Convenção. Não sendo bom orador, paga outros deputados para que o defendam. A questão se arrasta. Enfim, quando a decisão parece próxima, tudo é suspenso e adiado: antes de decidir qualquer coisa, os deputados irão julgar o antigo Rei. E o cidadão Egalité, como deputado, deverá julgá-lo também.
O Rei foi interrogado. Mais de um mês depois do primeiro interrogatório, a Convenção foi chamada a votar sobre três questões. A primeira, votada a 15 de janeiro, rezava: "Luís Capeto, antes Rei da França, é culpado de conspiração contra a liberdade, e de atentado contra a segurança geral do Estado?"
Não havia a menor prova em que tal acusação se baseasse, mas isso não era óbice para a Revolução. Como dizia Couthon, "todo mundo está persuadido da culpabilidade de Luís" (Weiss, vol. XVII, p. 49). Isso já é mais do que suficiente para um assassino.
Philippe Egalité havia prometido a várias pessoas que não votaria pela culpabilidade. Ninguém estranharia, pois o Rei era seu primo. Porém, na manhã do dia 15, ele foi visitado por dois amigos que avisaram: "Se não votares pela culpabilidade, ou se não compareceres, corres o perigo de ser exilado". E ele não hesitou. Quando subiu à tribuna, disse uma só palavra: "Sim". O primeiro passo estava dado.
Outra questão veio em seguida: "O resultado do julgamento de Luís será submetido à ratificação do povo?"
O povo, na Revolução Francesa, era o "soberano". .. Era em seu nome que tudo se fazia... Mas o povo era capaz de salvar o Rei. Assim, "democraticamente", a maioria dos deputados, e com ela Philippe Egalité, votou: "Não". O povo não deveria ser consultado.
No dia subsequente devia ser proposta a terceira e mais terrível questão: "Que pena se deve infligir a Luís?"
Filipe chegou à Convenção às sete horas da manhã. Desde a noite anterior uma multidão de vagabundos e agitadores ocupava a sala, a galeria destinada ao público, os salões de entrada, o pátio. Os deputados, para entrar, deviam atravessar esse magma ululante. Gritos de morte ameaçavam os da direita; aplausos saudavam os da esquerda. Dentro, nas galerias, uma chusma de mulheres da ralé que gritavam, riam, comiam e bebiam.
Durante todo o dia se discutiram questões secundárias. Só quando caiu a noite é que Danton pediu que se fizesse a votação. Parece que eles precisavam das trevas para perpetrar seu crime.
Às oito horas começou a chamada nominal. Os deputados, um a um, subiam à tribuna e pronunciavam em voz alta o seu voto: "Que seja morto"...; “Seja banido”...; "Prisão perpétua"...; "Seja condenado, mas não executado"...; "A morte pura e simples"... Alguns justificavam suas opiniões com longas arengas. Outros votavam com apenas uma palavra. Muitos, atemorizados pelos gritos do populacho e pela pressão dos colegas, mudavam de opinião na última hora, e pediam a morte do soberano.
A votação prosseguiu madrugada a dentro. Alguns deputados contavam os votos; outros dormiam sobre os bancos. Nas galerias e lá fora a aguardente circulava livremente. Havia gargalhadas, imprecações, blasfêmias (Castelot, p. 234).
Chegou a vez de votarem os representantes de Paris. Em teoria, todos os deputados são iguais. Na prática, os de Paris mandam e os outros obedecem. Por isso, a opinião desse grupo despertava grande interesse. E eles foram implacáveis (Moniteur de 20-1- 1793):
Robespierre: — "Não gosto "de grandes discursos" (segue-se um discurso enorme)... "Voto pela morte".
Danton:"... Voto pela morte do tirano".
Collot-d'Herbois: "...Fiel à minha consciência, [...] voto pela morte".
Manuel: — "Legisladores, eu não sou juiz..." (e julga que o melhor é a deportação).
Billaud-Varennes (que era um ex-Padre oratoriano): — "A morte em vinte e quatro horas".
Laviconterie: — "Enquanto o tirano respirar, a liberdade estará em perigo [...]. Voto pela morte".
Beuvais: — "A morte".
E assim se seguiram na tribuna todos os representantes de Paris, em meio aos aplausos da galeria que cheirava a aguardente e a suor. Finalmente, só faltava um.
"Philippe Egalité!" grita o funcionário que fazia a chamada.
Repentinamente o silêncio é completo. Lentamente, o cidevant Príncipe sobe os degraus da tribuna, com todos os olhares cravados nele. Até mesmo as mulheres da ralé se calaram, e estavam inclinadas para a frente, ansiosas. O primo do Rei não levanta os olhos. Tira do bolso um pedaço de papel amarrotado, e lê: — "Unicamente ocupado de meu dever, convencido de que todos aqueles que atentaram ou atentarão contra a soberania do povo merecem a morte, eu voto pela morte".
Ainda houve um instante de silêncio opressivo. Depois, "alguns murmúrios se elevaram numa parte da sala". E foi tudo. Até mesmo o relatório oficial da sessão se calou.
Uma circunstância iria tornar a infâmia ainda mais atroz: quando se fez a apuração, verificou-se que, de 721 deputados presentes, 361 haviam votado pela morte, sem condições. Assim, o Rei fora condenado exatamente pela diferença de um voto, o voto do seu primo, que fora o último a votar. Philippe Egalité era um assassino. Mas havia uma razão para isso: afinal de contas, a Ópera estava em Paris!
Luís XVI foi guilhotinado. As discussões dos deputados a respeito da sorte do antigo Duque de Orléans podiam recomeçar. Logo ficou claro que seu voto regicida não ia salvá-lo. Os discursos continuavam exigindo que todos os parentes do Rei fossem banidos.
Filipe se desespera. É muito pesado ter sido Príncipe um dia! Querem expulsar todos os parentes do Rei? Pois bem, ele, que já negou tudo, negará também a sua família. Num discurso no Club Jacobino, declara friamente que não é filho do "falecido Duque de Orléans", mas sim, do "cocheiro Lefranc, amante de sua mãe" (Castelot, p. 240)!
Danton, ao ouvir isso, exclamou: "Esse miserável me dá nojo!" (Castelot, ibid.). E Danton não era propriamente um modelo de virtude...
Todos o abandonaram. Filipe tornou-se como um leproso, um pária a quem ninguém fala, um fantasma vagando entre o Palais Royal e a Convenção. Logo sua prisão preventiva foi decretada. Ele seria provisoriamente enviado a Marselha, onde ficaria preso com toda sua família.
Ao receber essa notícia, o cidadão Egalité encontrava-se jantando em companhia de um de seus últimos amigos, um certo Monville. O antigo Duque ficou perplexo: — "Será possível? Depois de tantas provas de patriotismo que dei, depois de tantos sacrifícios que fiz, atingirem-me com um tal decreto! Que achas, Monville?"
Monville continuava sentado à mesa. Espremendo um limão sobre um filé de peixe, ele respondeu: "É espantoso, senhor, mas não poderia ser de outra forma. Eles fizeram com Vossa Alteza tudo o que quiseram. Agora que Vossa Alteza já não lhes pode servir para mais nada, fazem o que eu faço com este limão depois de o espremer". E jogou as duas metades do limão na lareira, observando que "o linguado deve ser comido bem quente" (Castelot, p. 251).
Alguns minutos mais tarde, os guardas vieram buscar o regicida. Ele ainda tentou alegar seu privilégio de membro da Convenção, mas, afinal, não ficava bem a uma pessoa chamada Igualdade estar invocando privilégios. Assim, sem maiores cerimônias, Filipe foi preso e enviado a Marselha, juntamente com seu filho mais moço, um velho primo, e uma parenta que "não compreendia como se podia se tratar tão mal a pessoas que haviam servido tanto à Revolução".
Sabemos dos detalhes de sua prisão em Marselha graças ao relato que o Duque de Montpensier, seu outro filho também lá preso, fez mais tarde em suas memórias. Aquele que havia sido o primeiro Príncipe do sangue de França foi encerrado num calabouço de paredes de pedra, negras como fuligem. Não lhe era permitido fazer qualquer exercício, ou respirar outro ar que não fosse o de sua cela, infectado pelo cheiro das sentinas. Na porta, uma grade de ferro o fazia alvo da contínua curiosidade dos guardas, que não hesitavam em trazer seus parentes e amigos para observarem esse estranho personagem que havia sido quase Rei e que agora era pouco mais do que um animal enjaulado.
Mas a obstinação no mal chega a extremos inconcebíveis. Um desses curiosos conta que, quando visitou a prisão, as roupas do Duque estavam cobertas de uma sujeira indescritível, e que sua barba era velha de pelo menos oito dias. Não obstante, Filipe o cumprimentou efusivamente, numa "avalanche de civismo", chamando-o de "cidadão" quatro ou cinco vezes na mesma frase (Castelot, p. 261). Apesar de sujo e maltratado, apesar de não poder quase se mover, apesar do cheiro repugnante do ambiente, apesar de tudo, o ex-Príncipe ainda se mostrava patriota, e do fundo de seu calabouço ainda usava o jargão da Revolução que o encarcerava...
Mas o cárcere também não poderia durar muito tempo. Mais que inútil, Filipe de Orléans era agora um incômodo para a Revolução: era preciso atirar logo o limão ao fogo.
Em pouco tempo, a propaganda o havia transformado no homem mais odiado de toda a França. Panfletos saídos (é claro!) do antigo Palais Royal o acusavam de todos os crimes possíveis. E assim, quando os girondinos são presos e vão a julgamento, os revolucionários não têm o menor pejo de incluir o nome do antigo Duque entre os nomes desses homens que sempre tinham sido seus inimigos figadais. Acusado de cumplicidade com os girondinos, ele foi levado a Paris para ser condenado. Dizemos "para ser condenado" porque seu julgamento foi uma mera formalidade: o Duque de Montpensier declara que uma vez ouviu os guardas dizerem: "O ex-Duque não ficará aqui por muito tempo. É preciso que sua cabeça caia" (Montpensier, p. 111). E bem antes do julgamento, o acusador público Fouquier-Tinville anunciou a uma pessoa: "Orléans morrerá no dia 6, quarta-feira" (Weiss, vol. XVII, p. 687; Castelot, p. 270).
Assim, o interrogatório foi rápido, e o juri, presidido por um antigo amigo do Duque, e assíduo frequentador do Palais Royal, levou apenas alguns minutos para trazer o seu veredito: "O cidadão Louis Philippe Joseph Egalité, outrora Duque de Orléans [...], ex-deputado à Convenção Nacional, é reconhecido culpado de ser o autor ou o cúmplice da conspiração que houve contra a unidade e a indivisibilidade da república, contra a liberdade e a segurança do povo francês. O tribunal condena o dito Egalité à pena de morte" (Castelot, p. 269).
Em seguida, Fouquier-Tinville escreveu a ordem para a execução imediata. Enganando-se no nome, ordena que se execute o "cidadão Legalité". Assim, esse infeliz personagem, após ter sido chamado sucessivamente de Duque de Montpensier, Duque de Chartres, Duque de Orléans, Louis Philippe Joseph e Philippe Egalité, vai morrer com um nome que não era seu: "Legalité".
Enquanto se ultimam os preparativos, ele é colocado numa cela juntamente com um bêbado. Instantes depois a porta se abre, dando entrada a um padre juramentado. Esse padre, assim como o carrasco e o coveiro, já haviam sido prevenidos algumas horas antes, quando o julgamento ainda não se havia iniciado.— Proezas da eficiência revolucionária. O condenado faz uma confissão geral. Depois pede para comer alguma coisa. Mas o cantineiro do Tribunal se recusa a servi-lo, porque "não sabe a quem deve depois mandar a conta".
Às quatro e meia da tarde, Filipe e mais quatro condenados sobem na sinistra carroça que os deverá levar à guilhotina. O populacho insulta e escarnece. O cortejo segue pela antiga rua Saint Honoré, e detém-se um instante diante de um belo edifício: o Palácio da Revolução, antes Palácio de Orléans, e antes ainda Palais Royal. Na frente, uma placa anuncia: "Propriedade nacional". Depois, a carroça continuou. Alguns degraus, um baque seco, e o carrasco, segurando uma cabeça, mostrou-a à multidão que ovacionava. O populacho de Paris de novo aplaudia o Duque de Orléans.
OBRAS CITADAS
CASTELOT, André — "Philippe Egalité, le Prince Rouge", Editions Sfelt, 1950.
DELASSUS, Henri — "La Conjuration Antichrétienne", Desclée, de Brouwer et Cie.
GAXOTTE, Pierre — "A Revolução Francesa", tradução da Livraria Tavares Martins, Porto, 1962.
"MONITEUR Universel, Le" ou "Gazette Nationale" — Reimpressão de Plon Frères, Paris, 1854.
MONTPENSIER, Louis Antoine Philippe d'Orleans, Duc de — "Memoires",- Baudouin Frères, Paris, 1824.
VILLAT, Louis — "La Révolution et L'Empire", Presses Universitaires de France, 1940.
WEISS, J. B. — "Historia Universal", versão da 5.a edição alemã, Tipografia La Educación, Barcelona, 1931.
Conclusão da pág. 5
Perjúrio cometido em declarações que prestou à Câmara Alta do Legislativo "yankee".
O malogro da Conferência Europeia sobre Cooperação e Desenvolvimento provocou outra trinca na "détente". A recusa soviética de permitir o livre trânsito de pessoas e ideias entre os dois mundos pôs a nu as reais intenções comunistas, mostrando que o expansionismo continua presente como sempre na mente dos senhores do Cremlim. Essa atitude provocou o impasse na conferência.
O conhecido aforisma "o meu é meu, o seu é negociável", constitui pedra angular na diplomacia marxista.
A paz, de armada que era durante a guerra fria, transformou-se em envergonhada e temerosa. Envergonhada, porque a trapaça russa está patente, e os capitais doados, as posições entregues, quer políticas, quer psicológicas, quer militares, de nada serviram. Temerosa, porque já se prevê que, alcançada a superioridade nuclear, os potentados do Cremlin imporão um "diktat" ao Ocidente.
O Ocidente industrializado está a apagar as luzes do festival de prosperidade sob o qual viveu nos últimos 25 anos.
Calculou-se que 25% dos operários da indústria automobilística norte-americana iam passar o Natal desempregados. O Prefeito de Detroit, capital do automóvel, declarou que tal atividade está a beira do colapso.
Em alguns aspectos, já se chega a extremos até a pouco inimagináveis. O "Jornal do Brasil" de 29 de outubro p.p. informa que os funcionários da alfândega britânica constataram que praticamente todos os turistas que voltam continente trazem escondidos, nos sapatos ou na roupa, pacotinhos de açúcar.
A mesma edição do matutino carioca noticia que o Primeiro-Ministro canadense Truddeau, na sua última visita a Paris, foi recebido para jantar, no palácio presidencial do Eliseu, na sala de reuniões do Gabinete, por ser a única dependência do edifício onde o aquecimento é permitido. Muitos funcionários passam a noite em cima das mesas do salão ministerial, já que nos apartamentos particulares o frio torna impossível o sono.
Os sinos dobram a finados pela prosperidade do Ocidente, até a pouco alegre, pletórico e despreocupado.
Asfixiado por torniquetes entre os quais avulta o da chantage do petróleo, o Ocidente caminha para sua própria destruição econômica com uma submissão e uma conformidade de pasmar. Tem vastas reservas energéticas de toda ordem, facilmente exploráveis. Enigmaticamente, jazem inaproveitadas. Nenhuma coordenação de esforços, nenhum sobressalto redentor. Tudo se passa como se um misterioso analgésico estivesse circulando nas veias esclerosadas do mundo não comunista.
A Diocese de Campos viveu nos meses de julho, agosto e setembro a mais intensa e fecunda das Missões aqui jamais realizadas. É que ela foi pregada pelo mais zeloso e eloquente dos Missionários: a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, a Imagem milagrosa que verteu lágrimas em Nova Orleans. Foram dias de graças superabundantes e especialíssimas, dias de extraordinário afervoramento, dias de verdadeira conversão. Há tempos não se viam igrejas tão repletas, filas tão extensas junto aos confessionários, tão grande número de comunhões; casais regularizaram suas uniões; pessoas de há muito afastadas voltaram a frequentar os Sacramentos; ateus notoriamente hostis à Igreja dobraram-se à Verdade.
Tendo presente o extraordinário fruto espiritual que em 1973 proporcionou aos seus diocesanos a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, o Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer empenhou-se em obter a sua volta, por motivo do cinquentenário da instalação da Diocese de Campos, que ocorria em 1974.
Conseguiu S. Excia. Revma. que a milagrosa Imagem pudesse percorrer várias paróquias da Diocese nos meses de julho, agosto e setembro, em três fases distintas. No mês de julho, ela visitou os Municípios de Santo Antônio de Pádua e Miracema; em agosto, esteve em Itaperuana, Laje do Muriaé, Porciúncula, Natividade, São Sebastião do Varre-Sai; o mês de setembro foi dedicado às Paróquias de Bom Jesus de Itabapoana (com seu Curato de Santa Maria), Cardoso Moreira, Italva, São João da Barra, Dores de Macabu, Campos, Cambuci e São Fidélis; nesta última paróquia encerrou-se a visita da Imagem Peregrina, comemorativa do 50.° aniversário da instalação da Diocese de Campos.
Todos os Párocos esforçaram-se por dar à presença da sagrada Imagem um grande destaque, para que os fiéis se compenetrassem da graça especial que recebiam com essa visita, e assim tirassem dela o maior proveito. O Sr. Bispo Diocesano conduziu pessoalmente a Imagem Peregrina a cada uma das paróquias e capelas visitadas, pregando sempre à multidão dos fiéis.
Em geral, os Párocos e Vigários prepararam carros-andores, servindo-se de um veículo sobre o qual dispunham adornos alegóricos: uma grande coroa ou um tronco de azinheira, sobre os quais ia a Imagem, ou arranjos semelhantes, sem nunca faltarem três crianças que, vestidas a caráter, lembravam Lúcia, Francisco e Jacinta a venerarem a Virgem que tiveram a ventura de ver com os próprios olhos.
A entrada nas paróquias fazia-se processionalmente, com um cortejo de automóveis cujo número variava entre duzentos e quinhentos veículos, cifra bastante elevada para localidades com cinco mil a quinze mil habitantes.
Toda a cidade acorria a venerar a Virgem. Os Prefeitos dos vários Municípios, em cerimônia na porta da Matriz, vinham depositar aos pés da Imagem Peregrina a chave simbólica da cidade, indicando que a Mãe de Deus seria a Soberana do Município nos abençoados dias em que sua Imagem ali se encontrasse. Jamais faltou a tocante procissão luminosa, feita à noite, em que o povo, num desfile interminável, com suas velas acesas, ia homenagear Aquela que é o guia das almas nas trevas, nas sombras ameaçadoras dos dias de hoje.
Durante a estadia da milagrosa Imagem na paróquia, os fiéis revezavam-se na igreja noite e dia, rezando continuamente o rosário, atendendo assim à recomendação de Nossa Senhora na Cova da Iria.
A piedade do povo era alimentada com pregações várias durante o dia, e encerrava-se a visita com a consagração da paróquia, das famílias, dos indivíduos aos Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria.
Para avaliar os frutos espirituais dessa abençoada visita deve-se salientar o número de confissões, que atingiu a casa das oito mil, entre as quais inúmeros foram os casos de verdadeiras conversões. Para atender à grande afluência dos fiéis, os Vigários das paróquias vizinhas auxiliaram-se mutuamente, de maneira que havia sempre quatro a cinco Sacerdotes para atender o povo.
A benignidade de Nossa Senhora manifestou-se também com benefícios de ordem temporal, aliviando muitas dores, consolando aflitos e mesmo restituindo a saúde a muitos enfermos.
O povo manifestou seu agradecimento à bondade da Mãe celeste com presentes de toda ordem, sobretudo flores em abundância, flores que adornaram todo o tempo a Imagem da Virgem. Vários casais ofereceram à Imagem suas alianças, muitas pessoas doaram joias que possuíam. Em São João da Barra os operários da fábrica de conhaque de alcatrão ofertaram-lhe uma coroa de prata lavrada. Em Santo Amaro do Grussaí, Capela de São João da Barra, uma senhora deu o terço de cristal que a acompanhava desde seu casamento. Em São Fidélis o povo reuniu em objetos preciosos 1.200 gramas de ouro, para com ele se confeccionar uma coroa a ser ofertada à Virgem Peregrina.
Quis o Exmo. Sr. Bispo Diocesano que a Imagem Peregrina estivesse de volta à Cidade episcopal para abençoar a ordenação sacerdotal que conferiu no dia 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição, na Catedral-Basílica, a cinco levitas, os Revdos. Diáconos José Eduardo Pereira, Antonio Paulo da Silva, David Francisquini, Fernando Arêas Rifan e Elcio Muricci.
Por ocasião da visita da Imagem de Nossa Senhora de Fátima as paróquias e a própria Diocese se consagraram ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. A fórmula utilizada foi esta:
"Virgem Santíssima do Rosário de Fátima, na vossa inefável bondade e maternal piedade — tão bem espelhadas na vossa Imagem Peregrina — viestes visitar vossos humildes filhos desta paróquia e desta Diocese de Campos. Em Fátima, a materna solicitude com que velais pelos vossos filhos aqui da terra Vos levou a dar-lhes mensagem de salvação. Pedistes que rezássemos sempre o santo rosário, essa arma que afugenta as potestades infernais, pedistes que vivêssemos em espírito de penitência, no cumprimento exato de nossos deveres, e na fuga da vida fácil, cuidando de não servirmos de escândalo para nossos semelhantes, e jamais promovendo diversões sensuais ou pecaminosas, como jamais tomando parte naquelas que a miséria humana venha a organizar. Ouvimos também, ó Mãe querida, a angústia que Vos causa a condenação eterna de tantos pecadores, surdos ao apelo da vossa misericórdia. E acolhemos, com imensa alegria, vosso pedido de que nos consagrássemos ao vosso Coração Imaculado.
Gratos pelo vosso amoroso apelo, aqui viemos para nos consagrar ao vosso Coração Imaculado e Misericordioso. Nós, toda esta paróquia [Diocese de Campos]; seu Vigário [seu Pastor] e os Sacerdotes que nela trabalham, suas ovelhas, todos queremos ser totalmente vossos, ó Mãe de amor. Nós Vos damos tudo que é nosso, os bens da alma, os bens do corpo e os bens da fortuna. Nós Vos entregamos nosso corpo, nossa alma, nossas atividades, e queremos viver parcimoniosamente, administrando os bens que eventualmente nos der a Providência, de acordo com vossos desejos.
Pedimos, Mãe querida, que esta nossa total consagração a entregueis ao Coração de vosso Divino Filho. Pois, assim consagrados ao Sagrado Coração de Jesus, vosso Filho, e ao vosso Coração Imaculado, queremos viver e morrer.
Purificai-nos, Mãe amabilíssima, para que nos tornemos dignos de vosso Unigênito. Conservai-nos, Virgem fiel, a fidelidade à Doutrina e à Moral que vosso Filho nos trouxe para a glória de Deus e a nossa salvação. Afastai da paróquia [da Diocese] a superstição, o espiritismo, todas as demais heresias, e, de modo especial, os erros do progressismo que perdem tantas almas! Afastai de nossa Pátria o espírito materialista, o ódio de classes, o comunismo difuso — esse ardil satânico que anima as tendências igualitárias de nosso orgulho, que inclina o homem para a sensualidade, e inocula nas almas o indiferentismo religioso, afogando nos corações a esperança cristã da vida eterna.
Fazei, Mãe celeste, que nosso pensamento esteja sempre elevado ao Céu, como pede o Apóstolo, para que, vivendo debaixo de vosso olhar materno, amemos sempre mais a Deus e melhor O sirvamos. Amém. Assim seja".
A visita triunfal da Imagem Peregrina à Diocese de Campos começou em Pádua
Em Porciúncula, como nas demais cidades, densa multidão acolheu a Virgem
D. Antonio prega aos fiéis que lotaram a Matriz de São José, em Itaperuna
Varre-Sai: impressionante procissão luminosa, de mais de três quilômetros