para a polícia secreta de Batista, entregando a esta alguns camaradas. Com isso lucravam duplamente: ganhavam a proteção do próprio governo cubano, e ao mesmo tempo entregavam à polícia vários líderes anticomunistas em circunstâncias nas quais certamente seriam mortos. Depois da tomada do poder, a eliminação dos não marxistas acelerou-se. Os processos públicos, os tribunais revolucionários, as execuções sem julgamento mandaram à tumba muitos antigos colaboradores de Fidel.
A aplicação do marxismo na Ilha teve o mesmo efeito que, anos mais tarde, teria no Chile. A reforma agrária trouxe a escassez de produtos agrícolas, pelo decréscimo da produção.
Na primavera de 1960 já se introduziram as "quartas-feiras sem frangos".
As indústrias começaram a parar, os bens de consumo a escassear, o mercado negro surgiu, o açambarcamento de gêneros alimentícios generalizou-se.
Cuba, uma ilha cercada de águas piscosas, viu com espanto várias espécies de peixes e mariscos desaparecerem de seus mercados.
A burocracia, a incompetência, a negligência e o fanatismo ideológico próprios do regime marxista, começavam a dar seus amargos frutos.
O próprio Castro reconheceu a penúria na qual imergia o povo cubano. O jornal "Revolución", de 13 de março de 1962, reproduziu esta declaração do ditador: "Es preciso, sin duda de ninguna clase, hablar con toda franqueza. El problema más serio que ha tenido que confrontar la Revolución es este problema del abastecimiento... Despues de que nosotros nos hemos pascido aqui, muchas veces diciendo que si no hay tal cosa que comer, comeremos malanga. Entonces, la gente dice, bueno, y donde está la malanga?"
A essa altura ia adiantada a exportação da revolução para a América Latina, eram claríssimos os laços de sujeição de Cuba à Rússia Soviética e o apoio total do governo ao comunismo. Já não era necessário continuar com o ardil que vinha sendo usado pelo regime.
Em maio de 1961, Cuba foi declarada uma república socialista.
Em 2 de dezembro de mesmo ano, Fidel Castro, em discurso público, confessou-se marxista, acrescentando que durante toda a sua vida o tinha sido.
Cuba foi oficialmente colocada na órbita soviética.
O segundo ato da tragédia encerrava-Se.
Antes de esboçar em breves traços a situação na qual jaz atualmente a Ilha, uma palavra sobre a frustrada tentativa de invasão, feita por refugiados cubanos, na Baía dos Porcos, em 1961.
Foi tal o proveito dela tirado pelo comunismo internacional, que um observador atento às manobras marxistas e conhecedor da astúcia que as caracteriza, é levado a perguntar se ela não foi infiltrada e traída desde o início.
Fidel estava submetido a forte oposição interna, que ameaçava derrubá-lo. Com a derrota da invasão, ele pôde desbaratar a oposição na Ilha, capturando alguns dos seus elementos mais ativos.
A atuação dos exilados também era perigosa. Frustrada a expedição libertadora, espalhou-se o desalento nessa área, além de Castro ter conseguido matar ou capturar a fina flor do anticomunismo cubano que tentou conquistar a Ilha.
A malograda invasão serviu de pretexto para o estreitamento dos laços com Moscou e para a entrada definitiva de Cuba na órbita soviética.
Kennedy havia prometido apoio aéreo, mas retirou sua palavra no último momento, abandonando dessa forma os heroicos invasores à morte ou à prisão.
Alguém traiu o movimento, entregando aos comunistas listas de nomes da resistência subterrânea em Cuba, o que provocou uma onda de execuções.
Havia aproximadamente três mil homens em armas dentro da Ilha, já com planos feitos, esperando a ordem para o ataque. A ordem não chegou e todos eles se viram entregues à sanha dos comunistas.
A lista dos tristes e inexplicáveis fatos que se seguiram ao episódio da Baía dos Porcos é longa.
O resultado concreto foi que depois desse episódio o comunismo estava muito mais forte em Cuba.
Consolidado o regime, amargos frutos começaram a amadurecer.
Um rígido esquema de marxistização da infância e da juventude foi instalado.
Chegaram milhares de estrangeiros da América, Ásia e África para se instruírem ideológica, política e militarmente; vieram também numerosos instrutores de várias nações.
Para estes, ora chamados de "delegados", ora chamados de "técnicos", não existe o racionamento.
Estabelecimentos especiais, aos quais os cubanos não têm acesso, foram criados para atender às necessidades dos estrangeiros. Estes muitas vezes estabelecem relações "comerciais" com os naturais da Ilha. Como os cubanos sofrem uma carência crônica de alimentos, amiúde se dispõem a trocar objetos de ouro, de prata, adornos de cristal, cerâmicas, móveis de família, por carne enlatada russa, compotas húngaras, queijo polonês, etc. E são escorchados nesse comércio, pois os comunistas pedem pelos alimentos preços astronômicos.
O corpo docente das Faculdades de Medicina foi, como seria de se esperar, expurgado. Estudantes comunistas ocuparam os cargos dos antigos mestres.
Muitos estudantes ficaram profundamente chocados ao verem seus colegas de ontem, os quais não brilhavam pelo saber, aboletados nas cátedras como seus novos professores. A situação nesse setor do ensino tornou-se caótica.
Aos futuros médicos cabem duas opções: ou emigrar para continuar seus estudos, o que muitos não podem fazer, ou resignar-se, receber o diploma numa universidade cubana e sujeitar-se a qualquer trabalho indicado pelo Estado.
A primeira leva de formados sob esse regime recebeu do povo o apelido de médicos "três picos", porque se dizia em Havana que a única prova que se exigia deles era subir três vezes o pico Turquino.
Esses novos facultativos encontraram (e ainda encontram) um campo de trabalho pré-determinado pelo Estado. Este os obriga a dois turnos de trabalho de seis horas cada um. Em cada turno, o médico tem obrigação de atender a oitenta pacientes, o que dá uma média absurda de treze consultas por hora.
Os laboratórios receberam ordem de nunca atestar menos de 4.800.000 glóbulos vermelhos no resultado dos exames de sangue entregue ao paciente. Numa folha que só ia para o clínico, a situação real era atestada. O motivo é simples: a desnutrição, pela carência alimentar, aumentara assustadoramente e o governo não queria deixar que o fato se tornasse de domínio público.
A quase totalidade dos médicos foi incorporada aos hospitais e foram suprimidas as consultas particulares. Os doentes têm obrigação de ir até o hospital para serem atendidos. Para os casos simples, a situação não é dramática. Entretanto, para os casos graves é difícil a solução, pois o serviço de ambulâncias funciona mal, e taxis quase nunca são encontrados.
Imaginemos os transes por que passa um doente em estado grave, que depois de mil peripécias consegue chegar ao hospital e lá é atendido por médicos "três picos", carentes dos conhecimentos necessários e do material adequado.
Em Cuba, sob a ditadura de Batista, embora houvesse muitas injustiças a censurar, protegia-se o trabalhador com a jornada de quarenta horas e pagamento de 48 horas, salário mínimo, assistência à maternidade, seguro contra acidentes, descanso remunerado, licença por enfermidade, trinta dias de férias anuais, cinquenta por cento do salário mensal como abono de Natal, irremovibilidade, aposentadoria aos 55 anos com 75% do ordenado. Havia participação nos lucros em algumas empresas.
Castro restringiu enormemente as regalias operárias. Foi suprimida a jornada máxima de trabalho, reduzidos os salários, instituído o "trabalho voluntário", sem remuneração, que é uma forma mal disfarçada de trabalho escravo.
O regime promulgou em 1970 uma verdadeira legislação anti-social, que comina punições para três classes de trabalhadores:
a) vagabundos: aqueles que, havendo trabalhado durante toda a safra açucareira, que termina em 31 de julho, não se reincorporam ao trabalho no dia 1.° de agosto. A sanção pode ser a supressão da caderneta de abastecimento (em outras palavras, a fome), ou o trabalho forçado numa granja do Estado até dois anos;
b) semivagabundos: aqueles que, embora realizando suas oito horas normais de trabalho e não faltando nenhum dia, não executam "trabalho voluntário" nem pertencem a nenhuma organização de massa. A sanção contra esses pode ir até seis meses de trabalhos forçados;
c) absenteístas: aqueles que, cumprindo embora seu horário, realizando "trabalho voluntário" e pertencendo a organizações de massa, faltam, por motivos alheios à sua vontade, ao trabalho. A sanção contra esses é a crítica pública.
Por essa legislação todo trabalhador cubano está sujeito a, mais cedo ou mais tarde, ser inculpado de um desses delitos, os quais são julgados por tribunais populares.
Os tribunais populares são caricaturas dos tribunais de justiça. Constituídos por membros do PC sem nenhum preparo jurídico e destinados a julgar de maneira "expedita", suas sentenças não têm apelação e são executadas imediatamente.
Não nos deteremos aqui nas incontáveis vítimas que esses tribunais mandaram aos pelotões de fuzilamento. Analisaremos outro aspecto.
Espalhados por toda a Ilha, eles infernizam a vida da população. Imaginemos um pacato cidadão condenado a cortar cana por três dias, ou varrer as ruas aos domingos durante um mês, porque não tem "sentimentos revolucionários", "responsabilidade proletária" ou "identificação com o povo". É o que pode acontecer a todo momento, com qualquer cubano.
O regime difunde que há educação obrigatória e gratuita em Cuba. O obrigatório não traz novidade, pois tudo no regime marxista é obrigatório.
O gratuito é falso. Há as famosas "Escuelas de Cara al Campo". Depois dos doze anos, todo aluno trabalha no campo para o Estado de 75 a 90 dias por ano, gratuitamente.
Além do mais, muitas vezes escolas inteiras são convocadas para executar "trabalho voluntário", o que faz o corpo discente quebrar o ritmo dos estudos, provocando o desinteresse em muitos dos alunos.
Análoga à KGB soviética, a polícia secreta cubana — o G-2 — é o terror da população.
Muitos prisioneiros suicidam-se nas prisões, pelo pânico dos tormentos que lhes estão reservados.
Num Estado que erigiu como norma a violação de todos os direitos, nada mais natural do que um organismo que espalhe a insegurança e o medo entre a população.
A fome, as delações, as execuções, o terror, o confisco e o crime erigidos em lei, produziram seus frutos lógicos: 800 mil cubanos vivem hoje no exílio.
Proporcionalmente seria o equivalente ao expatriamento de 10 milhões de brasileiros.
O terceiro ato da tragédia cubana ainda continua desenrolando-se aos olhos de um mundo aturdido e um tanto esquecido do encadeamento de desgraças que se abateram sobre a ilha do Caribe.
Ao terminar a recapitulação sumária e quase esquemática do furacão que há anos assola Cuba, manifestamos a firme esperança de que tudo isso não passará de um pesadelo na vida da jovem nação. Será um parêntesis trágico na sua história, que logo será fechado.
Tanto sangue derramado, tantos martírios atrairão o olhar misericordioso de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, Padroeira de Cuba.
E esperamos que os cubanos que habitarão futuramente a "Pérola das Antilhas" já reinvestida na sua honra e dignidade, aproveitarão largamente os ensinamentos que essa revolução lhes terá proporcionado, tornando-se vigilantes contra toda sorte de enganos e ardis.
Seguindo os ensinamentos dAquele que nos preveniu contra os lobos vestidos de ovelhas, e nos ensina a ter a simplicidade da pomba e a prudência da serpente, Cuba terá um futuro brilhante nas vias da civilização cristã.
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Compulsamos ainda vasta documentação amavelmente fornecida por refugiados cubanos dos EUA (a quem consignamos aqui os nossos agradecimentos), como também o noticiário da imprensa internacional. Não podemos deixar de mencionar os artigos publicados na imprensa brasileira pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, em cujos lúcidos e oportunos comentários nos inspiramos.
Já há algum tempo, o mundo assiste a tentativas, ora de um país, ora de um grupo de nações, de reconduzir Cuba ao seio da comunidade americana.
A reintrodução do ditador do Caribe nessa comunidade representa, para os que a propugnam, nada mais do que a execução, em ponto pequeno, da política de distensão que vem sendo levada a cabo em escala mundial.
Se Nixon já anda de braços dados com Brezhnev e Mao, por que proceder de outro modo com a tirania instalada na "Pérola das Antilhas"? Nada mais natural — dizem os propagandistas da aproximação com Fidel — do que, tendo o Presidente norte-americano se reconciliado com o ocupante do Cremlin, reconciliar-se também com seu satélite cubano.
Seria correto o raciocínio se a "détente" não fosse uma política desastrosa. Entretanto, ela vem produzindo catastróficos resultados, como "Catolicismo" mostrou no estudo publicado em seu n.° 281, de maio p. p.
A política do Presidente "yankee" só seria benéfica na hipótese de estarem os russos de completa boa fé, de terem renunciado aos seus intuitos de conquista ideológica, política e militar.
Caso contrário, Nixon e os demais líderes do mundo livre, pela estrada das concessões paulatinas, levarão o Ocidente ao suicídio. Como o inimigo é insaciável, cada concessão exigirá nova concessão. A Escritura diz: "Um abismo atrai outro abismo".
Portanto, a "détente" é a renúncia à derrubada do adversário comunista, e pior que isso, é a consolidação de seu poderio e de suas conquistas.
Embora não estejamos de acordo com a posição ideológica de Solzhenitsyn e Sakharov, acreditamos que denunciam fatos verdadeiros. O regime de campos de concentração, a miséria onímoda, o desprezo pela vida humana são pintados em cores vivas pelos dissidentes russos. Fatos análogos dão-se em Cuba.
Consolidando o regime comunista, ajudando-o por gordos donativos, desanimando os anticomunistas, Nixon perpetua por detrás da cortina de ferro os campos de concentração, a fome, as execuções sumárias.
Se a distensão com relação à Rússia é um erro, a mesma política com Cuba é um erro e um absurdo. Fidel Castro é um inimigo pequeno. Não tem condições de declarar uma guerra contra os EUA. Não é senão um guerrilheiro que transformou Cuba num foco de agressões de guerrilheiros. Uma ilha transformada em campo de concentração e de treinamento subversivo, que serve de plataforma para a subversão do resto do continente.
A Rússia está, em âmbito mundial, mostrando quão infundada é a confiança que se tem nela. Por interpostas pessoas, ora os árabes, ora guerrilheiros sabotadores, vai pondo em pânico o Ocidente. Cuba, títere dos russos, não se aproveitará de uma melhora de suas condições para realizar mais eficazmente os desígnios soviéticos?
Cuba foi expulsa da comunidade americana porque era dominada por um governo marxista que estava exportando subversão. Sem que tenha renunciado a nenhum de seus princípios (se bem que em alguma medida tenha modificado parte dos métodos), sem que tenha abdicado do intento de ver a América convertida num cárcere vermelho, começa-se a falar insistentemente na sua volta ao concerto das nações americanas. Estranhamente, ninguém pede dela a retratação.
Como a reação da opinião pública seria vigorosa se Castro fosse reintegrado sem mais na comunidade americana, uma sagaz tática foi adotada pelos promotores dessa medida.
Poderíamos denominá-la a tática dos vais-e-vens. De repente, a imprensa começa a publicar pronunciamentos de governos, de associações, de personalidades, advogando a entrada de Cuba na OEA. Como uma onda do mar, estas notícias inundam os ouvidos do público e depois refluem. Tem-se a impressão de que a campanha morreu. Pouco tempo depois, nova onda publicitária forma-se no oceano e vem contra a praia da opinião pública. Assim, os povos do continente vão sendo preparados para aceitar o conviva que havia sido expulso, sem que ele tenha renunciado a uma vírgula dos motivos que provocaram seu afastamento.
A palavra de ordem e a meta final do movimento já é percebida por todos: Cuba deve ser reintegrada no convívio das nações americanas. À primeira vista, para um observador desavisado, a causa pode parecer simpática: "Afinal de contas, os cubanos pertencem à família americana. Um regime pernicioso os privou da amizade de nações irmãs".
Na realidade, as coisas estão longe de ser tão simples. As iniciativas de integração são louváveis quando têm por objeto pessoas, valores ou coisas sadias e harmônicas. São um desastre quando enxertam o que é doente no que é saudável, ou quando implicam na conjunção de heterogêneos. E Cuba tornou-se um elemento heterogêneo no continente americano, por muitas razões. Entre estas, enumeraremos algumas:
• 1 — O regime cubano, por ser comunista, é intrinsecamente perverso. Admiti-lo como membro válido de uma comunidade de nações como a nossa, importa em pactuar com a injustiça institucionalizada.
• 2 — O regime de Fidel Castro só se mantém pela violência. Se em Cuba se realizasse uma eleição livre, precedida de amplos e genuínos debates políticos, é indiscutível que o ditador seria fragorosamente derrotado. Não é à toa que Castro cerca seu país de arame farpado e arrocha todas as liberdades. A integração da Cuba comunista não seria, pois, a integração da Cuba autêntica, mas de uma pseudo-Cuba, ou melhor, de uma anti-Cuba. Desse modo aceitaríamos no convívio continental, não o irmão verdadeiro, mas o opressor e inimigo mortal deste. Agindo dessa forma, máxime com a agravante de um inteiro conhecimento de causa, faríamos uma injúria gratuita ao irmão infeliz e oprimido.
• 3 — Mais ainda. Os numerosos cubanos exilados e os que na pátria esperam, com uma perseverança profundamente respeitável, a aurora do dia da libertação, têm direito a receber das demais povos do continente todos os graus e formas de solidariedade política, para sacudir o jugo do tirano. A integração do regime comunista cubano representaria a consolidação do castrismo e a morte daquela nobilíssima esperança. Implicaria assim no pecado de quebrar o arbusto partido e extinguir a mecha que ainda fumega (cf. Mat. 12, 20).
• 4 — Pensemos mais especialmente nos inúmeros cubanos e cubanas que jazem nas masmorras da outrora "Pérola das Antilhas", ou trabalham como escravos nas lavouras de cana para a realização do sonho megalômano com o qual Fidel Castro presume remediar os efeitos catastróficos de sua má administração. Iremos consolidar as muralhas de suas prisões e os grilhões de sua escravidão?
• 5 — Negamos que essa integração nos seja imposta por qualquer razão política ponderável. A republiqueta a que Fidel Castro reduziu Cuba não tem prestígio, nem riqueza, nem força que explique (não falamos em justificar, note-se) a capitulação de toda a América diante dela.
Dirá alguém: "Está bem. Os argumentos são convincentes. Cuba não deve ser reintegrada. Nada de relações diplomáticas. Mas, o bloqueio econômico, este sim, deve ser levantado, para minorar os sofrimentos daquele povo opresso. Ademais, o bloqueio mostra-se ineficaz, pois dura há mais de dez anos e Fidel Castro continua no poder". Outro acrescentará: "Como o comércio enriquecerá os países e pessoas que com Cuba negociarem, e há poucas possibilidades de o comunismo ser varrido da Ilha, o melhor é minorar o mais cedo possível os sofrimentos pelos quais passam os cubanos".
Duas perguntas saltam imediatamente aos lábios: bloquear economicamente Cuba é, na prática, aumentar os sofrimentos do povo cubano? Cuba foi bloqueada verdadeiramente? Além do México, que não acatou a resolução da OEA, vários países do mundo ocidental continuaram a comerciar com Havana, o que restringiu muito o alcance das medidas tomadas. Esses governos, sem dúvida, contribuíram para a permanência de Fidel no poder.
O regime comunista deu origem em Cuba ao confisco da soberania nacional pelos soviéticos. Acarretou o cerceamento das mais legítimas liberdades, entre as quais a liberdade religiosa. Trouxe consigo a insegurança, as torturas e a morte. Implantou a fome. E tudo isso, por efeito da própria essência da doutrina marxista.
Assim, o verdadeiro meio de aliviar os sofrimentos dos cubanos consiste em trabalhar para erradicar de seu país o regime comunista. O bloqueio é um dos meios para chegar a tal. Ele não aumenta os sofrimentos do povo cubano, senão como certos remédios que agravam temporariamente os padecimentos do enfermo para possibilitar sua cura.
O fazer bem a Cuba não consiste em encaminhar riquezas para um regime cuja estrutura impede que elas sejam corretamente utilizadas, e que se servirá delas apenas para manter-se no poder e não para beneficiar o povo. O contrário é que deve ser feito: condicionar o auxílio à mudança do regime, criando assim uma pressão que desmoralize os detentores do poder, os debilite e, por fim, lhes tire o ar.
Entretanto, imaginemos que o regime não utilizasse os recursos obtidos para se manter, mas procurasse atender às necessidades da população. A consequência natural é que com isso ele se consolidaria e portanto se tornaria mais opressivo. Estaríamos expondo os cubanos à tentação de trocar o direito à liberdade por pão. Nada pior do que induzir um povo a vender sua própria liberdade.
Devemos considerar ainda que a Rússia gasta anualmente somas pesadas com o apoio econômico e militar que dispensa ao regime cubano. Se, enquanto os EUA asseguram a intangibilidade de Cuba contra qualquer ataque militar, a América for manter economicamente o regime castrista, acabando com o bloqueio e fornecendo-lhe créditos, prestar-se-á à Rússia esse serviço incomparável: sem qualquer gasto dos russos, Cuba continuará comunista.
É preciso não ter ilusões a respeito da mentalidade comunista. Logo que Havana se sentir garantida econômica e militarmente pela aplicação da distensão nas suas relações com os EUA e com o resto da América, irá reivindicar o repatriamento de seus cidadãos exilados, para extinguir qualquer foco de anticomunismo cubano que possa, do Exterior, ter influência na Ilha. Será uma forma de imperialismo arrogantemente exercida por Fidel Castro dentro das fronteiras americanas, em paga de todos os benefícios que ele terá recebido. Os EUA. E os demais países do continente sofrerão pressão do ditador barbudo para que cometam um crime com proporções de genocídio, isto é, entregar os refugiados à sanha dos carrascos de La Cabaña.
Solzhenitsyn, em carta enviada aos líderes soviéticos, relembra um episódio já um tanto esquecido, o qual mostra que Fidel Castro não será o primeiro a tentar um tal passo. Diz o escritor russo: "A diplomacia soviética [...] sabe como fazer exigências e obter concessões [...]. Em termos de realizações práticas, pode até ser considerada brilhante. Teve alguns momentos especialmente dignos de nota. Por exemplo, no fim da segunda Guerra Mundial, quando Stalin, que sempre superara Roosevelt, superou também Churchill e não só obteve tudo o que queria na Europa e na Ásia, mas também conseguiu a volta — talvez para sua própria surpresa — de centenas de milhares de cidadãos soviéticos que se encontravam na Áustria e na Itália, decididos a não retornarem à pátria, mas que foram traídos pelos aliados ocidentais".
O motivo de Stalin era o mesmo de Fidel: o medo da oposição anticomunista fora de suas 'fronteiras.
O leitor já imaginou que sorte reservou Stalin para as infelizes, criaturas, atiradas aos seus braços pelos aliados ocidentais? Imagine agora que destino terão os refugiados cubanos nas mãos do Stalin do Caribe.
O comércio com Cuba será prejudicial às nações americanas. Depauperada pela ação, ou sobretudo pela inação, da economia comunista, a Ilha nada nos tem a oferecer. Num momento em que as sombrias perspectivas de desequilíbrio da balança comercial se avolumam pelo aumento do preço do petróleo, aumentá-lo
Nossas homenagens e nosso repúdio.
Aos cubanos que caíram na luta contra o comunismo em sua pátria, nosso preito de respeito e admiração.
Àqueles que, nos sombrios fossos das masmorras comunistas, antes de receberem a descarga fatal gritaram: "Viva Cristo-Rei", nossa veneração comovida e entusiasta.
Aos cubanos que, não tendo abandonado seu país, lá vivem impotentes, mas inconformados, nossos fraternais sentimentos de compaixão e o desejo de que, tão logo seja possível, vejam sua pátria libertada.
Aos cubanos que, deixando família, amigos, posição social e bens, abandonaram sua terra natal, para continuar fora o combate contra o regime opressor, nossos mais sinceros votos de êxito nessa sagrada luta.
Aos que, fechando os olhos ao perigo, por covardia ou traição, disseram:
- "Não há perigo. O povo cubano é anticomunista. O espírito latino rejeita visceralmente a tirania marxista. Não sejamos pessimistas, vendo o comunismo em tudo e em todos",
- "Não se preocupem. É inadmissível que os norte-americanos deixem a Rússia instalar uma colônia a 170 quilômetros de suas costas",
- "Realmente, Fidel Castro tem muitos assessores comunistas, mas ele mesmo é bem intencionado".
A estes, nosso repúdio e rejeição, por terem tornado possível o advento da mais sanguinária e antinatural ditadura que a América jamais conheceu.