C. C. Nunes Pires
Quem, no inverno de 1551, viajasse pelos caminhos que conduziam a Kyoto, a capital imperial do Japão, talvez encontrasse um personagem singular, jornadeando sem se deixar abater pelo cansaço, pela neve, ou pela precariedade da estrada. Dos que o viram, alguns o terão tomado por um mendigo; todos terão passado ao largo, com desprezo... Ninguém imaginava estar diante do Apóstolo do Oriente.
São Francisco Xavier havia desembarcado em Kagoshima, capital de uma das províncias nipônicas, acompanhado de Yagiro, japonês que batizara em Goa e que, entusiasmado com a Fé católica, queria levá-la ao país do Sol nascente, na certeza de que seus patrícios a abraçariam sem reservas, como ele próprio fizera.
As coisas, entretanto, não correram de modo tão simples, e os obstáculos foram numerosos: a frieza de muitos senhores feudais, que não permitiam o contato com o povo; as intrigas fomentadas pelos bonzos budistas; a impossibilidade de conseguir do Imperador a licença que asseguraria uma completa liberdade de ação. A difícil viagem a Kyoto foi aparentemente sem resultado: o Imperador "encontrava-se longe, refugiado em virtude de guerras internas.
Ao deixar Kyoto, dirigiu-se o Padre Xavier a Yamaguchi, uma província próxima, em cuja capital, revestido de suas roupas mais solenes, entrevistou-se com o Senhor local, obtendo prontamente dele a licença para pregar o Cristianismo, bem como a cessão de um templo budista abandonado, para sua residência. Era um início promissor, e os frutos não tardaram a aparecer.
No ano seguinte, em carta a Santo Inácio de Loyola, o Apóstolo do Oriente solicitava o envio de mais missionários, e expunha as dificuldades dos trabalhos, como também as boas perspectivas que vislumbrava:
"Serão [os missionários] mais perseguidos do que julgam; importuná-los-ão com visitas e perguntas, a todas as horas do dia e parte da noite; serão chamados a casas de pessoas importantes, sem se poderem excusar. Há de faltar-lhes tempo para orar, meditar e contemplar, ou para qualquer outro recolhimento espiritual. Não podem dizer Missa, pelo menos no começo, ocupando-se, continuamente, em responder às perguntas. Faltar-lhes-á tempo para rezar o breviário e, até, para comer e dormir. Para responder às perguntas são precisos bons estudos, sobretudo bons estudantes de filosofia. Estes bonzos ficam muito envergonhados quando os apanham em contradição ou quando não sabem responder.
Visto a terra do Japão ter boa disposição para se perpetuar nela a Cristandade, ficam bem empregados todos os trabalhos que suportamos. E, assim, vivo muito esperançado em que vossa santa caridade mandará, daí, pessoas santas para o Japão" ("Cartas e Escritos Seletos de São Francisco Xavier", Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1952, p. 147).
No mesmo ano, o Santo dirigia outra carta, desta vez ao Padre Simão Rodrigues, recomendando-lhe que prestasse toda a assistência a dois neocristãos que iam conhecer pessoalmente a sede da Cristandade : "Lá vão Mateus e Bernardo, japões de nação, os quais vieram comigo do Japão à Índia, com intenção de ir a Portugal e a Roma, a ver a Cristandade, para depois, tornando a suas terras, dar fé do que viram aos japões" (op., cit., p. 151). Teriam eles oportunidade de conhecer o Papa, o Santo Geral da Companhia de Jesus, as grandes Basílicas, os túmulos dos Mártires.
Em 1552 São Francisco Xavier entregava sua alma a Deus, vitimado por uma epidemia na ilha de San-Chan, no Mar da China. Sua morte contudo não interrompeu a expansão missionária. Ao contrário, as conversões, os batizados, continuaram aumentando notavelmente, de modo tal que um levantamento feito em 1579 pelo Padre Callian revelava o total aproximado de 107 mil cristãos, distribuídos pelas províncias de Kinki, Tyogóku e Kiushu, especialmente.
A história da região de Takatsuki, nessa época, registra os fatos altamente edificantes da vida de seu senhor feudal, Justo Ukon Takayama, que deu exemplo de grande abnegação e fortaleza para permanecer fiel à Igreja. O Pe. Pedro Katsumi Miyamoto, zeloso Capelão dos japoneses católicos de Londrina, tomou-o como Patrono de sua obra, e publicou uma biografia resumida do santo nobre nipônico, que seguiremos neste relato (Pe. Pedro Katsumi Miyamoto, "Senhor Feudal Santo, Justo Ukon Takayama", Osaka Kyokasho Printing Co., Osaka, 1969, edição bilíngue japonês-português).
Ukon Takayama recebeu o Batismo em 1564, juntamente com seus pais, adotando então o nome de Justo. Seu castelo, situado numa colina em Takatsuki, ainda hoje se conserva, permitindo ao visitante imaginá-lo sitiado pelo exército inimigo, como ocorreu em 1578, ocasião em que brilharam uma vez mais os dotes militares de Ukon Takayama na defesa de sua imponente fortaleza.
Takatsuki, sob o governo de Justo Ukon Takayama, teve as leis e os costumes pagãos gradativamente suavizados e modelados pelo Cristianismo; em tudo o santo Senhor procurava favorecer a prática da virtude. Um desses usos gentílicos obrigava os súditos a fitarem o chão, de joelhos em terra, quando seu Senhor passava; quem não procedesse assim podia ser punido até com a morte. Justo Ukon substituiu esse costume por uma saudação respeitosa mas afável, que ressaltava o caráter paternal do Príncipe cristão. Outro costume pagão, a cremação de cadáveres, usada em alguns casos, foi abolida completamente, sendo substituída pelo funeral católico, que salienta a esperança da ressurreição final. No cortejo fúnebre eram levados solenemente estandartes com o Santíssimo Nome de Jesus e a imagem de Nossa Senhora, bordados em ouro.
O Padre Fróis, jesuíta português que percorreu o Japão na época, tendo visitado alguns senhores feudais, relata ter ouvido de um deles uma declaração que constitui um alto elogio das virtudes de Justo Ukon Takayama: "Se não houvesse o Sexto Mandamento, poderíamos ser batizados, porém imitar Ukon é impossível".
Dir-se-ia que a vida do Senhor de Takatsuki transcorria de maneira austera, mas tranquila. Para seus amigos mais íntimos, entretanto, Nosso Senhor não oferece uma coroa de rosas, mas de espinhos; não os convida a viverem no Tabor, mas a frequentarem também o Calvário.
A primeira grande provação veio por obra de alguns senhores feudais pagãos os quais envolveram Ukon em uma intrincada trama política que colocava em conflito seus deveres de samurai e sua consciência de católico.
Tendo-se revoltado contra o Shogum (espécie de primeiro-ministro e chefe militar, que exercia o poder sobre todo o Japão em nome do Imperador), Araki, a quem Ukon Takayama estava subordinado enquanto samurai, exigiu que este não permitisse que as tropas do Shogum passassem por suas terras, único caminho que tinham para atacarem o feudo de Araki.
O Senhor de Takatsuki ficava assim posto num dilema, pois se devia fidelidade a Araki enquanto samurai, devia-a também ao Shogum Nobunaga, de quem seu pai recebera o castelo e o território de Takatsuki. Ukon procurou ganhar tempo, enquanto buscava uma solução para o difícil problema. Surgiu então Nobunaga, acompanhado de oito poderosos Senhores com seus exércitos. Pararam diante das muralhas de Takatsuki, não podendo ir além, pois o castelo era inexpugnável. Depois de várias investidas em vão, o Shogum resolveu adotar um recurso extremo: mandou um mensageiro a Ukon ameaçando proibir o Cristianismo em todo o Império e crucificar os Padres e, os fiéis à sua vista, se ele não entregasse a cidadela e não lhe prestasse obediência.
Compreendeu o valoroso senhor feudal que a sorte da Igreja no Japão estava em suas mãos, e que não havia outro caminho senão sacrificar sua honra de samurai aos interesses católicos. Para pasmo de cristãos e pagãos, decidiu submeter-se ao Shogum e entregar-lhe a fortaleza; ao mesmo tempo, para não faltar ao dever de fidelidade, renunciou ao seu feudo e às dignidades de que estava investido, bem como à carreira militar, resolvendo retirar-se do mundo para cuidar unicamente da salvação de sua alma.
Essa atitude acresceu muito o prestígio do santo Senhor. Mais tarde, o Shogum Hideyoshi, que era pagão, confiou-lhe o comando militar da importante província de Akashi. Ukon teve então alguns anos de relativa tranquilidade, favorecendo de todos os modos a expansão do Catolicismo.
O espírito das trevas, entretanto, não podia suportar por mais tempo o progresso da Cruz em regiões onde até então havia reinado sem
Realizou-se em Campos no dia 8 de setembro p.p. o I Encontro Regional de Correspondentes da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, com a participação de cerca de duzentos correspondentes de quinze cidades do Norte do Estado do Rio, Zona da Mata de Minas Gerais e Sul do Espírito Santo. O certame constou de palestras, debates e projeção de audiovisuais, e teve por objetivo o estudo dos meios de ação para a difusão dos ideais da entidade.
A sessão de encerramento foi presidida pelo Exmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer e teve lugar no prestigioso auditório da Associação Comercial Campista. Dirigindo-se aos congressistas, S. Excia. Revma. denunciou as manobras solertes do comunismo, especialmente do "comunismo difuso", que se insinua em palavras, modas e costumes aparentemente inócuos, mas aptos a introduzir nos espíritos uma mentalidade materialista e igualitária. Acentuou a eficácia da ação dos correspondentes e amigos da TFP para neutralizar o "comunismo difuso".
Falando a seguir, o Sr. Milton de Salles Mourão, Vice-Presidente da Secção de Minas Gerais da TFP, apontou no progressismo dito católico o mais atuante inimigo da civilização cristã em nossos dias. E concitou os participantes do Encontro a trabalharem intensivamente no sentido de desfazer a campanha difamatória que parte dos arraiais comuno-progressistas contra a crescente influência da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.
No final da sessão, os participantes aprovaram por unanimidade uma moção de aplauso ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, "por tudo quanto tem feito em prol da civilização cristãs tão abalada em nossos dias, especialmente pelo progressismo e pelo comunismo".
O Sr. Bispo Diocesano preside a sessão de encerramento do Encontro; a seu lado, os Srs. Antonio Rodrigues Ferreira e Milton de Saltes Mourão, Diretores da Secção mineira da TFP.
Duzentos sócios e militantes da TFP de São Paulo realizaram no dia 15 de setembro último uma peregrinação à Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida, para rezar pela derrota do comunismo e pelo incremento no Brasil dos valores fundamentais da civilização cristã, a tradição, a família e a propriedade. Parte do percurso — 40 quilômetros — foi feita a pé, seguindo os sócios e militantes pela Via Dutra, com suas capas e estandartes rubros, levando em andor uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Durante a caminhada, rezaram o terço, entoaram cânticos religiosos, especialmente hinos marianos e o tradicional "Queremos Deus!", atribuído a São Luís Maria Grignion de Montfort, apóstolo máximo da devoção à Santíssima Virgem. De tempos em tempos faziam ouvir também o brado de campanha: Pelo Brasil: Tradição! Família! Propriedade! — Brasil! Brasil! Brasil!
Partindo de São Paulo à 1h30 do domingo, 120 sócios e militantes da TFP dirigiram-se em ônibus especiais até as proximidades de Taubaté, onde teve início a caminhada rumo a Aparecida. À altura de Moreira César (posto de pedágio), os peregrinos fizeram alto para um pequeno lanche, depois de terem percorrido 25 quilômetros. Nesse ponto vieram juntar-se a eles outros oitenta sócios e militantes, que partiram de São Paulo em horário diferente, para juntos percorrerem os restantes 15 quilômetros.
Os duzentos peregrinos chegaram à Cidade-Santuário precisamente ao meio-dia e se dirigiram à Basílica nova, onde rezaram diante da Imagem milagrosa. De lá, através da colossal passarela que liga as duas esplanadas, rumaram até a antiga e venerável Basílica, em cuja praça desfilaram com orações, cânticos e brados de campanha.
A peregrinação da TFP despertou vivas simpatias entre os 80 mil romeiros que nesse dia se encontravam em Aparecida. Foi encabeçada pelos Srs. Plinio Vidigal Xavier da Silveira, Luiz Nazareno Teixeira de Assumpção Filho, Eduardo de Barros Brotero, João Sampaio Neto e Prof. Paulo Corrêa de Brito Filho, membros do Conselho Nacional da entidade.
A chegada dos peregrinos.