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ONDE FOI PARAR A LIBERDADE PROMETIDA EM 1789?

H. B.

Mostra Pierre Gaxotte, em seu livro sobre a Revolução Francesa, o abismo que vai entre o respeito às legítimas liberdades individuais e familiares vigente no Ancien Régime, e a disposição de intrometer-se o Estado na vida íntima de seus cidadãos, surgida com a instauração do liberalismo.

Lembra que, enquanto o homem anterior ao século XIX vivia livre em sua intimidade e no seu meio familiar, constituindo-se em objeto de investigações somente no caso de ser um criminoso ou um perigo para as instituições, ou, pelo menos, de tornar-se fortemente suspeito de crime, heresia ou conspiração, o cidadão do Estado liberal é sempre tratado como um suspeito, mesmo antes da prática de qualquer ação perigosa.

Ele é medido, pesado e catalogado pelos agentes do poder público. Sua ficha figura nas mais diversas repartições. Seus dados pessoais e os de sua família são arquivados, comparados, examinados. O Estado quer saber quais as suas ideias, quanto ganha, se tem automóvel, se possui imóveis, onde aplica seu dinheiro, quais os seus hábitos.

Mas Pierre Gaxotte escreveu há algumas décadas e não chegou a conhecer os mais sofisticados aparelhos de investigação da vida privada, que permitem hoje, não só ao Estado, mas a qualquer pessoa ou organização, saber o que alguém conversa com seus amigos e familiares, ao telefone ou em seu gabinete de trabalho ou em seu próprio quarto de dormir.

Gaxotte referia-se ao Estado liberal. Depois do liberalismo, nós conhecemos seu filho legítimo, o Estado totalitário. Qualquer que seja a sua cor, fascista ou comunista, o objetivo do totalitarismo é pôr em prática o socialismo que, sendo contrário à natureza humana, somente encontra seu habitat sob a opressão policial, com sacrifício do indivíduo e da família às necessidades do partido.

Mesmo onde não se instauraram regimes totalitários, as consequências da Revolução Francesa levaram à implantação de sociedades de tendência totalitária mais ou menos acentuada, se não impostas por algum partido messiânico, determinadas pela idolatria da técnica.

Quando a técnica substitui a moral e quando a sociedade se emancipa da tutela maternal da Igreja, definham as legítimas liberdades individuais e familiares. A sociedade totalitária, quer imposta pelo Estado, ou pela técnica, é a madrasta do homem emancipado do século XX.

Poluição mental

A idolatria da técnica criou para o homem uma vida insuportável. "Catolicismo", nas décadas de 50 e 60, chamou várias vezes a atenção de seus leitores para o que hoje se convencionou chamar de poluição ambiental. Agora está na moda falar contra a fumaça, o ruído dos motores, a devastação das matas, o trânsito enlouquecido.

O comunismo internacional, que no tempo de Lenine e de Stalin queria a construção do homem máquina, autômato servidor da ditadura do proletariado, prega hoje contra a poluição do meio ambiente pela indústria, quando isto lhe serve para justificar a decadência econômica dos países socialistas ou para enfraquecer o potencial econômico e militar do Ocidente.

É líquido que a poluição ambiental é um mal, mas é preciso olho vivo sobre aqueles que a combatem. E sobretudo é necessário combater uma outra poluição muito mais perniciosa, sobre a qual a inteligentzia esquerdista não se manifesta.

É a poluição moral e mental a que é sujeito o indivíduo por parte da propaganda onipresente, da arte moderna que deforma os espíritos, dos chamados meios de comunicação de massa, quando querem pensar pela pessoa, criar-lhe hábitos, desagregar-lhe a família pela agressão sexual.

Quem consegue hoje tranquilidade e discernimento para pensar sobre os acontecimentos que se atropelam? Em matéria de política internacional, por exemplo, não se sente o homem do século XX apatetado ante uma carga diária de notícias desconcertantes e sem lógica?

Apenas para examinar um entre mil embustes, que lhe são impingidos diariamente: os tais meios de comunicação de massa apresentam todos os governos militantemente anticomunistas como ditatoriais e corruptos. Por que silenciam, em geral, sobre os crimes dos governos da Rússia, da China, de Cuba? Por que se clama por eleições livres em qualquer canto do Ocidente e não se reclamam eleições na Rússia, na China ou em Cuba?

Entre microfones e microgravadores

Mas a técnica apartada da moral cria uma vida insuportável para o homem até nos seus refúgios mais íntimos. Com o aperfeiçoamento dos aparelhos de transmissão e de gravação, ninguém hoje pode ter certeza de não estar sendo ouvido à distância e de sua conversa não estar sendo gravada.

A interceptação de comunicações telefônicas sempre foi relativamente fácil. A colocação de uma bobina de indução próxima a um fio de telefone, antes que ele se misture com os demais, permite a audição ou a gravação das conversas sem necessidade de ligação direta ao aparelho ou seus fios. As bobinas podem também ser utilizadas como interceptadores portáteis, colocadas em um bolso, por exemplo.

Com este recurso, é possível ouvir e gravar conversas telefônicas em locais contíguos ao do aparelho investigado. Uma sala de espera, um corredor ou um quarto de hotel podem servir de base para a escuta.

Também as conversas não transmitidas por telefone estão sujeitas a serem controladas. Microfones do tamanho de uma cabeça de fósforo podem alcançar vozes num raio de 400 metros. Microfones direcionais podem captar conversas através de uma janela aberta. Um prego posto numa parede ou em baixo de um móvel pode ser o disfarce de um microfone.

Com teleobjetivas de 20 centímetros de tamanho é fácil fotografar uma página datilografada, a 100 metros de distância.

Estes são apenas alguns exemplos. Há uma tecnologia avançadíssima nesse particular, especialmente nos Estados Unidos. A tal ponto, que a Câmara de Comércio soviética naquele país convidou diversas empresas norte-americanas a lhe exibirem os produtos mais modernos da tecnologia anticrime, como detectores de mentira, máquinas de identificação pela voz, etc. A revista "Time" comenta que o mais provável freguês desses produtos será a KGB.

Na Grã-Bretanha surgiu um movimento em defesa da inviolabilidade da vida individual. Segundo relata Richard Edr no "New York Times", o próprio dogma liberal da irrestrita liberdade de imprensa está sendo posto em xeque entre os britânicos. Eles querem ver-se livres das perguntas indiscretas dos repórteres.

Assim, pois, a liberdade sem limites, que serviu de pretexto para a derrubada do Ancien Régime e para a emancipação da tutela da Igreja, está hoje inteiramente frustrada. Nunca o gênero humano conheceu tirania tão opressora e minuciosa como a que lhe proporcionou, em nome da conquista da liberdade, a Revolução Francesa.

Este relógio de pulso aparentemente comum contém um minúsculo rádio transmissor e uma antena telescópica.


De passagem pelo Brasil — de regresso da Argentina — esteve em visita à TFP em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos dias 19 e 21 de agosto último, o Exmo. Revmo. Mons. Marcel Lefebvre, Bispo resignatário de Tulle (França), antigo Arcebispo de Dacar, ex-Superior Geral da Congregação do Espírito Santo e Diretor de Seminários.

Em São Paulo, o ilustre Prelado — que foi um dos líderes da corrente conservadora no Concílio — celebrou Missa na sede do Conselho Nacional da TFP e fez uma conferência no auditório provisório da entidade, sobre sua obra de formação de Sacerdotes. Mons. Lefebvre proferiu igualmente uma palestra na sede da Secção da Guanabara da TFP, onde também celebrou o Santo Sacrifício. S. Excia. Revma. aproveitou a estadia em Buenos Aires para visitar a sede da TFP argentina, tendo na ocasião dirigido a palavra aos sócios, militantes e convidados.

Na foto, Mons. Marcel Lefebvre e D. Antonio de Castro Mayer quando abençoavam os presentes ao término da conferência do Exmo. Arcebispo-Bispo, em São Paulo.


Anticoncepcionais : TFP sugere consultar o Episcopado

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, telegrafou ao Ministro da Saúde, Sr. Paulo de Almeida Machado, sugerindo uma consulta pública ao Episcopado Nacional, antes da eventual liberalização da venda de anticoncepcionais, para evitar um conflito entre a lei e a consciência popular, "profundamente católica" no Brasil.

Eis a íntegra do telegrama:

"Tendo V. Excia. manifestado, segundo notícia de um vespertino carioca, opinião favorável à liberalização da venda de anticoncepcionais, sugerimos a V. Excia., antes de tomar qualquer medida, investigar a eventual reação de nossa população profundamente católica.

Para tal efeito aventamos, por exemplo, consulta pública oficial de V. Excia. à CNBB. Assim procedendo, V. Excia. evitará para nosso país o fato sumamente doloroso e prejudicial a qualquer nação, isto é, o conflito entre a lei e a consciência popular. Atenciosos cumprimentos.


Verdades esquecidas

A coeducação é errônea e perniciosa

PIO PP. XI

Da Encíclica "Divini Illius Magistri", de 31 de dezembro de 1929:

De modo semelhante, errôneo e pernicioso à educação cristã é o chamado método da "coeducação", baseado também para muitos no naturalismo negador do pecado original, e ainda, para todos os defensores deste método, sobre uma deplorável confusão de ideias que confunde a legítima convivência humana com a promiscuidade e igualdade niveladora. O Criador ordenou e dispôs a convivência perfeita dos dois sexos somente na unidade do matrimônio e gradualmente distinta na família e na sociedade. Além disso, não há na própria natureza, que os faz diversos no organismo, nas inclinações e nas aptidões, nenhum argumento de onde se deduza que possa ou deva haver promiscuidade, e muito menos igualdade na formação dos dois sexos. Estes, segundo os admiráveis desígnios do Criador, são destinados a completar-se mutuamente na família e na sociedade, precisamente pela sua diversidade, a qual, portanto, deve ser mantida e favorecida na formação educativa, com a necessária distinção e correspondente separação, proporcionada às diversas idades e circunstâncias. Apliquem-se estes principias no tempo e lugar oportunos, segundo as normas da prudência cristã, em todas as escolas, nomeadamente no período mais delicado e decisivo da formação, qual é o da adolescência; e nos exercícios ginásticos e desportivos, com particular referência à modéstia cristã na juventude feminina, à qual fica muito mal toda a exibição e publicidade.

Recordando as tremendas palavras do Divino Mestre: "Ai do mundo por causa dos escândalos!" (Mat. 18, 7), exortamos vivamente a vossa solicitude e vigilância, Veneráveis Irmãos, sobre estes perniciosíssimos erros, que largamente se vão difundindo entre o povo cristão com imenso dano da juventude. — [Encíclica "Divini Illius Magistri" — Editora Vozes Ltda., Petrópolis, 1946, pp. 28-29].