marcadas por um quê de singularidade, mas, de qualquer modo, digno de encômios, como uma obra genuinamente católica.

Na realidade, observadores mais atentos pressentiam de há muito nos Cursilhos a "singular mistura de erro e de verdade, de bem e de mal", a que se refere o Sr. Bispo Diocesano na citada entrevista. Era preciso que um teólogo eminente, um Pastor de almas afeito à pesquisa e à reflexão acuradas, se aplicasse ao trabalho de ir direto às fontes — as publicações impressas do movimento — e elucidasse o que de certo e de errado nele havia.

Esse benemérito trabalho de esclarecimento foi feito por D. Antonio de Castro Mayer, e como resultado temos a sua já histórica Carta Pastoral sobre Cursilhos de Cristandade, que a Editora Vera Cruz publicou, "Catolicismo" se honrou em reproduzir em seu número de dezembro p.p., e a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade está divulgando, com êxito relevante, pela imensidade do território brasileiro.

Os Cursilhos de Cristandade estão muito difundidos em nosso País, e pelo menos nos grandes centros quase não há quem, direta ou indiretamente, de um modo ou de outro, não tenha tido contato com cursilhistas, ou não tenha ouvido falar mais próxima ou remotamente deles. Assim, o problema doutrinário ou ideológico que esse movimento constitui, não se apresenta exclusivamente em seus termos abstratos, mas encarnado nesta ou naquela pessoa das relações de cada qual. Dessa forma, o tema "Cursilhos" desperta no público -. sempre ávido de personalizar as disputas — um interesse que a mera discussão doutrinária provavelmente não provocaria.

Tudo isto explica o impacto excepcional que a simples notícia da iminente publicação da entrevista provocou no largo círculo de leitores da "Folha de São Paulo".

Na capital paulista, uma emissora de televisão apresentava, no próprio sábado, 25 de novembro, um programa de esportes, em que três locutores conversavam sobre futebol. Às tantas, um brincou que o outro, apesar de ter feito os cursilhos, não havia mudado de vida. O terceiro interveio vivamente, referindo-se à anunciada entrevista de D. Mayer, e foi buscar o jornal nos bastidores, lendo a notícia para os companheiros e para o público atônito!

No Brasil, três locutores de uma emissora de televisão interromperem um programa de esportes para abordar um tema doutrinário, significa realmente qualquer coisa!

Pode-se afirmar, pois, sem exagero, que a entrevista do Sr. Bispo de Campos, publicada no domingo imediato, foi o assunto do dia em São Paulo, a partir daquele sábado, e durante muitos dias!...

Uma entrevista corajosa

Mas não foi apenas vivo interesse que despertou o anúncio da entrevista. Foi também, em muitos, espanto!

Mesmo entre aqueles que já desconfiavam haver algo de estranho e errado nos Cursilhos, muitos não imaginavam que tais desvios pudessem chegar ao nível da subversão comunista, a qual, entretanto, um certo número de publicações cursilhistas propugna claramente, como D. Antonio de Castro Mayer mostra em sua Carta Pastoral. E não poderia deixar de causar estupor isto de ver que um movimento, com larga difusão nos meios católicos, apresenta em muitos de seus setores uma insofismável penetração de ideias esquerdizantes.

Mas o espanto tinha também outra causa. Conhecedores da crescente influência do cursilhismo, não só nos meios católicos, mas na sociedade civil em geral, e prevendo que as figuras mais representativas do movimento não quereriam reconhecer — como seria normal — os erros apontados por D. Mayer, certos leitores não deixaram de manifestar uma admiração que tocava às raias do desconcerto, diante da coragem do ilustre Prelado que dessa forma se expunha à reação vingativa de não poucos cursilhistas.

Foi nesse clima que a "Folha de São Paulo" estampou a primeira entrevista do Exmo. Sr. Bispo, que trazia para o conhecimento do grande público o conteúdo de sua Carta Pastoral sobre Cursilhos de Cristandade.

Na mesma ocasião, S. Excia. Revma. concedeu outras entrevistas, também expondo o tema geral de sua Pastoral, aos jornais "Diário de São Paulo" e "Correio do Povo", aquele da capital paulista e este último de Porto Alegre, que as publicaram no mesmo dia 26 de novembro.

Essas entrevistas foram depois reproduzidas na íntegra ou parcialmente, por 61 jornais dos mais diversos pontos do País, alcançando assim larga repercussão.

A TFP sai novamente a campo, expondo-se aos riscos

A TFP não poderia permanecer indiferente a essa iniciativa do egrégio Antístite, embora expondo-se aos mesmos riscos que ele.

Uma vez que os Cursilhos se acham infiltrados de doutrinas errôneas que repercutem no âmbito cívico e social — tenhamos presentes as ligações entre certos setores cursilhistas e a subversão marxista — era natural, quase diríamos era obrigatório, que a TFP saísse a campo, emprestando todo o seu apoio à divulgação da Carta Pastoral sobre Cursilhos de Cristandade.

Por outro lado, a obra do Bispo de Campos, escrita para sua Diocese, não interessa apenas a esta. As perigosas tendências que ela aponta em numerosas publicações cursilhistas são de molde a contaminar os espíritos por toda a extensão do. País, com prejuízo da população, e da própria ordem socioeconômica para cuja preservação se fez o movimento de 31 de março de. 1964.

Cabe aqui pôr em relevo o mérito da atuação da TFP. Divulgando ela em larga escala a obra esclarecedora de D. Antonio de Castro Mayer, muitas pessoas ficam premunidas contra sérios desvios doutrinários: caso ainda não sejam cursilhistas, se porão de sobreaviso na hipótese de serem convidadas para participar do tríduo dos Cursilhos; se já cursilhistas, não se tendo ainda defrontado com os erros apontados por D. Mayer, tornam-se mais perspicazes, de modo a não se deixarem envolver por eles quando aparecerem; e caso tenham aderido sinceramente a esses erros, que gratidão não deverão ter pelo Autor da Pastoral e por quem a divulga, por lhos terem assim apontado, proporcionando-lhes voltar ao caminho da verdade! Não é, porventura, uma obra benemérita advertir alguém que está para cair ou já caiu em erro, para que dele se liberte? Não corresponde ao exercício de um direito natural, preservar a opinião pública do contágio de máximas subversivas?

Stands e caravanas

Concomitantemente, pois, com a publicação da entrevista do Exmo. Bispo Diocesano, a TFP pôs à venda, em stands especialmente montados nas sedes de suas principais Secções, a Carta Pastoral sobre Cursilhos de Cristandade, que acabava de ser lançada em forma de livro pela Editora Vera Cruz.

A procura do público foi intensa, logo nos primeiros dias, o que confirma o interesse despertado pelo nome do Autor e pela matéria.

Mas a TFP não se cingiu a essa propaganda nas capitais. Contando com o zelo e a dedicação de seus jovens sócios e militantes, saiu às ruas de numerosas cidades do País, a vender a já então famosa Pastoral. Foram organizadas treze caravanas com um total de 120 propagandistas, que desde 25 de novembro vão percorrendo o território nacional, tendo começado pelo Sul.

Além dessas caravanas permanentes, a TFP vem promovendo, nos fins de semana, excursões às cidades próximas às grandes capitais, quando, então, participam da campanha de difusão da Pastoral os seus colaboradores que, por motivos variados, não tenham podido consagrar a esse trabalho os dias úteis.

No momento estão sendo vendidos exemplares da 2.a edição do livro impresso pela Vera Cruz e da 4.a tiragem do número de dezembro desta folha.

"La confianza de las gentes"

Embora o progressismo viva de apregoar que as massas desprezam os valores tradicionais e anseiam pelas mudanças revolucionárias, a verdade é que não sai a TFP a público, defendendo os fundamentos da civilização cristã — a tradição, a família e a propriedade —sem ser acolhida favoravelmente pelas populações.

A presente campanha não desmentiu essa constante. Pelo contrário, verifica-se que o prestígio da entidade se afirma cada vez mais, e cresce o número das pessoas que depositam uma confiança a priori em cada iniciativa que ela vai tomando. Segundo expressiva observação de um amigo espanhol que visitou a TFP no Brasil há tempos, ela "detiene la confianza de las gentes".

É verdade que o conceito de grande Bispo de D. Antonio de Castro Mayer, o valor intrínseco de sua obra e o que o tema desta tem de mordente, dão à presente campanha um relevo todo especial.

Mas isto apenas enriquece o fato de que, lançando-se em tão grandes empreendimentos, a TFP é bem acolhida porque apresenta ao público aquilo que merece a confiança deste.

Temos nesse sentido o depoimento unânime dos caravanistas da entidade, registrando como as populações, tanto do Interior quanto das Capitais, os recebem cordialmente, o que adiante veremos com mais detalhes.

As afirmações da Pastoral são procedentes

Numerosos testemunhos colhidos pelos caravanistas, nos mais diferentes lugares, corroboram a existência, em ambientes cursilhistas, de erros e tendências perigosas, apontados pelo egrégio Antístite de Campos. Vejamos alguns desses depoimentos, escolhidos a esmo:

• O Vigário de certa cidade do interior do Estado de São Paulo, interrogado por um grupo de paroquianos, reconheceu que havia infiltração de erros nos Cursilhos, e prometeu indicar a essas pessoas um cursilho isento deles, tão longo tivesse conhecimento de algum nessas condições.

• Noutra cidade do mesmo Estado, um tenente-coronel reformado, que sempre asseverara haver subversão em setores dos Cursilhos, chamou um cursilhista, que passava pelo local da campanha e, mostrando a Pastoral, lançou-lhe esta: "Viu? Eu não dizia?"

• Um Padre, diretor espiritual de Cursilhos numa cidade do hintetland paulista, sustentando embora que os Cursilhos são bons, reconheceu que apresentam muitos pontos de interrogação, e até erros doutrinários. Em particular, não concordava com o emprego de palavrões, usual em certos tríduos.

• Ainda no interior de São Paulo, um fazendeiro do município e ex-oficial da FAB elogiou a entrevista de D. Mayer, e o artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre o cursilhismo, que o tinham esclarecido e confirmado na desconfiança que nutria em relação a esse movimento.

• Em determinada cidade do Paraná um militante da TFP entrou num bar onde as pessoas mais representativas do lugar costumam reunir-se para debater os assuntos do dia. O proprietário contou que a entrevista do Bispo de Campos havia causado um verdadeiro estrondo na cidade, e que todos os frequentadores de seu estabelecimento já antes faziam reservas ao movimento cursilhista.

• Na mesma cidade, um advogado disse já ter percebido que nos cursilhos que conhece se aplica lavagem cerebral, e que neles há tendências esquerdistas.

• Em São Paulo, uma senhora declarou-se favorável às mudanças por que vem passando a Igreja, mas achava forte a expressão "Cristo amigão", usada em ambientes cursilhistas.

• Pelo contrário, um Padre cursilhista do interior do Estado, o qual recomenda a todos que não leiam a Pastoral de D. Mayer, entende que não é falta de respeito chamar Nosso Senhor de "Chefão" como se usa entre cursilhistas.

• Um industrial de uma cidade vizinha à Capital paulista estranhou o fato de sua filha, professora conceituada, ter voltado de um tríduo cursilhista falando palavrões em casa.

• Um bando de hippieformes, ainda numa cidade das proximidades de São Paulo: "Nós somos todos cursilhistas e contra a TFP. Vocês não têm mais razão de ser. A tradição não existe mais, nem a família. Só lhes resta defender a propriedade. Vocês precisam sofrer uma lavagem desses conceitos".

• Um médico do norte do Paraná suspeitava, desde o início, que o comunismo iria tirar proveito dos Cursilhos. "Colegas meus fizeram o cursilho e voltaram mais depravados do que antes, pelo fato de lá terem ouvido que não há mais pecado".

• Na mesma cidade, a senhora de um ex-prefeito queixou-se muito do tratamento que seu filho lhe vem dispensando depois de ter feito um cursilho. "Ficou muito rebelde", comentou ela.

• Um professor cursilhista, nessa mesma cidade, estranhou muito o fato de uma macumbeira notória frequentar ali os Cursilhos sem qualquer restrição, e continuar praticando a macumba, tão entusiasmada quanto antes.

• Dois médicos cursilhistas, ainda nessa cidade do Paraná, declararam à caravana da TFP que Jesus Cristo era socialista, e que os Cursilhos também o são.

• Em Minas, uma dirigente disse que os Cursilhos são a melhor coisa do mundo, que é um absurdo atacá-los. — "Que há de mal em chamar Cristo de Chefão?"

• Numa cidade de Santa Catarina, uma Freira em trajes masculinos reconheceu haver infiltração esquerdista nos Cursilhos.

• Numa localidade da divisa do Paraná com Santa Catarina, uma cursilhista furiosa berrou: "O Bispo de Campos não é católico. Palavrão não tem problema. Estamos evoluindo".

• Um cursilhista da mesma cidade ousou blasfemar contra Nossa Senhora: "Maria é uma mulher qualquer".

• Ainda nessa cidade, um homem bem posto, de seus 40 anos, que não quis declinar seu nome, dizia, tremendo de raiva, que D. Mayer estava certo, que havia realmente infiltração de erros nos Cursilhos, mas que todo o problema era... a TFP estar envolvida no caso!

• Uma senhora da mesma cidade informou que ali os Cursilhos atraíam elementos péssimos, e que ela não acreditava nas "conversões bruscas" dessa gente.

• Alhures em Santa Catarina, um homem, ao ser abordado pelos propagandistas, respondeu que chamar Jesus Cristo de "Chefão" é correto. Interrogado se era cursilhista, tirou um crucifixo que usava junto ao peito, e disse: "Aqui está o Chefão".

• Em Goiás, um fazendeiro comprou a Pastoral para poder discutir com cursilhistas que frequentavam sua casa. Acrescentou que os Cursilhos deformavam muitas pessoas, as quais passavam a se ter em conta de católicos perfeitos, mas continuavam fazendo as mesmas "asneiras" de antes.

• O prefeito de uma cidade paulista comprou a Pastoral com entusiasmo, comentando que "D. Mayer teve a coragem de fazer o que ninguém fez". Afirmou haver muitos esquerdistas infiltrados nos Cursilhos.

Seria impossível transcrever aqui todos os depoimentos já colhidos pelos propagandistas da TFP ao longo da campanha. De qualquer modo, a amostra apresentada acima serve para dar uma ideia geral da atitude assumida por impressionante fracção da opinião pública face aos Cursilhos de Cristandade.

Não comprem, não leiam, não dialoguem

Poderíamos esperar que os cursilhistas em geral, e a direção cursilhista em particular, tomando conhecimento da Pastoral de um Bispo da Santa Igreja que faz sérias reservas ao movimento, tivessem a retidão de espírito necessária para estudar esse documento proveniente de tão alta autoridade, e:

— reconhecessem a procedência das acusações, rejeitando os erros aos quais, consciente ou inconscientemente, tivessem aderido;

— ou, no caso de não concordarem com o Prelado, entrassem em diálogo com ele, oferecendo uma refutação das acusações que formulara.

Não foi, entretanto, o que aconteceu. Deixando de lado os pronunciamentos pela imprensa dos elementos pró-cursilhistas, dos quais trataremos adiante, restrinjamo-nos por enquanto às reações dos próprios cursilhistas em face da Pastoral .e da campanha da TFP.

Essa reação pode ser consubstanciada numa palavra de ordem: não comprem, não leiam, não dialoguem.

De fato, por toda parte, a atitude dos cursilhistas foi, em geral, de não comprar a Pastoral, de dizer que não tomariam conhecimento dela, e de recusar-se a qualquer diálogo a respeito do assunto.

Essa atitude não pode deixar de ser considerada como indicando, de um lado, total carência de argumentos para defender as próprias posições, e, de outro, pouca vontade de reconhecer os seus erros e retratar-se deles.

Parece-nos que com isso o movimento cursilhista se prejudica a si mesmo, fazendo crescerem as suspeitas que em todo o País se levantam contra ele.

O mais curioso é que, depois de tudo, os cursilhistas comecem a lamentar-se de que a Pastoral do Exmo. Bispo Diocesano e a campanha da TFP representam um golpe mortal para o seu movimento. Vejamos algumas amostras do que, um pouco por toda parte, ouviram deles os caravanistas:

• O delegado de polícia de uma localidade paulista, cursilhista militante, ficou furioso porque se começou a comentar na cidade, depois da passagem de uma caravana da TFP, que os Cursilhos "já eram", e porque ele mesmo estava encontrando dificuldades para reunir pessoas para o próximo tríduo.

• No Norte do Paraná, dois cursilhistas opinaram que, após a divulgação da Pastoral de D. Mayer, os Cursilhos nunca mais se reabilitarão.

• Numa outra cidade do Paraná, um cursilhista queixou-se a um caravanista: "Vocês estão destruindo um Cristianismo autêntico. Lançada a desconfiança, ninguém consegue mais nada". — Seria o caso de perguntar a esse cursilhista por que a TFP é tão-caluniada, e a "confianza de las gentes" não lhe é retirada!

• Numa grande cidade do interior de São Paulo, um cursilhista, profundamente ressentido, mas sem alterar-se, comentava: "Vocês da TFP espantaram muita gente do cursilho. Agora muita gente vem-nos atacar dizendo: — Estão vendo? eu não falei que Vocês estavam errados? - A TFP estragou o edifício que estávamos construindo. Foi um desserviço à Igreja". Por fim, defendeu o "socialismo cristão"...

• No Rio Grande do Sul, um Vigário reconheceu que a publicação da Pastoral de D. Antonio de Castro Mayer foi um acontecimento terrível para os Cursilhos, que há um ano vinham florescendo na região.

• Numa cidade paulista, este comentário de um rapaz cursilhista: "Na minha comunidade formou-se uma tal confusão, que muita gente dela se afastou só por causa daquela notícia [a entrevista de D. Mayer]. Como é que pode uma simples reportagem causar um trauma desses?"

Esse esvaziamento dos Cursilhos, em consequência da tática cursilhista de não querer tomar posição em face da Pastoral, parece ser um efeito bastante generalizado, conforme depoimento de pessoas favoráveis ou contrárias ao movimento:

• Um comerciante no interior de São Paulo referiu que seu sobrinho havia aceito convite para um cursilho, mas, tomando conhecimento da entrevista de D. Mayer, resolveu não mais comparecer.

• Uma senhora de outra cidade do Estado bandeirante disse não gostar de D. Mayer porque, após sua entrevista à "Folha de São Paulo", muitas pessoas se estavam recusando a fazer o cursilho.

• Um cursilhista paranaense, chefe de família, de classe média, lamentou-se porque vai ser difícil arregimentar outros aderentes, depois que a entrevista do Bispo de Campos provocou desconfiança contra o movimento, em toda a cidade.

• Noutra localidade do Paraná, na divisa de Santa Catarina, um cursilhista: "Depois que vocês colocaram dúvidas, não se consegue mais nada. Várias pessoas que iam fazer cursilhos vão desistir". •

• Em Santa Catarina, uma moça cursilhista comentou: "Esta história de uns dizerem que há infiltração nos Cursilhos e outros dizerem que não... já não sinto mais aquele entusiasmo pelo movimento".

Algumas provocações e ameaças — à falta de argumentos...

Não têm faltado — numa ou outra cidade — provocações e até ameaças de agressão da parte de elementos cursilhistas, isolados ou organizados em grupo. Contudo, a prudência e o tacto dos caravanistas da TFP têm conseguido evitar, com o auxílio das autoridades, que tais episódios se transformem em luta física.

No conjunto, a campanha de divulgação da oportuníssima Pastoral de D. Antonio de Castro Mayer vem-Se desenvolvendo de modo inteiramente pacífico.

Padres contra

Sem embargo, não poucos Sacerdotes, ardentes seguidores dos Cursilhos, se têm oposto fogosamente ao trabalho da TFP. Alguns deles tentaram obter o concurso da autoridade policial no sentido de impedir a realização da campanha nesta ou naquela cidade.

Esses mesmos eclesiásticos que se insurgem contra a difusão da Pastoral de D. Mayer, levada a efeito pela TFP, o mais das vezes pouco ou nada fazem para coibir a propaganda de pastores protestantes, médiuns espíritas, etc. Mas em relação à TFP, não! A atitude é de pedir a urgente intervenção da polícia. Do braço secular, diríamos, se a Igreja não estivesse separada do Estado. Ainda bem que a polícia faz ouvidos surdos a tão extravagantes apelos.

• Numa pequena cidade paranaense, o Padre advertiu que ia reunir os cursilhistas, buscar fuzis na delegacia e expulsar a caravana da TFP. Entretanto, ao saber do apoio da autoridade policial à campanha, desapareceu.

• Em Santa Catarina, um Padre de uma paróquia importante ameaçou: "Se falarem contra os Cursilhos aqui, ou fizerem circular alguma coisa contra, eu vou brigar". Ficou nisso

• Numa cidade da Araraquarense, no Estado de São Paulo, um Cônego fez um sermão de meia hora contra a TFP e sua campanha.

• No Sul do Paraná, o Vigário local falou pelo rádio, durante uma hora, atacando a campanha e pedindo às autoridades medidas contra a caravana de sócios e militantes da TFP. Em consequência, os cursilhistas armaram uma tempestade contra estes, a qual, entretanto, não encontrou receptividade por parte da população. Assim, a tempestade se desfez por si.

• Numa localidade paulista, o Vigário entrou em contacto com o delegado para que este interrompesse a campanha. Uma viatura policial conduziu o chefe da caravana à delegacia para prestar declarações. Após os devidos esclarecimentos, o delegado permitiu — como era de direito — que a venda da Pastoral prosseguisse normalmente.

• Noutra cidade bandeirante, o Vigário enfureceu-se porque um ministro da Eucaristia havia dado a Comunhão aos militantes da TFP. Prometeu-lhes "denunciá-los" aos paroquianos durante a semana. Com seu automóvel, seguia os caravanistas por toda parte. Defronte à delegacia de polícia, abordou-os, insistindo na asserção de que a campanha era um desrespeito à autoridade religiosa, da qual ele era o representante.

• No interior de Minas, um Religioso mostrou-se muito nervoso, acusando os propagandistas da TFP de estarem promovendo um escândalo ao apontar desvios nos Cursilhos que são "a esperança da Igreja".

Várias outras atitudes do gênero poderíamos mencionar aqui, o que não fazemos por brevidade.

A controvérsia pela imprensa

Espelho, muitas vezes não fidedigno nem completo — mas, enfim, espelho — do que acontece no mundo, a imprensa refletiu o grande interesse do público pela Pastoral do Sr. Bispo Diocesano, estampando notícias de todas as procedências sobre ela e sobre os Cursilhos de Cristandade em geral. Até o momento de fecharmos esta edição, nada menos do que 260 recortes sobre o assunto nos haviam chegado às mãos.

Já nos referimos à grande repercussão que alcançou a entrevista concedida por D. Antonio de Castro Mayer à "Folha de São Paulo" e depois reproduzida por 61 outros diários.

Essa entrevista desencadeou uma série de notícias e comentários na imprensa de todo o País, bem como cartas à redação dos jornais, tomando posição em face da matéria.

Falaremos mais adiante das manifestações de apoio. Consignemos inicialmente os pronunciamentos contrários à Pastoral, feitos por órgãos ou elementos pró-cursilhistas, — uma vez que os cursilhistas propriamente ditos escolheram a tática do silêncio.

Essas tomadas de posição contrárias ao luminoso documento, de nenhum modo entraram no mérito da questão. Houve quem se limitasse a lembrar o apoio de Paulo VI e da CNBB aos Cursilhos; outros alegaram que D. Mayer não estaria em condições de falar sobre estes porque nunca havia participado de um tríduo cursilhista; alguns sustentaram que a Pastoral não fez mais do que "descobrir deficiências para apontá-las ao público fora do seu contexto global e verdadeiro"; outros, por fim, enveredaram pelo caminho da detração pessoal.

Não nos deteremos em analisar aqui essas impostações, uma vez que já as refutou magistralmente o próprio Bispo de Campos em artigo e entrevistas largamente divulgados pela imprensa e que estampamos em outro lugar desta edição.

Registremos apenas o comentário que a propósito fez o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em artigo publicado em sua coluna na "Folha de São Paulo" no dia 31 de dezembro p.p. Conforme bem observou o Presidente do Conselho Nacional da TFP, a contraofensiva dos pró-cursilhistas vem-se caracterizando pelo seguinte:

"a) foge cuidadosamente de refutar os documentos citados por D. Antonio de Castro Mayer em sua Carta Pastoral;

b) apresenta o movimento [dos Cursilhos] como injustamente perseguido pelo Bispo de Campos;

c) e implicitamente o aponta como um ferrabrás da ortodoxia, pronto a todo momento a tomar uma nuvem por Juno".

"Digo — comentou o articulista — que esta é a atitude dos pró-cursilhistas, porque os cursilhistas propriamente ditos têm sido tão supercautos, que quase nada disseram sobre a matéria. [...].

Pelo interior do País, nas caravanas da TFP, os jovens sócios e militantes desta estão impressionados com a mesma ausência de argumentação dos cursilhistas. Por vezes nossos propagandistas ouvem tão somente uma ameaça, à guisa de estribilho: "Vocês vão-se arrepender!"

— Essa ameaça é um "bluff"? Ou mera explosão de mau humor? Ou talvez constitui referência a alguma contracampanha visando a TFP pelo aliás já gasto sistema do "estrondo publicitário"?

Parece-me cedo para dar qualquer resposta a essas perguntas".

Pronunciamentos de membros da Hierarquia

A imprensa noticiou com insistência as diversas declarações de membros da Hierarquia a favor dos Cursilhos, quer com referências expressas ao documento de D. Antonio de Castro Mayer ou à campanha da TFP, quer tratando do tema como se não fosse a propósito da Pastoral.

Ao todo pronunciaram-se um Cardeal, sete Arcebispos e dez Bispos, individualmente; seis Prelados da Província Eclesiástica de São Paulo, treze da Regional Centro-Oeste e 23 da Regional Nordeste-1, dá CNBB, manifestaram-se em conjunto.

Cabe observar que em nenhuma dessas declarações se tratou do mérito da questão, limitando-se seus autores a afirmar ou reafirmar sua confiança no movimento cursilhista.

Os jornais deram especial destaque aos pronunciamentos de Srs. Bispos contra a difusão da penetrante e primorosa Carta Pastoral em suas respectivas Dioceses. Alegam eles, quase invariavelmente, seu direito de se pronunciar em caráter exclusivo sobre o que ocorre em associações existentes no território sob sua jurisdição.

É compreensível que tais pronunciamentos hajam provocado estranheza. Pois ainda as pessoas que não estão ao corrente das claras disposições do Direito Canônico sobre esta matéria, observam que a difusão da Pastoral num lugar não quer dizer que necessariamente haja cursilhos nesse lugar. E menos ainda que os cursilhos eventualmente existentes estejam infectados dos erros denunciados no documento. A divulgação deste tem apenas o objetivo de informar o público letrado sobre os rumos de um movimento que por sua larga difusão pode influenciar mal o País inteiro. Mas a Carta Pastoral ressalva explicitamente que muitos cursilhos não estão contaminados por tais erros. O que bastaria para tranquilizar os Srs.

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