Na própria Espanha, os Cursilhos são caso
Plinio Corrêa de Oliveira
Transcrevemos aqui, para conhecimento dos leitores, os trechos essenciais de dois artigos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicados em sua coluna semanal na "Folha de São Paulo", da capital paulista:
Causou-me viva sensação a leitura de quatro recortes da prestigiosa revista espanhola "Vida Nueva", alusivos a Cursilhos de Cristandade. Em que situação deixarão tais recortes aos que, em nosso País, sustentam serem fruto da mera imaginação as inculpações feitas a esse movimento por D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos?
Como todos sabem, o cursilhismo nasceu na Espanha e ali tem sua direção central e suprema. Pois precisamente daquele país nos chega a notícia de que os Cursilhos vão dando ocasião — no plano doutrinário — a dúvidas, discussões e polêmicas entre católicos. — Será que também na Espanha os Cursilhos encontraram meios de ser injustamente atacados? — É muita coincidência...
Sirva isto de razão para sofrear, aqui no Brasil, alguns amigos super-ardorosos dos Cursilhos, que protestam contra as argutas e bem documentadas observações de D. Mayer como se fossem absurdos inaceitáveis, verdadeiras blasfêmias. Em outros termos, enquanto na própria pátria dos Cursilhos eles são frontalmente controvertidos, neste nosso Brasil há quem os veja como animais sagrados em que não é lícito tocar.
Penso que uma apresentação aos leitores, do que publica a tal respeito "Vida Nueva" servirá para pôr água na fervura dos ambientes "arditi" do cursilhismo.
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O primeiro recorte que me chegou às mãos (datado de 11-11-1972) divulga uma carta à redação da revista, assinada por "unos cursillistas" anônimos da grande Arquidiocese de Burgos.
Deixa a missiva entrever, antes de tudo, que existem "tensões" em Burgos, resultantes do propósito (de quem? do Arcebispo, Mons. Segundo Garcia de Sierra y Méndez? — A carta não o diz, mas insinua) de estabelecer a "prevalência da chamada linha tradicional" sobre, a corrente inovadora.
Daí resultaram — segundo os missivistas — "numerosas transformações na Diocese, as quais parecem ter sido dirigidas em sentido tradicional, com o ânimo aparente de apaziguar uma determinada linha doutrinária". Do meio desta linguagem, cheia de subentendidos confusos, parece emergir a afirmação de que o Arcebispo deu ouvidos às preocupações de teólogos ou leigos fiéis à doutrina tradicional da Igreja, e em consequência tomou providências para exterminar nos Cursilhos uns tantos abusos contrários à boa tradição católica.
O que segue confirma esta impressão. Com efeito, os autores da missiva narram que os Cursilhos foram atingidos a fundo por várias medidas saneadoras tomadas pelo Arcebispo. Dizem eles que a renovação ordenada na Arquidiocese "custou primeiro, ao Movimento de Cursilhos, a eliminação, por sucessivas transferências, de parte de sua equipe sacerdotal (por coincidência, os mais notórios por sua tendência renovadora, segundo as diretrizes do Vaticano II). E, por fim, de seu Diretor". E continuam, gemendo, os missivistas: "Desde há dois meses esperamos em vão a nomeação de quem o substitua".
O Sr. Arcebispo de Burgos não julgou suficientes essas graves medidas. Os cursilhistas prosseguem em sua narração: "Sobreveio depois a suspensão das Escolas e Ultreyas, com grande desconcerto para esta cristandade; por último, a proibição, pelo delegado episcopal, da celebração da Eucaristia, por ser considerada ato coletivo e terem ficado suspensos tais atos, não sabemos até quando".
O mais grave está dito apenas de passagem, no fim da frase: a Arquidiocese de Burgos julgou necessário suspender todos os atos coletivos do movimento cursilhista...
Bem entendido, o grupo de unos cursillistas não aceita ser governado com tão firme autoridade. Depois de afirmar que "foi grande o desconcerto entre os cursilhistas, ao se sentirem manejados desta maneira", eles exclamam: "Não se toma em nenhuma conta o povo de Deus na hora dessas decisões? Quando começaremos a viver a Igreja pós-conciliar, ou será que isto é privilégio de algumas Dioceses?"
A carta termina grosseiramente com a insinuação de que eventualmente o Sr. Arcebispo de Burgos e a corrente tradicionalista que lhe dá apoio, optaram por essas medidas com o intuito — que não poderia ser qualificado senão de diabólico — de fazer o mal pelo mal. Dizem os missivistas: "[...] estamos vivendo dias muito amargos. Vejo desilusão, abandonos, e as crises de consciência, inclusive de fé. "Ferirei o Pastor e se dispersarão as ovelhas". É isto que se pretendia? Suponho que não. Porém, neste caso, é concebível que não se tenham previsto essas consequências? Por que negar-nos, e com que fim, uma liberdade de reunião à qual temos direito como cristãos?"
Como se vê, os missivistas "supõem", apenas, que não se pretende trucidá-los espiritualmente. Logo, consideram como admissível, em rigor de lógica, que se queira fazê-lo! Pois uma suposição tem sempre caráter condicional e admite implicitamente — se bem que com menor probabilidade —a hipótese oposta.
Antes de passar a outro comentário, permita-me o leitor uma pequena observação de passagem. Uma das frases que acabei de citar diz: "Vejo desilusão, etc.". O verbo ver está aí na primeira pessoa do singular. - Mas então é um só cursilhista que escreveu a carta, assinando, entretanto, "unos cursillistas?" Por que esse manejo dentro da zona obscura do anonimato?
A observação mais importante vem agora.
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Chamo a atenção dos meus leitores para uma peculiaridade singular da argumentação destes (ou deste?) cursilhistas. Depois de uma série de lamentações destinadas a atrair a compaixão dos leitores de "Vida Nueva", e de apresentar implicitamente o Sr. Arcebispo de Burgos e os que o apoiam, como reacionários inquisidores no sentido mais pejorativo que o anticlericalismo deu ao termo, a missiva desfechou, como vimos, com uma grave acusação contra o Prelado. A mais grave, que se lhe pode fazer: Pastor que extermina suas ovelhas.
Porém, no seu longo e prolixo arrazoado, a carta deixou cautelosamente de lado o ponto essencial.
Toda pessoa acusada injustamente deve informar-se sobre o conteúdo da acusação, e mostrar que ela carece de provas. O mais é conversa fiada.
No caso concreto, o Arcebispo parece considerar os Cursilhos como gravemente infectados de erros. Ou ele tem razão, ou não a tem. Se tem razão, os cursilhistas que efetivamente hajam sido conquistados para a Igreja pelo famoso impacto cursilhista, devem submeter-se filialmente, em lugar de entrar em estranhas e censuráveis dúvidas sobre a Fé. Se o Prelado não tem razão, assiste-lhes o direito sagrado à legítima defesa. Mas, nesse caso, estão absolutamente obrigados a esclarecer o público sobre as acusações de que foram vítimas, e a tornar patente que tais acusações carecem de provas.
Precisamente isto, os tais cursillistas evitaram cuidadosamente de fazer. E para agir de modo tão singular, devem ter lá suas razões...
O fato é que, neste espécime de apologética cursilhista, notamos três características:
a) pânico de discutir o mérito do assunto;
b) empenho em aliciar a simpatia da opinião pública, colocando o movimento cursilhista como vítima;
c) contraofensiva arbitrária e difamatória, dirigida aos que ousam apontar os erros do movimento.
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Posteriormente, chegou-me a notícia de que o presidente do Secretariado Diocesano dos Cursilhos de Burgos desmentira essas informações. Procurei então novos informes sobre o assunto. Passo a dá-los.
Com efeito, aquele organismo cursilhista redigiu uma nota, publicada por "Vida Nueva" a 16 de dezembro p.p. Tal nota visava ser um desmentido da carta anteriormente estampada na mesma revista. Na realidade, muito segundo o estilo cursilhista, a nota não desmentiu grande coisa.
Quanto à remoção de dirigentes, disse ela que um Franciscano e um Jesuíta da equipe sacerdotal diretiva foram transferidos por seus Superiores para outras cidades, nas quais estão ocupando cargos diferentes. — Em si, o fato não desmente a culpabilidade dos Sacerdotes, pois a remoção de um Religioso não tem, necessariamente, significado abonador, nem desabonador. Remove-se um Padre, tanto para destiná-lo a mais alta tarefa, quanto para afastá-lo de um cargo em que sua atuação é censurável.
A suspensão das Escolas e Ultreyas, acrescenta o comunicado cursilhista, foi feita pelo próprio Secretariado e não pela Arquidiocese. Com esta informação, o comunicado visa desmentir que a medida tenha sido tomada a título punitivo pelo Arcebispado. — Também este argumento nada conclui. Acontece frequentemente que a Autoridade diocesana, em lugar de agir diretamente contra uma associação com a qual esteja descontente, incumbe discretamente a própria direção da sociedade de tomar as medidas punitivas adequadas. Para se defender, seria indispensável que o Secretariado dos Cursilhos declarasse quais os motivos que o levaram ao fechamento das Escolas e Ultreyas. E isto, ele evitou cautamente de o fazer.
Bem analisado, o comunicado mais dá motivos para desconfiar dos Cursilhos, do que para confiar.
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Outro documento que igualmente não depõe a favor dos Cursilhos é uma carta de quatro cursilhistas, publicada na revista "Vida Nueva" do mesmo número de 16 de dezembro.
TFP PRESTA HOMENAGEM À MEMÓRIA DE DIRETOR
Por ocasião do primeiro aniversário do falecimento do Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira, transcorrido no dia 28 de dezembro último, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade prestou significativa homenagem à memória do inesquecível membro de seu Conselho Nacional, Inaugurando seu retrato na sede do referido Conselho, em São Paulo,
Além de sócios e militantes da TFP brasileira, estiveram presentes à cerimônia o pai do saudoso diretor da entidade, Sr. Martim Affonso Xavier da Silveira, o Presidente e o Vice-Presidente da Sociedade Argentina de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, Srs. Cosme Beccar Varela Hijo e Carlos F. Ibarguren Hijo, bem como representantes das TFPs chilena (no exílio), uruguaia e colombiana. Após cantos entoados pelo Coro São Pio X, da TFP, falou o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, destacando aspectos da personalidade do jovem e brilhante autor de "Frei, o Kerensky chileno". O Sr. Plinio Vidigal Xavier da Silveira agradeceu em nome da família a homenagem prestada à memória de seu irmão.
No mesmo dia, às 9 horas, por iniciativa da família de Fabio Vidigal Xavier da Silveira e da TFP, foi celebrada Missa em sufrágio de sua alma na Igreja de Nossa Senhora do Paraíso. Em todas as sedes da TFP em São Paulo foi hasteado o estandarte enlutado da entidade.
LEGENDA: Durante a homenagem, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e os Srs. Martim Afonso Xavier da Silveira, Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira e Plinio Vidigal Xavier da Silveira.
TFP DIFUNDE A PASTORAL SOBRE OS CURSILHOS
Os propagandistas da TFP oferecem a pastoral aos transeuntes e também de casa em casa (página 4)