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30 dias em revista...

(continuação)

entregues a governos locais, manobrados por Moscou ou Pequim. Mas as populações luso-africanas não querem saber disso e já o disseram em diversas ocasiões.

Haveria até o perigo de que elas, vendo o governo da Metrópole sujeito a influências esquerdistas, tomassem a iniciativa de, em defesa de sua fé, da civilização e da própria lusitanidade, romperem com Lisboa e proclamarem sua independência, formando governos anticomunistas.

E não seria o primeiro gesto desses, na história de Portugal. No século XVII, temendo os pernambucanos que D. João IV cedesse a pressões palacianas e entregasse o Nordeste ao holandês calvinista, escreveram-lhe protestando fidelidade, mas advertindo-o de que, numa hipótese dessas, expulsariam o herege e convidariam um Príncipe católico a cingir a coroa do Brasil.

Uma independência destas não interessa à Comissão de Descolonização da ONU, nem a Moscou, nem à máfia comuno-progressista internacional. Eles a chamam, pejorativamente, de unilateral. Mas a independência do Brasil, dos Estados Unidos e de toda a América hispânica, que tanto aplaudem, não foi unilateral?

O certo é que, prevendo esse desfecho, o General Costa Gomes apressou-se em visitar Angola e Moçambique, para assegurar à Junta o apoio das guarnições locais.

Em tudo isso, permanece enigmática a figura do General Spínola. Em seu alardeado livro "Portugal e o futuro" — cuja publicação foi a senha para o desencadeamento do atual processo político do país — ele mostrava preocupação em evitar que o comunismo se aproveitasse dos problemas criados com a guerrilha na África, para realizar seus fins escusos.

Com relação aos territórios ultramarinos, defendia uma política de federalização, com gradual autonomia das províncias, como o caminho certo para evitar a comunistização destas por um eventual alastramento das guerrilhas.

Não é isso o que estamos vendo no momento. No governo de Portugal, os comunistas estão acomodados confortavelmente. Na rua, a esquerda festiva faz o que quer. A pasta do Ultramar foi confiada ao socialista António de Almeida Santos e não se fala mais em federação.

Estará o General Spínola prisioneiro de seus companheiros de governo, ou — é doloroso pensar — terá aceito o papel de Kerensky português?

A "Ostpolitik" do Vaticano em 5 meses

Janeiro

• Federico Alessandrini, porta-voz do Vaticano, em declarações à imprensa, classifica de "pura invenção" as afirmações de que o Papa, quando Mons. Montini, era considerado, dentre os Prelados do Vaticano, o mais voltado para o socialismo.

As declarações de Alessandrini foram motivadas pela profunda repercussão obtida pelo livro "Para onde vai o Vaticano?" do escritor alemão Reinhard Raffalt. O autor afirma que o então Mons. Montini chegou a manter contatos com Togliatti — secretário-geral do Partido Comunista Italiano — para dizer-lhe que o anticomunismo da Igreja não seria eterno.

• Ao receber o corpo diplomático, por ocasião do Ano Novo, Paulo VI declara que a política apaziguadora da Igreja "não impede ou atrasa o dia de uma revolução libertadora". O Papa concluiu seu discurso deixando claro que continuará tomando "atitudes conscientes e responsáveis", a despeito daqueles que dizem que a Igreja, "ao apoiar iniciativas de pacificação", acaba prejudicando os povos oprimidos.

É justamente esta a tese dos movimentos anticomunistas: o Vaticano, ao fazer concessões aos governos marxistas opressores, desestimula as reações dos católicos oprimidos e fortalece a posição dos governos.

Paulo VI foi saudado na ocasião pelo Embaixador de Cuba, decano do corpo diplomático acreditado junto ao Vaticano.

• O Cardeal Wyszynski, Primaz da Polônia, pede que seja concedida mais liberdade à Igreja em seu país. Os católicos poloneses, segundo Sua Eminência, são considerados "cidadãos de segunda classe", numa "nação em que só os membros do partido têm privilégios". "Nem sequer nos permitem que tenhamos uma imprensa católica independente" — acrescentou o Primaz.

O Cardeal polonês, cujas atitudes não se pode dizer que sejam as de um anticomunista radical, confirma, assim, a tese dos movimentos anticomunistas, de que as concessões do Vaticano só têm prejudicado os católicos oprimidos, sem lhes trazer nenhuma vantagem.

Fevereiro

• A revista esquerdista francesa "Informations Catholiques Iriternationales", do dia 1.o, noticia que uma delegação composta do Presidente e do Secretário da Conferência Episcopal Húngara, Monsenhores Ijjas e Czerhati, e do presidente e vice-presidente do Ofício de Cultos, órgão do governo comunista, estiveram em Roma, em fins de dezembro e princípios de janeiro, com a finalidade de obter da Santa Sé a destituição do Cardeal Mindszenty, do Arcebispado de Esztergom.

A delegação argumentou que o Purpurado comprometia as relações da Hungria com os países onde ele era recebido como hóspede oficial e que sua destituição era condição para o prosseguimento das negociações tendentes à normalização das relações do governo húngaro com o Vaticano.

• Confirmando as especulações da revista progressista francesa, Paulo, VI destitui o Cardeal Mindszenty da sé primacial da Hungria, o Arcebispado de Esztergom. A notícia foi publicada simultaneamente em Roma e em Budapest, o que, segundo os estilos diplomáticos, demonstra um entendimento prévio entre a Santa Sé e o governo marxista húngaro.

O ato extremo foi anunciado nos dias em que se comemorava o 25.° aniversário da condenação do venerável Cardeal à prisão perpétua, pelas autoridades comunistas de seu país. Naquela ocasião, em Roma, Pio XII perguntava, ante centenas de milhares de fiéis: "Pode um Papa permanecer em silêncio, quando o Estado arroga-se o direito de suprimir Dioceses, depor Bispos, transtornar a Hierarquia Eclesiástica?"

• No mesmo dia em que anuncia a destituição do Emmo. Cardeal Mindszenty, o Vaticano publica a nomeação de três novos Bispos para Dioceses húngaras. Estes, já com a aprovação do governo comunista, de conformidade com o estabelecido entre Budapest e a Santa Sé, em setembro de 1971.

• Respeitosamente, mas cheio de energia, o Cardeal-Primaz responde à sua deposição, declarando que não é possível acordo com o governo da Hungria, o qual oprime o povo e a Igreja. Deixa bem claro que não havia assentido previamente à sua destituição, como fizera crer a linguagem vaga do comunicado do Vaticano. Reitera que não renunciara, nem ao Arcebispado, nem à liderança católica da Hungria. A imprensa anuncia que o Cardeal concluiu suas memórias e está prestes a publicá-las.

• Alessandrini tenta responder a Sua Eminência, mas evita desmentir suas afirmações sobre a verdadeira situação da Igreja na Hungria. O "Osservatore Romano", do Vaticano, e "L'Avvenire", da Democracia-Cristã, ignoram as declarações do Purpurado.

• O clamor dos protestos contra a deposição do mártir da Hungria católica ouve-se no mundo inteiro. Em Roma aparecem frases nos muros: "Paulo VI, traíste Mindszenty". Jovens distribuem folhetos em apoio à atitude do Cardeal e gritam: "Viva a Igreja Mártir", "Chega de concessões ao comunismo!", "Viva Cristo-Rei!"

No Brasil, os húngaros de São Paulo declaram que "essas concessões injustificáveis desmoralizam o sacrifício e o martírio de todos aqueles que tombaram na luta pelos direitos de Deus".

• Mons. Agostinho Casaroli — o Kissinger do Vaticano — realiza visita às autoridades comunistas da Polônia. Não foi revelado o objeto das conversações, mas os observadores afirmam que o tema central debatido durante o encontro é o do estabelecimento de relações entre a Santa Sé e o governo de Varsóvia. Já no ano passado, o representante junto ao Vaticano, do governo anticomunista polonês no exílio, fora notificado pelo Cardeal Villot, Secretário de Estado, de que sua missão chegara ao fim.

O Cardeal Wyszynski manifestou otimismo quanto ao resultado das conversações e renovou o convite a Paulo VI, para que visitasse a Polônia.

• Paulo VI recebe o chanceler da Rússia soviética, Andrei Gromiko. É a terceira vez que o ministro comunista se encontra com o Papa. Tomaram também parte na reunião Mons. Casaroli, o embaixador russo em Roma e o chefe da Divisão Europeia da Chancelaria soviética. Depois de um período de silêncio muito bem guardado sobre a entrevista — tendo funcionários do Vaticano declarado que não desejavam publicidade "exagerada" sobre o assunto — anunciou-se que as conversações versaram sobre a segurança europeia, a questão de Jerusalém e a liberdade religiosa na Rússia. A imprensa destacou o encontro como "grande acontecimento político". Gromiko não escondeu sua satisfação, ao partir da Itália, depois da reunião.

• O "Paese Sera", órgão do Partido Comunista Italiano, publica documentação sobre os contatos entre a agremiação, o Vaticano e o Vietnã do Norte, para pôr fim à guerra. Em 1965, o democrata-cristão Giorgio La Pira esteve em Hanói, em missão reservada. Em 1966, foi o próprio Berlinguer, hoje secretário-geral do PCI, quem levou a Ho Chi-minh um documento confidencial assinado por Paulo VI.

Março

• O "Correio do Povo", de Porto Alegre, publica artigo do ex-deputado alemão Hermann M. Görgen, destinado a grande repercussão. O articulista dá um amplo quadro da situação interna da Igreja na Alemanha, após a destituição do Cardeal Mindszenty. Refere-se especialmente ao livro de Reinhard Raffalt, escrito em "estilo sóbrio, de primeira qualidade, formulando teses bem fundamentadas, testemunhos de seu profundo amor à Igreja Católica". Prossegue Hermann Görgen: "Devido à sua seriedade e serenidade, ao seu profundo respeito pela tradição e ao Papado, a tese básica de Raffalt [...] provocou em todos os países de língua alemã acentuada vibração e surpresa. Pois Raffalt proclama nada mais e nada menos: o Papa Paulo VI é um socialista".

Quanto ao desmentido de Alessandrini ao livro, a que aludimos de início, diz Görgen que "ele perdeu-se por completo, quando surgiu, quase como ilustração e prova, o caso Mindszenty, julgado pelos críticos alemães, em rara unanimidade, como sinal contundente da procedência do libelo acusador de Raffalt".

Görgen refere-se a uma versão sobre o caso Mindszenty, segundo a qual Mons. Casaroli assegurara ao Cardeal que, saindo da embaixada norte-americana em Budapest, ele conservaria o cargo de Arcebispo de Esztergom. Ao mesmo tempo, confiando em parecer médico que dava apenas seis meses de vida ao idoso Purpurado, prometera ao governo comunista a nomeação de novo Arcebispo. Entretanto, numa peregrinação a Fátima, Sua Eminência recuperou a saúde, perturbando os planos de Roma...

• Martim Afonso Xavier da Silveira Júnior, em nome das Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade da América do Sul e do Norte, e de entidades congêneres de Portugal e da Espanha — "todas consagradas à ação ideológica anticomunista" — entrega ao Cardeal Mindszenty, em Viena, uma mensagem de apoio e admiração a Sua Eminência. A mensagem ressalta que o problema diante do qual o Purpurado tomou atitude é universal: "pode um católico, coerente com sua fé — perguntam as TFPs — acomodar-se a um regime comunista, e estipular com ele pactos realmente úteis à Religião?"

• Mons. Giovanni Benelli, da Secretaria de Estado de Sua Santidade, exprime ao Ministro das Relações Exteriores do Peru sua simpatia pelo processo revolucionário peruano, desejando que continue em seu desenvolvimento até alcançar os objetivos programados. Conforme a imprensa tem largamente difundido, o processo peruano procura seguir as pegadas do modelo iugoslavo de comunismo.

Abril

• Mons. Casaroli visita Cuba. A princípio, a viagem, motivada por um convite da Conferência Episcopal Cubana e aprovada pelo governo, tinha um programa de dois dias. "Minha visita a Cuba — declarou S. Excia. ao partir de Roma — é de caráter estritamente eclesiástico".

Mas a visita acabou prolongada para oito dias e o programa, de estritamente eclesiástico, passou a eclesiástico-político. O enviado da Santa Sé levava uma mensagem aos Bispos na qual Paulo VI apoia a ação destes "em meio às profundas transformações ocorridas no país". Mons. Casaroli foi recebido pelo vice-ministro do Exterior, avistou-se com o presidente Dorticós e teve uma "imprevista" conversa com Fidel Castro. O ambiente foi muito cordial, conforme Monsenhor não se cansou de repetir. Ao passar pelo México, o Prelado, declarou que "os católicos que vivem em Cuba são felizes dentro do regime socialista" (afirmação que desmentiria bem mais tarde).

• Católicos mexicanos comparam Paulo VI a Nixon, asseverando que ambos estão virando as costas aos anticomunistas leais. Assim como Nixon abandonou Chiang Cai-chec, em favor de Mao Tsé-tung, o Papa abandona o Cardeal Mindszenty em favor de sua aproximação com os governos comunistas. Ao mesmo tempo, a imprensa internacional publica informações de que Mons. Casaroli iniciou seus contatos com os vermelhos já no pontificado de João XXIII, em 1961, quando participava de congressos promovidos pela ONU na capital austríaca.

• O Cardeal Koenig, Arcebispo de Viena, elogia a aproximação do Vaticano com os governos comunistas e afirma que João XXIII "sempre estimulou os católicos a colaborarem com todos os homens, inclusive com aqueles que adotam ideologias diferentes".

• A TFP divulga declaração expressando "as perplexidades, as angústias, os traumas" de inumeráveis católicos ante a política de distensão do Vaticano com os governos comunistas.

A partir das declarações de Mons. Casaroli sobre a situação dos católicos cubanos, a entidade aponta atitudes graves que a diplomacia vaticana vem tomando, e que causam verdadeiros traumas morais para "os que continuam a aceitar, em todas as suas consequências, a imutável doutrina social e econômica ensinada por Leão XIII, Pio XI e Pio XII".

Externando sua "obediência irrestrita e amorosa não só à Santa Igreja como ao Papa, em todos os termos preceituados pela doutrina católica", os católicos da TFP defendem seu direito de resistir à orientação diplomática da Santa Sé, como São Paulo resistiu, quando necessário, a São Pedro (Gál. 2, 11).

A declaração tem sido alvo das mais favoráveis manifestações por parte de movimentos anticomunistas de todo o mundo. O documento está sendo publicado nos principais jornais da América do Sul, e também nos Estados Unidos.

Ressaltando o espírito disciplinado com que a TFP tomou sua atitude de resistência, ao contrário do que se observa nos movimentos contestatários do chamado catolicismo progressista, Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da entidade, escreve, em artigo para a imprensa diária, que "a constância de nossa inteira e amorosa união com o Santo Padre Paulo VI, em toda a medida preceituada pela doutrina católica, é ponto capital da matéria".

• A imprensa dos Estados Unidos veicula notícias de que o governo de Budapest está procurando conseguir da Santa Sé o cancelamento do passaporte do Cardeal Mindszenty e a proibição da publicação de suas memórias. A este propósito, o Círculo Guadalupano Manuel Garibi Tortolero, entidade mexicana dedicada à investigação e propaganda da devoção a Nossa Senhora de Guadalupe, enviou carta a Paulo VI em que lhe pede "com toda a veemência", mas dentro do devido respeito e "tradicional amor dos mexicanos ao Papa", que de nenhum modo transforme o Vaticano em cárcere do heroico Cardeal nem o torne incomunicável, coarctando lhe o direito de publicar seus escritos, "para que a Sé Pontifícia não se transforme em prolongamento dos brutais sistemas carcerários e repressivos do comunismo, no mundo livre". Em nome dos membros do Círculo, seu diretor, Francisco Garibi Velasco, pede a Deus que ilumine e dê fortaleza a Sua Santidade.

• O Vaticano anuncia viagem do Cardeal Giuseppe Siri a Moscou e Leningrado para visitar igrejas e santuários russos. "Trata-se de uma viagem exclusivamente turística" — afirmou um porta-voz da Cúria de Gênova, sede arquiepiscopal do Cardeal Siri.

Alessandrini, em Roma, desmentiu a versão de que a viagem teria como objetivo preparar visita do Papa à Rússia soviética.

• Os jornais brasileiros noticiam que, em fevereiro, vários Prelados húngaros prestaram juramento de lealdade à constituição comunista do país, perante Pál Losoncai, presidente do Conselho Presidencial. Entre os Prelados encontrava-se Mons. Lázló Lékai, Administrador Apostólico de Esztergom, que substitui provisoriamente o Cardeal Mindszenty.

• Em nome de seus colegas, Mons. József Bánk, Bispo de Vác, disse, em seu discurso: "Sabemos, por outro lado e por experiência, que o cidadão fiel à própria religião não é inimigo do novo sistema social".

• Paulo VI, ao receber o novo Embaixador do Chile perante a Santa Sé, Sr. Hector Riesle, augurou para o povo andino "uma fraternidade que [...] envolva o restabelecimento de uma autêntica e recíproca compreensão através de uma reconciliação efetiva e sincera".

Comentando o discurso em artigo estampado na imprensa diária, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, observou que "desde que haja católicos de um lado e comunistas de outro, estes últimos imporão necessariamente uma luta. E essa luta os católicos a terão que aceitar com destemor, em qualquer campo em que sejam agredidos". O articulista acrescenta que as palavras do Santo Padre indicam aos católicos chilenos uma meta e um estilo de ação que os desmobilizam psicologicamente ante um adversário implacável, o qual de nenhum modo se desmobiliza. Disse ainda que esse discurso não terá efeito somente no Chile, mas em toda parte onde for divulgado.

Maio

• Em Nova York, o Cardeal Mindszenty trata dos últimos preparativos para o lançamento de sua autobiografia. Segundo informou o Purpurado, o Vaticano não fez objeções à publicação.

• Mais um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira sobre a necessária resistência dos católicos à política de distensão do Vaticano com os governos comunistas. Desta vez, o autor aplaude as declarações do Cardeal Yu Pin, Arcebispo de Nanquim, exilado, em Formosa, onde exerce as funções de Reitor da Universidade Católica de Taipé.

A propósito da possibilidade de uma aproximação entre o Vaticano e o governo de Pequim, Sua Eminência declarou: "Penso que é ilusória a esperança de que um diálogo com Pequim ajudaria os cristãos do continente [chinês]". E mais adiante: "O Vaticano nada está obtendo para os cristãos da Europa Oriental".

Como um verdadeiro varão apostólico, o Cardeal chinês dá esta lição de fé: "Há uma Igreja subterrânea na China. A Igreja na China sobreviverá, como os primeiros cristãos sobreviveram nas catacumbas. E isso poderia significar um verdadeiro renascimento cristão para os chineses".

Em seu artigo, o Presidente do Conselho Nacional da TFP mostra o quanto há de empolgante nesta frase do Cardeal Yu Pin: "Eu organizaria um verdadeiro exército, se pudesse, para proteger a Igreja".

• Depois de mais de um mês da publicação da declaração de resistência da TFP à política do Vaticano com os regimes comunistas, Federico Alessandrini nega em Roma que Mons. Casaroli tenha asseverado que os católicos cubanos "vivem felizes sob o regime socialista". Esta afirmação do Prelado romano era citada no documento da TFP, que a colheu em amplo noticiário da imprensa mundial. No desmentido, Alessandrini insinua que foi a TFP quem atribuiu ao Kissinger do Vaticano aquelas declarações. Além disso, Alessandrini não desmentiu ou tentou refutar qualquer palavra do resto do manifesto, o qual é uma seqüência robusta de argumentos que nada perderia se não citasse as palavras do Prelado.

Em nota distribuída à imprensa, a TFP mostra como o desmentido de Mons. Casaroli dá novo fundamento ao seu manifesto.


O comunismo precisa do Estado de Israel para influir no Oriente

H. B.

Em recentes declarações à revista norte-americana "Time", a Sra. Golda Meir afirmou que "alguém que fosse cínico poderia dizer que a Rússia precisa de Israel porque isso é o único meio de ela transformar pessoas como o Rei Faiçal em marxistas".

Os fatos estão aí a demonstrar o acerto da observação da estadista israelense. A penetração comunista no Oriente Médio, região vital para o equilíbrio econômico da Europa, do Japão e do mundo anticomunista em geral, só tem sido possível através de uma guerra inacabável entre árabes e judeus, iniciada no dia em que se instalou o Estado de Israel. Apenas, a Sra. Golda Meir deixou de explicar porque qualificou de cínico o seu pensamento, tão claro como a água mais cristalina.

Na verdade, a guerra árabe-israelense dá muito o que pensar. Por exemplo: a Sra. Meir — tão perspicaz na sua análise — não explica, com a clareza que seria de desejar, qual o papel desempenhado por Tel Aviv em toda essa trama. Nem esclarece as razões mais profundas pelas quais um Estado socialista, como o seu, aparece, diante da opinião pública mundial, e da opinião árabe em particular, como inimigo figadal da pátria-mãe do socialismo internacional. Mas, nas suas ponderadas declarações, a ex-premiê torna um pouco mais transparente o biombo que encobre a trama política internacional: "Não creio — diz ela — que a União Soviética nos queira destruir. Mas, a fim de aumentar sua influência na região e para satisfazer seus próprios interesses, os russos estão preparados para dar aos árabes qualquer coisa que eles peçam para nos destruir".

Um nó a ser desatado

Desde os tempos de Lenine, os olhos da União Soviética estiveram voltados avidamente para o Oriente Médio, cujas reservas de petróleo e posição estratégica constituem uma chave para o expansionismo militar-ideológico russo. Entretanto, todos os esforços do Cremlin redundaram, no princípio, em frutos magérrimos de expansão ideológica e influência política. Os povos muçulmanos demonstravam um apego às suas tradições bem maior do que calcularam os estrategistas soviéticos.

Após a Segunda Guerra Mundial, uma nova oportunidade surgiu. Os movimentos nacionalistas árabes voltavam-se contra a instalação do Estado de Israel entre eles, por imposição da ONU. Alguns desses movimentos, então, penderam para a esquerda, chegando vários de seus líderes, por meio de golpes de Estado, a assumir o poder em seus países. Os coronéis que levaram Nasser à ditadura no Egito constituíram o mais característico desses movimentos.

Os comunistas aproveitaram-se habilmente da situação. Ocupando o grande vazio de influência deixado na região pelas nações europeias e pelos Estados Unidos, eles foram ali penetrando pelos meios mais diversos, desde a assistência na construção da represa de Assuã até o assessoramento militar e o grosso fornecimento de armas para a luta contra Israel, o qual, apesar de tudo, ia estabelecendo as bases de seu Estado socialista, bem mais próximo, ideologicamente, da Rússia soviética, do que os novos amigos árabes desta.

Mas, assim como a Escritura chama os judeus de povo de "dura cerviz", que resistia ante os caminhos que lhe apontavam os Profetas, também hoje seus primos árabes constituem para Moscou um nó difícil de ser desatado. Eles aceitaram os líderes socialistas apenas enquanto representavam uma reação nacionalista contra Israel. Enquanto ideologia, o marxismo vem fracassando entre os povos do Oriente Médio.

Foi crescendo, assim, para os estrategistas da foice e do martelo, a importância da inacabável guerra árabe contra Israel. A Rússia passou a exercer um verdadeiro protetorado sobre as nações árabes, necessitadas das armas soviéticas como de seu quibe de cada dia. O ponto culminante dessa influência foi atingido no período imediato à guerra do Yom Kipur, em outubro passado, quando Moscou conseguiu de um dos líderes árabes mais avessos à penetração comunista, o Rei Faiçal, da Arábia Saudita, que se transformasse em marionete à sua disposição, para dar à Rússia um trunfo de que não dispunha até então: o corte no fornecimento de petróleo e a elevação astronômica de seu preço.

Os tentáculos se estendem

Nesse quarto de século de guerra intermitente, os tentáculos de Moscou se estenderam longamente pelos desertos e pelas altas cordilheiras, em direção ao Golfo Pérsico e ao Mar Vermelho. Estão presentes no Iraque. Chegam até a longínqua Somália, da qual, com apoio do Iemen do Sul e do Omã, onde também exercem sua influência, os russos vigiam o Bab-el-Mandeb e estabelecem sua ponte para a África. A proclamação da república no Afeganistão abriu-lhes caminho no país, rumo à Índia.

Tudo isso lhes tem rendido a guerra árabe-israelense, além do comando e treinamento dos grupos terroristas palestinos, que surpreendem a todos com ações espetaculares nos mais inesperados cantos do mundo. Por isso essa guerra tem que ser mantida indefinidamente.

Ainda agora, quando o Egito se reaproximou dos Estados Unidos e mantém trégua com Israel, Moscou transformou a Síria no necessário ponto de atrito com os judeus. Mas a sua ajuda aos árabes é cuidadosamente dosada. Estes não podem destruir Israel. Se o Estado judeu desaparecesse, a influência comunista entre os árabes decairia, porque até agora o nó não foi desatado: os árabes não engoliram a pílula marxista e, acabada a guerra, não teriam mais interesse na tutela militar soviética. Seus próprios líderes socialistas cairiam, um por um, como frutas apodrecidas na árvore.

Eis porque a guerra deve ser interminável. E eis porque, se depender da Rússia, não haverá a destruição de Israel. Esta a razão da confiança expressada pela camarada Golda.

A dúvida que fica é sobre a razão pela qual ela chamou de cínico um pensamento tão lógico...

Aos olhos da opinião pública, Israel aparece como inimigo da Rússia, apesar de ter sido sempre governado pelo partido socialista de Golda Meir - na foto, ao lado de Mintoff, Brandt e Wilson, por ocasião da reunião da Internacional Socialista em novembro do ano passado, em Londres.