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UMA HISTÓRIA DE EMBUSTE E VIOLÊNCIA

Cuba foi descrita por Colombo como "a mais bela terra que os olhos humanos jamais contemplaram". Há séculos é chamada "a Pérola das Antilhas".

Nessa natureza paradisíaca, teve lugar um dos mais dantescos dramas do século XX.

Hoje, quando a poeira do tempo ameaça velar os crimes, as fraudes e as traições que o comunismo cometeu para chegar ao poder em Havana, é do mais alto interesse relembrar essa história tão recente. O que se passou em Cuba foi uma verdadeira parábola. Nunca talvez a fraude e o crime andaram tão juntos e tanto se entreajudaram.

O problema dos comunistas

Os marxistas queriam conquistar o poder. Contra tal pretensão, erguia-se compacta a esmagadora maioria da população cubana, que professava a Religião Católica e que, portanto, opunha ao comunismo uma visceral rejeição. Outrossim, a colonização espanhola havia deixado na Ilha um conjunto de tradições que era preciso aniquilar para tornar possível a comunistização.

Não podendo abater esses dois obstáculos, os estrategistas do Cremlin optaram por contorná-los e por destruí-los por dentro. Essa estratégia foi planejada e levada a cabo com maestria.

No fim da via crucis de Cuba, encontramos uma nação sujeita ao comunismo, que foi fraudada nos seus mais caros desejos e convicções.

O objetivo deste artigo é mostrar em câmara lenta, porém de forma sucinta, os acontecimentos que se deram na ilha do Caribe nos últimos anos.

Hoje, já fixados na História, sem os turbilhões de circunstâncias que os rodearam, é mais fácil analisá-los e perceber o caminho — que na época ainda não aparecia claramente — pelo qual os cubanos foram conduzidos até tão trágico epílogo.

Quando esses acontecimentos se deram, deram-se à maneira de uma tempestade de areia envolvendo uma caravana que marcha pelo deserto. No meio das dunas agitadas por ventos que sopravam não se sabia de onde, os viajantes perderam a noção da região na qual se encontravam. Com a visibilidade prejudicada pela tormenta, só aqueles que conheciam muito bem o terreno não se desnortearam. No meio do "brouhaha", no qual se ouviam gritos de alerta e exclamações tranquilizadoras, a caravana foi conduzida para um ponto desconhecido.

Quando a tempestade amainou e a poeira baixou, os viajantes perceberam que tinham tomado um rumo não desejado por eles. Mas já era tarde demais.

Vamos agora percorrer novamente o trajeto palmilhado pela caravana, não sob a tempestade de areia, mas sob um céu limpo e com olhar atento. Examinaremos as pegadas e as trilhas deixadas por esses infelizes viandantes.

Recapitulando

Cuba teve, como nação independente, curta mas atribulada existência.

Depois de cortar seus laços com a Coroa espanhola em 1898, sua vida política foi sujeita a contínuas agitações. Mais proximamente, sofreu de 1925 a 1933 uma sanguinária tirania sob o governo do General Machado.

Sucedeu a este no poder Ramón Grau San Martin, o qual foi deposto pelo tristemente célebre sargento Batista, que começou um decênio de governo por interpostas pessoas, assumindo depois ele próprio a presidência.

Em 1944, voltou Grau, que inaugurou um período marcado pela corrupção na vida pública. Haveria eleições presidenciais em 1953, mas Batista antecipou-se, dando novo golpe de Estado em março de 1952.

Quem era Batista

O sargento Batista havia encabeçado, ainda jovem, um grupo anarquista chamado "Germinação". Antes de sua revolução, havia tido estreitos contatos com agrupamentos comunistas que atuavam junto aos trabalhadores do fumo. Sua atitude geral era antimilitarista e depois de seu golpe de Estado empenhou-se em desmoralizar os quadros superiores do Exército cubano.

Logo que tomou o poder, Batista favoreceu os comunistas. Em 1938 o PC cubano foi legalizado, o que lhe permitiu, pouco depois, ter o controle dos sindicatos operários e dez cadeiras na Câmara dos Deputados. Em 1943, o ditador concedeu duas pastas de seu gabinete ao partido, o que tornou Cuba o primeiro país latino-americano a ter ministros declaradamente comunistas. O PC foi novamente fechado em 1953.

Ao lado de suas simpatias para com os marxistas, o ditador submeteu a ilha a um regime de desenfreada corrupção, imoralidade e escárnio à lei.

O conceituado jornalista norte-americano Dubois afirmou que a esposa de Batista recebia 50% dos lucros das máquinas de jogo instaladas nos cassinos da Ilha. Muitos oficiais do Exército, da polícia e alguns da Marinha não estavam isentos da venalidade. O ditador cobrava suas comissões através de intermediários e empregava parte do dinheiro na compra de militares e políticos.

A amoralidade imperava nas esferas do poder e a corrupção grassava em todos os níveis sociais. O terreno estava propício para a germinação da semente marxista.

Um precursor dos "hippies"

Fidel Castro nasceu em 13 de agosto de 1926, filho de um fazendeiro rico. Frequentou as escolas paroquiais e fez o curso secundário com os Jesuítas, em Havana. Ingressou na Universidade em 1945 e recebeu seu diploma de advogado em 1950. Casou-se com Mirtha Díaz Bolara em 1948, divorciando-se em 1955.

A passagem de Castro pela Universidade já prenunciava o revolucionário que viria surgir depois no cenário internacional.

Durante o ano de 1947 participou de uma frustrada tentativa de invasão da República Dominicana.

Um especialista cubano em comunismo, Díaz Versón, informa que Castro se empregou como agente soviético desde os últimos anos de sua adolescência. Segundo esse autor, entre os funcionários russos que estiveram em Cuba figurou G. W. Bashirov, o qual já havia atuado na Espanha como recrutador de jovens. Baschirov desempenhava missão especial na Ilha, não se alojava na embaixada, mas numa casa particular situada na Calle Segunda, n.° 6, Miramar.

Em meados de 1943, muitos jovens cubanos começaram a visitar a residência de Bashirov. Díaz Versón cita o nome de vários, entre os quais Castro.

Em 1944, Bashirov foi chamado a Moscou para informar e, pouco depois, retornou com novas instruções. Determinou que alguns integrantes do grupo se infiltrassem nos partidos políticos não comunistas. Ordenou que três deles não se comprometessem com as atividades do Partido Comunista, porque estavam reservados para futuras missões: Fidel Castro, Antonio Nuñez e Alicia Alonso.

Fidel era um jovem estranho para os padrões cubanos da época. Embora filho de pai rico, que não lhe negava dinheiro, usava roupa suja e velha, e não se preocupava em mudar de camisa.

Não acatava normas das mais usuais do trato social. Por exemplo, tinha o costume de tirar os sapatos onde tivesse vontade de fazê-lo, sem se importar com o ambiente que o rodeava. Não perdeu aliás esse costume: há alguns anos a imprensa publicou fotos mostrando-o com as mãos nos pés descalços, no meio de vários assistentes.

Foi um "hippy" vinte anos antes de surgir o movimento "hippie". Os trajes, as maneiras, as longas barbas e certos hábitos que introduziu na revolução cubana precederam o estilo "hippie", que depois invadiria o mundo.

Durante seus anos acadêmicos, conforme registros da polícia cubana, participou de bandos estudantis que utilizavam até o assassinato como arma política.

Fidel, ainda durante seu período universitário, participou do levante comunista de abril de 1948, em Bogotá, que passou à História com o nome de "Bogotazo".

Há muita documentação sobre esse episódio sangrento. A participação de Fidel Castro tem sido ignorada, atenuada ou mal interpretada pela maioria dos comentadores. Tenta-se explicá-la como sendo uma travessura juvenil, mas não foi nada disso. Naquela época, Castro já era um agente de confiança do Cremlin.

Castro chegou à capital colombiana com credenciais da Federação Mundial da Juventude Democrática, organização marxista sediada em Moscou.

Há um despacho da UPI de 19 de abril de 1948, muito interessante, assinado pelo correspondente de Bogotá, Alcides Orozco:

"Esta mañana, estando sientado en el vestíbulo del Claridge Hotel, [...] llegaron dos detectives preguntando por el gerente. Al ser recibidos en la oficina, dijeron que buscaban a dos cubanos, Fidel Castro y Rafael del Pino, quienes paraban en dicho hotel.

Los dos detectives tomaron posesión de la correspondencia de los cubanos, que abrieron en mi presencia y dijeron que tenían informes fidedignos de que Castro y del Pino habían dirigido el saqueo del 9 de abril con motivo del asesinato del dirigente liberal Jorge Eliecer Gaitán.

La correspondencia demonstró que ambos pertenecian al partido comunista cubano, y las cartas fechadas en la Habana el 9 de abril, mencionan los desórdenes de Bogotá".

Castro e del Pino refugiaram-se na embaixada de seu país para evitar a prisão como agentes comunistas e instigadores da insurreição armada. O Dr. Guilhermo Belt, chefe da delegação cubana à Conferência Panamericana, que se reuniu na época em Bogotá, mandou-os de regresso a Cuba por via aérea.

O governo da Colômbia forneceu na ocasião amplas provas de que os dois jovens eram agentes do Cremlin. O chefe dos serviços de segurança do país aludiu a eles como "conhecidos comunistas". O Presidente Mariano Ospina Perez, em discurso, denunciou-os como "comunistas e organizadores da insurreição".

Voltando a Havana, Castro retomou os estudos, abandonou os bandos estudantis homicidas para não comprometer o futuro que lhe reservava o PC e, em 1950, recebeu seu diploma.

Seu irmão mais moço, Raul Castro, entrou na Universidade em 1950 e foi colocado em contato com os comunistas. Pouco tempo depois estes enviaram-no para os países da Europa Oriental. Não se sabe onde passou o tempo em que se esteve aperfeiçoando na ideologia e nos métodos marxistas. Algumas versões afirmam ter ele estado em Moscou; outras, em Praga. O certo é que também Raul, figura de proa do movimento revolucionário que derrubou Batista é hoje o segundo homem em Cuba, foi desde os primeiros anos de sua juventude um comunista ardoroso e agente de confiança da Rússia Soviética.

Fidel dedicou-se às atividades políticas, sempre como homem de esquerda, de 1950 até 1953.

O assalto malogrado a Moncada

Nesse último ano, dirigiu o assalto malogrado ao quartel de Moncada. Preso juntamente com o irmão, utilizou-se do processo judicial para prestigiar-se. Tornou-se um político de renome nacional.

Recebeu uma pena de quinze anos de prisão, cabendo a Raul treze anos. Iniciou-se na Ilha um grande movimento, do qual participaram eclesiásticos como o Bispo Mons. Pérez Serantes, para pedir anistia para os presos políticos. Em 2 de março de 1955 o Congresso aprovou e Batista assinou lei nesse sentido. No dia 15 de maio de 1955, vinte e dois meses depois do julgamento, Fidel e seu irmão estavam livres.

De Cuba, dirigiu-se ao México, onde fundou o movimento anti-Batista que recebeu o nome de "26 de Julho" em memória do fracassado assalto ao quartel de Moncada.

Empreendeu viagens de propaganda por toda a zona do Caribe. Encontrava-se em particular com os cubanos ricos e arengava em comícios os seus compatriotas exilados. Nessa época, nunca se confessou marxista em público.

Em pouco tempo, o Movimento de 26 de Julho começou a tomar corpo. O argentino Ernesto "Che" Guevara, já nessa época notório comunista, juntou-se a suas fileiras.

Escondendo cuidadosamente do grande público sua militância marxista, Castro viu seu movimento ser ajudado por cubanos ricos e por idealistas que desejavam derrubar a ditadura de Batista. Entretanto, quem tivesse olho arguto não poderia enganar-se quanto ao verdadeiro caráter do "26 de Julho".

A instrução dos recrutas estava a cargo de Alberto Bayo, um revolucionário espanhol que chegara a coronel no Exército republicano de seu país. Terminada a Guerra Civil, emigrara para o México, onde continuou suas atividades subversivas.

O "show" trágico estava montado. Foi contratada uma agência de publicidade norte-americana para promover a imagem do movimento nos EUA. Fidel Castro, ator consumado, estava pronto para entrar no cenário internacional. Talento não lhe faltava: o anuário do Colegio Belén, onde estudara, traz, em 1945 esta referência ao então adolescente Castro: "No faltará el actor que hay en él".

Abriu-se o pano e o mundo assistiu ao primeiro ato da tragédia.

O desembarque na Ilha

No dia 25 de novembro de 1956, Fidel Castro e 82 homens zarparam das costas mexicanas, no iate "Gramma".

O tempo não os ajudou. O mar revolto e ventos fortes desviaram a embarcação do rumo desejado. O plano inicial previa greve geral e levantamento popular em Santiago de Cuba para o dia 30 de novembro. Para isso, a rede subterrânea trabalhava ativamente. Castro ouviu pelo rádio que os insurrectos de Santiago de Cuba haviam conseguido libertar os criminosos comuns da prisão local, queimar a central de polícia e dinamitar um depósito. Entretanto, as forças leais ao governo reagiram e o levante foi sufocado.

O "Gramma" desembarcou sua tripulação sem contratempos. Batista teve conhecimento do desembarque e enviou tropas para liquidar os invasores. Dos 82, só sobreviveram onze, que se internaram nas montanhas inóspitas do país.

Em meados de novembro, os onze revolucionários conseguiram atingir uma região onde abundavam os contrabandistas, foragidos da polícia.

Ali Fidel conseguiu mais alguns adeptos, mormente entre os fora-da-lei.

Eram muito poucos os elementos com que contava, mas tinha poderosas alavancas à mão.

A primeira era a previsível negligência e corrupção dos agentes da ditadura de Batista e de muitos chefes militares. Contando com imensos fundos financeiros, Castro utilizou-os largamente para o suborno, recorrendo também à chantage.

Sua segunda vantagem foi o apoio da vasta rede soviética subterrânea em Cuba e o prestígio que soube conquistar entre a juventude cubana, que o olhava como um novo Robin Hood.

A terceira vantagem era representada pela máquina publicitária montada no Exterior, da qual o correspondente Herbert L. Mathews, do "New York Times", foi peça das mais importantes.

Herbert L. Mathews entrevistou Fidel Castro em Sierra Maestra. Os artigos publicados pelo "New York Times" em fevereiro de 1957 serviram para dar ao chefe guerrilheiro uma auréola de libertador. Grande parte da imprensa norte-americana começou a elogiar os barbudos. O papel de "cruzados" que os órgãos de comunicação lhes atribuíam serviu para iludir a opinião pública.

O próprio governo norte-americano contribuiu para dar a impressão de que o movimento de Castro não era comunista. O embaixador "yankee" em Cuba na ocasião, Earl Smith, declarou mais tarde que acreditava que o Departamento de Estado estava mais conforme com as ideias de Herbert Mathews do que com as dele. Acrescentou Smith: "Ajudamos a derrubar Batista que era pró-americano, só para instalar a ditadura de Castro que é pró-russa [...]. Negamo-nos a vender armas a um governo amigo e induzimos os outros governos a não venderem armas a Cuba. Não obstante, os simpatizantes revolucionários entregavam armas, abastecimentos e munições diariamente, partindo dos EUA. Fomos remissos na aplicação de nossas leis de neutralidade". As armas e munições partiam principalmente da costa da Flórida.

Essa situação provocou um grande desalento entre as forças contrárias a Fidel.

Naquela época, vozes isoladas denunciavam insistentemente o caráter marxista dos revolucionários cubanos. Somente à guisa de exemplo, o "Intelligence Digest", publicado em Londres, dizia em dezembro de 1957 haver provas de que submarinos russos estavam abastecendo as forças de Castro.

Não havia na ilha uma denúncia sistemática do Movimento de 26 de Julho. O chefe barbudo era tido como católico, usava um rosário pendurado ao pescoço, evitava atacar a Igreja.

Além das forças que o apoiavam, Castro contava com o silêncio covarde ou cúmplice dos seus opositores naturais. Por isso, possuía condições de vencer.

Castro no poder

O futuro ditador iniciou, assim, a conquista da Ilha.

O jornalista Stanley Ross, em artigo de 12 de junho de 1960 no "American Weekly", retrata-se do apoio inicialmente dado a Castro e mostra os inesgotáveis recursos financeiros de que este dispunha. Ross afirma que Castro subornou regimentos inteiros do exército de Batista.

Só da Venezuela recebeu cinquenta milhões de dólares do seu velho amigo Rómulo Betancourt. Embora seguindo uma política moderada na Venezuela, Betancourt tinha sido marxista e já havia ajudado Castro em outras ocasiões, inclusive na passagem deste por Caracas quando do "Bogotazo". O político venezuelano, que chegou a dirigir o PC de 1930 a 1935, renunciou publicamente ao comunismo mais tarde. Não vamos julgar aqui a sinceridade da abjuração.

É do ex-Presidente venezuelano esta significativa afirmação, que Castro aliás seguiu ao pé da letra : "Havemos de apresentar Lenine e Stalin a estes povos [latino-americanos] com vaselina. Devemos forjar um ódio apaixonado contra a propriedade privada e uma determinação vital e ativa de nos despojarmos do sistema capitalista. Podemos fazer tudo isso sem utilizar a palavra que exala vapores sulfurosos: comunismo" (R. Betancourt, "El programa mínimo de presentación", 1931).

Castro prosseguiu na empresa de conquistar Cuba. Ainda segundo o Embaixador Smith, a decisão do governo norte-americano de não vender armas a Batista e sua simpatia para com o Movimento de 26 de Julho deitaram por terra com o moral do exército do ditador.

Seguindo determinações de Washington, Smith comunicou a Batista que os EUA lhe dariam asilo, caso entregasse o poder. "Autrement dit", convidou-o diplomaticamente a deixar o governo.

A polícia de Batista, por seu lado, praticava atrocidades que revoltavam a população e a predispunham a apoiar Castro.

Pela fraude utilizada ao aliciar milicianos e simpatizantes, pelo apoio daqueles que o deviam combater, pelos silêncios cúmplices de muitos, e pelos fundos imensos de que dispôs, o líder guerrilheiro de Sierra Maestra tomou o poder no dia 1º. de janeiro de 1959. Estava consumado o primeiro ato da tragédia.

Alguns fatos significativos

Na noite desse mesmo dia 1.° de janeiro, Fidel Castro pronunciou um discurso no Parque Céspedes, de Santiago de Cuba, anunciando o triunfo da Revolução. A seu lado estavam o Presidente provisório da República, Dr. Manuel Urrutia, e o Arcebispo de Santiago de Cuba, Mons. Enrique Pérez Serantes. O Prelado católico certamente não tinha presente a advertência do Divino Mestre, que acautelou seus discípulos contra lobos com pele de ovelha.

No dia 2 de janeiro Fidel Castro nega que o Movimento de 26 de Julho tenha relações com o Partido Comunista e reitera seu repúdio ao comunismo. Afirma que a acusação de que ele é comunista é uma calúnia lançada pelo regime de Batista. Do pescoço do futuro ditador pende uma medalha da Virgem da Caridade do Cobre, Padroeira de Cuba. Alguns de seus soldados exibem rosários e escapulários.

No dia 7 de janeiro, Fidel afirma que o governo não manterá relações com a Rússia ou com as nações satélites.

No dia 8 nas principais cidades da Ilha os canhões troam, os barcos tocam as sirenas e as igrejas repicam os sinos, como sinal de alegria pela vitória de Castro.

No dia 9 de janeiro, Fidel anuncia eleições num prazo de dezoito meses. No mesmo dia chega da Europa o comunista cubano Lázaro Perla, e reaparece o jornal "Hoy", órgão oficial do Partido Socialista Popular (marxista).

No dia 10, suprime-se a invocação de Deus nos juramentos judiciais e o poeta oficial do PC cubano, Nicolás Guillén, é nomeado poeta do regime.

Para um observador de boa fé os dez primeiros dias do novo governo já davam material para se formar um juízo. Fidel, entretanto, ainda pôde jogar por quase três anos com a cegueira de uns, a covardia e má fé de outros, antes de declarar-se comunista.

A 22 de janeiro, no salão "Copa Room" do Hotel Havana Riviera, Castro recebeu jornalistas americanos. Começou a entrevista dizendo: "Quero esclarecer que não sou comunista, porque estou certo de que a primeira coisa que irão dizer é que sou comunista".

No dia 23 de janeiro, em Caracas, Castro conversa longamente com o poeta comunista chileno Pablo Neruda. Durante sua estadia na capital venezuelana, só concede uma audiência privada, e essa é dada aos irmãos Machado, líderes comunistas. A reunião dura mais de quatro horas.

No dia 13 de fevereiro, o Subsecretário de Estado dos EUA, Roy Rubotton, expressa em Bogotá seu firme desejo de que os ideais da revolução cubana sejam levados a plena realização.

No dia 16 de abril, Fidel Castro declara: "Meu governo não é comunista nem capitalista: é humanista".

No dia 8 de junho Mons. Evelio Díaz, Bispo Auxiliar e Administrador Apostólico de Havana, declara: "Cremos que nossa reforma agrária, em seu nobre propósito, entra de cheio dentro do espírito e do sentido da justiça social cristã, tão claramente formulada e defendida pelo Pontífice Romano, sobretudo desde Leão XIII".

Três semanas depois, Fidel proclama: "A reforma agrária não é comunista nem anticomunista, é necessária. Os comunistas a apoiam e também Mons. Díaz e o Pe. Biarán".

No dia 23 de julho, chega ao país o então senador chileno Salvador Allende, convidado pelo governo.

Em 26 de julho, Dia do Movimento, Mons. Evelio Díaz convida o povo católico a celebrar a data, dando assim apoio a Fidel.

No dia 21 de agosto o Ministro da Educação de Cuba, falando em Santiago do Chile numa concentração promovida pelos comunistas, convida os operários e camponeses chilenos a tomarem armas contra o governo legalmente eleito.

A simples resenha desses fatos já não deixa dúvidas sobre as intenções do regime e as táticas de engano que utilizou, além dos apoios que recebeu.

O comunismo manobra

Fidel Castro tinha que vencer a resistência anticomunista do povo. Para isso pôs-se a manobrar.

Foi criado o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INRA), que começou a aplicas ditatorialmente leis espoliativas.

Tornou-se comum a prática de expulsar os donos de terras com sua família, sem nenhum procedimento legal. A conta bancária dos espoliados era bloqueada concomitantemente, o que deixava inúmeros lares na mais negra miséria, da noite para o dia.

Quando se anunciou a reforma agrária, alguns fazendeiros afetados por ela doaram dinheiro, rebanhos, dias de trabalho, arados etc., colaborando com a revolução. De nada lhes valeu esse gesto, pois foram também varridos por ela.

Nessa hora, a Igreja Católica deveria reclamar o cumprimento do 7.° Mandamento: "Não furtarás", e do 10.° Mandamento: "Não cobiçarás as coisas alheias", — mas não o fez. As cúpulas das entidades agrícolas, por sua vez, calaram-se quando era seu dever defender os legítimos direitos dos associados.

Defendendo o direito de propriedade ameaçado, os Bispos e Sacerdotes, além dos fazendeiros, estariam defendendo os próprios pilares da civilização cristã. Muitos não o fizeram, sendo assim cúmplices da queda de Cuba nas garras dos marxistas.

As reações aumentaram; as embaixadas encheram-se de asilados. Os que podiam abandonavam o país. O "paredón" pôs-se a funcionar ininterruptamente para silenciar os opositores.

Aqui cabe uma reflexão. Muitos dizem que Castro contava com o apoio popular. A utilização em larga escala do "paredón" e a opressão em que jaz ainda hoje o povo cubano provam o contrário. Havia para o novo regime duas possibilidades de manter-se no poder: submeter-se a um teste eleitoral ou esmagar a oposição por métodos violentos. Se Castro fosse realmente popular, ele escolheria a primeira via, para legitimar seu governo perante a opinião pública mundial, aparecendo como líder consagrado pelo povo. Se escolheu a segunda, aparecendo aos olhos de todos com mãos tintas de sangue, é porque não lhe seria possível submeter-se ao teste das urnas sem ser varrido do cenário público.

Um setor de onde Castro temia reações eram as Forças Armadas. Ali também ele utilizou o método do terror. Depois de centenas de execuções sem julgamento, anunciou que procederia a uma depuração. Os casos seriam estudados individualmente, afirmou-se. Aquele que não tivesse cometido delito algum, nada tinha a temer. Essa "segurança" não convenceu ninguém. Começaram a afluir os pedidos de licenciamento. Muitos militares tomaram o caminho do exílio, outros recolheram-se a seus lares ou mudaram-se para outras cidades em busca de trabalho. O novo exército começou a recrutar-se nas milícias populares e nas fileiras comunistas.

Como por encanto, surgiram centenas de milhares de uniformes das mais variadas cores. Foram fundadas organizações denominadas primeiros comunistas, jovens rebeldes, juventude feminina, mulheres federadas, milícias de trabalhadores, comitês de defesa, comitês de vigilância dos centros de trabalho.

O povo , sentia temor de sair à rua e não se considerava seguro nem no lar, nem no local de trabalho. À noite, ouvir que alguém batia à porta fazia estremecer os moradores. No melhor dos casos se tratava de uma comissão que investigava quantos membros da família estavam dispostos a integrar-se na revolução, quantos trabalhavam, quantos pertenciam aos comitês, quantas crianças iam à escola, etc. A ausência do retrato de Fidel colocava os ocupantes da casa em situação incômoda.

A imprensa que ainda não estava nas mãos dos comunistas começou a reagir. No início não atacou a revolução, mas somente os desmandos dela.

Os detentores do poder retrucaram com violenta campanha contra os jornais que faziam oposição. O slogan era "paredón!" para os diretores e jornalistas que não afinassem com os marxistas.

O "Diario de la Marina", "El País", "El Mundo", "Carteles", "Bohemia", "Excelsior", "Avance", tentaram fazer frente ao comunismo. Edições inteiras dessas folhas foram queimadas. Os distribuidores foram ameaçados.

Pouco depois, o governo decretou que em todo jornal funcionaria o que ele chamou de "direito de réplica". Daí em diante, nas redações dos órgãos da oposição o governo colocou um jornalista seu. Cada editorial contra o regime era seguido logo abaixo de uma refutação injuriosa, na qual se incluíam insultos ao autor da nota e ao diretor do jornal. Um a um, todos os órgãos da oposição foram desaparecendo.

Ao mesmo tempo, viajantes adrede preparados visitavam a Ilha e saíam contando maravilhas dela. Jean-Paul Sartre, que a visitou em março de 1960, comentou: "O governo e a revolução não são nem capitalistas nem comunistas, mas humanos".

Enquanto isso, a revolução ia devorando seus próprios filhos. Dos primeiros companheiros de Fidel, poucos foram poupados. O Movimento de 26 de Julho não se tinha declarado comunista e havia tido as bênçãos de certo setor de Clero, bem como o apoio de uma boa parte da burguesia. Atraíra assim um grande número de não comunistas. Era chegada agora para os marxistas a hora de depurar seus quadros de todos aqueles que não comungavam de suas ideias.

Aliás, o expurgo havia começado antes mesmo da queda de Batista. Alguns comunistas que atuavam no Movimento de 26 de Julho "venderam-se", seguindo as ordens do partido,

Conclui na pág. 4

Milícias revolucionárias foram criadas para esmagar a resistência anticomunista. Como por encanto, surgiram milhares de uniformes de todos os feitios.

Castro jamais desmentiu as qualidades cênicas que seus professores Jesuítas vislumbraram nele em 1945, quando diziam que "no faltará el actor que hay en él".