Plinio Corrêa de Oliveira
Resistência levantada pela TFP à "Ostpolitik" vaticana se vai estendendo com êxito, das duas Américas para a Europa.
Assim, a Sociedade Cultural Covadonga, da Espanha, já distribuiu pelas ruas de Madrid e de outras cidades mais de cem mil exemplares da Declaração de Resistência das TFPs deste continente. Ao mesmo tempo, a "Hoja del Lunes", da capital espanhola, publicou no dia 11 de novembro p. p. o texto integral desse documento. Dado que esse é o único periódico a ser publicado em Madrid às segundas-feiras, pode-se facilmente avaliar a larga difusão que assim teve a Declaração.
Como seria de prever, o resultado dessa difusão é duplo: aplausos e críticas. Estas últimas, furibundas e muito raras. Os aplausos, numerosos e não menos fogosos. Os telefonemas se multiplicaram surpreendentemente ao longo destes dias de campanha, na sede da Sociedade Cultural Covadonga. As cartas vêm afluindo em número impressionante. Sobretudo é animador o número de Sacerdotes do Clero secular e regular que exprimem sua adesão. Um catedrático de conhecida Universidade mandou espontaneamente um extenso parecer justificando a Declaração do ponto de vista teológico e moral.
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À vista desse quadro, a Democracia-Cristã não poderia ficar calada. Controla ela o diário madrilenho "Ya", o qual se saiu — à maneira de revide — com uma nota cheia de acidez e evasivas. Não espanta, pois este é o conteúdo inevitável das réplicas publicadas por quem não tem como defender-se, e ao mesmo tempo não se resigna a ficar num desairoso silêncio.
A Sociedade Cultural Covadonga, baseada na lei de imprensa, pediu a "Ya" a publicação da adequada tréplica.
Em princípio, "Ya" é favorável ao diálogo. Esperavam, pois, os valorosos jovens de Covadonga, que o diário pedecista lhes atendesse a fundada solicitação. Não se lembraram de que o diálogo democrata-cristão tem mão, e não contramão. Como é mundialmente sabido, ele é todo voltado para a esquerda. Para a direita, a Democracia-Cristã só tem acidez e brutalidade. Os círculos anticomunistas da Espanha estão na expectativa, aguardando como a SCC agirá em face da situação criada pela recusa de "Ya".
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Tudo leva a crer que o Emmo. Cardeal Tarancón, Arcebispo de Madrid, sentiu a ineficácia da furibunda réplica de "Ya". Pois, cerca de dez dias depois de haver-se manifestado esse jornal, o Purpurado entrou em liça publicando um pronunciamento contra a Declaração de Resistência. Ao que nos consta, em seu documento o ilustre Prelado reconhece expressamente assistir a um bom católico o direito de discordar da política de Paulo VI. Porém considera que o exercício desse direito importa em deslealdade para com a Santa Sé. O direito de ser desleal... Tem graça!
Como o relato sobre a atitude do Cardeal Tarancón só me chegou verbalmente, fico na esperança de que a informação não seja bem certa, e Sua Eminência tenha encontrado algo de mais substancioso a alegar. Oportunamente darei conhecimento dos dizeres de Sua Eminência aos leitores.
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Bem mais solerte é Mons. Casaroli, Secretário do Conselho para os Assuntos Públicos do Vaticano. S. Excia. só fez uma superficial e fugidia refutação da Declaração de Resistência. E depois calou-se por largo tempo.
O desenvolvimento internacional da Resistência induziu, por fim, o ilustre Prelado — tão merecidamente intitulado o Kissinger vaticano — a romper, mais uma vez, o silêncio. Por isto declarou, há pouco, à agência "Europa Press": "A Santa Sé coopera com todos os homens que tenham opções úteis para a paz [...]. Embora alguns acusem a Santa Sé de desequilíbrio nesta busca, o Vaticano jamais esqueceu o sentido da justiça social ou internacional. Por isto, a Santa Sé não se limita ao ensino, mas também se empenha em ações concretas, em casos de injustiça, ainda que, em alguns momentos, esses tenham sido esquecidos". Como vê o leitor, trata-se de um confuso amálgama de subentendidos e evasivas.
A "Europa Press" prossegue: "Pelo que se refere a "Ostpolitik" vaticana, Mons. Casaroli fez ver que este ponto de vista não é seu, mas de Paulo VI". — O "ponto de vista" é o texto brumoso que acabamos de citar. Continua o despacho da "Europa Press": Mons. Casaroli "disse que é doloroso para o Santo Padre ser atacado e não poder defender-se publicamente, ao ver algumas de suas ações criticadas por uma parte ou por outra".
De São Pedro até nossos dias, os Papas habitualmente timbraram em defender-se. — Razões superconfidenciais? Por que, então, ao imolar o Cardeal Mindszenty, Paulo VI deixa a grande e gloriosa vítima numa completa ignorância dos altíssimos motivos que o teriam levado a desfechar esse golpe? Será que nem o Cardeal-Mártir merece confiança para conhecer o segredo partilhado entre Sua Santidade, Mons. Casaroli e o governo comunista de Budapest?
São perplexidades a que, por certo, Mons. Casaroli não responderá, nem mesmo nesta época de diálogo pós-conciliar.
A "DÉTENTE" da Casa Branca e do Vaticano (e digo intencionalmente "a détente" e não "as détentes", porque se trata, obviamente, de uma mesma distensão, com objetivos, métodos e resultados perfeitamente análogos) se vai desdobrando por toda a terra em acontecimentos lamentáveis. Um destes foi a visita de Ford a Vladivostok. Os debates nos EUA vão pondo merecidamente em realce quanto ali se fez de vantajoso para a Rússia e de nocivo para a América do Norte.
Enquanto se passa, outros fatos se vão registrando em surdina, sem que os advirta a opinião internacional. Um destes é o recente abandono da Ilha de Formosa à sanha de Pequim. Depois de ignobilmente expulso das Nações Unidas, o grande reduto anticomunista, que é Formosa, acaba de sofrer outro golpe. O Presidente Ford assinou decreto pondo fim ao compromisso norte-americano de defender a Ilha contra ataques comunistas. Justiça, direito, solidariedade humana, estas são grandes fórmulas sonoras que funcionam, hoje em dia, quando se trata de fundamentar o apoio dado pelo imperialismo russo ou pelo chinês a qualquer "nação oprimida". Porém, nada significam quando se trata de defender qualquer povo pequeno contra as arremetidas de Moscou ou Pequim.
A isto nos conduziu a "détente" norte-americana.
Até onde mais nos levará?
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Pergunto-o a propósito do Vietnã do Sul.
Van Thieu declarou recentemente (cf. "The Review of the News" de 16-10-74) que o Congresso americano reduziu a ajuda militar a Saigon de 1,2 bilhões para 700 milhões de dólares, e é de se prever uma redução da ajuda econômica norte-americana para o Vietnã do Sul de 750 milhões de dólares para 400 milhões. Pari passu, os soviéticos vão ajudando cada vez mais a investida comunista. Segundo observou com melancólico laconismo o Presidente Thieu, tal fato só pode encorajar os vermelhos a invadir o Vietnã do Sul.
— "Détente" americana...
A esta parece juntar-se, em estreita colaboração, sua sósia, a "détente" vaticana.
Os católicos, que constituem, no Vietnã do Sul, uma dinâmica e organizada minoria — 2 milhões, numa população de 19 milhões de habitantes — vêm sendo um fator decisivo da luta anticomunista no País.
Entretanto, com grande alegria — note-se o pormenor — para a esquerda católica, começou a abrir-se uma frincha entre o Episcopado e o Governo em setembro de 1973, quando foi publicada uma Pastoral coletiva contra a corrupção do poder. Em junho deste ano, 301 Sacerdotes divulgaram um manifesto ainda mais violento, no mesmo sentido. E a 8 de setembro, um Padre outrora conservador, Tran Huu Tranch, lançou com um grupo de amigos um "Ato de Acusação" que enuncia seis escândalos financeiros nos quais estariam implicados o Chefe de Estado vietnamita, sua esposa, e parentes próximos (cf. artigo de Jean-Claude Pomonti, de "Le Monde", publicado na "Folha de São Paulo" de 28-10-74).
Não conheço os argumentos dos acusadores, nem a réplica do Presidente Thieu. Entretanto, os fatos assim apresentados me deixam cheio de suspeitas.
Com efeito, o Sr. Pomonti acrescenta que o Pe. Tran Huu Tranch aceita hoje — embora com pesar — a coexistência pacífica com o comunismo. — Estranho essa mudança. Pois não compreendo como possa esse Sacerdote, sob o pretexto de derrubar um governo cujo grande pecado seria de roubar alguns bens de algumas pessoas, apoiar a coexistência com um governo que confisca todos os bens de todas as pessoas.
Suspeito, assim, do Pe. Tranch. Tanto mais quanto a acusação de corrupto é frequentemente lançada pelos comunistas contra todos os que se lhes opõem. Contra o grande Cardeal Mindszenty, por exemplo.
Formulada essa suspeita, é impossível aceitar, sem mais, a objetividade das acusações de corrupção lançadas pelo Episcopado contra o Governo Thieu. Ainda mais quando essas acusações alegram a esquerda católica e os comunistas. Pois nada do que alegra à esquerda católica se produz sem a instigação e o apoio dos comunistas.
— Até que ponto a "détente" vaticana se relaciona com tudo isto? — É impossível dizê-lo. Mas uma coisa é certa: sem a "détente" as coisas não se passariam assim.
O comunismo já não luta isolado, contra o Governo Thieu, pois conta com a colaboração maciça e incontenível da "détente" geminada yankee-vaticana.
Iniciada sua publicação ao se encerrar o Ano Santo de 1950, "Catolicismo" considera especial bênção divina registrar, no seu primeiro número deste ano que começa, as indulgências jubilares com que o Santo Padre impulsiona os fiéis no afervoramento da vida cristã no atual Jubileu de 1975.
Implorando, pois, as graças de Deus para nosso mensário, seu Diretor, colaboradores e todos quantos participam desta obra apostólica, convidamos toda a família de almas de "Catolicismo" a agradecer à misericordiosa Munificência divina os benefícios com que tornou possível manter vivo e florescente nosso periódico.
De fato, com prazer, podemos registrar a fidelidade de "Catolicismo" ao programa que se propôs, de propugnar pelo revigoramento da mentalidade católica num mundo que se laiciza de modo impressionante.
No centro desse movimento descristianizador — como alma que o anima — situa-se o comunismo difuso, cuja visão da vida e do universo se opõe diametralmente ao espírito de Jesus Cristo.
O ano de 1974 marcou de um lado a ampliação da ação comunista no mundo; e de outro, como complemento tão eficaz dessa mesma ação, a desoladora inércia da atividade anticomunista.
Eis que "Catolicismo" esteve sempre a postos para alertar seus leitores contra o grande inimigo da civilização cristã.
Aproveitou as datas relativas ao grande Papa São Pio X e seu emérito Sucessor Pio XI para reavivar a doutrina da Igreja sobre a hierarquia social, ponto da doutrina católica que o igualitarismo marxista pretende destruir. Mostrou a estratégia comunista no Extremo Oriente, a ameaça de comunistização da América que seria a readmissão de Cuba na OEA, bem como a autodemolição em marcha na atitude enigmática tomada por dirigentes dos países do Ocidente. No campo eclesiástico, salientou a infiltração comunistizante nas publicações de vários teólogos da nova geração, bem como na posição assumida por elementos do Clero. No mesmo sentido de um reafervoramento da mentalidade católica, "Catolicismo", por ocasião do sétimo centenário da morte de São Tomás de Aquino, enalteceu a Filosofia perene do Doutor Comum, esteio de qualquer ação séria contra o comunismo, bem como deu largo destaque à visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, e perfeita cobertura às atividades da benemérita TFP — Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.
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Por todos os favores do Céu que significa semelhante trabalho, rendemos graças a Deus, de quem suplicamos, pelas mãos maternais de Maria Santíssima, as melhores bênçãos sobre o Diretor e demais colaboradores de nosso mensário.
† Antonio, Bispo de Campos
Está repercutindo intensamente na Espanha a declaração de Resistência das TFPs face à política do Vaticano de aproximação com os regimes comunistas. Publicada inicialmente em abril do ano findo, nos principais jornais do Brasil, pela Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (ver "Catolicismo", n.° 280, de abril), o referido documento foi lançado na Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela, Colômbia, Equador e Estados Unidos, pelas TFPs locais, alcançando nesses países enorme repercussão.
Há cerca de dois meses a Sociedade Cultural Covadonga, entidade cívica de Madrid, lançou o manifesto de Resistência na Espanha, desenvolvendo também larga campanha de difusão do mesmo por todo o país. Mais de cem mil exemplares do documento já foram distribuídos nas ruas das principais cidades espanholas. O seu texto integral foi publicado por dois órgãos influentes: a conhecida revista "Fuerza Nueva", dirigida pelo Deputado Blaz Piñar, e a "Hoja del Lunes", jornal de grande tiragem, o único que se publica em Madrid às segundas-feiras.
O resultado dessa difusão tem sido duplo: aplausos e críticas. Estas últimas, violentas e muito raras. Os aplausos, numerosos e não menos fogosos.
O texto divulgado na Espanha pela Sociedade Cultural Covadonga é análogo ao que as TFPs lançaram nas duas Américas, com as necessárias adaptações. Assim, a entidade madrilenha explica as razões que levaram seus sócios — católicos e espanhóis — a expor publicamente sua posição em face da política de distensão do Vaticano com os regimes comunistas. Ressalta que esta tomada de posição se tornou necessária e reveste-se do caráter de legítima defesa das consciências dos signatários — católicos e anticomunistas — ante um sistema diplomático que lhes tornava irrespirável o ar e os apresentava como inexplicáveis perante a opinião pública.
"A Espanha — afirmam os diretores da entidade — sempre teve um papel relevante em todos os acontecimentos nos quais a defesa da Igreja exigia sacrifícios, privações e lutas. Foi assim contra os muçulmanos durante os oito séculos da Reconquista; varões autenticamente espanhóis e cristãos, suscitados pela Providência, promoveram a Contra-Reforma; a Espanha venceu Napoleão, e com ele as ideias anticristãs da Revolução Francesa; a mais recente epopeia de nossa história é a luta contra o comunismo, derrotado pelo "Alzamiento" dos católicos espanhóis.
Dentre todas estas atitudes destacou-se a Espanha na defesa do Papado, a tal ponto que a fidelidade ao Papa se tornou a prova de sua fidelidade à Igreja.
Por isso, no momento em que se leva a efeito esta política de distensão, o problema da missão da Espanha fica mais claro do que nunca.
É um país que tem como missão lutar contra os inimigos da civilização cristã. E esta fidelidade se traduz em nossos dias no desenvolvimento de uma ação anticomunista.
Assim, pois, ante a distensão, que atitude vão tomar os católicos espanhóis? Deixar de lutar contra o comunismo e aceitar a vitória do inimigo mortal da Igreja, que é o resultado da distensão? Ou, pelo contrário, continuarão lutando em defesa dos interesses da Igreja contra a política de distensão do Vaticano?
Não há maior ato de fidelidade à Igreja que o de conservar para Ela as almas que o adversário Lhe quer roubar. Por isto é preciso cortar valorosamente o passo ao comunismo e resistir às seduções da distensão, pois este é o meio de evitar que o inimigo vermelho separe da Igreja e do Papado inumeráveis almas e nações inteiras".