"Para ser um bom cristão, é preciso ser primeiramente um verdadeiro marxista-leninista"
rigorosamente o critério desmitologizante. Desta maneira, desaparecem dos Evangelhos os Anjos, pois a palavra "Anjo" é traduzida por "jovem", etc.
O pior é que, assim tendenciosamente traduzidos, os textos da Bíblia passam para a Liturgia, como leitura bíblica durante a Santa Missa (a "liturgia da palavra"). Os teólogos-marxistas já anunciam que dentro de pouco tempo vão publicar uma nova edição da Bíblia, traduzida de tal forma que não fique nela nada da "mitologia", e que se aplique uma terminologia marxista. A obra do Jesuíta-marxista mexicano Porfirio Miranda é também um esforço para apresentar a Bíblia de um ponto de vista marxista e em terminologia marxista (34). Também muitos novos catecismos pretendem apresentar a Fé cristã sem "mitologia" (35).
"Nossa vigilante atenção será dirigida, por isso, a não ceder às insinuações e arbitrárias ideologias daqueles que pretendem dar ao Cristianismo uma nova interpretação do ensinamento da tradição, e da teologia da Igreja, interpretação que forçosamente está orientada para a desvalorização da realidade religiosa de nossa Fé. Desta maneira, saberemos vigiar judiciosamente as correntes que, penetradas de um abusivo espírito crítico, preconcebido e negativo, tratam de dessacralizar ou de desmitizar a Religião Católica; logo ficaria, assim, profanada não só nossa fisionomia espiritual e cristã, mas também humana" (Paulo VI, Discurso de 18 de julho de 1973, in "Osservatore Romano", edição em espanhol, de 22 de julho de 1973, p. 3).
O "cristianismo ateu" está representado por várias correntes distintas. Aqui vamo-nos ocupar apenas da corrente marxista. Segundo ela, o Cristianismo primitivo, do primeiro século, nada tem que ver nem com a religião, nem com a fé, pois é somente um movimento laico revolucionário. Tanto Moisés como Jesus foram grandes líderes políticos; o primeiro livrou o povo judeu da escravidão do Egito. Jesus, porém, segundo os marxistas, pretendia não só livrar o povo judeu da dependência romana, mas também livrar cada homem da opressão e exploração das estruturas capitalistas. Tudo o mais no Cristianismo são elementos acrescentados ao longo dos séculos por gente que não compreendeu qual era o papel essencial do Carpinteiro de Nazaré (como costumam os marxistas chamar a Nosso Senhor) na história da humanidade. Essa gente transformou o Cristianismo em uma religião e em uma fé, incorporando ao ensinamento de Jesus os mitos das religiões pagãs, especialmente das antigas culturas grega e latina. Jesus de Nazaré não é um Deus feito homem, e não o pode ser, pois Deus não existe. O conceito de Deus — segundo os marxistas — é um conceito criado pelo homem primitivo, para explicar os fenômenos que, em sua ignorância e baixa cultura, não era capaz de explicar de outra maneira. Seguindo a Feuerbach (36), os marxistas sustentam que, na realidade, não é Deus o criador do homem, mas o homem é o criador de Deus e da religião.
Cristo tampouco era um homem piedoso, religioso; esta imagem de um Cristo adorador de Deus e fundador de uma religião (a cristã) é produto de uma lenda (37). Como defensor dos oprimidos, Cristo foi precursor de Marx e de Lenine, lutava pela libertação do homem de um, regime socioeconômico opressor e explorador, e por uma nova sociedade mais justa, mais humana (38).
Assim, em poucas palavras, apresenta-se o "evangelho" do "cristianismo ateu", proclamado pelo marxismo. O doloroso é que esta apresentação do Cristianismo é objeto de admiração por parte de um grupo do Clero progressista.
Na realidade, esta maneira laica e materialista de conceber o Cristianismo não é nova, mas no passado não gozava de popularidade. Apenas a partir do momento em que os marxistas a captaram e a reelaboraram, apresentando-a de uma maneira nova e atraente, é que começou a penetrar na Teologia contemporânea, fazer adeptos entre os Sacerdotes jovens, vinculados a movimentos subversivos. A profunda crise pela qual passa a Igreja facilitou a pululação de toda sorte de erros na Teologia, e, entre eles, também o deste "cristianismo ateu". Com estupor, vemo-lo propagado por muitas revistas teológicas, em artigos de professores dos Seminários e das Faculdades de Teologia das Universidades Católicas. É este "cristianismo ateu" que constitui o pensamento teológico (?) de muitos Sacerdotes comprometidos com a revolução marxista, membros ativos dos partidos comunistas e pró-comunistas (39).
Um dos fervorosos apóstolos do "cristianismo ateu" na América Latina é Jordan Bishop McClave, Padre e Religioso Dominicano, formado na Universidade de Roma, onde recebeu a láurea de doutor em Teologia; é autor de vários livros e artigos em revistas europeias e norte-americanas, e professor universitário. Há pouco, como muitos outros Padres revolucionários marxistas, apostatou. Seus principais trabalhos, publicou-os, contudo, antes da apostasia, e neles já expunha o "cristianismo ateu", que ele considera como o "verdadeiro cristianismo" (40).
Inoculando seu veneno gradualmente, o marxismo pretende adaptar o Cristianismo às exigências de sua filosofia ateia e materialista. Poucos poderiam aceitar o conceito de "cristianismo marxista", na forma como foi apresentado por Engels, sem uma preparação prévia, através das etapas anteriormente analisadas. Se hoje tantos católicos, leigos e eclesiásticos, e entre estes até Bispos, aceitam o conceito marxista de Cristianismo, ao que parece sem maiores problemas de consciência, isso se deve, talvez, à prévia preparação, ao prévio "tratamento". Quem aceitou o "saduceísmo" está disposto, depois de algum tempo, a aceitar também o convite dos marxistas para participar na construção, conduzida por eles, de uma sociedade ideal socialista do futuro, apresentada como algo de muito semelhante e muito próximo ao conceito do "Reino de Deus na terra". Quem assimila isto já está preparado para dar um passo a mais, rumo ao marxismo, aceitando o "cristianismo horizontal", que, por sua vez, vai levá-lo até o Cristianismo concebido como "uma fé sem religião". E seguindo este "tratamento", ou seja, esta "lavagem cerebral", pouco a pouco se aproxima do "cristianismo desmitologizado" e, através dele, do "cristianismo ateu". Assim, por graus e etapas, sem maiores dificuldades, chegará ao "cristianismo marxista".
De que isto é assim, temos uma prova evidente: em abril de 1972 teve lugar em Santiago do Chile, durante uma semana, o Congresso Latino-Americano de "Cristãos para o Socialismo", durante o qual todos os participantes (em grande parte clérigos) aceitaram e fizeram seu o conceito marxista de Cristianismo, tal como o expõe Engels.
Mas, antes de citar o texto respectivo, convém recordar alguns pormenores relativos ao mencionado Congresso.
Quem são os "Cristãos para o Socialismo"? É um vasto movimento internacional marxista, com ramificações em todos os continentes. Em 1972 celebrou seu congresso em Madrid, no Escorial, com a participação de cerca de quinhentas pessoas, em sua maioria Padres, entre os quais quase quatrocentos vindos da América Latina, muitos deles professores de Teologia nas Universidades Católicas e nos Seminários.
O Congresso dos "Cristãos para o Socialismo" celebrado em Santiago reuniu também cerca de quinhentos participantes, com delegações de vários países, entre os quais a do México, encabeçada pelo bem conhecido Bispo marxista de Cuernavaca, Mons. Sergio Méndez Arceo.
O Congresso de Santiago foi preparado pelo Secretariado dirigido pelo Padre jesuíta Gonzalo Arroyo e composto por um numeroso grupo de Sacerdotes-marxistas de destacada militância política, em sua maioria professores de Teologia nas Universidades Católicas do Chile. Foi precisamente esse Secretariado que elaborou as conclusões e declarações do Congresso, integrantes do documento final intitulado "A amizade estratégica entre cristãos e marxistas", em cujo parágrafo 6.5 lemos o seguinte: "Há quase exatamente 1600 anos, atuava no Império Romano um perigoso partido da subversão. Esse partido minava a religião e todos os fundamentos do Estado; negava de plano que a vontade do Imperador fosse a suprema lei; era um partido sem pátria, internacional, que se estendia por todo o território do Império, desde a Gália até a Ásia, e ia ainda além das fronteiras imperiais. Vinha há muitos anos desenvolvendo um trabalho de sapa, subterrânea, ocultamente, mas fazia bastante tempo que se considerava já com força suficiente para sair à luz do dia. Esse partido da revolta, que era conhecido pelo nome de "os cristãos", tinha também uma forte representação no exército: legiões inteiras eram cristãs. Quando eram enviados aos sacrifícios rituais da igreja nacional pagã, para prestarem honras, estes soldados da subversão levavam seu atrevimento ao ponto de ostentar em seus capacetes distintivos especiais — cruzes — em sinal de protesto... O Imperador Diocleciano baixou uma lei contra os socialistas, digo, os cristãos. Foi-lhes vedado terem locais de reunião, foram proibidos seus símbolos — as cruzes — como outrora na Saxônia os lenços vermelhos. Os cristãos foram declarados incapazes para o desempenho de cargos públicos, não podendo sequer chega, a cabo... Diz-se até que puseram fogo no palácio do Imperador em Nicomédia, estando ele dentro. Então, Diocleciano vingou-se com a grande perseguição aos cristãos no ano 303 de nossa era. Foi a última do gênero. E deu tão bom resultado que dezessete anos depois o exército estava composto predominantemente por cristãos, e o autocrata seguinte do Império Romano, Constantino, a que o Clero chama "o Grande", proclamou o Cristianismo religião do Estado" (F. Engels, Londres, 6 de março de 1895, introdução à obra de Karl Marx "A luta de classes na França de 1848 a 1850") (41).
De onde se depreende que os cristãos participantes do Congresso "Cristãos para o Socialismo" — por razões de estratégia (como eles mesmos as definem), ou seja, para obterem as condições ótimas para a união entre os marxistas e os cristãos, com a finalidade de conduzirem juntos a revolução marxista — aceitaram o conceito marxista do Cristianismo, segundo o qual este, até a época do Imperador Constantino, teve exclusivamente o caráter de partido político, e tinha um papel igual ao que desempenha em nossa época o Partido Comunista. Impõe-se, então, como conclusão, que cada verdadeiro cristão de hoje deveria entrar no Partido Comunista. Parece que assim o entendeu ao menos um desses "Cristãos para o Socialismo", o Padre-marxista-"hippy" nicaragüense Ernesto Cardenal, que declarou à televisão em Santiago: "Para ser um bom cristão é preciso ser primeiramente um verdadeiro marxista-leninista". Outros Padres-marxistas, apesar de não fazerem declarações desse tipo, assumem plenamente essa atitude, pois muitíssimos deles pertencem aos partidos políticos marxistas (42).
Vemos assim que o método da "dosificação gradual" na marxistização da Teologia tem grande êxito, pois transforma os clérigos em agentes da revolução marxista.
Notas
1) Não se trata aqui somente da Teologia no sentido estrito da palavra, e como esta ciência se apresenta ao longo da História, pois sob o nome de "teologia" publicam-se hoje em dia muitíssimos trabalhos que pouco ou nada têm que ver com a Teologia tradicional, não passando, na maioria dos casos, de ensaios jornalísticos superficiais ou declarações de caráter político. Exemplo disso é o grosso volume de Giuseppe Vaccari, "Teologia della Rivoluzione", publicado em 1971 pela editora comunista Feltrinelli.
2) Uma grande porcentagem dos Sacerdotes que saem da Espanha para a América Latina é constituída por fanáticos marxistas-leninistas. A um congresso destes Padres marxistas, que teve lugar em Madrid (no Escorial), em junho de 1972, compareceram mais de quatrocentos delegados dos países latino-americanos.
3) Há também vários estudos "teológicos", escritos por membros dos Partidos Comunistas, como, por exemplo, o trabalho do comunista suíço Konrad Farner, editado sob o título "Theologie des Kommunismus?", Ed. Stimme, Frankfurt/M., 1969, 362 páginas. Nada neste livro justifica o título de "teologia".
4) O primeiro (cronologicamente)e o mais importante trabalho básico sobre o assunto é o artigo de Karl Marx, "Zur Judenfrage" ("Sobre a questão judaica"), publicado em "Deutsch-französichen Jahrbücher" ("Anais franco-alemães"), em fevereiro de 1844. Neste artigo, Marx polemiza com o ponto de vista de Bruno Bauer, autor de dois trabalhos sobre a "questão judaica" (o primeiro intitulado "Der Judenfrage" — "A questão judaica" — Braunschweig, 1843; o segundo, publicado na revista suíça "Einundzwanzig Boden aus der Schweiz", 1843, pp. 56-71, sob o título de "Die Fahigkeit der heutigen Juden und Christen, frei zu werden" — "A capacidade dos judeus e dos cristãos hodiernos de chegarem a ser livres"). É precisamente neste trabalho de Marx que se encontra a primeira exposição do que denominamos "marxismo".
5) Do ponto de vista sociológico, o saduceísmo reduz a religião à magia. Na religião, a relação homem-Deus expressa-se na atitude de serviço: o homem serve a Deus. Na magia, ao contrário, o homem se serve de Deus (do mundo invisível). A magia se apresenta como a instrumentalização de Deus. Assim também no "saduceísmo" o homem se serve de Deus: suas práticas religiosas, devoções, etc. têm por finalidade conseguir a bênção de Deus, isto é, são "meios", "instrumentos" e por intermédio deles o saduceu subordina (ou pretende subordinar) o mundo sobrenatural (Deus, Nossa Senhora, os Anjos, os Santos) a seus fins. O saduceu, portanto, não serve a Deus, mas se serve dEle.
6) Dietrich Bonhoeffer, "Resistance et soumission. Lettres et notes de captivité", Génève, 1964 (especialmente a carta de 30 de abril de 1944); Paul van Buren, "The secular meaning of the Gospel", New York, 1963; J. A. T. Robinson, "Honest to God", Westminster Press, 1963; Harvey Cox, "The secular city", Macmillan Company, 1963; Eric L. Mascall, "Cristianismo secularizado", Barcelona, 1970; Robert L. Richard, "Secularization Theology", New York,
1967; Jordan Bishop MacClave, "Cristianismo radical y marxismo", México, 1970.
6A) Por escatologia entende-se o estudo dos últimos fins do indivíduo e do universo criado. Divide-se em escatologia individual e escatologia geral, universal ou cósmica. A primeira ocupa-se da sorte final de cada vinda do Salvador, da ressurreição dos mortos e do Purgatório, do Céu, e do inferno; a escatologia geral, que compreende todos os acontecimentos futuros do fim dos tempos, trata do fim do mundo e da segunda vinda do Salvador, da ressurreição dos mortos e do Juízo universal (N. do T.).
7) Na introdução da obra de Friedrich-Wilhelm Marquardt, "Theologie und Socialismus. Das Beispiel Karl Barths", Kaiser-Grünewald, München-Mainz, 1972, p. 374 e p. 9. A obra de Marquardt é um trabalho com o qual optou pelo cargo de professor e que foi rejeitado pelo Instituto Eclesial protestante de Berlim. A rejeição dessa obra provocou a imediata renúncia, em sinal de protesto, do Prof. Gollwitzer. A obra de Marquardt é, talvez, o mais sério trabalho sobre a teologia de Barth, no que diz respeito a destacar nela a influência marxista. O autor, FriedrichWilhelm Marquardt, é um dos mais fervorosos seguidores de Barth na empresa de marxistização da teologia.
8) Op. cit. p. 168.
9) Op. cit., p. 325.
10) Op. cit., p. 42.
11) Op. cit., p. 52.
12) Por esta razão, teremos que voltar a ele ainda várias vezes, mais adiante.
13) Vide Otto V. Kuusinen e outros, "Manual del Marxismo-Leninismo", Moscou, 1959. Estamos citando a edição em espanhol, capítulo 21: "O período de transição do socialismo ao comunismo".
14) Marquardt, op. cit., p. 311. O texto de Barth é de 1948.
15) Josef Hromadka, "El Evangelio para los ateos", Montevideo, 1970; Gardavsky, "Deus não morreu completamente"; Milovan Machovec, "Marxismo e teologia dialética"; "Vom Sinn des menschlichen lebens", Verlag Rembach, Freiburg, 1971.
16) Jürgen Moltmann, "Theologie der Hoffnung", Chr. Kaiser Verlag, München, 1964.
17) Ernest Bloch, "Das Prinzip Hoffnung", Suhr Kamp, 1959.A respeito da relação entre a "Teologia da esperança" de Moltmann e o "princípio da esperança" de Bloch, veja-se o estudo de Moltmann: "Das Prinzip Hoffnung und die Theologie der Hoffnung", in "Evangelische theologie", n.° 23, 1963, pp. 537-557; aparece também como apêndice da 8.a edição do livro de Moltmann, "Theologie der Hoffnung", de 1969 (a primeira edição é de 1964).
18) Pertence a este grupo igualmente o teólogo católico Hans Küng, como se vê pelo trabalho intitulado "Em que consiste a mensagem cristã". Leia-se a respeito do artigo do Pe. A. Richard, "Une réponse de Hans Küng", na revista "L'Homme Nouveau", n.° 605, de 2 de setembro de 1973.
19) Konrad Farner, "Theologie des Kommunismus?", Ed. Stimme, 1969, p. 184.
20) Op. cit., p. 220.
21) Op. cit., p. 8.
22) Lendo o trabalho de Farner, tem-se a impressão de que a sua principal preocupação é o futuro do comunismo, o qual o autor considera muito ameaçado e incerto, caso não haja uma colaboração estreita e sincera entre marxistas e cristãos. Em outras palavras, só os cristãos podem salvar o comunismo.
23 Op. cit., p. 190.
24) Trata-se de um artigo escrito por ocasião do octogésimo aniversário de Barth, e incorporado depois a seu livro.
25) Op. cit., p. 236.
26) Veja-se a nota 6.
27) "Hoje salienta-se também, com força, que a vida do Sacerdote é vida de serviço, a exemplo de Cristo, "homem-para-os-outros", segundo uma feliz e conhecida expressão. Importa, porém, precisar que o serviço do Sacerdote que quer manter-se fiel a si mesmo, é um serviço excelente, e essencialmente espiritual. É muito necessário recordar isto hoje, contra as múltiplas tendências de secularizar o serviço sacerdotal, reduzindo-o a uma função prevalentemente filantrópica e social. Na área das almas, de sua relação com Deus, e de suas relações interiores com os semelhantes, é que se define a função específica do Sacerdote católico" (Paulo VI, Discurso no Colégio Germano-Húngaro de Roma, em 10 de outubro de 1973, in "Osservatore Romano", edição semanal em espanhol, de 21 de outubro de 1973).
28) Uma interessantíssima documentação a esse respeito é representada pelas atas dos Capítulos (anuais) dessas Congregações; por elas se constata até que ponto algumas Congregações assimilaram por completo o "cristianismo horizontal" e, às vezes, também o "cristianismo ateu", e como o trabalho desses Religiosos, por muito sacrificado que seja, está concentrado exclusivamente em um serviço laico e temporal. Na realidade, tais Congregações transformaram-se em associações laicas de beneficência e muito frequentemente estão comprometidas em atividades subversivas, colaborando ativamente com os movimentos marxistas revolucionários.
29) "O que chamamos de religião é a expressão das necessidades humanas, da imaginação mitológica e das superstições", diz um discípulo de Feuerbach, Hromadka (op. cit., p. 66). "Os cristãos e suas Igrejas organizadas são responsáveis, por diversas razões, pelo mal entendido que faz com que a religião cristã seja uma relíquia da antiga mitologia, com sua ideologia e seus interesses político-sociais das classes dominantes" (ibid., p. 67).
30) Julio Santa Ana, "Cristianismo sin religión", Montevideo, 1969. Segundo o autor, a "fé" é um cristianismo das pessoas adultas, maduras, enquanto a "religião" é um cristianismo infantil.
31) Desta maneira abusa-se do nome de um Bispo chileno já falecido, Mons. Manuel Larraín, que não compartilhava os pontos de vista do marxismo.
32) Atualmente estas influências são especialmente perigosas na África.
33) René Andrieu, diretor do órgão oficial do Partido Comunista Francês, "L'Humanité", e membro do Comité Central do PCF, escreve: "Jesus Cristo é para mim um homem que lutou pelo homem entre os homens. Nada mais — porém, na minha opinião, isso já é muito — e nada menos. De seu ensinamento, tal como foi transmitido pela pregação dos primeiros tempos do Cristianismo, eu escolho o que ela tem de especialmente humano, a saber, a reclamação da igualdade e da paternidade, no momento em que a rebelião de Espártaco — também crucificado — é afogada em sangue, e quando os escravos crêem encontrar na mensagem cristã a promessa de sua libertação" ("Pour vous, qui est Jésus-Christ?", Ed. du Cerf, Paris, 1970, citado em "Lumière et Vie", n.° 112, p. 7).
34) Porfirio Miranda, "Marx y la Biblia", México, 1971.
35) Vejam-se a respeito os artigos publicados nos n.o. 550 e 551 da revista francesa L'Homme Nouveau".
36) Vide L. Feuerbach, "Das Wesen des Christentums". A "teologia" de Marx, exposta principalmente em seu "Zur Judenfrage" ("Sobre a questão judaica"), a obra polêmica contra as idéias de Bruno Bauer, publicada em "Deutsch-Franzõsiche Jahrbucher" ("Anais Franco-Alemães"), de fevereiro de 1844, está baseada no pensamento de Feuerbach. Marx emprega a palavra "teologia" várias vezes no texto.
37) Como o Prof. Jeanson, livre-pensador e ateu, expôs em sua aula inaugural da Semana dos Intelectuais Católicos, em Paris, em 1971.
38) Esta é a ideia medular do pensamento de Roger Garaudy sobre o Cristianismo; o mais representativo pensador marxista francês a expõe em quase todos os seus trabalhos sobre o Cristianismo.
39) É assombroso que tantos Bispos tolerem o fato de que Sacerdotes sejam membros dos partidos marxistas, inclusive do partido comunista, apesar de todas as disposições da Santa Sé vigentes a respeito.
40 Seus principais livros são: "Latin America and revolution", London, 1965; "Les théologiens de la mort de Dieu", Paris, 1967; "Cristianismo radical y marxismo", México, 1970.
41) "Cristãos para o Socialismo", I Encontro Latino-Americano. Texto da Edição Internacional, Santiago, 1972, pp. 258-259.
42) No que toca ao caso chileno, a revista marxista "Pastoral Popular" (n.° 132, pp. 12-28), em artigo escrito por um dos Sacerdotes-marxistas sobre os Padres-operários de Santiago, informa com orgulho que todos eles, os vinte, pertencem aos diferentes partidos marxistas, inclusive o Partido Comunista.
A oração que hoje apresentamos nesta secção é a Ladainha da humildade, do Servo de Deus Cardeal Rafael Merry del Val, fidelíssimo colaborador de São Pio X.
LADAINHA DA HUMILDADE
Ó JESUS, manso e humilde de coração, ouvi-me.
Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser amado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser honrado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser louvado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser preferido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser consultado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser aprovado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser esquecido, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser ridicularizado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser infamado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser objeto de suspeita, livrai-me, ó Jesus.
Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros sejam estimados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo, e que eu possa ser diminuído, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser louvados e eu desprezado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser mais santos do que eu, embora me torne santo quanto me for possível, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
E isto acarretaria o sacrifício do povo cubano, em troca de termos um pouco mais de sossego em casa.
- Ora, uma nação da importância do Brasil, com um regime dotado de todos os meios de reprimir o terrorismo, e ao qual toca a glória de o haver efetivamente exterminado, precisaria imolar os direitos do povo cubano, para conseguir que aquela pequena Ilha não pusesse em polvorosa nosso imenso território?
Objetará alguém que meu argumento é vão, pois de fato a polvorosa aqui existiu precisamente a partir de Cuba.
Na realidade, governos culpados permitiram que a Rússia, como da China e de Cuba, a subversão se introduzisse entre nós. Mas, à custa de enormes sacrifícios, foi esta eliminada gradualmente, depois de 64. – Será que, dez anos depois, é preciso suplicar a Cuba que não intervenha no Brasil, e abandonar para isto à sua triste sorte o povo cubano?
Outra razão que leva a supor um caráter meramente protelatório, na judiciosa e oportuna "démarche" do Itamaraty, é que esta pede a constituição de uma comissão para elaborar um relatório sobre se há em Cuba condições que garantam a não-intervenção.
Ora, isto é apurar o óbvio. Pois óbvio é que Cuba vive um regime tirânico, de intervenção agressiva e total na vida privada dos próprios súditos. – Como pode esse regime, agressivo "ad intra", não ser visceralmente agressivo "ad extra"?
Em relação ao nazismo, sempre se entendeu que seu cunho tirânico tinha como corolário necessário uma política imperialista. – Por que a mesma lógica não valeria agora para o caso de Cuba?
Visou, portanto, mais do que isto, a sugestão de nossa Chancelaria.
* * *
Objetar-se-ia que a dúvida brasileira sobre a prática de não-intervenção por parte de Cuba carece de base, porque as condições internacionais mudaram graças à "detente" em que Nixon deitou toda a sua confiança. E que, portanto, os comunistas de Moscou, patrões dos de Cuba, já não são imperialistas. A meu ver, ao ver de todos os brasileiros, a capacidade diplomática do Itamaraty está incomensuravelmente acima da do malogrado Nixon, cuja personalidade não fez autoridade entre nós. A "detente" é hoje fortemente questionada até por países cujos governos a praticaram mais marcadamente (Alemanha, EUA). No Brasil, só a toma a sério a faixa da opinião que vai do esquerdismo católico até o esquerdismo ateu. Do ateísmo... católico até o ateísmo... ateu, sou tentado a dizer.
Ora, esta faixa constitui uma minoria quase circunscrita a certos salões de "snobs" e a certas sacristias ávidas de brilharetos demagógicos.
Aceitar a "detente" como um fundo de quadro inquestionável para justificar a suspenção do embargo de Cuba, é pois coisa que nossa brilhante Chancelaria tem toda razão de não aceitar.
* * *
Para encerrar, proponho a nosso ilustre e valoroso Chanceler que a comissão a ser constituída para averiguar as disposições de Cuba peça, como único meio idôneo, a realização de eleições livres, sob as vistas de observadores internacionais, entre os quais o Brasil. Seria dado aos cubanos exilados o direito de regressar para votar. E seria concedida, durante quinze dias – só isso já bastaria – liberdade para que a oposição dissesse o que entendesse em Cuba. Feita a apuração dos votos, prevaleceria o que a Cuba autêntica pensa e quer. O governo daí nascido, este sim, teria condições de governar sem agressão interna nem externa, e de praticar uma autêntica não-intervenção.
- Aceitará isto Fidel Castro? Se não aceitar, oferece ele realmente condições para que se creia na sinceridade de seu espírito não agressivo?
Em tal caso, a admissão de Cuba no concerto das nações latino-americanas trará a outorga de um lugar para a Rússia, nas assembleias do Hemisfério.
Pois se Fidel Castro não tem apoio interno, só pode viver de apoio externo. E esse apoio só lhe poderá vir da Rússia.
Assim, muito paradoxalmente, a suspensão do embargo terá dado à Rússia um meio diplomático cômodo, de praticar a intervenção em todos os assuntos do continente.
A suspensão do embargo, anunciada sob o signo da não-intervenção, acarretaria como consequência... a intervenção sistemática e oficial.
É o que o Itamaraty deve a todo o custo evitar.
"O fracasso da ofensiva divorcista no Brasil depende inteiramente da Sagrada Hierarquia" — afirmou à imprensa o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.
Lembrando que a recente proclamação divorcista da Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil deve ser tomada como um sinal de alarme, o entrevistado dirigiu um apelo aos Srs. Cardeais, Arcebispos e Bispos do Brasil: "Ergam-se, ensinem, proclamem, se necessário fulminem as tentativas de implantação do divórcio. Caso o façam desde logo, o divórcio não passará. — Que alegria, que glória para a Igreja, que o façam o quanto antes!"
"O Magistério Supremo da Igreja — prosseguiu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — rejeita categoricamente o divórcio". E apresentou à consideração dos leitores três documentos, selecionados entre muitos outros, que exprimem de modo iniludível essa rejeição:
- "Se alguém disser que o vínculo do matrimônio pode ser dissolvido pelo cônjuge por motivo de heresia, de molesta coabitação ou de abandono do lar — seja excomungado" (Concílio de Trento).
- "Se alguém disser que a Igreja erra quando ensinou e ensina, segundo a doutrina evangélica e apostólica (Marc. 10; 1 Cor. 7), que o vínculo do matrimônio não pode ser dissolvido por causa de adultério de um dos cônjuges e que nenhum dos dois, nem mesmo o inocente que não deu motivo ao adultério, pode contrair outro matrimônio em vida do outro cônjuge, e que comete adultério tanto aquele que, repudiada a adúltera, casa com outra, como aquele que, abandonado o marido, casa com outro — seja excomungado" (Concílio de Trento).
- "O vínculo do Sacramento do Matrimônio é indissolúvel, e embora por adultério, heresia ou outras causas possam os cônjuges proceder à separação de corpos, não lhes é lícito contrair outro matrimônio" (Bento XIV).
Em seguida indagou: "Teriam querido impugnar explicitamente esse ensinamento os advogados — católicos em sua maioria — que na recente Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil pediram, numa proclamação, a implantação do divórcio entre nós? — Não o creio".
Visando explicar a "insólita deliberação" da Conferência Nacional da OAB, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ponderou:
"Em nossa gloriosa e pobre Igreja, a fumaça de Satanás vai penetrando sempre mais. E muitas pessoas já não sabem, mesmo em pontos muito essenciais como o divórcio, qual o autêntico ensinamento da Igreja.
A introdução do divórcio na Itália impressionou o mundo inteiro. Houve clérigos e figuras destacadas do laicato que se manifestaram publicamente favoráveis ao divórcio. Os poucos que foram repreendidas, o foram em geral molemente. Em lugar de mobilizar na luta todas as suas forças e seu prestígio, dir-se-ia que a Hierarquia Sagrada se limitou ao mínimo imposto pela decência. Se tanto. E isto criou no público a impressão de que a Igreja vai operando uma distensão com o divorcismo. O que não pode espantar, pois ele presencia a progressiva distensão do Vaticano com o comunismo. Ora, o divórcio é apenas um dos pontos do programa comunista. E quem entra em distensão com o todo, bem pode entrar em distensão com a parte.
Esta trágica confusão, que explica a deplorável atitude da OAB, pode facilmente reproduzir-se em muitos outros setores da opinião nacional, também iludidos sobre a legitimidade de uma "détente" católica com o divorcismo.
Assim, a fumaça de Satanás, a confusão doutrinária que lavra na Igreja, confere ao divorcismo possibilidades de vitória que, em circunstâncias normais, este nunca teria no Brasil".
Recordando que a TFP recolheu em 1966, em apenas cinquenta dias, mais de um milhão de assinaturas contra o divórcio, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira concluiu: "A tradição antidivorcista ainda é tão viva em nosso povo, que bastará um sério empenho da Hierarquia católica nacional para dissipar, nesta matéria, a fumaça de Satanás, e impedir que o divórcio seja aprovado".
A comunidade romena de São Paulo realizou no auditório do Othon Palace Hotel, no dia 23 de agosto p.p., uma sessão cívica de protesto contra a implantação do regime comunista na Romênia, há trinta anos. "O dia fatídico de 23 de agosto de 1944 marcou o começo da mais sombria era na História bimilenar de nosso povo: a era da escravidão comunista" — ressaltou o Sr. Nicolas Iancu Paltinisanu, Presidente da Sociedade Romeno-Brasileira.
Discursaram ainda na ocasião a deputada estadual Dulce Salles Cunha Braga, o Sr. José Lúcio de Araújo Corrêa, representando a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, o Coronel-Aviador Tomasz Rzyski, Ministro de Assuntos Sociais do Governo Polonês no Exílio, o Sr. Dan Boghiu, Presidente da Sociedade Santa Trindade, e o jornalista Mário Busch.
Estavam presentes, além da comunidade romena, delegações de alemães, chineses, croatas, húngaros, poloneses, sérvios e ucranianos, representando as nações cativas, bem como chilenos, bolivianos e grande número de militantes da Tradição, Família e Propriedade, envergando suas capas rubras.
O Sr. Nicolas Iancu Paltinisanu, manifestando o luto de todos os seus compatriotas, salientou que o povo romeno esperava que as potências ocidentais, assim como esmagaram outrora o nazismo, haveriam de intervir para fazer cessar o genocídio de povos inteiros. Mas há trinta anos vem sendo negado à Romênia e às demais nações cativas o direito, assegurado pela Carta do Atlântico, de eleger livremente a forma de governo sob a qual querem viver.
Protestando contra o regime de neocolonialismo em que é mantido o povo romeno concluiu: "Exigimos que seja reconhecido à nação romena o direito sacrossanto de viver em liberdade e independência, sob um regime político de sua própria e livre escolha".
A deputada Dulce Salles Cunha Braga iniciou seu discurso homenageando o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, como grande lutador contra o comunismo e formador de legiões de jovens abnegados. Declarou ser testemunha ocular das campanhas memoráveis que a TFP vem desenvolvendo, há anos, em defesa da civilização cristã no Brasil. Lembrou particularmente a chama de fé viva que a TFP irradia através das preces contínuas no oratório instalado em sua sede da Rua Martim Francisco, n.° 669.
Denunciou depois a indústria do turismo pela qual o governo comunista da Romênia aufere grandes somas de dólares. Lembrando que o comunismo não cessa de enviar seus agentes aos países livres, a parlamentar paulista concitou os presentes a uma vigilância incessante contra as manobras de Moscou e de Pequim.
O Sr. José Lúcio de Araújo Corrêa exprimiu a solidariedade da TFP à causa da libertação das nações cativas.
O jovem orador perguntou como foi possível uma nação profundamente religiosa e sadiamente nacionalista como a Romênia cair sob o regime comunista.
"O grande problema — explicou — foi a traição das cúpulas dirigentes, ajudadas por oportunistas e infiltrados. Foi o que ocorreu em Yalta e outras reuniões tristemente célebres.
A queda de tantas nações sob o jugo comunista é consequência de um processo multissecular de corrupção e destruição da civilização cristã, magistralmente descrito pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra "Revolução e Contra-Revolução". A grande tragédia do século XX está no afastamento do mundo cristão dos valores e ideais que o formaram".
O Ministro de Assuntos Sociais do Governo Polonês no Exílio, Sr. Tomasz J. Rzyski, solidarizou-se com a "luta por uma Romênia livre e soberana, como foi esse querido povo, vizinho e amigo".
O Ministro polonês referiu-se, também, ao papel da TFP como baluarte da civilização: "Garanto — disse — que, se as nações do Ocidente tivessem mais sociedades como a TFP, com o espírito de luta dessa entidade, o comunismo não teria nenhuma importância, e não haveria entraves para salvar metade da Europa subjugada pelos carrascos bolchevistas"