todos esses líderes é a de "imobilismo": acusam-nos de querer impor à juventude a estabilidade de tudo quanto existe. Ou de, quando menos, só tolerar transformações de uma lentidão exasperante. Por isso os "inconformistas" — que representariam o futuro em luta contra o presente — sentem-se no dever de pôr em movimento esses líderes, mais ou menos como se poria em marcha uma tropa de azêmolas empacadas, isto é, com imprecações, chicotadas e outras sevícias. E se os líderes não se movem submissa, rápida e sorridentemente, os "inconformistas" recorrem sôfregos a outra solução: a demolição radical das lideranças.
Desencadeada a ofensiva do "inconformismo", pelas chicotadas ou pela derrubada dos líderes, deflagrado por todos os lados o bombardeio dos escândalos, a maior parte dos meios de publicidade — imprensa, rádio e TV — apoderam-se do assunto... para dar grande destaque às "proezas" dos "inconformistas". Assim, os protagonistas desse ato de agressão social tornam-se célebres. Tudo concorre para sua "glória". Os aplausos que recebem de minorias frenéticas elevam-nos, aos próprios olhos, à categoria de super-homens. As críticas da maioria "conformista" — geralmente feitas com timidez, inabilidade e pouca inteligência — servem-lhes de pretexto para aparecerem como vítimas e heróis. Passam por pessoas corajosas, que para afirmarem suas convicções enfrentam a oposição de personagens importantes.
Na revista soviética intitulada — muito caracteristicamente — "O Agitador", encontramos a seguinte frase em artigo recentemente publicado: "A chamada revolução sexual no Ocidente está debilitando os vínculos familiares e afastando numerosos tabus tradicionais nas relações entre os sexos, levando ao amor livre".
Certas pessoas acham supérflua e até antipática a palavra "propriedade" na trilogia Tradição, Família, Propriedade. Imaginam que entre a família e a propriedade não existe nexo e que podem ser fervorosas partidárias da primeira sendo ao mesmo tempo hostis à segunda.
Os comunistas não pensam assim. Para eles, família e propriedade são instituições conexas. É, pois, com muita coerência que "O Agitador" atribui a decadência moral do Ocidente à decadência da propriedade: "A erosão dos valores sociais do Ocidente, diz a revista, é causada pelo empobrecimento do princípio de propriedade privada em que se baseia a sociedade capitalista". "O Agitador" exagera, pois é claro que a principal causa da crise da moralidade no Ocidente está na crise da fé. Mas, de qualquer modo, mostra o interesse do inimigo em propagar a revolução sexual.
Sendo o homem um conjunto inseparável de espírito e matéria, e estando os valores de espírito acima dos sentidos, uma inversão desses valores escraviza os princípios morais à satisfação dos apetites sensuais. Evidentemente, à medida em que o homem vai afundando na imoralidade, a fibra moral vai agonizando até acabar por morrer. Assim, o sentido de dignidade humana, de patriotismo, de amor a ideais superiores, vai morrendo, deixando a sociedade, que se entrega à decadência moral, pronta para ser devorada por fanáticos a serviço de uma doutrina antinatural.
O democrata-cristão — exceção feita, talvez, da DC alemã — o democrata-liberal, o social-democrata (nomes diferentes que em diferentes países adotam correntes afins) têm como fundo comum uma mesma mentalidade. Trata-se, na aparência, de indecisos entre a esquerda e a direita, e, portanto, de contemporizadores teimosos de quantos conflitos ideológicos encontrem pelo caminho, e entusiastas incondicionais da paz a qualquer preço. Entretanto, erraria quem confundisse essa indecisão com neutralidade. O equilibrismo pedecista, ainda que se enuncie, geralmente, em termos de um neutralismo abstrato, quando transposto para a prática produz sistematicamente vantagens para a esquerda. É o que se observa em todas as escalas, na individual, na partidária, e até na internacional. O pedecista, sempre que quer propor a paz, sugere um acordo em que os anticomunistas cedem terreno aos comunistas. Não nos recordamos de um só caso em que se tenha dado o contrário, isto é, em que o pedecista haja recomendado aos comunistas que façam uma concessão para acalmar os anticomunistas. A indecisão pedecista termina sempre por uma ajuda para a esquerda, inclusive a esquerda mais radical.
Contudo, o adepto do demo-cristianismo manifesta-se ufano de ser um inimigo das radicalizações. Qual é a razão desta incoerência? No fundo, o pedecista é um homem dividido entre uma simpatia inconfessada, mas profunda, pelo comunismo, e uma superfície que o prende por hábitos, interesses, relações sociais, ao campo não comunista.
Então, o que faz? Trata de persuadir-se de que é neutro e procura persuadir os outros de sua neutralidade. É um neutro de fachada, um esquerdista de coração, que se trai por sua radicalidade e intransigência em face dos anticomunistas sinceros e combativos. Em resumo, o lema "ceder para não perder" caracteriza perfeitamente a mentalidade entreguista do democrata-cristão e de seus congêneres ocultos sob diferentes rótulos.
Idêntico em sua filosofia e em seus fins com o comunismo, o socialismo apresenta-se diante do burguês — aterrado com o facies sangrento do comunismo totalitário — com uma máscara de amante da ordem, sorridente, educado, prometendo a solução que os comunistas aceitarão se o Ocidente adotar a fórmula do "ceder para não perder": os burgueses devem entregar parte do pão para não perdê-lo de todo. O burguês, para ganhar um aliado sem o qual a vitória lhe parece impossível, deixa-se persuadir. E cede. Cede até com certa simpatia, seja porque sua formação teoricamente igualitária prepara-o para o socialismo, seja porque este lhe parece um protetor. Feita essa concessão, haverá um período de relativa paz.
A História recente mostra a triste evolução dos que adotaram este caminho: acabaram por perder o pão e a padaria...
Existem, infiltrados nos meios de comunicação do Ocidente, elementos que se dedicam a criar um verdadeiro estrondo publicitário em favor das minorias que estamos descrevendo. Pintam a sociedade não comunista com cores sombrias de injustiças sociais, fome, massas sedentas de vingança e lutando desesperadamente para alcançar o paraíso de justiça social que o marxismo promete ao mundo. Silenciando desavergonhadamente a realidade evidente do fracasso comunista, cobrem de louvores e de incenso os "vanguardistas" do futuro: uma minoria de intelectuais, estudantes, guerrilheiros, "mártires", "arditi" da demolição do mundo ocidental.
São perfeitamente unânimes na conspiração do silêncio que esmaga a enorme maioria da opinião pública, a enorme maioria que não se deixa enganar pela miragem revolucionária e que permanece refratária ao dilúvio propagandístico do comunismo, rejeitando a falsa panacéia.
Clausewitz, o grande teórico teutônico da guerra, enunciou o princípio de que a vitória sobre um povo não consiste sempre em destruí-lo fisicamente: às vezes basta tirar-lhe a vontade de perseverar na luta. Tal é o trabalho que cumprem eficazmente, a serviço do comunismo, as equipes minoritárias que acabamos de descrever sumariamente. Estas equipes mostram-se assustadoramente eficientes em ir liquidando as barreiras ideológicas e culturais que separam o Ocidente do comunismo.
Diante dessa descrição do processo de autodemolição do Ocidente, é preciso manter um equilíbrio sem o qual se cai no desespero. O que não teria outro efeito senão o de favorecer aqueles mesmos que estão interessados em que essa demolição se produza.
Uma análise mais pormenorizada do fenômeno mostra que os agentes do processo de destruição são sempre minorias ruidosas e prepotentes enquistadas em todos os níveis da sociedade, eclesiástico, político, econômico e social. Essas minorias, aplaudidas, insufladas, dispondo de todos os meios de propaganda a serviço da Revolução, produzem na opinião pública um estado de confusão e como que de hipnose, e a fazem acreditar que o fenômeno abarca a totalidade da sociedade. Cria-se assim, nas incontáveis pessoas que repudiam essa decadência, a sensação de se encontrarem isoladas em um mundo que se suicida.
Entretanto, a realidade é bem diferente. Parece-nos que assim como por detrás da Cortina de Ferro existe uma Igreja do Silêncio, vilipendiada, oprimida e perseguida, também deste lado há uma imensa família espiritual de silenciosos, que, postos à margem, ignorados, menosprezados, vivem na mediocridade e na penumbra. Em sua imensa maioria, esses elementos calam-se inibidos pela desenvoltura dos "vanguardeiros" e por medo dos seus sarcasmos. Contudo, do fundo de seu silêncio, opõem uma resistência discreta aos impulsos da "modernidade". Seguem, sim, as injunções desta, porém com passo de tartaruga.
Os líderes da "modernidade" fingem quase sempre não perceber esta amplíssima ação de corpo mole. Mas sentem-na, a tal ponto que vão sendo forçados a não correr, pois sabem que perderiam suas bases na opinião pública se acelerassem por demais o passo.
Precisamente nesses silenciosos que decepciona e aflige o "mundo moderno", encontramos uma esperança.
Citemos um exemplo típico da importância desses "silenciosos do Ocidente". A conhecida revista espanhola "Sábado Gráfico", de 2 de junho do ano passado, publicou uma revelação curiosa. D. Helder Câmara, o "Arcebispo vermelho" de Recife, distribuiu a todos os movimentos "proféticos" ibero-americanos um documento intitulado "A América Latina e a opção da não violência". Nele, reconhece sem rodeios os seguintes fatos:
1.o — o movimento guerrilheiro fracassou. É muito inconveniente intentar atualmente a "libertação" pela via armada;
2.o — a maioria das massas populares é insensível à pregação das doutrinas revolucionárias.
Em última análise, a Revolução moderna está parada. Parada por que, quando todos os aspectos superficiais da existência nos fazem crer que ela está andando? Obviamente, é em larga medida pela ação de corpo mole de incontáveis "silenciosos" a quem a "modernidade" impõe, de fora para dentro, características que eles rejeitam de dentro para fora.
Contudo, essa resistência passiva da maioria não será suficiente para evitar que, com a cumplicidade dos comunistas conscientes, semiconscientes ou inconscientes do Ocidente, a Rússia estenda a todo o mundo o domínio do comunismo.
Esse domínio, já o anunciou Nossa Senhora em Fátima, dizendo que, se os homens não se convertessem e não fizessem penitência, a Rússia espalharia seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons seriam martirizados, várias nações seriam aniquiladas.
O mundo rejeitou a Deus para adorar o ídolo do progresso, que o demônio lhe apresentava como a promessa de uma felicidade terrena perdurável. O demônio não cumpre o que promete, e agora os homens se veem longe da Casa do Pai e sob a ameaça da escravidão e da miséria.
"... Por fim o meu Imaculado Coração triunfará..." Animados por esta promessa, todos os homens que não curvaram a cabeça ante um ídolo com pés de barro, sentem agora, mais do que nunca, que é chegado o momento de unirem-se sob os estandartes sagrados dos ideais da civilização cristã, à espera do cumprimento da profecia de Fátima.
Era minha intenção mudar de tema no artigo de hoje. A resistência católica anticomunista, pratico-a com a consciência serena e o ânimo decidido... porém com o coração imensamente pesado! E por isto não lhe quero dar senão as proporções estritamente indispensáveis.
Contudo, sou forçado a insistir no assunto. Pois reputo altamente poluidora a recente declaração da Conferência Episcopal Chilena, divulgada pelo Cardeal Silva Henríquez, Arcebispo de Santiago. Tal poluição se estende por todos os países em que vai sendo publicada. Atingiu, pois, o Brasil. Cumpre-me resistir à poluição. Faço-o aqui, pondo os pingos nos ii.
* * *
Obviamente, só posso aprovar que a Hierarquia Chilena se oponha aos abusos que — afirma-o ela em sua declaração — estão ocorrendo: prisões arbitrárias, interrogatórios acompanhados de torturas físicas e morais, limitação dos direitos de defesa, e desigualdade nas condenações. Choca-me porém que, quando da visita de Fidel Castro a Allende, o Purpurado chileno não se tenha pejado de dar mostras de evidente simpatia ao tiranete, quando é sabido que, em matéria de direitos humanos, este foi muito além de todo e qualquer excesso praticado eventualmente por autoridades policiais do atual governo chileno.
E a pergunta inevitável salta de dentro da realidade dos fatos: por que dois pesos e duas medidas? Por que tão desempenada severidade com um governo anticomunista, e vistas tão grossas em relação ao tirano comunista?
Os amigos do Cardeal Silva Henríquez procuraram justificar a estranha conduta dele em relação a Fidel Castro alegando que não era por meio da severidade, mas da doçura, que a Igreja poderia chegar a resultados práticos na Cuba comunista. No Chile anticomunista, o método adotado pela Conferência Episcopal é diretamente oposto.
Isto torna patente que Sua Eminência e a CEC praticam a política que se exprime no detestável lema "não ter inimigos à esquerda"; o que equivale a dizer que os de direita devem ser tratados sempre como inimigos. E leva à conclusão de que o Purpurado andino e aqueles dentre os Bispos, que o seguem funcionam como linha auxiliar do Partido Comunista.
Passemos de leve sobre o fato de que Allende e seus asseclas praticaram, indiscutivelmente, as violências que o Cardeal Silva Henríquez e a CEC imputam ao atual governo chileno, sem que por isto o Presidente marxista tenha sido alvejado por declaração tão estrepitosa quanto esta, da qual hoje tratamos.
Saliento que, em matéria de direitos humanos, não existem só os das vítimas da polícia. Pela negação de direitos humanos fundamentais, como são a propriedade privada e a livre iniciativa, Allende torturou moral e materialmente, levando-o à tirania e à miséria, um povo inteiro de dez milhões de habitantes. Contra isto, nada de ponderável e útil disseram os Srs. Bispos Chilenos. Quanto ao Cardeal Silva Henríquez, apoiou Allende até o fim, e continua apoiando os seus partidários, como a TFP mostrou em sua recente declaração.
Pergunto agora: por que tanto desvelo para as vítimas, reais ou não, da polícia anticomunista, quando da parte de Sua Eminência e de S. Excias. os Srs. Bispos Chilenos, houve uma tão rotunda e solene indiferença ante a violação dos direitos humanos de um povo inteiro?
Dir-se-ia que violações de direitos só lhes doem quando as vítimas são comunistas ou suspeitas de comunismo.
E isto faz lembrar Mons. Casaroli, Secretário do Conselho para os Assuntos Públicos da Santa Sé, o qual asseverou que os católicos cubanos são perfeitamente felizes.
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Tudo isto é triste. Deixei, porém, o mais triste para o fim. Entregando à imprensa essa lamentável declaração, o Cardeal andino informou ter recebido do Vaticano um longo telegrama exortando o Episcopado a trabalhar pela reconciliação entre os chilenos. O que importa em afirmar que essa infeliz atitude da Conferência Episcopal do Chile é efeito das instruções da Santa Sé. Se assim é, sirvam estas palavras de voz para tantos católicos exímios que se calam acabrunhados...
de vida comunista. A diferença de padrão de vida entre o mundo livre e o bloco socialista é poderoso fator para impedir o sucesso da détente e, futuramente, da convergência.
Por mais que os comunistas encham o Ocidente de propaganda sobre as excelências do regime vermelho, algumas perguntas ficam de pé:
a) se esse regime fosse tão excelente, os povos que estão submetidos a ele deveriam estar satisfeitos. Estando satisfeitos, seriam favoráveis à manutenção do estado de coisas vigente. Logo, seria fácil fazer dentro da Cortina de Ferro, com cobertura de jornalistas do mundo inteiro, eleições livres que dessem uma vitória esmagadora ao comunismo. Se os comunistas não as fazem, o mínimo que se pode dizer é que estão inseguros da vitória. Haveria golpe publicitário maior do que esse? Jornais de todos os países, publicando em manchete: "Eleições livres confirmam por grande maioria o comunismo na Rússia", desmoralizariam o anticomunismo no Ocidente. Por que os comunistas não fazem uma eleição assim? A resposta parece evidente;
b) por que manter uma cortina de ferro circunscrevendo os povos do mundo comunista? No Ocidente, nada é mais fácil do que viajar, mudar de residência de um país para outro. Os governos ocidentais não temem o êxodo em massa de sua população, embora ninguém diga que as condições aqui são paradisíacas. Por que o Muro de Berlim é cada vez mais reforçado? Por que se multiplicam as fugas heroicas através da Cortina de Ferro? O homem médio, por mais que se lhe deem argumentos, estatísticas e cifras, não pode crer que um regime que aprisiona seus súditos possa ser melhor do que outro que os deixa livres;
c) repugna ao homem ocidental e cristão, pelos vestígios de respeito à ordem natural que ainda conserva, o viver debaixo de um regime militantemente ateu, contrário à propriedade e à família. Um bom senso milenar barra o avanço comunista nas mentes.
Essas três razões, embora não sejam as mais altas, têm influência mesmo sobre os comunistas de base, no Ocidente, para impedir a conquista deste pelo marxismo. É evidente que ponderáveis setores do mundo livre a elas acrescentam as superiores razões da moral e da fé, para se oporem ao marxismo.
Para diminuir a diferença de padrão de vida entre Leste e Oeste, nada melhor do que os polpudos donativos (rotulados de empréstimos) que este faz à Rússia, a invasão dos mercados ocidentais por produtos de origem comunista e, acima de tudo, a crise econômica que ronda o mundo livre, provocada pelo embargo do petróleo árabe, pelo aumento exorbitante dos preços de matérias primas e pela agitação sindical (como a que vimos há pouco na Inglaterra) , e insuflada pelos comunistas.
Esta crise econômica, cuja força motriz está no Cremlin — que instiga o embargo árabe e a agitação sindical — poderá acarretar uma baixa do nível de vida do Ocidente, com consequências, ainda não bem definidas, mas de qualquer forma apocalípticas, para a vida dos indivíduos.
"Finlandizada" a Europa, e consequentemente arruinada, nada impedirá que a América Latina e o que resta de sadio na Ásia, África e Oceania sigam o mesmo caminho. Os Estados Unidos, isolados, não poderão manter-se imunes a uma crise econômica que, hoje mesmo, já os faz estremecer.
Chegará então a hora de os comunistas dizerem que estão progredindo, que não sofrem crises econômicas e que a sociedade soviética vive em inteira tranquilidade.
Ainda mais. No Leste, os dirigentes vermelhos poderão dizer ao povo descontente: "Vejam a sociedade capitalista. Está empobrecendo cada vez mais. O espectro da miséria a ronda. As agitações, os descontentamentos estão num crescendo. É isso o que vocês desejam?"
Nesse momento a Cortina de Ferro poderá começar a entreabrir-se, e o mundo inteiro adquirirá maior velocidade na marcha rumo à sociedade comunista.
A derrocada do mundo ocidental é fato patente. Em todos os campos vê-se a retração do anticomunismo e o avanço do comunismo.
O mais grave, o mais espantoso, não está em que a Rússia faça todo esse jogo. É natural que ela o faça, posto que está submetida à ideologia marxista.
O mais grave é a conivência de certas cúpulas ocidentais e, mais ainda, o fato de setores ponderáveis da opinião pública se manifestarem tão entorpecidos, tão deteriorados, tão impotentes, a ponto de não se erguerem numa recusa indignada contra as manobras soviéticas.
Em todos esses desastres, é preciso reconhecer os efeitos da ação de Nixon. A sua ida a Moscou e Pequim e a visita que lhe fez Brezhnev em Washington, as fabulosas vantagens que sob o impulso dele a Rússia tem recebido da iniciativa privada norte-americana e europeia, e a afirmação, repetida ad nauseam, de que cessou a guerra fria por obra do Presidente norte-americano, tudo isso lançou a opinião pública mundial num marasmo. Por sua vez, este marasmo, feito de apreensões e esperanças que mutuamente se neutralizam, desalenta para a reflexão e para a luta. E, assim, o Ocidente vai sendo preparado para aceitar — entre otimista e estupefato — tudo o que possa sobrevir.
Na raiz desta série de catástrofes está a política do Presidente norte-americano.
Dele a História dirá talvez um dia, parafraseando amargamente o dito de Churchill, que "nunca tantos sofreram tanto mal por parte de um homem só".
PRIMEIRO ENIGMA. Todo o "establishment" do Ocidente diz ter como sagrado o respeito à liberdade humana.
É baseado nesse respeito que numerosos governos ocidentais têm atacado duramente a África do Sul, a Rodésia, Portugal e a Espanha.
Entretanto, esses mesmos governos têm atitude contrária no que se refere aos regimes comunistas, que não reconhecem as liberdades públicas apesar da crescente oposição que encontram em extensas camadas de seus próprios povos.
A coerência pediria a esses defensores da liberdade humana que tivessem simpatia para com os movimentos dissidentes na Rússia e países cativos, pois estes defendem posições semelhantes às defendidas pelo chamado "establishment" ocidental. Tal não se dá. Na prática, este último é favorável à escandalosa política de apoio que governos de aquém Cortina de Ferro dispensam ao bloco comunista, presenteando-lhe (esse é o termo) "know-how", capitais e trigo. Essa atitude contribui para consolidar os regimes que pisoteiam as liberdades públicas e perseguem os grupos de oposição religiosa e civil. Por que não se exige em troca da ajuda econômica a liberalização do regime? Por que se aceita o aumento da repressão?
SEGUNDO ENIGMA. A NATO publicou vários documentos mostrando a desproporção entre seu armamento e suas tropas, e os do Pacto de Varsóvia. Num deles se diz que, com, o apoio dos mísseis SAM-6, as forças soviéticas poderiam chegar ao Reno em apenas quatro dias. Ora, a política da coexistência pacífica e sua sucedânea, a "détente", se baseiam na doutrina estratégica segundo a qual ainda é possível, na era nuclear, haver confrontos militares com armamentos convencionais. Daí ser necessária a paridade no campo militar convencional.
A própria natureza do conflito, pela sua duração e flexibilidade, permitiria aos supergrandes acionarem os instrumentos políticos para se chegar à paz. Com o forte pender da balança para os soviéticos no que toca aos armamentos convencionais, tal doutrina deixa de ser aplicável, pelo menos na Europa, e o vai deixando de ser no mundo inteiro. Diante de uma guerra convencional, os Estados Unidos ver-se-iam na alternativa da capitulação total ou do bombardeio atômico.
Assim, a "détente", em lugar de assegurar a paz, coloca o mundo diante de um dilema apocalíptico.
TERCEIRO ENIGMA. Está provado que o Ocidente tem imensas reservas de petróleo, gás e carvão. Só nos Estados Unidos, segundo a "United States Geological Survey", há 2.900 bilhões de barris de petróleo e 6.600 trilhões de pés cúbicos de gás, em jazidas identificadas.
Por que buscar petróleo na Sibéria comunista a um custo muito maior e sem provas de que ele realmente exista em níveis compensadores? É para colocar a economia ocidental na dependência da Rússia? O boicote árabe já provocou um estremecimento no mundo livre. Que acontecerá quando ao boicote árabe se somar o boicote russo? Quais serão as exigências dos soviéticos para levantar o embargo? O Ocidente, tão orgulhoso de suas liberdades, coloca livremente o pescoço de sua vida econômica na guilhotina russa.
QUARTO ENIGMA. É fato notório que o regime comunista produz miséria. Veja-se o Chile de Allende, onde o clamor das classes populares levou à intervenção das Forças Armadas; veja-se a Cuba de Castro, a Rússia de Brezhnev, com sua voracidade pela tecnologia, pelos capitais e pelo trigo ocidentais.
O burguês desenvolvimentista argumenta que é necessário, cada vez mais, aumentar a riqueza: nada de ideologias, o importante é fazer negócios e ganhar dinheiro. Assim, ele é favorável a um comércio sempre mais intenso com os países comunistas. Com isso, ele consolida o regime que produz miséria e o transforma numa ameaça mais terrível para o mundo livre.
Por que este suicídio?
QUINTO ENIGMA. Um dos fatores que freiam o desenvolvimento dos países pobres é a carência de capitais. Há várias nações do bloco ocidental que necessitam urgentemente de elevar o padrão de vida de suas populações. Por que os Estados Unidos negam auxílio a esses povos e dão-no ao inimigo, que o utilizará contra o doador? Porque este desprezo em relação ao amigo e essa consideração para com o inimigo?
SEXTO ENIGMA. Líderes ocidentais enchem as páginas dos jornais com advertências sobre o desemprego. Entretanto, esses mesmos líderes promovem o envio maciço de capitais para além Cortina de Ferro, construindo lá fábricas que poderiam dar trabalho a milhares de operários no Ocidente e elevar o nível de vida de nossas populações. Lamentam o desemprego em declarações e o propiciam na prática. Por quê?
SÉTIMO ENIGMA. Uma das mais justas preocupações que deveriam ter os governos ocidentais é a da proteção à classe operária. Entretanto, as fábricas construídas no Leste comunista, sob o bafejo desses governos, com capital e tecnologia ocidentais, deverão enviar seus produtos para o mundo livre, concorrendo com o parque industrial das nações não comunistas.
Tal concorrência poderá provocar deste lado da Cortina de Ferro a diminuição da produção, o desemprego e o envio para os países comunistas de capitais que deveriam ficar no Ocidente. Para aqueles que argumentam que é necessário que nossos produtos tenham um preço competitivo, é bom lembrar que nos países comunistas não há dois fatores que oneram o produto ocidental: mão-de-obra cara (trabalho escravo) e greves (regime policial).
Por que tais governos se mostram favoráveis a uma política que ameaça sua economia?
O governo polonês no Exílio, sediado em Londres, conferiu ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a comenda da Grã-Cruz da Ordem da Polônia Restituta. Instituída em 1921 — após a brilhante vitória do Marechal Pilsudski sobre a Rússia soviética, que possibilitou a restauração do Estado polonês — é a mais alta condecoração daquele governo para civis, sendo atualmente conferida às personalidades que se distinguem na luta contra o comunismo.
A comenda foi entregue ao Presidente do Conselho Nacional da TFP pelo Coronel-Aviador Tomasz Rzyski, Ministro de Assuntos Sociais do Governo Polonês no Exílio, em cerimônia realizada no dia 14 de abril no auditório do Othon Palace Hotel, em São Paulo, perante numeroso público. Estavam presentes sócios e militantes da TFP de diversos Estados, membros das congêneres argentina, chilena, colombiana, equatoriana, uruguaia e norte-americana, bem como delegações das colônias croata, húngara, letoniana, lituana, polonesa e ucraniana, representando as nações subjugadas pelo comunismo, além de numerosos amigos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.
Ao impor a Grã-Cruz ao agraciado, o Ministro Tomasz Rzyski afirmou que ele a merecera por seus especiais méritos e virtudes, particularmente por ser "famoso líder anticomunista, conhecido escritor e publicista, excelente professor e educador da juventude brasileira, católico exemplar e defensor da Polônia livre". O Coronel Rzyski salientou a admirável atuação da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, presidida pelo homenageado.
Agradecendo ao Presidente da Polônia livre, Conde Julius Sokolniki, a distinção recebida, o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou que "a Polônia pode estar jogada no chão pelo conluio traidor que a entregou ao adversário, a Polônia pode estar pisada, mas não está morta, porque quem fala não está morto. E a Polônia fala pelos seus filhos que gemem. A Polônia está viva; ela vai ressurgir".
Salientando que onde houver um coração católico tem que haver uma ressonância de gratidão e admiração pela Polônia, o homenageado prosseguiu, dirigindo-se ao Ministro Tomasz Rzyski: "A presente comenda, em meu peito, representa um ato de fidelidade à vossa pátria; em meus lábios, um hino de amor à vossa causa; em minha alma de católico, uma esperança firmíssima de que Deus restituirá à Polônia sua plena liberdade".
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira concluiu frisando que as TFPs — que se estendem por toda a América e já lançam raízes no Velho Continente — constituem atualmente "uma cruzada mundial a favor da luta de todos os povos contra o inimigo da Fé".