No dia 12 do mês passado chegou à Diocese de Campos, pela terceira vez, a milagrosa Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, a mesma que chorou em Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 1972. Para anunciar ao Revmo. Clero, às Religiosas e ao povo fiel a jubilosa notícia dessa visita, o Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer publicou uma oportuna Circular "sobre a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, por ocasião do cinquentenário da instalação da Diocese de Campos e do terceiro centenário da fundação da Paróquia do Santíssimo Salvador". Reproduzimos a seguir o texto integral do documento:
"Ao Revmo. Clero Secular e Regular, às Revdas. Religiosas, à Ordem Terceira do Carmo, às Associações de piedade e apostolado, e aos fiéis da Diocese de Campos, saudação e bênçãos em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Caríssimos Cooperadores e amados filhos,
Com imensa alegria, comunicamos aos Nossos caríssimos Cooperadores e amados filhos que, pela terceira vez, teremos a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Esteve ela aqui entre nós, em abril de 1952, trazida por uma comissão internacional tendo à frente o Exmo. Mons. Vigário Geral de Leiria — a Diocese onde se encontra Fátima — e composta do Revmo. Pe. Dumouriez, belga, e das Exmas. Srtas. Maria Teresa Pereira da Cunha e Maria Teresa Vilas Boas. Voltou, depois, em maio do ano findo, e, como na primeira vez, deixou imensas saudades.
Em ambas estas duas visitas, a Imagem demorou-se apenas na cidade de Campos. Eis que os Vigários dos outros Municípios da Diocese manifestaram o desejo de terem também eles a graça da visita da milagrosa Imagem. Após várias tratativas, podemos hoje dar a alviçareira notícia de que estamos habilitados a satisfazer aos seus muito justificados desejos. A Imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, peregrina do mundo, estará em cada uma das cidades da Diocese, por alguns dias, de acordo com um calendário a ser elaborado, depois de ouvidos os Revmos. Vigários do interior da Diocese.
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A visita da Imagem Peregrina é uma graça especial de Nossa Senhora. Assim devemos nós recebê-la. Cumpre, pois, aproveitar tão inefável favor celeste, e não permitir que se perca oportunidade tão grande de mais nos aproximarmos de Deus Nosso Senhor.
Atendamos, pois, ao pedido que Maria Santíssima nos fez ao visitar-nos em Fátima, na pessoa dos três pastorinhos. Ela pediu orações e penitência. E tinha em vista, de modo particular a conversão dos pecadores.
Comecemos por nós mesmos, por nos converter de uma vida tíbia ou pecaminosa, para o fervor ou a graça de Deus. E se nos falta a coragem para mudar de vida, se percebemos a debilidade de nossas forças, peçamos a Maria Santíssima o de que precisamos, e Ela nos ouvirá. Primeiro, Ela nos obterá o desejo sincero de emenda de nosso procedimento. Depois Ela iluminará nossa inteligência que bem avaliemos nossa existência, apreciando, na justa medida, os bens terrenos, a nós concedidos pela Munificência Divina, como meios de conseguir os bens eternos. Por fim, a proteção de Maria nos levará a agir segundo esse critério verdadeiramente cristão.
Semelhante graça de conversão é fruto de exercícios de piedade e devoção que constam da Mensagem de Fátima: a reza diária do terço, a mortificação voluntária, assumida em espírito de penitência, a consagração ao Coração Imaculado de Maria. Para excitar em nós o espírito de penitência — base indispensável da renovação interior — prometeu a Virgem Mãe sua assistência na hora tremenda da morte a quem procurasse reparar as ofensas cometidas pelos homens ingratos contra seu Coração Puríssimo. É o que visa Maria Santíssima com a devoção dos cinco primeiros sábados, a que anexou aquele singular privilégio. É igualmente esse o fim colimado pela consagração que Maria Santíssima pediu ao seu Coração Imaculado.
Confiamos que a visita da Imagem Peregrina afervore em Nossos amados filhos, tão amáveis quão santificadoras devoções.
Cremos que não é preciso insistir sobre a necessidade de recordar a Mensagem de Fátima, que a Imagem Peregrina vem avivar em nossa memória.
Depois que o Santo Padre, Paulo VI, denunciou a poluição do ambiente eclesiástico, realizada pela fumaça de Satanás, ou seja, pelo espírito perverso que tenta subverter a mentalidade católica e perder as almas, não é preciso acumular argumentos para nos convencermos de que devemos nos precaver contra o perigo de nos deixarmos arrastar a uma concepção e a práticas religiosas que nos distanciam do espírito, das máximas, da revelação, enfim, de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Estamos, deveras, numa época em que se olvidou a noção da transcendência de Deus, e, consequentemente, da finalidade última do homem. A preocupação, quase obsedante, de afirmar os direitos do homem, de enaltecer sua dignidade, bem como a negligência em acentuar seus deveres, leva a esquecer os bem mais sacrossantos direitos de Deus. À construção da cidade de Deus, que prepara a criatura para a Jerusalém celeste, objeto da esperança dos filhos de Deus, e termo de seu repouso eterno, substituiu-se o afã de criar a cidade do homem, circunscrita aos horizontes temporais, apresentada como a razão da existência do ser racional.
Cria-se, desse modo, o meio propício à ação do inimigo do gênero humano, que começa sua obra demolidora, dessacralizando os ambientes eclesiásticos, sob o vão pretexto de simplificações.
Extenua-se, por exemplo, a sublimidade do Sacerdócio, reduzindo-o a mera função na sociedade religiosa. Deixa ele de ser um estado na hierarquia social da Igreja, e passa à categoria de mero funcionário. Parece que não se percebe que a diminuição da dignidade sacerdotal redunda num amesquinhamento do próprio Deus, a cujo serviço está ele consagrado. Orienta-se no mesmo sentido o prazer do anonimato com que o Padre se sente mais à vontade aparecendo em trajes comuns a qualquer homem.
Ainda na mesma direção horizontalista, e por isso mesmo dessacralizante porque infensa à hierarquia, está a infiltração da mentalidade marxista em muitos meios católicos, como atesta a existência de abundante literatura sobre o assunto.
Em ambiente assim dessacralizado, é natural que pesem os Mandamentos de Deus, todos eles exigentes em matéria de combate às inclinações viciosas que o pecado original deixou como herança à natureza humana. Daí uma tendência a sacudir qualquer autoridade e a condescender com os atrativos sensuais. Em caso de conflito, sacrifica-se o dever ao prazer.
Por tudo isso, queixa-se a Mãe celeste em Fátima: não ofendam mais meu Divino Filho, já tão ofendido.
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Todo tempo é ocasião propícia para refletir sobre o amor que Jesus nos consagrou. Amor , generoso e permanente. Amor que ultrapassa os séculos e continua perene na Eternidade, onde está o Coração de Jesus Chagado sempre intercedendo por nós. De onde sempre é tempo de responder com generosidade à caridade inefável do Senhor nosso Deus. Há, no entanto, certas datas que marcam mais acentuadamente nossa vida, e por isso mesmo tornam mais viva nossa obrigação de corresponder à bondade divina.
Nossa Diocese se acha numa dessas efemérides. Pois, neste ano está ela celebrando seu cinquentenário de instalação. Criada pela Bula "Ad Supremae Apostolicae Sedis", de 4 de dezembro de 1922, só foi instalada a 15 de junho de 1924, com a posse do Exmo. Administrador Apostólico, seu futuro primeiro Bispo, D. Henrique Cesar Fernandes Mourão. É tempo, portanto, para uma reflexão séria sobre como no momento estamos retribuindo à bondade divina, que nos concedeu a graça de um lugar mais saliente na Igreja de Deus, elevando nossa região à categoria de Diocese. Eis porque julgamos a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Rosário de Fátima a melhor comemoração do cinquentenário da instalação de Nossa Diocese. Porquanto propicia um afervoramento da vida espiritual, será uma comemoração mais íntima, mais de renovação interior, eficaz na ordem sobrenatural, que é a ordem própria das coisas de Deus.
Com tão insigne visita, celebramos outrossim o terceiro centenário da criação da Paróquia do Santíssimo Salvador, cuja Matriz é hoje a Nossa imponente Catedral.
Ao lado da visita da Imagem Peregrina, promoveu o zeloso Cura da Catedral, Revmo. Pe. Henrique Conrado Fischer, uma série de conferências que marcarão indelevelmente a passagem dos dois jubileus que Campos vê transcorrer neste ano. Versam as conferências sobre a história das Dioceses e Paróquias, na Igreja; o histórico da Freguesia do Santíssimo Salvador nestes trezentos anos de existência; e o histórico dos cinquenta anos da Diocese. Aceitaram a incumbência de pronunciar as conferências, os Srs. Prof. Orlando Fedeli, ilustre catedrático de História no Ginásio do Estado de São Paulo, Dr. Manoel Alberto Barbosa Guerra, por todos reconhecido como conhecedor de nossa história goitacá, e o Revmo. Pe. Antonio Ribeiro do Rosário, Vigário Geral da Diocese, escrínio da tradição eclesiástica de Campos.
O Pontifical de ação de graças será no dia 6 de agosto, festa litúrgica do Santíssimo Salvador.
Rogamos à Virgem Santíssima, Mãe de Deus e Mãe nossa amabilíssima, Se digne abençoar Nossa Diocese e Nossos amados filhos para que todos nos beneficiemos da visita de sua milagrosa Imagem.
Campos, 8 de julho de 1974
† ANTONIO, BISPO DE CAMPOS.
Conduzida por D. Antonio, a Imagem Peregrina iniciou no dia 12 de julho sua visita à Diocese. Em Pádua, o Prefeito Álvaro Leite de Abreu deposita ao pés da Virgem a chave simbólica da cidade. O Sr. Bispo dirige-se à multidão que foi receber a Senhora de Fátima na praça da Matriz de Miracema.
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, enviou ao Ministro da Saúde, Sr. Paulo de Almeida Machado, o seguinte telegrama: "Tendo um órgão da imprensa carioca informado que V. Excia. estudará a eventual ab-rogação da portaria n.° 40 de 1970, a fim de dispensar de receita médica a venda de anticoncepcionais, ponderamos atenciosamente o grave inconveniente da medida, contrária aos princípios imprescritíveis da moral cristã e ao interesse do povoamento do país".
Da "Nova Floresta":
Com razão São Gregório Nazianzeno (que, vendo em Atenas este monstro [o Imperador Juliano], antes de crescido, logo o marcou por Apóstata, pelos sinais que ensinou o Espírito Santo) lhe chamou outro Herodes na perseguição da inocência, outro Judas na traição e aleivosia, outro Pilatos no cristicídio, e outro povo judaico no ódio da Igreja. - ["Nova Floresta", Livraria Chardron, de Lello & Irmão, Porto, 1911, 5.° tomo, p. 1741
PADRE MANOEL BERNARDES