Lutero costumava conversar à mesa com seus amigos que anotavam frases como estas: "Um camponês cristão não é mais do que uma ferradura de madeira". "Um camponês é um porco, pois quando se mata um porco ele fica morto" (FB 165).
"Grande bênção de Deus, dizia contemplando o filho, esses brutos camponeses não são dignos disso, não lhes deviam nascer senão porcos" (FB 165).
Seria apenas para os pequenos, para o povo, ou para quem quer que não pensasse como ele, que Lutero tinha palavras tão duras? Nos lábios de Lutero encontramos palavras que só se pode transcrever fazendo ao mesmo tempo um ato de reparação a Deus Nosso Senhor e aos seus Santos. São blasfêmias que dispensam qualquer comentário.
Fiel à sua fórmula tão abominável quanto famosa: "Crede firmiter, et pecca fortiter, peccandum est quandium vivimus", diz: "Uma prostituta será mais facilmente salva que um santo, porque o santo é impedido por suas obras de ter o desejo da graça". Considera que "São Tomás não é senão um aborto teológico como tantos outros. É um poço de erros, um "pot-pourri" de mentiras e de heresias que aniquilam o evangelho"; os santos "uma raça de porcos de Epícuro, bêbados libertinos, cães que afundam seus pés no sangue"; os pregadores católicos "uma raça de insetos nojentos" (Barbier 14-15). Contra a Igreja a linguagem é simplesmente obscena. Sobre religião diz: "Embora nenhuma seja mais extravagante do que a religião cristã, creio em um só judeu, em Jesus Cristo, filho de Deus" (FB 189).
Mas é exatamente do Homem-Deus que Lutero diz blasfêmias tão abomináveis que não as podemos reproduzir (cf. FB 169 e 186).
Estes são apenas alguns traços do caráter do ex-Monge apóstata que procurou dilacerar a túnica inconsútil da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.
O veneno de suas doutrinas penetrou em tudo: política, economia, moral, filosofia, arte. A cultura decaiu, os costumes se corromperam, a Cristandade se dividiu. Depois, outros homens iluminados por Deus, levaram mais longe os princípios de Lutero: "O comunismo aparece com toda sua força e com um caráter prático e associacionista na seita dos anabatistas, derivada dos princípios expostos por Lutero; de modo que se pode dizer que o protestantismo foi o pai do comunismo" (Espasa, Socialismo, 1123).
No seio da Igreja, o protestantismo tentou penetrar várias vezes. Primeiro com o jansenismo, depois, condenado este, com o americanismo e o modernismo. E o progressismo de hoje, especialmente em seu aspecto teológico e litúrgico, está profundamente influenciado pelo protestantismo.
Em suma, os dois maiores erros de nossos dias, a seita progressista e sua irmã siamesa no campo temporal, a doutrina marxista, são as últimas fases do processo revolucionário que começou com Martinho Lutero.
Talvez assim o leitor compreenda o porquê de certos elogios ao incompreendido monge alemão do século XVI.
É que o semelhante agrada o semelhante.
OBRAS CITADAS:
(*) As letras indicam o Autor; o número indica a página citada.
FB — Funck Brentano — "Martim Lutero", Casa Editora Vecchi, Rio de Janeiro, 3.a edição, 1968.
LF — Pe. Leonel Franca, S.J. — "A Igreja, a Reforma e a Civilização", Editora Agir, Rio de Janeiro, 7.a edição, 1958.
DTC — "Dictionnaire de Theologie Catholique", Librairie Paris, 1926, verbete "Lutero".
Rohr — Abbé Rohrbacher "Histoire Universelle de L'Eglise Catholique", Gaume Frères et J. Duprey, Editeurs, Paris, Tomo XII, 4.a edição, 1866.
Espasa — "Enciclopédia Universal Ilustrada Espasa-Calpe", Madri-Barcelona, verbetes "Lutero" e "Socialismo".
Barbier — Abbé Emmanuel Barbier — "Histoire Populaire de L'Eglise", Librairie P. Lethielleux, Editeur, Paris, III partie, 1922.
este moderado ou extremado) pelo sinuoso processo revolucionário português. Este imenso caudal humano poderá ser levado a apoiar o socialista-marxista Soares, se não encontrar condutores autênticos. Entre estes não se pode incluir obviamente, o General Antonio de Spínola, que foi quem abriu as portas ao processo de comunização de Portugal. Seria um escárnio para a sofrida nação lusa, que Spínola se apresentasse agora como salvador, para que todo o drama começasse novamente, apenas sob formas mais subtis.
O que acontecerá em Portugal nos próximos dias, semanas ou meses? Chegará o país à completa comunização, seja pela via rápida de Cunhal, ou pela mais lenta e cuidadosa de Mário Soares? A resposta, parece-nos depende da solução do seguinte problema: conquistar o poder, pode ser fácil para o comunismo, em determinadas circunstâncias; o difícil é manter-se nele, ainda que sob uma fórmula mais moderada. O exemplo do Chile demonstrou-o cabalmente, há apenas dois anos.
Caso se produza uma resistência poderosa e organizada dessa esmagadora maioria católica anticomunista portuguesa; caso se tenha a lucidez e a coragem de afastar tanto a via lenta de Soares, quanto a rápida de Cunhal; caso se isole Spínola, o "Kerensky português", Portugal talvez possa escapar à triste perspectiva que tem diante de si.
Caso contrário, com estas ou aquelas alternativas, seja através de um aparente predomínio socialista-marxista estilo Soares, ou através da ditadura pura e simples dos comunistas de Cunhal e dos radicais do MFA, a infeliz nação seguirá rumo ao abismo onde se encontram tantos outros povos subjugados pela seita vermelha, no meio da displicente e culpável sonolência geral.
Não se pode excluir também a hipótese de uma guerra civil entre as várias facções que se digladiam em Portugal.
Cabe fazer notar, por outro lado, que os comunistas ocidentais, especialmente espanhóis e italianos, estão procurando tirar da atual situação portuguesa um proveito considerável:
Com efeito, eles — que não poderiam chegar ao poder sem convencer seus respectivos povos de que respeitarão a democracia antes, durante e depois de chegar a um eventual futuro governo de coalizão — estão agora dando a entender publicamente que não fazem sua a posição extremada de Cunhal e que não queriam um comunismo desse estilo para seus respectivos países...
Os comunistas espanhóis e italianos usam assim um inesperado e poderoso recurso psicológico para fazer-se aceitar (em combinação com outras forças de centro-esquerda) como comunistas convertidos ao sistema democrático e um tanto independentes de Moscou.
Aceitarão os espanhóis e italianos, e com eles os europeus em geral, a imagem propagandística e mortalmente enganosa de um neo-comunismo, supostamente democrático, pacífico e adocicado? Se a aceitarem, a Rússia terá obtido um avanço enorme na conquista da Europa e do Ocidente, sem armas nem guerras, apenas por um sensacional show muito bem orquestrado.
À vista de todos os antecedentes considerados nesta análise, e à guisa de conclusão resumitiva, cremos ser importante assinalar que os desígnios de Moscou a respeito do processo de comunização que sustenta em Portugal, comportam uma alternativa:
1. — A definitiva, drástica e imediata implantação do comunismo.
É evidente que, se isso fosse viável, seria uma opção desejável para os dirigentes do Cremlin. Mas, como vimos, essa viabilidade nem de longe está demonstrada. Pelo contrário, os resultados eleitorais, as manifestações de indignação popular e, sobretudo, a gigantesca afluência de fiéis a Fátima no dia 13 de agosto — provando que o contingente de católicos anticomunistas é muito maior do que o dos socialistas-marxistas e comunistas-marxistas juntos — indicam que a implantação violenta de um regime de tipo russo traria incontáveis riscos para o comunismo.
2. — É fácil perceber que, falhando a primeira opção, a Rússia tentará tirar proveito do processo revolucionário português.
Tal proveito consiste na encenação do mito de um comunismo aggiornato, fundamentalmente democrático e anti-estalinista. Este é realmente o único modo pelo qual a Europa poderá normalmente chegar ao comunismo, exceto a hipótese de uma conquista militar pela Rússia.
Esse mito tomaria extraordinária força e conseguiria adormecer a desconfiança de muitos europeus ocidentais, vendo a corrente de Mário Soares instalar-se definitivamente no poder e, em nome do neo-comunismo humanitário, e sorridente, expulsar ou isolar o comunismo estalinista de Cunhal. Essa incompatibilidade entre os dois matizes do comunismo pareceria inteiramente autêntica e real para os ingênuos: ou seja, para a grande maioria, em Portugal, e fora dele.
O exemplo português poderia ser assim um fator propagandístico de primeira ordem para a vitória comunista na Europa Ocidental.
* * *
É por todas essas razões que as pessoas realmente empenhadas na luta contra o comunismo e na preservação da Civilização Cristã devem observar certamente com muita preocupação a hipótese de que os comunistas de Cunhal e os radicais do MFA consigam assumir inteiramente o poder. Mas devem também considerar a hipótese do controle da situação por parte dos marxistas de Mário Soares, como um dos perigos mais temíveis da história de Portugal contemporâneo.
Nem os Cunhais, nem os Soares, mas a vitória dos católicos e anticomunistas verdadeiros é o que devemos desejar para o bem de Portugal, da Europa e do mundo.
Da. Maria Elisa Machado de Toledo, Campinas (SP): "Sou assinante desse jornal que muito admiro, mas peço licença para fazer um reparo:
Acho que notícias escandalosas como aquela referente ao incrível comércio dos frades, na Baía e das freiras na Espanha, não deviam ser veiculadas por jornal católico. Isso era tarefa da Imprensa inimiga da Igreja. A Imprensa católica limitava-se a doutrinar, propagar a fé e combater a imoralidade em todas as suas manifestações.
Fiz um teste: mostrei o referido artigo a pessoas jovens e também alguns adultos e, com raras exceções, eis o que ouvi: "está vendo? isso de falar mal de modas é prá cafonas. Até os padres e as freiras estão prá frentex e assim é que é certo, a religião agora é outra coisa, a gente faz caridade, o que é que tem mostrar o corpo que foi Deus que fez, o que é que tem a gente se divertir nas "boatinhas", ver filmes pornográficos, dar ao namorado o máximo de liberdade? Os tempos mudaram, a religião é mais "humana", só gente despeitada e maliciosa que vive se incomodando com coisinhas..." Mais ou menos isso e assim por diante.
E não me admira que a mentalidade dominante seja essa, pois quem é que doutrina mais agora? Não é a televisão, essa Mobral do diabo, que penetra nos lares, ensinando, pervertendo, escandalizando? As novelas são completas: propaganda do divórcio, trajes escandalosos, cenas de amor libérrimas e como se isso não bastasse, agora vão muito devagarinho introduzindo o baixo calão e personagens religiosas desmoralizadas como solteironas hipócritas, sacristão salafrário, padre simplório. A propaganda, salvo raras e honrosas exceções, é de uma indecência incrível. Entretanto, se alguém se decidisse a liderar um movimento de reação contra essa imundície, talvez fosse possível algum resultado positivo. Por exemplo: se os católicos que ainda o são de fato iniciassem um movimento de boicote contra todos os produtos anunciados por novelas, propaganda, programas humorísticos da pior qualidade? Se esse jornal liderasse um movimento assim?
Quanto a esses escândalos dados por religiosos, não seria mais prudente um protesto junto às autoridades eclesiásticas, sem tornar público o mau exemplo?
Pedindo desculpar-me pela liberdade que tomei, subscrevo-me".
■ Agradecemos a respeitosa carta de nossa assinante, D. Maria Elisa Machado de Toledo, de Campinas. Esta carta, dolorosamente, confirma o que há tanto tempo denunciamos: uma crescente descristianização da sociedade que, nos tempos atuais, pede meças às épocas de maior decadência dos costumes na Roma pagã. Se as messalinas já se não vangloriam de ter os nomes inscritos nas listas oficiais das mulheres públicas, é porque não há hoje semelhante exigência. Os recantos de vias públicas bastam para a pouca ou nenhuma vergonha dos jovens pares invejosos da liberdade dos irracionais.
Nossa amável leitora amargura-se com tão aviltante decadência de um povo de tradição católica. E sugere que CATOLICISMO encabece uma resistência contra a brutal sensualidade reinante.
Com franqueza, dizemos que, enquanto houver Frades com boutique de artigos unissex e Freiras poluindo suas mãos na feitura de biquinis, nenhuma resistência surtirá efeito. A moralidade da sociedade romana, fê-la a Igreja, isto é, as classes dirigentes da Igreja e o povo que fielmente seguia seus orientadores. E sem uma análoga ação da Igreja em nossos tempos, não haverá regeneração possível. Deus colocou a Igreja no mundo, como sal da terra, da sociedade. Se o sal se tomar insípido, como se salgará? — pergunta o mesmo Senhor.
Eis que CATOLICISMO denuncia os desmandos de gente da Igreja, escandalosos e de repercussão pública, num esforço no sentido de que não se prescreva, entre o povo, o conceito de Moral cristã, e de que as almas boas ainda se sintam encorajadas a continuar no caminho certo do recato, da modéstia, da virtude. É o conselho de São Francisco de Sales, quando manda que denunciemos a presença do lobo no meio do rebanho.
Está, graças a Deus, longe da intenção dos redatores de CATOLICISMO o espírito com que certa imprensa sente prazer em comentar escândalos dados — ou atribuídos — por elementos eclesiásticos. Só os move o princípio de São Francisco de Sales acima recordado. Não quer dizer que seja suficiente para converter todo o mundo, como prova o teste de nossa amável leitora. Algum bem fará, pois, do contrário, não o teria recomendado um Doutor da Igreja como o Santo Bispo de Genebra.
Gratos pela simpatia de nossa assinante, pedimos a Nossa Senhora que a faça feliz na fidelidade à Igreja de sempre.
Agora, Senhor todo poderoso, Deus de Israel, uma alma angustiada e um espírito aflito clama a Vós. Ouvi, Senhor, tende compaixão, porque sois um Deus misericordioso; compadecei-Vos de nós, porque pecamos na vossa presença. Porque Vós permaneceis eternamente, nós, então, havemos de perecer para sempre? Senhor todo poderoso, Deus de Israel, ouvi agora a oração dos mortos de Israel, e a dos filhos daqueles que pecaram diante de Vós, e não ouviram a voz do Senhor seu Deus, por cujo motivo se nos pegaram estes males. Não Vos lembreis das iniqüidades dos nossos pais; lembrai-Vos sim, nesta ocasião, do vosso poder e do vosso nome, porque Vós sois o Senhor nosso Deus, e nós, Senhor, Vos louvaremos; porque é por isto que pusestes o vosso temor em nossos corações, a fim de que invoquemos o vosso nome, e Vos louvemos no nosso cativeiro, afastando-nos da maldade de nossos pais, que pecaram diante de Vós.
Dignai-Vos ouvir-me, ó Senhor Deus grande e terrível, que guardais a vossa aliança e a vossa misericórdia para com os que Vos amam e que observam os vossos mandamentos. Nós pecamos, cometemos a iniqüidade, procedemos impiamente, apostatamos e afastamo-nos dos vossos preceitos e das vossas leis.
Mas de Vós, ó Senhor nosso Deus, é própria a misericórdia e a propiciação; porque nos retiramos de Vós, e não ouvimos a voz do Senhor nosso Deus.
Atendei, pois, agora, Deus nosso, à oração do vosso servo, e às suas preces; e sobre o vosso santuário, que está deserto, fazei brilhar a vossa face, por amor de Vós mesmo. Inclinai, Deus meu, o vosso ouvido, e ouvi; abri os vossos olhos e vede a nossa desolação, e a da cidade, na qual se invocava o vosso nome; porque nós, prostrando-nos em terra diante da vossa face, não fazemos estas súplicas fundados em alguns merecimentos da nossa justiça, mas sim na multidão das vossas misericórdias. Ouvi, Senhor, aplacai-Vos, Senhor; atendei-nos e ponde mãos à obra; não dilateis mais, Deus meu, por amor de Vós mesmo, porque esta cidade e este vosso povo tem a glória de se chamarem do vosso nome.
Luiz Sergio Solimeo
Nos começos de 1974, as Edições Loyola, dos Padres Jesuítas, de São Paulo, lançaram um livro sobre O Catolicismo Brasileiro em Época de Transição, de um autor americano, Thomas C. Bruneau, editado simultaneamente em inglês nos Estados Unidos pela Cambridge University Press, de Londres/Nova York.
O autor, que ensina atualmente no Canadá, esteve por duas vezes no Brasil, em 1967/1968 e em 1970, ocasiões em que recolheu dados e depoimentos pessoais para seu livro (que apresenta extensa bibliografia em inglês e português), no qual pretende abranger a vida da Igreja no Brasil desde a época colonial até o fim do governo Costa e Silva.
Ao abordar esta última fase, na parte mais importante de seu livro, o autor procura analisar a ação da TFP, presumindo fazê-lo suficientemente em apenas três páginas (mais uma referência de passagem em uma outra página). Entretanto não poderia ele, evidentemente, nesse espaço, sequer descrever a ação desenvolvida pela maior organização civil anticomunista do país, ao longo de seus 15 anos de existência.
Na realidade o A. não está preocupado em analisar com objetividade e imparcialidade toda a importância da ação dessa entidade. E menos ainda a atuação que seu fundador, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, vem exercendo — especialmente dentro do campo católico — nos últimos 40 anos da vida nacional. E isto porque ele não procura ater-se à realidade dos fatos, mas adaptá-los à tese que quer demonstrar, ou seja, que "hoje, no Brasil, a Igreja é a única instituição em oposição ao governo e o NÚMERO DE BISPOS, PADRES, RELIGIOSOS E LEIGOS PERSEGUIDOS POR SUAS CONVICÇÕES E POR SUAS AÇÕES, É ENORME" (p. 7, destaque nosso).
Perseguição que a Igreja sofre — segundo o autor — "por causa de sua compreensão da mensagem do Evangelho" (p. 9). O que o obrigaria a ser extremamente cauto, ao referir-se aos seus informantes brasileiros, pois "devido à presente situação política no Brasil, quem quer que fosse mencionado aqui [isto é, no seu livro] poderia despertar a atenção da polícia", uma vez que, "das quarenta pessoas que entrevistei formalmente em junho-julho de 1970, pelo menos vinte tinham estado na prisão uma ou mais vezes ou tinham um parente preso na ocasião". Pessoas, pois, altamente qualificadas para informar a um estrangeiro sobre o que se passa em nosso pais...
Com tais conselheiros e com uma tal arrière pensée, não é de estranhar que nosso autor não goste da TFP. Nem se compreenderia o contrário. Poder-se-ia, entretanto, esperar de um pesquisador esforçado, um pouco mais de objetividade, sobretudo tendo-se em conta que a versão original do trabalho foi apresentada como tese de Doutoramento em Filosofia (PhD) no Departamento de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Não foi o que se deu, infelizmente. O A., que gosta de mostrar-se muito bem documentado (no, aliás louvável, estilo universitário norte-americano) dispensou-se de compulsar toda a bibliografia direta da TFP (citando apenas de passagem o livro Reforma Agrária — Questão de Consciência) — o extenso trabalho jornalístico de seus membros mais destacados, através das páginas de Catolicismo (cuja existência não ignora, pois que o menciona à p. 396) e, principalmente, os trezentos e tantos artigos publicados nos últimos anos (a partir de 1968), na grande imprensa, pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Não levou ele em conta, também, todos os comunicados que a entidade fez publicar na imprensa diária para desmentir as calúnias tão numerosas que certos jornais e revistas têm assacado contra a TFP, como aconteceu durante a campanha de 1968, referente à infiltração comunista nos meios católicos. Lacuna tanto mais censurável quanto ele se baseia especialmente em ditas calúnias (cfr. em particular à p. 391).
Assim não lhe foi difícil chegar à conclusão cerebrina de que o progresso da TFP se deveria sobretudo a um apoio recebido do governo originado do "golpe" de 1964, que precisava de aplausos nos meios católicos em favor do que ele qualifica de política de perseguição à Igreja.
Assevera o Sr. Thomas Bruneau gravemente: "Desde a sua fundação, em 1960, a TFP sempre divergiu da corrente principal da igreja que, na ocasião, era definida pela CNBB [...] Depois do golpe e subseqüente eliminação da CNBB, a importância da TFP cresceu [...]. De modo que, a despeito do Concílio, que não era aceito por eles, a TFP adquiriu mais força na Igreja e na sociedade em geral" (p. 396).
Infelizmente para o autor, a realidade dos fatos não se coaduna com esta montagem intelectual.
Deixamos de analisar aqui várias afirmações injustas do A. contra a política religiosa do Mal. Costa e Silva. Estão elas à margem de nosso tema específico, que é o que ele diz da TFP.
Qualquer observador atento da realidade brasileira, sabe que o prestígio da TFP lhe adveio, entre outros fatores, de sua capacidade de interpretar os sentimentos de largo setor da opinião pública (que no Brasil ainda é predominantemente católica) e de lhe dar um meio de se manifestar, junto quer às autoridades civis, quer às eclesiásticas.
É a esta conclusão fácil que o A. poderia ter chegado, se tivesse tido o trabalho de analisar as campanhas promovidas pela TFP. Em 1966, por exemplo, o Governo apresentou ao Congresso um projeto de Código Civil com disposições divorcistas. A TFP saiu às ruas e conclamou o povo a que pedisse que o Episcopado "fizesse ouvir sua grande e poderosa voz", para impedir que tal atentado à família brasileira se consumasse.
O entusiasmo da população provou que a TFP soubera discernir seus sentimentos profundos, apesar da propaganda artificial dos meios de comunicação. Em pouco tempo, mais de um milhão de pessoas de todas as classes sociais, assinaram as listas apresentadas pelos jovens cooperadores da TFP nas praças públicas. O Presidente Castelo Branco teve o judicioso gesto de retirar o projeto impopular.
Em 1968, após o escândalo provocado pelo conhecido documento do Pe. Comblin (a que, como a todos os congêneres, o autor defende) propondo como solução dos problemas do Brasil e da América Latina a extinção das Forças Armadas, dos tribunais togados, que seriam substituídos por tribunais populares revolucionários e a adoção de "alianças sujas", que "sujassem as mãos", com as esquerdas — a TFP lançou mais uma campanha de abaixo-assinado. Era um apelo a ser encaminhado (como realmente o foi) a Paulo VI, pedindo urgentes e adequadas providências contra a crescente infiltração comunista nos meios católicos.
Ao contrário do que imaginaria o pesquisador norte-americano que nada viu, mais de um milhão e seiscentos mil brasileiros estavam convencidos da realidade dessa infiltração e subscreveram o apelo da TFP.
Quanto à tal "eliminação" (?) da CNBB, a que atrás se refere o autor, a única de que se poderia falar, seria o que chamaríamos "omissão" do seu órgão de cúpula, em várias ocasiões, pois é o de que se queixam católicos quando dela esperam alguma medida eficaz em prol de sua causa. Foi o que ocorreu no caso da infiltração comunista nos meios clericais. Aí realmente ela se cala e parece não existir. Ou (como na mais recente investida divorcista) age com tal cautela, com tal comedimento que é quase como se não agisse.
Que, em tais ocasiões, este órgão colegiado represente verdadeiramente o pensamento da maioria dos Bispos do Brasil, é coisa muito discutível.
Por aceitar cegamente informações duvidosas pela sua própria origem (partida de adversários notórios) e obcecado pela sua tese apriorística (da perseguição religiosa), que ele quer provar a todo custo, o A. repete afirmações vagas e totalmente infundadas, de que a TFP receberia orientação e dinheiro do governo. Ao que ele aduz como prova o fato de que "um deles [membros da TFP] encontrou-se com o "Presidente para tratar de questões políticas e um outro recebeu a "Grã-Cruz da Ordem Militar do Mérito" das mãos do Ministro do Exército". (O scholar estadunidense julga-se dispensado de fornecer pormenores insignificantes como nomes e datas). Além do que (e isto para ele é conclusivo), "os membros da TFP foram várias vezes elogiados por altas autoridades Militares" ... (p. 398).
Ora, nenhum dirigente da TFP jamais foi recebido em audiência pelo falecido Presidente Costa e Silva para tratar de questões políticas, ou quaisquer outras, como, pelo contexto, parece afirmar o A. A menos que ele tenha querido referir-se à audiência que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e demais membros do Conselho Nacional da TFP tiveram com o Mal. Castelo Branco, no Palácio dos Campos Elíseos, a convite do Chefe de Estado, por ocasião de uma visita deste a São Paulo, quando recebeu outras personalidades. Tampouco nessa oportunidade foram tratados temas políticos, tendo o falecido presidente agradecido à TFP suas críticas corteses e construtivas a um projeto de lei de iniciativa do Executivo. Nem qualquer dos membros da TFP recebeu jamais alguma condecoração do Governo. E alguns elogios de autoridades militares anticomunistas à maior sociedade civil anticomunista do país — tão naturais — absolutamente não provam, só por si, as assertivas do professor yankee.
Mais digna de protesto é outra acusação que ele lança contra a TFP. Não podemos deixar de crer que os ignotos informantes do Sr. Bruneau quiseram, a tal respeito, abusar de sua ignorância religiosa. Diz ele com toda a candura: "Muitos dos meus informantes compararam a ideologia da organização com um Jansenismo de nossos dias, que coloca os seus princípios acima mesmo do Papa" (p. 396).
Mal informado (por desejo próprio, é preciso esclarecer, pois a TFP sempre manteve suas portas abertas a pesquisadores credenciados, inclusive a vários conterrâneos de Mr. Bruneau) , afirma ele que os vários Bispos que têm se manifestado simpáticos à TFP, especialmente D. Antonio de Castro Mayer (e, no passado, D. Geraldo Sigaud), pertencem à entidade. Como todos sabem, ela é uma sociedade cívica (embora formada por católicos e baseando-se na doutrina católica) e não tem em seus quadros a nenhum Prelado.
Para terminar, algumas considerações que se aplicam não só ao A. analisado, mas a certo gênero de críticas que se costuma lançar contra a TFP.
Para que uma crítica seja válida necessita ela de pelo menos dois elementos fundamentais: ser formulada com inteira clareza e objetividade, e apresentar provas sólidas do alegado. Ou pelo menos uma série de indícios que, de modo veemente conduzam o espírito a aceitar tais críticas como sumamente verossímeis.
Exemplificando um pouco, foi dito que a TFP se baseia nos princípios da doutrina católica. Para se criticá-la do ponto de vista religioso, várias afirmações genéricas feitas pelo A. — como as de que a TFP está "contra qualquer mudança" (p. 396) ou que é uma espécie de "Jansenismo de nossos dias" (id.), etc. — não conduzem a nada. O que importa é mostrar que ela contrariou tal ou tal princípio da doutrina católica, foi contra tal ou tal ponto do direito canônico, ou algo de bem preciso neste gênero.
Como ficou visto por esta apreciação da posição do pesquisador americano sobre a TFP, infelizmente suas críticas se baseiam inteiramente em impressões, e em acusações gratuitas, cuja única comprovação seria a mera afirmação, lançada no ar, de algum jornal ou revista hostil à TFP. E formulações tão genéricas ou críticas tão vácuas como esta, que tomamos como um elogio, mais do que como uma crítica: "A organização [isto é, a TFP] se inspira numa ideologia "integrista" que anima uma militância ativa em defesa do catolicismo tradicional. A TFP defende um moralismo extremo, é contra o divórcio, contra o comunismo [...]" (pp. 395-396).
Para encerrar este comentário, folgamos em registrar três afirmações do Prof. Thomas C. Bruneau que correspondem à realidade: 1.a) "a TFP é uma organização viável", 2.a é "bem organizada" e 3.a é "extremamente ativa na consecução dos seus objetivos" (pp. 395 e 396).
Na unidade do vínculo vê-se impresso o selo da indissolubilidade. É, sim, um vínculo ao qual a natureza inclina, porém não causado necessariamente pelos princípios da natureza, pois se executa mediante o livre arbítrio: mas a simples vontade dos contraentes, se o pode contrair, não o pode dissolver. Isto vale não somente para as núpcias cristãs, mas em geral para todo matrimônio válido que tenha sido contraído sobre a terra pelo consenso mútuo dos cônjuges.
Mas se a vontade dos esposos não pode mais dissolver o vínculo do matrimônio, poderá talvez fazê-lo a autoridade superior aos cônjuges, estabelecida por Cristo para a vida religiosa dos homens? O vínculo do matrimônio cristão é tão forte que, se já atingiu a sua plena estabilidade com o uso dos direitos conjugais; nenhum poder no mundo, nem mesmo o Nosso, o de Vigário de Cristo, pode rescindi-lo. É verdade que Nós podemos reconhecer e declarar que um matrimônio, contraído como válido, em realidade é nulo, por causa de algum impedimento dirimente ou por vício essencial do consenso ou defeito de forma substancial. Podemos também em determinados casos, por graves motivos, dissolver matrimônios privados do caráter sacramental. Podemos até, se há uma justa e proporcionada causa, dissolver o vínculo de esposos cristãos, o sim por eles pronunciado diante do altar, quando conste que não tenha chegado ao seu cumprimento com a realização da convivência matrimonial. Mas, uma vez que isto aconteceu, aquele vínculo permanece subtraído a qualquer ingerência humana. Não reconduziu porventura Cristo a comunhão matrimonial àquela fundamental dignidade que o Criador na manhã paradisíaca do gênero humano lhe havia dado, a dignidade inviolável do matrimônio uno e indissolúvel? — [Discurso aos esposos, de 21 de abril de 1942, apud Michael Chinigo, "Pio XII e os Problemas do Mundo Moderno", tradução do Pe. José Marins, Edições Melhoramentos, São Paulo, 1959, pp. 189-190].