A este propósito, lembram os observadores que em Formosa os católicos gozam da mais inteira liberdade religiosa. Assim, em torno dos antigos santuários marianos da Ilha se vêm realizando manifestações de fé que atraem consideráveis massas de católicos. Tanto na Igreja da Imaculada Conceição, a mais antiga da Ilha, quanto na Catedral de Taipé, por exemplo, grandes manifestações marianas se têm realizado recentemente, com fervorosa participação dos fiéis.
A certos observadores custa compreender por que, então, a Santa Sé mantém afastado seu Núncio de Taipé. Consideram estes observadores difícil evitar a impressão de que essa atitude do Vaticano se deve ao desejo de atrair a simpatia da China vermelha.
Essa penosa impressão parece encontrar consonância nas visitas, sempre mais frequentes, e de óbvio efeito distensivo, que altos dignitários vaticanos vêm fazendo a países comunistas. Assim, a viagem de S. Excia., Mons. Casaroli a Cuba, com os concomitantes contatos com Fidel Castro, ou a ida do Emmo. Cardeal Rossi a Berlim Oriental para comemorar o bicentenário da Catedral de Santa Edwiges, ou ainda a visita de S. Emcia. o Cardeal Siri, Arcebispo de Gênova, à União Soviética. Essa última visita, é verdade, tem mero objetivo de turismo, segundo afirmou porta-voz da Cúria genovesa...
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Para falar mais uma vez — e espero que esta seja a última — da visita de Mons. Casaroli a Cuba, devo informar os leitores que o Sr. Federico Alessandrini, Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, atendendo a pedido meu, teve a gentileza de me enviar o texto da nota que distribuiu à imprensa contendo o desmentido das afirmações feitas por Mons. Casaroli sobre a situação dos católicos na Ilha.
Como se lembram os leitores, as assertivas do Prelado foram feitas a agências telegráficas internacionais, que por sua vez as distribuíram a jornais do Brasil, Argentina e outros países. E nelas se baseou em parte a Declaração de Resistência da TFP.
À vista desse desmentido, a TFP publicou nota à qual nada tem que retirar ou acrescentar, depois de lido o texto enviado pelo Sr. Alessandrini.
Contudo, tendo o documento deste último em mãos, é-nos grato elogiar, num ponto, a atitude do Secretário do Conselho para Assuntos Públicos do Vaticano. Mons. Casaroli, como no documento se vê, teve ciência de nossa Declaração de Resistência. E só lhe fez objeção quanto às assertivas que lhe foram pessoalmente atribuídas sobre Cuba. Ao mesmo tempo, foi bastante justo e objetivo para nada dizer contra nossa Resistência em si mesma considerada. Esse silêncio seria muito pouco provável, ou até inconcebível, caso Mons. Casaroli considerasse que, em nossa atitude, algo há de reprovável do ponto de vista da doutrina católica ou do direito canônico.
Quanto nos é mais grato aplaudir S. Excia., do que dele discordar!
Ao quinto argumento responde-se que o convívio dos pecadores deve ser evitado pelos fracos, pois constitui para estes perigo iminente o deixarem-se corromper. Quanto aos perfeitos (13), entretanto, cuja queda não é de se temer, é louvável que mantenham contato com os pecadores, para os converter. Assim, o Senhor comia e bebia com os pecadores segundo São Mateus 9, 10-11. — Entretanto, o convívio dos pecadores deve ser evitado por todos, desde que signifique participação no pecado. Assim, está escrito em II Cor. 6, 17: "Retirai-vos do meio deles, e não toqueis no imundo", ou seja, a conformidade com o pecado (14).
13) — "Enfermo" ou "fraco" é aqui o homem que por motivos especiais é particularmente sujeito ao pecado, e para quem constitui ocasião próxima o que para o comum das pessoas não o é. "Perfeito" é quem está em tal grau de virtude que arrosta obstáculos maiores que os do homem comum.
Em princípio, ninguém pode expor-se voluntariamente a ocasião próxima de pecado. E se em circunstâncias muito excepcionais uma pessoa reputada — não por si mesma, mas por um prudente diretor — especialmente forte arrosta riscos invulgares, é porque, no fundo, para ela a ocasião de pecado não é próxima.
14) — Deve-se evitar o convívio de pessoas de má vida, de costumes depravados, a frequentação de lugares indecentes, pois nisto vai para quase todos uma ocasião próxima de pecado, e para todos uma coonestação do mal, e um escândalo para os bons.
Estas orações do Antigo Testamento são muito adequadas para se rezar pela Cristandade em nossos dias. As três primeiras, do livro de Judith, constituem a súplica dos judeus, sitiados por Holofernes, a prece de Judith, pedindo forças para salvar seu povo, e sua ação de graças, após o êxito de sua missão. As duas últimas são a oração de Mardoqueu pela salvação dos Judeus e a de Ester, quando ia pedir ao Rei Assuero que poupasse o povo eleito. — Tradução do Pe. Antonio Pereira de Figueiredo, com pequena adaptação ao uso da piedade mais recente.
Nós pecamos com os nossos pais, obramos injustamente, cometemos iniquidades. Vós, que sois piedoso, compadecei-Vos de nós, ou com o vosso flagelo castigai as nossas iniquidades, e não entregueis os que Vos bendizem a um povo que Vos não conhece, para que não digam entre as nações: onde está o seu Deus?
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Lançai agora os olhos sobre o campo dos assírios, bem como noutro tempo Vos dignastes lançá-los sobre o campo dos egípcios, quando armados corriam atrás dos vossos servos, fiando-se nas suas carroças e na sua cavalaria, e na multidão dos soldados. Vós, porém, lançastes os olhos sobre o seu campo, e as trevas os cansaram. O abismo reteve os seus pés e as águas os cobriram. Assim pereçam também, Senhor, estes, que confiam na sua multidão, e se gloriam nas suas carroças, e nos dardos, e nos escudos, e nas suas flechas e lanças, e que não sabem que Vós mesmo sois o nosso Deus, que desfazeis as guerras desde o princípio, e que o vosso nome é o Senhor. Levantai o vosso braço como desde o princípio, e com a vossa força quebrai a sua fortaleza; pela vossa ira caia a força destes que se prometem violar o vosso santuário, e profanar o tabernáculo do vosso nome, e derrubar com a espada a majestade do vosso altar. Fazei, Senhor, que a sua soberba seja cortada pela própria espada. Dai-me constância no coração para eu o desprezar, e fortaleza para o perder. Porque o vosso poder, Senhor, não está na multidão, nem Vós Vos comprazeis na força dos cavalos, nem desde o princípio Vos agradaram os soberbos; mas sempre Vos agradou a súplica dos humildes e dos mansos. Deus dos céus, Criador das águas, e Senhor de todo o criado, ouvi a esta miserável que Vos suplica e que presume da vossa misericórdia. Lembrai-Vos, Senhor, do vosso pacto, e ponde as palavras na minha boca, e fortificai a resolução do meu coração, para que a vossa casa permaneça em Vos santificar, e todas as nações conheçam que Vós sois Deus, e que não há outro senão Vós.
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Cantemos um hino ao Senhor, cantemos um novo hino ao nosso Deus. Adonai, Senhor, Vós sois grande, e esclarecido pela vossa fortaleza, e a Quem ninguém pode vencer. Todas as vossas criaturas Vos obedeçam, porque Vós falastes e foram feitas, Vós mandastes o vosso espírito e foram criadas, e não há quem resista à vossa voz. Os montes desde os fundamentos serão abalados com as águas; os penhascos, como a cera, se derreterão diante da vossa face. Porém aqueles que Vos temem serão grandes diante de Vós em todas as coisas. Desgraçada a nação que se levantar contra o meu povo, porque o Senhor todo-poderoso se vingará dela e a visitará no dia do juízo. Ele fará vir sobre suas carnes o fogo e os bichos, para serem queimados e para sentirem eternamente.
JUDITH 7, 19-21; 9, 6-19; 16, 15-21.
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Senhor, Senhor, Rei Onipotente, porque no vosso poder estão postas todas as coisas, e não há quem possa resistir à vossa vontade, se tendes determinado salvar Israel. Vós fizestes o Céu e a terra, e tudo quanto se contém no âmbito do Céu. Vós sois Senhor de todas as coisas; e não há quem resista à vossa majestade. Vós tudo conheceis, e sabeis que não por soberba nem por desprezo, nem por alguma cobiça de glória, tenho feito isto, de não adorar ao altivo Aman (porque pela salvação de Israel pronto estaria a beijar com gosto os vestígios das suas pisadas), mas temi trasladar para um homem a honra de meu Deus, e adorar a outro algum que não fosse o meu Deus. E agora Vós, ó Senhor Rei, Deus de Abraão, tende misericórdia do vosso povo, porque nossos inimigos querem acabar e destruir a vossa herança. Não desprezeis a vossa porção, que para Vós resgatastes do Egito. Escutai os meus rogos, e mostrai-Vos propício à vossa sorte e herança, e mudai o nosso pranto em gozo, para que vivendo louvemos, Senhor, o vosso nome, e não fecheis a boca dos que Vos louvam.
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Meu Senhor, Vós que só sois nosso Rei, socorrei-me a mim desamparada, e que não tenho outro favorecedor fora de Vós. O meu perigo está nas minhas mãos. Eu ouvi contar a meu pai como Vós, ó Senhor, tomastes a Israel dentre todas as nações, e a nossos pais dentre todos os seus maiores que haviam sido antes, para os possuirdes por herança eterna, e obrastes com eles assim como o havíeis prometido. Pecamos em vossa presença, e por isso nos entregastes nas mãos de nossos inimigos; porque temos adorado os seus deuses. Justo sois, ó Senhor. E agora não se contentam só com oprimir-nos com uma escravidão muito dura, senão que, atribuindo ao poder dos seus ídolos a força das suas mãos, pretendem transtornar as vossas promessas, e destruir a vossa herança, e fechar as bocas dos que Vos louvam, e extinguir a glória do vosso templo e do vosso altar, para abrir a boca dos gentios, e que louvem o poder dos seus ídolos, e engrandeçam para sempre a um Rei mortal. Não entregueis, Senhor, o vosso cetro àqueles que não são nada, para que não escarneçam da nossa ruína; mas voltai contra eles os seus desígnios e destruí aquele que tem começado a ser cruel contra nós. Lembrai-Vos de nós, Senhor, e mostrai-nos a vossa face no tempo da nossa tribulação, e dai-me força, Senhor Rei dos deuses e de todas as potestades; e livrai-nos com a vossa mão, e socorrei-me, que não tenho outro auxílio senão a Vós, Senhor, que conheceis todas as coisas, Deus forte sobre todos, ouvi a voz daqueles que não têm nenhuma outra esperança, e livrai-nos da mão dos iníquos, e livrai-me do meu temor.
ESTER 13, 9-17; 14, 3-12, 14, 19.
Revmo. Pe. Armindo R. Machado, Belo Horizonte (MG): "Faço votos pela felicidade pessoal de Vossa Reverendíssima e pelo êxito sempre crescente de CATOLICISMO.
O fim desta é congratular-me com Vossa Reverendíssima e com todos aqueles que fazem esse bravo jornal.
Os dois números que trazem as entrevistas sobre a "situação política e social do Chile, em setembro do ano passado, estão maravilhosos. Esses números trazem, talvez, o maior e melhor documentário da derrocada marxista no país amigo.
Com relação ao noticiário que foi publicado, digo-lhe, Monsenhor, que, para mim, não houve muita surpresa, eu já vinha acompanhando a omissão do Episcopado e, consequentemente, do Clero, no processo de comunização do país. Foi uma vergonha.
Aproveitando a oportunidade que se me oferece, peço-lhe, Monsenhor, que apresente ao autêntico, virtuoso, valoroso e culto Bispo de Campos a minha simpatia pela sua pessoa. Deus o ilumine e guarde.
[...] Um jornal assim me entusiasma.
Invocando as luzes do Divino Espírito para Vossa Reverendíssima e para a equipe do seu jornal, apresento-lhe meus protestos de admiração e de muita estima".
Sr. Antonio de Oliveira Campos, São Paulo (SP): "Outro de conteúdo religioso e contra-revolucionário, como o CATOLICISMO, não existe; portanto, a existência desse jornal, cuja leitura é muito agradável, torna-se extremamente necessária e abençoada".
Sr. José Gomes Cardoso, Avaré (SP): "Jornal notável pela defesa intransigente de seus princípios e pelas verdades candentes que publica".
Sr. Djair Brindeiro, Recife (PE): "Parabéns efusivos merece o órgão ímpar por todos os títulos, da Imprensa Católica Brasileira CATOLICISMO, e seus colaboradores".
Da. Maria Ieda Salles de Carvalho Costa, Petrolândia (PE): "Tive oportunidade de conhecer o jornal CATOLICISMO, por intermédio de uns universitários. Encontrei no mesmo uma fabulosa fonte de pesquisas. Uma vez que sou estudante de Filosofia, será muito importante para os meus trabalhos.
Gostaria de ser incluída na relação dos assinantes e saber ainda como deverei efetuar o pagamento de uma assinatura anual".
Sr. Aécio Speck Neves, Florianópolis (SC): "Os números chegam com muito atraso!
Na oportunidade, apresento meus sinceros parabéns a CATOLICISMO e todos que nele, e por ele, trabalham, pelo alto nível do mesmo, e seus dignos (e heroicos, hoje em dia) objetivos.
Mais artigos sobre a obra de Portugal em África são indispensáveis! ! Ninguém mais os publica!"
Sr. Gerson Souza Carvalho, Fortaleza (CE): "Estou satisfeito com CATOLICISMO. É um jornal, sem dúvida, necessário. Impõe-se, no tempo atual, uma luta constante, corajosa e perseverante, de esclarecimento e de advertência sobre o comunismo destruidor, para evitar o mal que ele traria à humanidade. Congratulo-me com V. Sas. pelo trabalho empenhado neste sentido".
Sr. Pedro de Menezes Cruz, Fortaleza (CE): "[CATOLICISMO], paladino da Verdade, mas encontrando tapados os ouvidos de muitos dos que governam a Igreja, que tomaram rumo diferente, para atualizar, e não querem considerar os que opinam de modo diferente, pela permanência das coisas nobres, belas e boas que a Tradição nos legou".
Sr. Manoel Francisco da Conceição Jardim, Rio de Janeiro (GB): "Dada a matéria que insere o destemido jornal, de combate aos desmandos que se instalaram na Santa Igreja, não é de admirar que seus inimigos o sabotem bem como a sua entrega".
Homero Barradas
Ao longo dos pesados e dolorosos anos em que as autoridades da Santa Sé vêm seguindo sua política de aproximação com os governos comunistas, nenhuma justificativa consistente tem sido oferecida ao mundo católico, para fundamentar tal atitude. Pelo contrário, o caminho escolhido pela diplomacia do Vaticano está, todo ele, calçado de evasivas e até de contradições.
A explicação que se tem dado em todas as ocasiões, em todos os lugares e em todos os escalões da Hierarquia, para essa cascata de concessões ao comunismo, tem sido a repetição do som de uma só tecla: a "Ostpolitik" do Vaticano, que agora também se estende ao Ocidente, incluindo Cuba, destina-se a atender aos anseios dos católicos oprimidos pelos regimes comunistas e a conseguir, para eles, mais liberdade na prática da Religião.
Entretanto, além de não se provar que de fato os católicos oprimidos queiram essa aproximação, há sérios indícios de que as concessões aos seus opressores só os têm desencantado. E mais ainda: essa singular aproximação só tem conseguido das autoridades comunistas que elas aceitem a nomeação, para as Dioceses vagas, de Bispos... fiéis aos governos opressores.
A libertação do Cardeal Slipyj, obtida de Kruchev por João XXIII, seria o sinal esperado pelo Vaticano, para atirar-se aos braços do urso. Mons. Johannes Willebrands foi a Moscou, para encontrar-se com o Metropolita de Lviv, libertado por tão alto preço, e trazê-lo para Roma. Mas, para surpresa sua, o Prelado mártir não queria senão voltar para junto de seu rebanho, na Ucrânia, e correr o risco de uma nova prisão. Só a muito custo o enviado papal conseguiu convencer o Metropolita (ou intimá-lo, quem sabe?) a sair da Rússia soviética.
Agora, por ocasião da destituição do Cardeal Mindszenty, este enumerou ao jornalista Lajos Lederer, de "The London Observer", os motivos pelos quais discorda da política do Vaticano para com seu país: 1 — a Igreja não é livre na Hungria; 2 — a designação dos ocupantes de cargos eclesiásticos é feita pelo regime comunista; 3 — a garantia, dada pelo governo, de liberdade de ensino religioso e de consciência, na prática não é levada em conta; 4 — as crianças e os jovens recebem uma educação marxista e ateia; 5 — a designação de vários "Padres da paz" para importantes cargos eclesiásticos abala a confiança dos fiéis na liderança da Hierarquia Católica Húngara. Federico Alessandrini, porta-voz do Vaticano, em suas numerosas entrevistas à imprensa, não ousou desmentir o Cardeal.
Na Lituânia, em 1972, 17 mil fiéis assinaram um manifesto protestando contra a perseguição religiosa. O Episcopado lançou uma Pastoral acusando os promotores do manifesto de destruírem a unidade da Igreja. Um grupo de Sacerdotes fiéis refutou, em carta, a Pastoral dos Bispos, denunciando a completa submissão do Episcopado ao governo comunista. Entre outras coisas arguiram: 1 — a Pastoral coletiva foi escrita segundo as diretrizes, de Rugienis Orloy, delegado de Moscou para os negócios do culto; 2 — a sujeição absoluta dos Bispos ao governo civil, na designação de Párocos; 3 — o engano da política do Vaticano: todos aqueles a quem se conferiu, nos últimos tempos, o Episcopado, são colaboradores do governo. As autoridades comunistas chamam Mons. Kriksciunas e Mons. Povilonis de "nossos Bispos".
Eis aí apenas alguns dos muitos exemplos que se poderiam catalogar. Os comunistas, ao contrário, têm conseguido com a política do Vaticano uma inapreciável vantagem: o amolecimento de enormes setores da opinião católica na luta contra sua incansável e onipresente ofensiva ateia e igualitária.
O novo presidente francês, Valéry Giscard d'Estaing, aproveitou-se largamente, na campanha eleitoral, de sua figura distinta, de seus modos refinados e até do aristocrático "de", acrescentado ao nome de seus antepassados recentes. É verdade que cometeu algumas inabilidades, como a de receber o embaixador soviético, em plena campanha eleitoral, mas, no conjunto, apresentou-se ao povo francês como um membro da alta burguesia, com aspirações aristocráticas.
Já nas cerimônias de sua posse, foram eliminadas importantes tradições protocolares, sacrificadas a simplificações carentes de bom tom. Entretanto, o que nos interessa focalizar neste comentário é o seu comportamento pré-eleitoral.
Seu opositor socialista, François Mitterrand, apoiado pelo Partido Comunista, não teve, como se poderia esperar, uma atuação demagógica. É verdade que defendeu algumas teses esquerdistas; sua posição o obrigava a isso. Mas, cuidadosamente, fez-se passar por moderado. Seu comitê eleitoral chegou até a protestar contra a interferência russa na campanha de Giscard d'Estaing.
Houve comentaristas que apresentaram esses fatos como estranhos e até contraditórios. Mas eles fizeram questão de não investigar as causas do que lhes despertava estranheza.
Na verdade, dois candidatos em campanha eleitoral ferrenha não tomam atitudes de pura excentricidade. Eles tinham uma razão para escolherem a imagem com que se apresentaram. Sabiam que o povo francês, em larga medida, permanece conservador e aborrece as manifestações revolucionárias em matéria política. Tanto que, apesar da aparência moderada de Mitterrand e da falência do gaullismo, escolheu o elegante Giscard d'Estaing.
A revolução de 25 de abril foi feita, em Portugal, em nome da liberdade e da democracia. As primeiras medidas da Junta de Salvação Nacional revelaram o desejo de uma indiscriminada liberalização. Proclamou-se a anistia, abriram-se as portas do país para os exilados políticos, prometeu-se resolver o problema dos territórios ultramarinos.
Entretanto, não foram democratas os primeiros a se destacarem no novo cenário político português: foram os esquerdistas. Álvaro Cunhal, chefe comunista, veio imediatamente de Moscou, onde residia. Mário Soares, líder socialista, reapareceu e passou a ocupar as manchetes dos jornais. Os esquerdistas ganharam as ruas; começaram as passeatas, os comícios, a ocupação de jornais, estações de rádio, empresas e repartições. A baderna instalou-se rapidamente.
Uma epidemia de greves e uma inflação galopante já lembram o Chile de Allende e fazem o povo irmão sentir os primeiros sinais da carestia e da falta de alimentos.
A Junta constituiu um governo provisório e promulgou a institucionalização provisória do país, até que seja concluído o trabalho da Assembleia Constituinte que deverá ser eleita em 31 de março de 1975.
A revolução que se fez em nome do povo formou um governo em boa parte contrário às tradições católicas desse mesmo povo: nele se contam, em postos-chave, quatro socialistas e dois comunistas.
Esse governo é o que vai preparar a lei eleitoral, a organização dos partidos, as eleições para a Constituinte. Pode-se esperar uma verdadeira representação popular nessa assembleia?
Por outro lado, é sabido que os comunistas, depois de se enquistarem no poder, dele não saem, a não ser pela força, e costumam manobrar com refinada astúcia para se livrarem de seus companheiros não marxistas. O exemplo da Checoslováquia, em 1948, está aí, para quem dele quiser tirar uma lição.
O povo português está apático e perplexo ante a revolução que se propõe salvá-lo. As manifestações de satisfação que certa imprensa tem noticiado com estardalhaço se resumem em arruaças da esquerda festiva.
A primeira manifestação popular verdadeiramente significativa que se registrou após o 25 de abril — e que a imprensa noticiou com estranha discrição — foi uma grande reafirmação de fé religiosa e de esperança na Virgem Maria: a comemoração do 13 de maio, em Fátima, que reuniu um milhão de fiéis. A esta manifestação não acorreu nenhum representante do novo governo. Teria sido uma excelente oportunidade para ele auscultar o verdadeiro povo português, que é autenticamente católico e, pois, hostil a toda forma de comunismo.
O problema dos territórios ultramarinos está difícil de resolver. Todos sabem — e a Junta também — que os guerrilheiros só ficarão satisfeitos se esses territórios forem
Valéry Giscard d'Estaing e a esposa cumprimentam a Rainha Elizabeth, quando da visita da Soberana inglesa à França, em 1972. O novo Presidente francês procurou atrair o eleitorado com seu modo de ser de inspiração aristocrática.
Terá o General Spínola (à esquerda) aceito o papel de Kerensky português?