A Sociedade chilena de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — que há oito anos lançou no Chile o livro profético "Frei, o Kerensky chileno" do advogado e escritor brasileiro Fábio Vidigal Xavier da Silveira, denunciando a gestação do regime comunista nas entranhas da Democracia Cristã do país andino e a responsabilidade que teve nisto o então presidente Eduardo Frei — acaba de publicar uma obra destinada a ter repercussão nacional e internacional ainda maior. Intitula-se "LA IGLESIA DEL SILENCIO EN CHILE — La TFP proclama la verdad entera". O autor, desta vez, é a própria TFP chilena e a obra foi impressa nas oficinas gráficas da entidade.
Em seus primeiros dias de circulação o livro já vem despertando o maior interesse nas diversas categorias sociais e especialmente nos meios católicos, não só em Santiago mas em todas as províncias do país.
O trabalho lançado pela TFP chilena tem como tema próximo a conjuntura histórica do dramático momento ideológico e religioso presente.
Mostra que a imensa maioria dos católicos do país encontra-se reduzida a uma situação espiritual de autêntica Igreja do Silêncio, confundida e atemorizada pelo procedimento e pelo poder canônico em que se apoiam Bispos e Sacerdotes, empenhados em fazer renascer as possibilidades de êxito para uma revolução superintensa.
Considerado em seu conjunto, o Episcopado do país andino, sob a liderança do Cardeal Silva Henríquez, constitui aos olhos de todos os chilenos nostálgicos do regime marxista deposto, a grande esperança para a restauração desse regime em sua pátria. Atitudes desconcertantes tomadas pela maioria dos Prelados — ou por seu órgão representativo oficial — depois da queda e suicídio do Presidente marxista Allende, servem de fundamento para essas esperanças. Esperanças da esquerda; apreensões e perplexidades de consciência dos católicos que se opõem, nos outros setores políticos, ao retorno da sinistra aventura marxista sob qualquer modalidade.
Com efeito, tal situação cria para esses católicos uma dramática questão de consciência que se apresenta como um angustioso "suspense":
— Têm eles, como católicos, o dever de seguir a esses Pastores numa marcha rumo à autodemolição da Igreja e à ruína da pátria?
Com o objetivo de responder a essa delicada questão a obra da TFP chilena volta sua atenção para todo o quadro histórico que antecedeu à atual situação.
O livro, que se baseia em mais de 220 documentos, relata assim a ação do Cardeal Silva Henríquez, da quase totalidade do Episcopado e de uma parte decisiva do Clero em favor da implantação do regime marxista que assolou o Chile.
Abarcando quinze anos de história eclesiástica e civil chilena, o trabalho mostra que os fatos que deram lugar à vitória marxista de Allende, com decisivo apoio eclesiástico, se desenvolveram à maneira de um processo perfeitamente coerente e estruturado.
A etapa inicial da larga marcha rumo ao triunfo da esquerda marxista, foi a formação e lançamento da DC com seu programa liberal-permissivista no campo político, e socialista e confiscatório no econômico-social. Paralelamente se deu o isolamento e desprestígio lançado pelos Pastores comprometidos neste processo contra os católicos tradicionais.
Esta etapa inicial culminou com a condução ao poder do democrata-cristão Eduardo Frei em 1964.
A segunda etapa, conseguida a instalação do governo kerenskiano de Frei, consistiu no apoio a suas reformas socialistas e confiscatórias que preparavam o caminho para a chegada do marxismo ao poder. Durante esse período, os Bispos e Padres liderados pelo Cardeal Silva Henríquez adotaram — em diversos graus de radicalidade — todas as medidas necessárias para destruir os focos de resistência ideológica anticomunista, tais como a Universidade Católica de Santiago; combateram quanto lhes foi possível a ação pública dos católicos anticomunistas que denunciavam o trágico rumo dos acontecimentos; convocaram especialmente em Santiago a um sínodo pastoral no qual Clérigos e leigos partidários de uma colaboração mais declarada com o marxismo, tiveram na prática todas as possibilidades para envenenar as estruturas eclesiásticas, Congregações Religiosas, organizações apostólicas, etc. Finalmente, depois de radicalizado o processo de esquerdização do Chile, estes Pastores prestaram seu apoio decisivo para a vitória final do marxista-leninista Allende.
Depois disto, os Bispos e Padres propulsores deste processo revolucionário passaram, numa terceira etapa, a transformar-se em um dos sustentáculos mais fundamentais do regime marxista no poder, enquanto este aplicava seu sinistro plano de comunistização gradual do Chile.
Insensíveis aos clamores de protesto ocasionados pela ruína moral e a miséria que indignava especialmente à classe popular chilena, estes Prelados e Sacerdotes continuaram a apoiar Allende até o último momento em que este — não podendo executar o premeditado banho de sangue sobre a nação — desertou da vida.
Finalmente o livro passa a considerar a quarta etapa deste processo revolucionário, após a derrocada do regime allendista. O trabalho demonstra que nesta fase a maioria do Episcopado e a parte do Clero que o segue, se transformaram, atualmente, na ponta de lança da esquerda derrotada, para uma ofensiva de conquista das mentalidades que permita a esta última voltar ao poder naquela nação.
Considerando por alto as alternativas do processo, a obra destaca que durante esses quinze anos — apesar de retrocessos estratégicos — os referidos Prelados mantiveram inflexível seu apoio a um regime socialista e confiscatório, contrário aos princípios cristãos, não sendo possível distingui-lo do socialismo-marxista, no estilo do que propõe o comunista Berlinguer na Itália, e agora, seu colega Marchais na França. Ou seja, um socialismo-marxista que para fazer-se aceitar pelas maiorias não comunistas, se apresenta, em sua primeira fase, depurado dos aspectos abertamente persecutórios e sangrentos, e de seu ateísmo militante.
Foi assim que, nestes quinze anos, surgiu uma imensa categoria de católicos fiéis, perplexos e silenciosos na Igreja chilena, manietados pelas cruéis algemas espirituais da confusão eclesiástica e do temor das sanções canônicas por parte dos Pastores revolucionários.
São estes incontáveis fiéis chilenos que, premidos pela dramática realidade descrita, a qual dilacera suas consciências, encontram-se sem saber que caminho adotar ante a obra demolidora dos tais Pastores e Sacerdotes.
Daí nasce então no espírito dos católicos a pergunta sobre se existe o dever de seguir a esses eclesiásticos.
O livro, em sua conclusão, constata que à luz da Teologia e da legislação canônica, não há para os católicos o dever de seguir a orientação errônea de tais Bispos e Sacerdotes.
Isto conduz inevitavelmente à formulação de outras graves questões: qual é então a posição que se deve assumir diante de Pastores, que de tal maneira se afastaram de sua missão e de seu rebanho, ao ponto de este ter o dever de não segui-los? Qual é a situação dos referidos Pastores?
O livro não recua diante dessas perguntas que incontáveis católicos chilenos se formulam silenciosamente. Recorre à História da Igreja e ao Direito Canônico, e os interroga sobre a resposta que têm a dar. E essa resposta é simples: um Bispo pode incorrer em cisma não só por ruptura com o Romano Pontífice, mas também pelo abandono dos deveres essenciais de seus sagrados cargos. E é o que, infelizmente, se constata ter acontecido com os Prelados chilenos que colaboraram na implantação do regime marxista chileno e hoje tendem, adaptados às novas circunstâncias, a facilitar sua restauração.
Ao mesmo tempo, a obra registra que o favorecimento sistemático da heresia cria, segundo o Direito Canônico, suspeita de heresia, que, conforme a gravidade gera, por sua vez, a incursão em heresia propriamente dita.
A esta altura o livro executa um lance de grande significação: convoca com respeito e instância os eclesiásticos e teólogos chilenos que manifestamente não tenham aplaudido este processo demolidor da Igreja e da pátria, mas que até agora tenham mantido relativo silêncio, a que deponham sobre a delicada matéria. Conclama-os a que se pronunciem publicamente sobre os aspectos morais e canônicos deste caso delicado que o livro deixa exposto, limitando-se seus autores, em sua condição de leigos católicos, a comparar os fatos públicos com a doutrina conhecida.
Finalmente, a obra passa a responder à seguinte pergunta: o que deve fazer em circunstâncias tão graves um bom católico da Igreja do Silêncio chilena? O livro responde que a este assiste o direito de resistir; isto é, de não obedecer às ordens e ditames dados pelos Pastores, no sentido de promover a causa marxista. Resistir ativamente, ou seja opor-se, por todos os meios lícitos que a moral e o direito oferecem, a que os Pastores e Sacerdotes demolidores continuem usando o prestígio que lhes vem dos cargos em que ainda se apóiam, para fazer todo o mal descrito no livro.
No que se refere à situação religiosa dos católicos da Igreja do Silêncio no Chile, a obra constata que já não existem mais condições para continuar a convivência eclesiástica obrigatória e habitual com os Pastores e Sacerdotes demolidores, cuja conduta — no plano objetivo dos fatos — o livro não vê como deixar de qualificar de cismática e favorecedora da heresia.
Ao final, é explicado que a obra foi escrita para que a imensa maioria dos católicos chilenos, encarcerados nessa situação espiritual de Igreja do Silêncio, saibam exatamente qual é sua realidade, conheçam os direitos sagrados que os assistem, não tomem atitudes desesperadas e possam permanecer firmemente unidos à Igreja Católica, Apostólica, Romana e intransigentemente defensores da verdadeira Fé e da pátria ameaçada.
César Mendoza Durán, General Director de Carabineros y miembro de la Junta de gobierno, saluda con toda atención al Sr. Director de la Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad, don ALFREDO MAC HALE ESPINOSA, y se complace en acusar recibo de un ejemplar del libro "La Iglesia del Silencio en Chile", editado por Fiducia, y que tuviera a bien enviarle en fecha reciente.
El General MENDOZA, junto con agradecerle muy de veras su gentileza, y de felicitarlo cordialmente por la publicación de esta obra que utiliza la crítica como un factor de unidad y de armonización entre la grey cristiana, se vale de la oportunidad para renovarle las expresiones de su mayor consideración.
SANTIAGO, 17 de febrero de 1976
Cardeal Silva Henríquez entrega uma Bíblia a Fidel Castro: o Prelado nunca escondeu sua simpatia para com os marxistas.