Péricles Capanema
O trágico abandono de antigas Províncias ultramarinas e outros territórios, por parte do governo português, que havia sido iniciado pelo general Antonio de Spínola, encerrou-se em 10 de novembro de 1975 com a entrega de Angola a três movimentos guerrilheiros. Aquele território transformou-se no pesadelo da diplomacia ocidental pela acentuada modificação da situação estratégica que sua tomada pelos soviéticos acarreta.
A maciça ajuda de Moscou, efetuada através de milhares de soldados cubanos sob orientação de centenas de técnicos russos, além de moderníssimo armamento, esmagou a resistência dos dois movimentos pró-ocidentais, FNLA e UNITA.
Os últimos e dramáticos acontecimentos verificados em Angola, sugerem algumas graves reflexões que julgamos indispensável apresentar a nossos leitores.
Concomitante à ajuda ao MPLA, vários acontecimentos nos países vizinhos indicam a determinação do Cremlin de inclinar a seu favor o precário equilíbrio político e militar na região.
Zâmbia depende da boa-vontade de Angola para vender seu cobre, fator determinante de 90% das exportações daquele país. A paralisação da ferrovia que liga o porto atlântico de Lobito às minas de cobre estrangulará a economia zambiana e desempregará sessenta mil operários, caldo de cultura para futuras agitações. Em Lusaka, capital do país, recrudesce a subversão nos meios intelectuais e estudantis.
John Vorster, primeiro-ministro da África do Sul, prepara-se para enfrentar a ameaça insurrecional no Sudoeste Africano, ou Namíbia, território administrado pelo governo de Pretória. Terminada a guerra angolana, as tropas da SWAPO — movimento guerrilheiro operando na região — deverão intensificar suas incursões bélicas, apoiando-se no MPLA, para arrancar a ex-colônia alemã de mãos sul-africanas.
Ian Smith, primeiro-ministro da Rodésia, teme a efetivação da antiga ameaça comunista de derrocar seu governo pela força. Robert Mugabe, chefe guerrilheiro, ex-secretário-geral da União Nacional Zimbawe (ZANU ), declarou haver vinte mil voluntários nas fronteiras da Rodésia, prontos a invadi-la.
Ndabaningi Sithole, outro dirigente guerrilheiro, está sendo treinado em Moscou e espera-se que com ajuda russa possa estabelecer uma base militar na Tanzânia, de onde ameaçaria o regime de Salisbury. "A última possibilidade de um acordo pacífico verificou-se durante a Conferência de Victoria Falls. A solução sairá agora do tambor das armas de fogo", declarou Sithole.
Com apoio em Moçambique, Tanzânia e Angola, a conflagração do cone Sul do continente e o consequente desafio à África do Sul, Rodésia e Zâmbia eliminará a presença ocidental naquela região, substituindo-a pela foice e o martelo, caso não haja uma reação, cada vez mais improvável.
A maior parte das exportações de óleo cru dos países do Golfo Pérsico para a Europa transita pelo sul da África. Por aí circula também o intensíssimo comércio japonês com a costa leste americana e com os países atlânticos da América do Sul. As vias principais de suprimento dos países não comunistas estarão sujeitas a chantagens, geradores de polpudos dividendos políticos, tão logo a presença russa prepondere na área. O chefe do governo sul-africano, John Vorster, chamou a rota do Cabo da Boa Esperança de "salva-vidas da Europa".
A arremetida russa contra Angola foi articulada tendo como base soldados cubanos. Na África, Moscou encontrou facilidades na Nigéria, Guiné e Congo-Brazzaville para ajudar o MPLA.
Cuba utilizou o aeroporto da ex-Guiana inglesa para reabastecimento de seus aviões militares destinados a Luanda. Por aí se percebe com que bons olhos o governo de Georgetown considera as conquistas russas na África.
Configura-se, dessa maneira, um clima de tempestade. Do outro lado do Atlântico, instala-se uma potência comunista bem de frente ao litoral brasileiro. Ao norte, dois Estados, um insular, Cuba, e outro continental, a Guiana, deixam transparecer, embora em graus diversos, suas intenções subversivas.
Analistas de política internacional acreditam estar a Rússia, neste momento, determinada a conquistar a América Latina por meio do regime de Havana, insuflando movimentos nativos, numa reedição da estratégia utilizada na África.
A atitude do Congresso norte-americano de negar crédito às facções pró-ocidentais de Angola abriu grave precedente. Já se considera bastante provável que, no caso de uma agressão russo-cubana a algum país sul-americano, encapuçada sob a forma de auxílio a movimentos nacionais, os Estados Unidos repetirão a atitude, desinteressando-se da sorte do aliado da véspera. A pertinácia de Kissinger mantendo a détente, apesar das recentes conquistas militares comunistas no Sudeste Asiático e na África, não é de molde a tranquilizar os aliados de Washington.
Nas situações internas dos países latino-americanos, há inúmeros pontos facilmente exploráveis para a sistemática tentativa do Cremlin de "cubanizar" ou — para empregar um termo mais recente — "angolizar" esta parte do globo.
Em recentes declarações, Fidel Castro manifestou a intenção de ajudar os chamados nacionalistas de Porto Rico a promoverem seu desligamento de Washington, mesmo que tal atitude destrua a política cubana de aproximação com os Estados Unidos.
O governo esquerdista do Panamá já advertiu que o recurso à luta armada será a opção que lhe restará, caso os norte-americanos não atendam suas reivindicações na questão do Canal. Havana já prometeu seu apoio às reivindicações panamenhas.
A instabilidade política da Venezuela e da Colômbia, de onde chegam notícias do reacender de guerrilhas, forneceria pretextos fáceis ao governo castrista para interferir nesses dois países. Recentemente, um matutino paulista, citando textualmente um delegado latino-americano na ONU, escrevia: "Caso os cubanos tenham êxito em Angola, as mesmas táticas e tropas poderão ser usadas na América Latina. Creio que a Colômbia será o primeiro alvo para um ataque guerrilheiro de surpresa". E um membro do próprio governo cubano, o ministro da Indústria, Lester Rodriguez, declarou que as tropas de seu país irão a qualquer parte do mundo para defender regimes revolucionários do que chama de "agressão imperialista". Rodriguez acrescenta ainda: "Cuba cumprirá de qualquer maneira seu dever internacionalista".
No Brasil, os movimentos cripto comunistas, a infiltração vermelha em alguns setores da população, denunciada por autoridades civis e militares, bem como a perigosa vizinhança da Guiana, constituem fatores que, utilizados astutamente por Moscou, produziriam condições favoráveis à subversão interna.
No terreno especificamente militar, a instalação de bases para as forças armadas russas em Angola ameaçaria as regiões limítrofes, bem como o Brasil, o Uruguai, e a Argentina. Além de tornar mais ágeis as ações russas, com tropas, navios e aviões, prontos a intervir nos países vizinhos de Angola, perdura ainda a ameaça de longo alcance: os foguetes. Estabelecidas rampas em Angola, todas as capitais africanas mais ou menos próximas estariam sujeitas a um bombardeio convencional ou nuclear. Alguns submarinos soviéticos são dotados de mísseis de 6.700 km de alcance. De Angola poderiam atingir o Nordeste brasileiro. Se considerarmos a possibilidade de movimentação desses submarinos, todas as grandes cidades de nossa Pátria, transformam-se em alvos potenciais (ver mapa na página 1, cuja reprodução foi gentilmente autorizada pela revista "Visão").
"Os russos não ousarão desafiar o poderio americano em área tradicionalmente ocidental, instalando bases militares em nosso Continente", poderia alguém objetar.
O argumento tem pouco alcance. Vejamos duas razões que o destroem: a primeira baseia-se na posição do Congresso norte-americano, sempre irritadiço quando se lhe apresenta a necessidade de fazer frente ao avanço soviético. E como o Capitólio tem o poder — e atualmente o hábito — de obstar ações defensivas dos Estados Unidos, é de se temer que também no caso de uma agressão russa à América do Sul fará o mesmo.
Em segundo lugar, o Atlântico Sul nunca foi área de influência soviética. A ousada ação comunista de enviar tropas para Angola, disputando militarmente territórios nessa área, é um indício inegável de que a fraqueza norte-americana açulou os anseios de conquista russos. Quem dá um passo, por que não dará dois?
Configurados os perigos próximos — que de um momento para outro podem transformar-se em trágicas realidades — vale a pena enumerar rapidamente os elementos constitutivos da base de sustentação política com a qual Moscou poderá contar em sua investida sobre a América Latina.
Antes de tudo, o Partido Comunista, espalhado por todo o corpo social, com estrutura rígida e flexibilidade felina de movimentos, apto a desempenhar um papel decisivo na articulação das forças de quinta-coluna e na desarticulação e confusão dos setores anticomunistas.
Na paralisia e desconcerto dos anticomunistas reside o fator essencial da manobra comunista. Estes, constituindo esmagadora maioria, caso estejam bem organizados e disponham de líderes autênticos e eficazes, podem frustrar decisivamente os intentos do Cremlin. Porém, se Moscou conseguir eliminar nos anticomunistas a vontade de lutar, a América Latina estará perdida. Para determinar essa paralisia dos bons, a injeção do "curare" psicológico fica a cargo das forças ditas moderadas, que procurarão induzir a opinião pública a tentativas de acordo com os marxistas. Após alcançar este objetivo, os vermelhos, em etapa posterior, tentarão inculcar a ideia de que tudo está perdido e, portanto, não resta outra coisa senão ceder.
Contra o binômio moderação otimista-pânico entreguista há que precaver-se muito. O exemplo recente do Vietnã no-lo atesta. O Pe. Generoso Boto, missionário brasileiro que exerceu sua tarefa apostólica no Vietnã, de 1951 a 1975, numa concorrida conferência pronunciada recentemente em Belo Horizonte, afirmou: "Além de armarem todo um dispositivo de guerra psicológica, de subversão e terrorismo, os comunistas, apoiados por todos os pacifistas, neutralistas e certos setores do "Clero engajado" do mundo inteiro, lançaram uma campanha de âmbito internacional para desprestigiar o governo do Sul, a Igreja do Vietnã, a presença dos americanos". E indagou o missionário: "Por que católicos e revistas ditas católicas contribuem para a vitória do ateísmo militante?"
Instalado o comunismo, chegaram-nos tristes notícias de que o Arcebispo de Saigon elogiou várias atitudes do novo governo. O pastor abre assim, o aprisco aos lobos, ao invés de resistir. Será que fatos análogos se passarão aqui? A pergunta é dolorosa. Mas faltaríamos à objetividade se a deixássemos de lado.
Na América Latina, os movimentos de matiz socialista, dos quais um flagrante exemplo é a Democracia Cristã, executarão o mesmo papel de seus congêneres do Vietnã, abatendo as barreiras para facilitar a investida comunista?
Soldado cubano (à esquerda) preso em Angola.
"Cuba cumprirá de qualquer maneira seu dever internacionalista".
Combatente do MPLA em treinamento.
Plinio Corrêa de Oliveira
O que é precisamente um anticomunista? A pergunta parece tão simples de responder, que dá a impressão de roçar pela tolice. Entretanto, ela recebe respostas diversas. E entre as duas mais correntes, se contém um universo de matizes de capital importância. Se não compreendermos esses matizes, nada compreenderemos da política internacional. Pior ainda, deixar-nos-emos enrolar pelo comunismo. O que vem acontecendo a incontáveis contemporâneos nossos.
É, pois, indispensável que saibamos como responder a questão.
* * *
O Tratado de Yalta, imediatamente subsequente à Segunda Guerra Mundial, foi tido a justo título como uma aberração por todos os anticomunistas. Ele consagrou de facto a expansão imperialista da Rússia — expansão esta que algumas décadas depois o infeliz Tratado de Helsinque haveria de consagrar de jure.
Até Yalta, um anticomunista se definia como um opositor da filosofia marxista, bem como do programa político, social e econômico decorrente desta. E, dado que Moscou era a Meca vermelha da qual se estendiam para o mundo inteiro os tentáculos da propaganda comunista, os opositores do comunismo eram também adversários de Moscou.
Yalta levou os anticomunistas a somarem a essas razões de serem anti mais algumas outras. Por certo o domínio russo sobre a Europa Oriental, acarretando a implantação do regime comunista nas nações satélites, só podia ser visto com execração pelos anticomunistas. Mas o delito perpetrado por Moscou contra a Europa Oriental apresentava também outros aspectos. Nações soberanas passaram a ser escravizadas pelo imperialismo russo. Precisamente pela mesma razão que levou os europeus dos séculos XVIII e XIX a se indignar contra a partilha da Polônia entre as coroas austríaca, russa e prussiana, e o esmagamento das posteriores tentativas autonomistas efetuadas pelos poloneses contra a Rússia, os anticomunistas de pós-Yalta se puseram a vituperar a conquista da Europa Oriental pelos russos. Este novo motivo de vitupério nada tinha a ver com o comunismo propriamente dito. Inspiravam-no o direito das gentes, como já inspirara análoga atitude contra a Rússia czarista.
Se pelo menos os povos subjugados tivessem sido consultados em toda a honestidade e liberdade, segundo as formas plebiscitárias geralmente admitidas, sobre se aceitavam a dominação russa... e se tivessem respondido favoravelmente! Porém haviam sido subjugados à força e era pela força que continuavam subjugados.
Não há dúvida, concluíam os anticomunistas mais fogosos do que nunca, com o comunismo não há composição possível. Em face dele, só existem duas atitudes: lutar ou entregar-se. De onde a luta retomava mais afincada do que nunca.
A essa altura, o conceito de anticomunista continuava claro. Quem haveria de dizer que a propaganda comunista teria a diabólica habilidade de tirar daí uma ocasião para baralhar a mente de incontáveis anticomunistas, dando o primeiro passo numa longa caminhada de ambiguidades, a qual nos conduziria à miserável situação em que nos encontramos?
Entretanto, foi o que se deu.
Até este momento, caso se perguntasse a um anticomunista se ele era anti-czarista, muito possivelmente ele responderia que não. Se respondesse que sim, acentuaria que não era enquanto anticomunista que ele se opunha ao czarismo, mas enquanto democrata. Havia anticomunistas democratas e não-democratas. Essa profunda diferença de opinião não impedia a uns nem a outros de serem anticomunistas.
Bem entendido, para os democratas anticomunistas, o caráter despótico do regime soviético constituirá um dos argumentos preferidos de sua dialética antivermelha. É perfeitamente compreensível que esse argumento tenha alcançado grande êxito tático nas nações do Ocidente, profundamente embebidas do espírito democrático.
Este êxito propagandístico levou numerosas personalidades do Ocidente a insistirem cada vez mais na alegação democrática contra o comunismo, em entrevistas e declarações para a imprensa, rádio e televisão. Importantes organizações anticomunistas procederam de igual maneira. E, aos poucos, a imensa atoarda anticomunista que se generalizava pelo mundo, ia mudando seus leitmotiv. A defesa da tradição, da família e da propriedade, esmagadas pelos comunistas, ficava cada vez mais num segundo plano. E a razão principal — gradualmente a razão única — da grande ofensiva anticomunista passava a consistir em que o regime comunista é antidemocrático.
Essa cisão entre as duas dialéticas anticomunistas, isto é, a antiga, baseada na tradição, na família e na propriedade, e a nova, baseada apenas nos princípios democráticos —era contraditória e perfeitamente artificial. No sentido de que qualquer democrata contrário à tradição, e favorável à abolição da família e da propriedade, afundaria no mais completo totalitarismo. Ou seja, no contrário do que ele entende por democracia.
Entretanto, esta nova concepção do anticomunismo teve uma como que glorificação mundial quando o falecido Presidente Kennedy, discursando em Berlim, proclamou que só era contrário ao comunismo porque na Rússia e nos países satélites o regime não era consagrado por eleições livres. O chefe da maior potência temporal do Ocidente consagrava, em consequência, um novo sentido, um sentido vácuo, do anticomunismo. Fiel à doutrina pagã da soberania absoluta do povo, ensinada por Rousseau, Kennedy admitia implicitamente que as maiorias podem praticar contra as minorias todos os abusos, negar-lhes todos os direitos naturais, inclusive impor-lhes o mais despótico e injusto dos regimes.
Não disponho de provas documentárias absolutamente irretorquíveis para afirmar que esta gradual modificação na mentalidade política de tantos anticomunistas tenha resultado — de um ou de outro modo — da política comunista. Entretanto o comunismo lucrou tão prodigiosamente com isso que, quanto a mim, não tenho dúvida de que ele está na raiz dessa transformação. Pois nessa matéria vale o princípio de que tudo quanto dá vantagem para o comunismo foi presumível ou certamente levado a cabo por ele.
Chegamos, no decurso das décadas, ao último lance do drama. Depois de ter intoxicado largamente os meios anticomunistas com o princípio de que não são senão democratas à Rousseau, os comunistas estão jogando sua grande cartada decisiva para a conquista da Europa Ocidental.
Os dois principais partidos comunistas de aquém-cortina de ferro são o francês e o italiano.
Ora, um e outro estão desenvolvendo uma política no sentido de persuadir a opinião não comunista de que são genuinamente democráticos. E com isto esperam obter o beneplácito dos partidos democráticos centristas, para a formação de ministérios de coalizão em que algumas pastas sejam dadas a comunistas.
Como bem sabemos, a partir do momento em que algumas pastas são concedidas a comunistas, estes passam a ser os homens fortes do governo, e a conquista total do poder pelos comunistas se torna irreversível.
* * *
Leiam-se os jornais de nossos dias. É passada na França uma película descrevendo os campos de concentração soviéticos. Os PCs de ambas as nações protestam, alegando que são contrários a esse método de repressão ditatorial. Um e outro PC repudiam ostensivamente a conquista do poder pela força e deixam bem claro que só esperam de eleições livres o almejado triunfo. Ambos vituperam o domínio exercido pela Rússia sobre os países satélites, e proclamam seu propósito de manter intacta a soberania nacional caso galguem o poder.
Isto posto, que razão tem um anticomunista rousseauniano para se opor à ascensão de tão rousseaunianos comunistas ao poder? Nenhuma.
Assim, a gradual evolução do qualificativo anticomunista do seu primitivo sentido substancioso e definido, para seu sentido atualmente tantas vezes aceito, está em vias de proporcionar aos comunistas vantagens táticas, talvez decisivas para a conquista da Europa Ocidental.
Inúmeros anticomunistas europeus autênticos se deixaram assim iludir por uma ágil manobra propagandística que os transformou, de anticomunistas militantes em não comunistas tolos e inofensivos. Montado neles, os PCs da França e da Itália esperam agora conquistar o poder.
"Bobo é cavalo do demônio", diz um velho provérbio em curso no Brasil.
E com quanta razão!
O ambiente que, de 1960 até hoje, os comunistas mais têm procurado infiltrar, no Brasil, é o ambiente católico: Seminários, Noviciados, Universidades e colégios católicos, associações religiosas, meios de comunicação social etc.
Segundo o consenso geral, os resultados obtidos pelo comunismo neste campo vêm sendo impressionantes, e não raras vezes até espetaculares.
Ainda segundo o consenso geral, isto não teria chegado a ser assim se não fosse a colaboração pública e ativa de bom número de eclesiásticos, a colaboração discreta e sabiamente dosada de um número maior deles, e a abstenção comodista da maioria.
Estas considerações levam a TFP a tomar atitude diante de numerosas declarações de importantes Prelados vindas a público simultaneamente e com grande destaque, nos últimos dias.
Esta Sociedade se abstém, no momento, de comentar as declarações feitas pelo Cardeal D. Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo, sobre o comunismo e sua expansão no Brasil. São elas no espírito da recente e desconcertante "Declaração de Itaici" dos Bispos deste Estado.
Apresentam matiz diverso, e merecem ser comentados à parte pela TFP os recentes pronunciamentos de D. Aloisio Lorscheider, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Conselho Episcopal Latino-americano, do Cardeal D. Eugênio Sales, Arcebispo do ,Rio de Janeiro, do Cardeal D. Avelar Brandão Vilela, Arcebispo da Bahia, do Cardeal D. Vicente Scherer, Arcebispo de Porto Alegre, e de outras altas figuras do Episcopado, sobre o comunismo enquanto perigo para o Brasil ("O Estado de S. Paulo" de 4, 5 e 6 do corrente). A propósito a TFP se sente na obrigação de afirmar que a imensa maioria dos católicos brasileiros não dá importância a tais pronunciamentos. Surgem eles juntos e de súbito, não se sabe porque neste momento, depois de tantos anos de expansão do mal, impune de sanção eclesiástica, e só agora, quando ele já vai tão alto. E o público católico, por isto, não sabe como explicá-los.
Carece de seriedade que esses pronunciamentos, reconhecendo a periculosidade do comunismo, fiquem em generalidades, e que um deles, de D. Aloisio Lorscheider, em face do incêndio que lavra um pouco por toda parte, mencione tão somente, como exemplo da gravidade do mal, o contágio aliás real que se estende no setor das Comunicações Sociais e nos meios universitários.
Não, Eminências. Não, Excelências. Isso não basta. Os católicos só tomarão a sério pronunciamentos anticomunistas de fonte eclesiástica que dêem especialíssimo relevo à denúncia do perigo que avulta de modo escandaloso no campo imediatamente confiado à vigilância e à ação defensiva dos Bispos, isto é, no campo católico. Descrevam os Prelados em toda a sua extensão o perigo comunista que se alastra claramente nos meios católicos. Expliquem ao Brasil desconcertado e apreensivo quais as causas que conduziram à atual situação e quais os meios para conter a ação destas causas. Tranquilizem o público anunciando-lhe um plano amplo e eficaz de erradicação do mal. E sobretudo anunciem que já teve início a execução desse plano. Então, e só então, o rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo reconhecerá no que digam tais pronunciamentos, a autêntica voz do Pastor.
São Paulo, 7 de março de 1976
Plinio Corrêa de Oliveira
Presidente do Conselho Nacional
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
Kennedy e Kruchev – o aperto de mão que desarmou os anticomunistas.
Stalinismo, o único mal do comunismo?