Sendo assim, para a Igreja não há outra alternativa senão adaptar-se ao comunismo e aprender com ele:
"Permitam-me, portanto, sugerir que formulemos a questão de maneira diversa. EM VEZ DE PERGUNTAR QUANDO A IGREJA RETORNARÁ Á CHINA, DEVERÍAMOS DIZER: COMO PODE A IGREJA CONTEMPORÂNEA, COM O RENOVADO CONHECIMENTO DE SI MESMA, ENCONTRAR A CHINA CONTEMPORÂNEA? Têm elas alguma aspiração em comum? Quais? O que as mantém separadas? O que podem elas APRENDER UMA COM A OUTRA? Há alguma possibilidade de coexistência, até mesmo de mútuo respeito? Houve algum êxito na superação da alienação existente?" (p. 129, destaque nosso).
Permita-nos o leitor que, antes de passar a outras considerações, façamos um pequeno parênteses, para explicitar o erro teológico que constitui a explicação última dessa visão dos fatos.
São Pio X, na Encíclica Pascendi Dominici Gregis, na qual condena a heresia modernista, no começo do século, apresenta como seu principal erro, de onde derivam os demais, a falsa concepção de Deus. Ao contrário do Deus pessoal e transcendente, infinitamente superior a toda criatura, que a Filosofia e a Teologia católicas nos ensinam, apresentam os modernistas um "deus" panteísta, que se confunde com o mundo, imanente, preso na trama histórica, e que se vai revelando através dos fatos. Esse "deus" está continuamente se "revelando" porque também está se transformando de modo contínuo. De onde deduziram eles que não há verdade fixa e que o Dogma deve evoluir e a Igreja transformar-se sempre.
Como se sabe, pelo contrário, a Revelação divina foi comunicada por Deus aos Patriarcas (de Adão a Abraão), ao povo judeu, culminando com Nosso Senhor Jesus Cristo e encerrando-se com a morte do último Apóstolo. A tese de que a Revelação oficial foi encerrada com os Apóstolos exprime o ensinamento tradicional da Igreja e foi confirmada de modo particular com a condenação do modernismo na Encíclica "Pascendi". Entre os adversários da tese encontram-se os modernistas que admitem um "desenvolvimento" da Revelação.
Ora, o Pe. Dargan afirma, de modo diverso, que "Deus se revela a si mesmo na história"; e põe-se uma pergunta que, admitida a falsa premissa, não podia deixar de ser feita. Essa pergunta nos conduz ao cerne da explicação da "opção socialista" feita pelos novos clérigos: se Deus se revela na história da humanidade em geral, que sentido faz distinguir entre a história do povo eleito (os judeus do Antigo Testamento) e a da China Comunista? Se esta revelação é contínua, porque ela não se dá também por meio dos povos que vivem sob o comunismo, ou seja, porque ela não se efetua por meio do comunismo? A resposta, para eles, é afirmativa: Eis porque chamam Marx de "Profeta" e Mao de o "novo Moisés". Deixemos falar o neo-Jesuíta:
"Deus, diz ele, revela-se a si mesmo na História. Isto nos conduz a águas teológicas mais profundas, uma vez que nos obriga a perguntar qual é a distinção entre revelação bíblica e revelação histórica, e que sentido faz chamar os judeus de povo escolhido, com o privilégio especial da revelação de Deus [...]. O bom senso torna muito difícil aceitar que Deus esteve ausente da história não judeu-cristã e não esteve atuando nela [...] a China, por exemplo, testemunhou no último século uma extraordinária transição de um sistema fechado, desigual, corrupto, "feudalista", num dinâmico esforço para transformar o homem e a sociedade, para criar o que Mao chama de "o novo homem socialista". Um fenômeno desta ordem parece pedir da Igreja algum critério pelo qual possamos ver se a mão de Deus está aí e como" (p. 131).
Terminemos esta nossa análise do pensamento progressista, tal como foi apresentado no Colóquio de Louvain, com uma citação, embora longa, do Pe. Jan Kerkhofs, S. J., o qual resume o que acabamos de ver:
"Não obstante quando se é cristão, não se pode fugir ao dever de se ver Deus na História, pois A ÚNICA REVELAÇÃO É A HISTÓRICA. O conjunto da história do povo judeu, TODA A HISTÓRIA DO MUNDO CRISTÃO e, mais perto de nosso época, a ênfase colocada pela Constituição Pastoral Gaudium et Spes (Vaticano II) sobre os "sinais dos tempos", nos ensina que, de acordo com a tradição da Igreja, DEUS REVELA-SE NA HISTÓRIA, QUE OS FATOS DA HISTÓRIA, enquanto lidos pelos seres humanos, SÃO O ÚNICO LUGAR ONDE DEUS APARECE, FALA E DESAFIA [...]
Neste colóquio o que estamos procurando, em consequência, é, de um modo ou de outro, "ler" a Gesta Dei per Sinenses, as obras de Deus realizadas por meio do povo chinês. Estamos procurando, embora de um modo provisório, chegar ao significado cristão e às implicações teológicas do acontecimento chinês e admitimos bem explicitamente que NOSSA FÉ CRISTÃ ESTÁ realmente SENDO DESAFIADA PELA EXPERIÊNCIA CHINESA, não só no que diz respeito a seu comprometimento, mas também a SEU CONTEÚDO" (p. 165, destaques nossos).
"Gesta Dei per Sinenses", a gesta, a epopeia de Deus realizada pelos comunistas chineses! Esta é a aplicação que faz o Pe. Kerkhofs da famosa frase histórica "Gesta Dei per Francos", com que os autores designam o importante papel desempenhado pelos francos na cristianização da Europa. Então, os histéricos declamadores do pensamento de Mao seriam como novos francos, campeões e defensores da fé! O que pensar desta concepção inimaginável?
E o Pe. Kerkhofs não recua diante das consequências de seu pensamento progressista. Se a Revelação é "um fato contínuo", algo inacabado, então não é possível haver um corpo de doutrina, uma Igreja dogmática que obrigue os fiéis a crerem em determinadas verdades imutáveis. Por isso, o Cristianismo não é senão uma "hermenêutica", uma interpretação, diz ele, da história do Velho e do Novo Testamento, e, por essa razão, de toda a História, partindo do FENÔMENO HISTÓRICO DE JESUS, visto à luz da fé na ressurreição". Agora, raciocina o Jesuíta, "assim como há uma interpretação judaica, uma leitura não-cristã desse acontecimento contínuo e acima de tudo do fenômeno (sic) de Jesus, também há uma leitura marxista do mesmo acontecimento..." Portanto, "para ser humana e honesta, essa leitura cristã [isto é a interpretação dos fatos —que para os progressistas substitui o Dogma] precisa manter constantemente o diálogo com as outras interpretações [...]. Sendo uma "hermenêutica", o cristianismo não é uma "gnosis" [conhecimento] uma doutrina teórica de salvação: O CREDO NÃO É MAIS QUE UM MOMENTO DE EXPLICITAÇÃO NUM CRISTÃO, UMA PRAXIS SACRAMENTAL" (p. 167, destaque nosso).
Vê-se bem como progressismo e comunismo se completam na lógica do erro. Por onde se percebe que os clérigos ou Bispos que — como Mons. Mendez Arceo — fazem propaganda velada ou declarada da revolução igualitária comunista, não estão simplesmente enganados no campo político-social, nem — segundo tudo indica — tiveram sua boa-fé surpreendida. Na verdade, parece-nos que é por terem sido conduzidos à heresia modernista, mediante um longo trabalho sub-reptício realizado em Seminários, Universidades e movimentos católicos, que eles chegaram ao fanatismo que os têm levado, algumas vezes, até à guerrilha urbana ou rural. Mas, curiosamente, não são os mestres que ensinam essas monstruosas doutrinas, divulgadas em colóquios internacionais como este analisado por nós, que sofrem as consequências, mas apenas o exaltado que passa à, prática desses ensinamentos.
E as autoridades eclesiásticas, por que não agem? Era preciso chegar a este estado de "autodemolição" da Igreja — para empregar a expressão de Paulo VI — a fim de que, na Santa Igreja de Deus, tais erros tivessem livre circulação. O que faz lembrar a lamentação do Profeta Jeremias: as pedras do Santuário estão dispersas e o inimigo penetra pela sua porta (Lam. 4, 1 e 12)!
Total de fiéis 3.469.452
Bispos 146
- chineses 35
- estrangeiros . 111
Padres 4.788
- chineses 2.698
- estrangeiros 2.090
Religiosas 7.463
- chinesas 5.112
- estrangeiras 2.351
Seminaristas maiores 924
Universidades 3
(4.596 estudantes)
Escolas 4.437
(567.732 estudantes)
Orfanatos 254
Hospitais 216
Dispensários 781
Leprosários 6
Jornais 55
Revistas 29
1. Primeira guerra civil (1927-36) 500.000
2. Durante a guerra sino-japonesa — combates entre
comunistas e anticomunistas chineses (1937-45) .. 50.000
3. Segunda guerra civil (1945-49) 1.250.000
4. Reforma Agrária (antes de 1949) 1.000.000
5. Campanhas políticas de liquidação (1949-58) 30.000.000
6. Guerra da Coreia 1.232.000
7. "Grande salto para a frente" (campanha forçada
de aumento da produção e coletivização) 2.000.000
8. Lutas contra minorias étnicas (inclusive Tibet) 1.000.000
9. "Revolução Cultural" e suas sequelas (1965-70) 500.000
10. Mortos em campos de trabalhos forçados e nas
fronteiras 25.000.000
Fonte — "EST & OUEST", 1/15-2-72
Nota: As estimativas fornecidas por estudiosos de Formosa indicam um total de 66.040.000 mortos entre 1949 e 1968.
(1952-1956 = 100)
Ano | China comunista | Formosa | Coreia do Sul | Filipinas | Am. Latina |
---|---|---|---|---|---|
1952 | 93 | 100 | 115 | 100 | 87 |
1971 | 148 | 193 | 196 | 193 | 165 |
Fonte: "EST & OUEST'; 16/31-11-1973
"Livro vermelho" de Mao: nova "bíblia para fanatizar os marxistas chineses.
Progressistas consideram Mao autêntico profeta da época atual. "Como um novo Moisés, libertou seu povo da escravidão..."
Trinta e oito Sacerdotes do Estado do Rio de Janeiro lançaram em São Fidelis um corajoso manifesto no qual afirmam seu repúdio ao comunismo e solicitam ao Episcopado nacional medidas adequadas para sustar a infiltração marxista nos meios católicos.
Eis a íntegra do documento, distribuído à imprensa com o título de "Contra o comunismo":
"O comunismo é o erro mais monstruoso jamais engendrado pelo espírito das trevas. Onde quer que se tenha implantado, para se conservar no poder e manter sob a garra da opressão os povos subjugados, usa de todas as formas de violência, desde aquela que implica na coação física e moral, até o assassinato. A maior prova do repúdio desses povos oprimidos ao regime comunista é a fuga. Aí estão diante de nossos olhos os refugiados vietnamitas, angolanos e portugueses. Mil vezes melhor a morte ou o exílio do que a escravidão, ainda que dentro dos limites da própria pátria. Para impedir a fuga — que o desmoraliza diante das nações livres — o comunismo precisou construir muros e fronteiras fortificadas em torno dos países dominados.
Nos últimos tempos, o esforço do comunismo internacional por conquistar as nações ainda livres é um fato tão evidente que nenhum observador atento pode negar. Para conseguir tal objetivo, procura destruir todas as barreiras que se lhe opõem e suas armas preferidas são o terrorismo, a difamação, a calúnia.
Recentemente, vozes autorizadas do País têm denunciado a infiltração comunista em nossa Pátria e, de vez em quando, jornais veiculam notícias da repressão de focos subversivos por parte das autoridades competentes. E, malgrado a orquestração de calúnias contra o Brasil que — como faz contra o Chile —a propaganda comunista internacional promove, a ação vigilante e patriótica de nossas gloriosas Forças Armadas tem conjurado o perigo comunista em nosso País e assegurado aos brasileiros a paz e a ordem que os subversivos tentam perturbar.
Ainda há pouco, os comentários tendenciosos de alguns jornais acerca do suicídio de um jornalista comunista preso em São Paulo pelas autoridades do II Exército, deram-nos a impressão exata da profundidade atingida pela infiltração comunista em certos órgãos da imprensa e outros meios de comunicação do País. Tal impressão se acentuou com aquele culto ecumênico realizado na Catedral de São Paulo, culto de caráter político, seguido de greves estudantis e de manifestações contra o regime atual.
Mas o que nos estarreceu e deixou perplexos foi o documento da Assembleia Geral da Comissão Episcopal Regional Sul I da CNBB.
Com todo o respeito que merecem os Exmos. Srs. signatários do referido documento, pedimos vênia para mostrar nossa estranheza pela omissão injustificável de uma palavra de apoio às autoridades na repressão ao comunismo. O perigo comunista não é evidente e não põe em risco a civilização cristã, a família brasileira, nossas tradições, nossa Fé e nossa própria condição de país livre? Não é necessário e urgente, digno de todos os aplausos, o combate vigoroso a qualquer surto de subversão que venha ameaçar a segurança da Pátria? Não é dever dos Pastores velar pela preservação de todo o rebanho quando assaltado por lobos vorazes? Contudo, em nenhuma linha do documento episcopal, nem a menor sombra de alusão ao perigo comunista: nem a mais leve censura às injustiças e perseguições que os comunistas infligem às suas vítimas; nem a menor referência, ainda que parcimoniosa, ao zelo de nossas autoridades na defesa das instituições! Mas há abusos na repressão anticomunista. Concedemos que possa haver. Onde não os há em instituições falíveis e efêmeras, como as humanas? Que se denunciassem os abusos concretos, ocasionais. Mas, sobretudo, que se defendessem as instituições ameaçadas, a civilização cristã em perigo, o bem de todo um povo. E que se apoiasse decididamente a atividade patriótica do Governo na luta contra a subversão. O documento, neste ponto, é totalmente omisso. Há mais solicitude em socorrer o lobo ferido do que em proteger o rebanho que escapou às suas garras.
Ao tomar conhecimento destes fatos pela imprensa, leigos confiados aos nossos cuidados pastorais, em reuniões de associações, em conversas e através de cartas, mostraram seu estarrecimento e solicitaram que manifestássemos nosso pensamento. A isto nos instaram, outrossim, cartas que temos recebido de católicos de outros Estados, principalmente do Estado de São Paulo, pedindo um pronunciamento dos Padres, uma vez que leigos já se manifestaram, como fizeram os da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, em pronunciamento respeitoso e firme.
Eis porque, face aos acontecimentos mundiais e nacionais da hora atual, que se revestem de tanta gravidade, damos, como Sacerdotes católicos, o testemunho de nossa Fé, e, como brasileiros, o testemunho de nosso patriotismo.
Repudiamos o comunismo, que é uma versão terrena da rebelião de Lúcifer e de seus anjos, expressão requintada do orgulho e da sensualidade do homem; repudiamos o comunismo, tantas vezes condenado pela Igreja como intrinsecamente mau, ateu, perseguidor da Religião, negador de todos os Mandamentos da Lei de Deus, violador de todos os direitos humanos, opressor de todas as liberdades e da própria pessoa humana.
Pedimos aos Exmos. Srs. Bispos que, diante da crescente influência do marxismo sobre o pensamento e a atuação de católicos, diante da infiltração de ideias e práticas comunistas em setores e movimentos do apostolado, ergam sua voz de Pastores para condenar o comunismo, e apliquem medidas adequadas que a gravidade do perigo está a exigir, para sustar a inoculação do veneno marxista em meios católicos.
Apoiamos e aplaudimos a ação corajosa e o zelo intimorato de nossas autoridades na repressão ao comunismo. Imploramos as bênçãos de Deus sobre elas, para que não esmoreçam nesse combate que deve ser feito com justiça, mas sem tréguas.
Evocamos, comovidos, a figura e o exemplo do Eminentíssimo Cardeal Jószef Mindszenty, símbolo de fidelidade à Igreja e de resistência ao comunismo, e desejamos na sua pessoa reverenciar a memória de todos os Bispos, Padres e Religiosos vítimas da opressão marxista em várias partes do mundo.
Solidarizamo-nos com todas as outras vítimas do comunismo, especialmente com nossos irmãos na Fé, os católicos, que sofrem nos campos de concentração, nas prisões, nos trabalhos forçados, nos hospitais psiquiátricos, onde são cientificamente despersonalizados e servem de cobaia a todas as experiências; que são impedidos de praticar a Religião e professar sua Fé; que se veem expulsos de sua Pátria ou coagidos a abandoná-la para fugir ao terror vermelho e trazem na face e no coração as marcas dos horrores que presenciaram. A todos esses perseguidos, oprimidos e fugitivos expressamos nossa comunhão na caridade e, edificados pelo seu exemplo, acenamos para o prêmio das tribulações com as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Bem-aventurados sereis, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem contra vós toda espécie de mal, por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa no Céu" (S. Mateus, 5, 11-12).
Manifestamos, enfim, nossa esperança e certeza na vitória da Santa Igreja sobre o comunismo, firmados na promessa de Nossa Senhora de Fátima: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará".
São Fidélis (RJ), dezembro de 1975.
aa) Pe. Emanuel José Possidente / Pe. Licínio Rangel / Pe. José Olavo Pires Trindade / Pe. Eduardo Athayde / Mons. Ovídio Simón / Côn. Ludovico Rosano / Pe. Benigno de Britto Costa / Pe. Francisco Apoliano / Pe. Othon Deodato de Souza / Pe. José M. F. Collaço / Mons. Francisco Assis Santos / Mons. Antonio de Freitas / Côn. Luiz Gonzaga de Castro Azevedo / Pe. José Nicodemos dos Santos, Ten. Cel. Capelão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (R) / Pe. Lauro Fraga / Pe. José Moacir Pessanha / Pe. Roberto Gomes Guimarães / Pe. Lamar Barreto Calzolari / Pe. Daniel Martins Ambrósio / Pe. João Bermudez Perez / Pe. Henrique Conrado Fischer / Pe. Gervásio Gobato / Pe. Antônio Alves de Siqueira / Pe. Fernando Arêa Rifan / Pe. Edmundo G. Delgado / Pe. Manoel Henrique Ferreira Lima / Pe. Alfredo Oelkers / Côn. Oto Mütting / Pe. Abaeté Cordeiro / Pe. Antonio Paulo da Silva / Pe. David Francisquini / Pe. José Eduardo Pereira / Pe. José Gualandi / Pe. Élcio Murucci / Pe. Olivácio Nogueira Martins / Pe. Pedro Javé Casas / Pe. José Hélio Ramos / Pe. Emílio Soares da Silva.
Comunicado da TFP chilena, a propósito de duas notícias transmitidas pela Rádio Moscou e pela Rádio "Paz e Progresso", ambas da capital soviética (os subtítulos são do original castelhano):
"A viva repercussão que vem alcançando em toda a extensão do país o livro recentemente lançado pela Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, "LA IGLESIA DEL SILENCIO EN CHILE — La TFP proclama la verdad entera", é claro sinal da, angústia em que se encontra submersa a consciência de incontáveis católicos chilenos, devido à atuação de numerosos eclesiásticos esquerdistas. Para os católicos que o lêem, o livro representa um fator de esclarecimento que lhes ilumina o caminho a ser seguido, sentindo eles, na proclamação da TFP, um desafogo daquilo que os inquieta no fundo de suas almas.
Como é natural, o comunismo acusa o golpe que prejudica o mais medular de seus planos subversivos, plano este que vem se aplicando efetivamente, graças à cobertura e colaboração de importantes setores eclesiásticos chilenos, ou seja, do Cardeal Arcebispo de Santiago, Mons. Raul Silva Henríquez, grande parte do Episcopado e do Clero. Para prejuízo das forças subversivas fica posta em evidência, e portanto inutilizada, através do livro lançado pela TFP a ação que os vermelhos vêm desenvolvendo por meio desta ponta de lança da investida comunista no Chile, em que se têm constituído os "eclesiásticos demolidores".
Tudo parece indicar que os comunistas chilenos, gravemente desorientados pelo sério golpe que lhes infligiram, informaram prontamente os russos, pedindo orientação a seus guias e mentores do Cremlin. Desde que suas bases católicas — arrastadas de modo enganoso pelo Clero esquerdista — não atendam à voz comunista oficial, emitida diretamente de Moscou, é de se presumir também que a ação subterrânea dos russos no âmbito nacional se torne ineficaz ante o impacto do livro.
Com efeito, a reação de Moscou frente ao livro "LA IGLESIA DEL SILENCIO EN CHILE — La TFP proclama la verdad entera" foi tão imediata, que pode presumir-se que um dos primeiros exemplares postos à venda lhe foi remetido por um meio extraordinariamente rápido. Moscou, para responder, tardou apenas o tempo suficiente, requerido para um estudo meticuloso da matéria contida na obra e para uma imediata reflexão sobre como proceder.
O fruto dessa reflexão corresponde a uma diretriz emitida pelos russos aos comunistas chilenos e aos católicos, eclesiásticos e leigos, tão vastamente influenciados pelos marxistas de nossa pátria. Tal diretriz foi comunicada em língua castelhana por locutores de indisfarçável acento chileno, nas transmissões feitas pela Rádio Moscou, em seu. programa "Escucha Chile", no dia 23 de fevereiro, e pela Rádio "Paz e Progresso" no dia seguinte, também da capital soviética, e cuja gravação magnética, captada pela TFP, se encontra à disposição das emissoras chilenas nos escritórios da entidade.
A ordem emitida por Moscou consiste em assumir a defesa dos propugnadores do comunismo. Isto é, defender aqueles que os defendem, ou seja, o Cardeal Silva Henríquez e grande parte do Episcopado e do Clero. Mais ainda, para manter atada espiritualmente aos referidos Bispos a desditosa Igreja do Silêncio chilena, Moscou chega a erigir-se não só em defensora da unidade dos católicos como também das prerrogativas da Hierarquia!
A partir deste fato e lembrando o velho provérbio que afirma "dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és", pode concluir-se, parafraseando o mesmo: "dize-me que defensores se levantavam a teu favor, que te direi a que causa serves".
Em seu programa do dia 23 de fevereiro — e dando prova de sua profunda preocupação pelos efeitos que o livro vem causando em setores católicos, muitas vezes desprevenidamente arrastados ao comunismo por membros do Episcopado e do Clero — a Rádio de Moscou procura desde o início falsear a realidade, apresentando a referida obra como um ataque à Igreja: "Nova onda de ataques contra a Igreja Católica", assinala. E acrescenta: "os facistas chilenos abriram uma nova frente de ataque contra a Igreja Católica e o Cardeal Raul Silva Henríquez, com um lançamento bombástico, editado pela chamada Sociedade de Defesa da Tradição, da Família e da Propriedade".
Manifestando, de início, minuciosa informação acerca da TFP chilena, e deformando os fatos para negar a autonomia local desta Sociedade, acusando-a de pertencer a uma rede internacional, acrescenta: "Esta sociedade é correntemente conhecida no Chile pelo nome de "Fiducia", pois assim se chamava sua revista, editada anos atrás. A Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, da Família e da Propriedade, Fiducia, faz parte de uma cadeia internacional de organizações do mesmo nome existentes no Brasil, Colômbia, Argentina e em outros países, porta-estandarte do mais ultrapassado fanatismo religioso de ultradireita".
Depois de vociferar contra os "aristocráticos fiducianos", estudantes da Universidade Católica e de colégios confessionais, e de impugná-los em virtude da distribuição que fizeram no Chile do livro "Frei, o Kerensky chileno", a transmissão de Moscou volta a revelar a preocupação de quem fala a um povo católico ludibriado por um Clero esquerdista, levantando-se em defesa da ortodoxia teológica e do Cardeal: "O novo livro, colocado em circulação pelos fiducianos no Chile — continua — dedica suas 468 páginas a atacar — com a linguagem mais sibilina, encoberta por um pretenso conteúdo cristão e teológico — as autoridades eclesiásticas. As investidas são dirigidas especialmente contra o Cardeal Raul Silva Henríquez, o qual aparece na capa do livro em uma fotografia junto ao assassinado presidente constitucional Salvador Allende".
Acrescentando outras considerações "teológicas", sempre com o mesmo propósito acima assinalado, a emissora do Cremlin impugna a TFP, com manifesta falsidade, de pronunciar-se "violentamente contra a Igreja por suas ações em defesa dos direitos humanos".
Por fim, a Rádio Moscou, como também a emissão da Rádio "Paz e Progresso", proclama farisaicamente sua preocupação pela possível divisão da Igreja que o lançamento do livro da TFP acarretaria. E lança logo — com indisfarçáveis intuitos a respeito desta sociedade, que todo Chile conhece como entidade privada — o falso rumor de atuar na dependência do Executivo chileno. Nem esta afirmação é verdadeira, nem tampouco a de que a sede da TFP e nossas oficinas gráficas tenham sido doadas por qualquer entidade estatal ou paraestatal chilena.
Em ambas transmissões de Moscou, nota-se a ausência completa dos pressupostos doutrinários comunistas, da dialética e da linguagem tão características dos vermelhos. Isto constitui uma prova de que não era para comunistas que Moscou falava. O Cremlin sabe que exerce influência sobre amplas massas católicas, e foi para influenciá-las em favor do Purpurado e dos Bispos chilenos que as transmissões foram concebidas. Erro tático grosseiro, pois bem confirma o pacto comuno-"católico" apontado no livro da TFP. Vejamos se nas próximas irradiações o mesmo erro continua e se os lobos continuarão uivando em defesa dos pastores".