Conclusão da pág. 5

de 1921, os mesmos, operários grevistas da São Petersburgo tsarista, agora entravam em greve na Leningrado comunista. Os mesmos marinheiros de Kronstadt, que agiram a favor da revolução bolchevista em 25 de outubro de 1917, em março de 1921 rebelavam-se contra as penúrias impostas pelo comunismo. No entanto, o novo regime não estava disposto à menor contemporização. Todas as revoltas foram sufocadas em sangue.

Especialmente atingidos pela fome, os camponeses também se levantaram em diversas regiões. Os kulaks — camponeses que haviam se transformado em pequenos proprietários no tempo do império tsarista — viam suas terras confiscadas pelo Estado.

Era o primeiro desastre econômico produzido pelo socialismo. Ao longo dos anos, outras catástrofes se repetiriam em todos os lugares onde ele seria implantado.

Em março de 1921, o X Congresso do Partido retrocede. Lenine adota sua Nova Política Econômica (NEP), concedendo liberdade de salários e de comércio interno, autoriza o funcionamento de empresas particulares e a entrada de capitais estrangeiros. O Estado continua, no entanto, tendo sob seu controle o comércio exterior, a grande indústria e a construção.

A ditadura do Partido Comunista consolida-se também em 1921. É proibido fazer oposição. No ano seguinte, a Tcheka muda de nome, passando a intitular-se GPU, posteriormente NKVD e, em nossos dias, KGB. Joseph Djugachvili Stalin sobe, à sombra de Lenine. Nomeado secretário-geral do Partido, recebe a missão de nele fazer um expurgo.

Em dezembro de 1922, forma-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, constituída inicialmente pela Rússia, Rússia Branca (ou Bielorússia), Ucrânia e Transcáucaso (ou Geórgia). Posteriormente, mais onze nações seriam anexadas à assim chamada União Soviética, a saber: em 1925, Uzbekistão, Turkmenistão; em 1929, Tadjikistão; em 1936, Armênia, Arzeibaidjão, Kazakstão, Kirghizia; em 1940, Estônia, Letônia, Lituânia e Moldávia.

Em 1923, estão assentados todos os organismos e dispositivos "jurídicos" do império comunista. A obra nefasta empreendida por Lenine está concluída. Em janeiro de 1924, morre o antigo chefe bolchevista que se tornara o ditador da Rússia vermelha. Stalin é seu sucessor.

Stalin, o flagelo dos povos

A ditadura de Stalin começou pela destituição de Trotsky como comissário de guerra e por sua deportação. Os principais fundadores do Estado soviético seriam paulatinamente afastados do governo e do Partido e, mais tarde, condenados à morte. O próprio Trotsky, refugiado no México, não escapou do assassínio, perpetrado em 1940.

Em 1928, Stalin iniciou a coletivização da agricultura, criando os kolkhozes (cooperativas coletivas) e os sovkhozes (granjas estatais). Em 1936, 96% das fazendas já estavam coletivizadas. Foi necessário assassinar 5.500.000 camponeses, entre 1926 e 1934, para obrigar a classe rural a ceder suas colheitas e terras e a continuar trabalhando (8). Dezenas de milhões de pessoas foram mortas e deportadas, durante o período estalinista (9). A Ucrânia foi especialmente castigada.

Apesar do terror, a reforma agrária redundou em fracasso. O regime comunista foi obrigado a ceder a cada família de camponeses dos kolkhozes um pedaço de terra minúsculo — um terço ou um quarto de hectare — para cultivo particular. Em 1959, tais áreas constituíam 2,8% das terras cultivadas da URSS. No entanto, esses 2,8% produziam as seguintes porcentagens, de acordo com relatório da FAO (10):

batatas: 60% de toda a colheita do país

verduras: 40% de toda a colheita do país

ovos: 80% de toda a produção do país

carne: 47% de toda a produção do país

leite: 50% de toda a produção do país

Os dados acima são tão significativos que falam por si, dispensando qualquer comentário...

Entre 1936 e 1938, Stalin promoveu novas depurações no Partido, mandando executar 16 altos membros, 3 marechais, 13 generais e 62 oficiais. Durante a II Guerra Mundial, anexou novos territórios à Rússia e dilatou consideravelmente a área de influência comunista, como veremos em próximo artigo.

Com a morte de Stalin, em março de 1953, subiu ao poder Malenkov. Em setembro do mesmo ano, Nikita Kruchev foi nomeado secretário-geral do PCUS. Em breve seria ele, e não o presidente do Conselho de Ministros, o verdadeiro detentor do poder. Kruchev colocou em prática nova tática: a "coexistência pacífica". Desgastada essa fórmula, a détente ou distensão veio substituí-la durante o mando de Leonid Brejnev, atual secretário-geral do partido, obtendo novas vantagens para o comunismo nos dias de hoje.

A Igreja dos perseguidos e a seita dos perseguidores

A perseguição religiosa atrás da cortina de ferro deixou de ser novidade, desde a implantação do regime soviético. Os fluxos e refluxos de perseguições, ora mais ora menos violentas, sucederam-se de acordo com as dificuldades internas do Estado ateu.

Nos últimos anos, porém, a propaganda marxista vem procurando fazer acreditar que a perseguição religiosa cessou. Como sempre, essa mentira encontra espíritos crédulos, ávidos de soluções simplistas. São os partidários da détente e da ostpolitik.

A verdade é bem diversa. Boletins, provenientes da Ucrânia, Lituânia, Polônia, Tchecoslováquia e de outras partes do mundo comunista, continuam a chegar clandestinamente ao Ocidente, repletos de notícias sobre perseguição religiosa. Notícias que, diga-se de passagem, são cuidadosamente sabotadas ou dosadas por órgãos da grande imprensa, onde elementos esquerdistas exercem uma já notória forma de censura, filtrando as informações.

Depois de mais de meio século de doutrinação ateia, o comunismo não conseguiu extirpar o sentimento religioso dos povos que subjugou. A Igreja do Silêncio continua uma realidade na Europa Oriental. Mais. Os fiéis não enfrentam só a perseguição cruenta do regime, mas também o assédio da seita cismática de Moscou. A chamada "Igreja Ortodoxa", — I.O. — em sua completa subserviência ao Partido Comunista, constitui a rampa escorregadia e ardilosa que visa levar o mundo oriental à irreligião.

Tudo isso transformou a vida dos verdadeiros católicos de além cortina de ferro num autêntico calvário. Sobretudo quando, ao olhar para o Ocidente, eles veem tantas defecções e ruínas. Assim, devem ter assistido estupefatos à destituição do heroico Cardeal Mindszenty, do Arcebispado de Esztergom, Sede Primacial da Hungria. Com sua, morte, desapareceu um símbolo da luta anticomunista. Quem servirá de conforto agora a esses infelizes católicos perseguidos?

Não esperariam eles de nós incentivo e conforto?

Nossa melhor atitude deve ser uma vigilância constante e repúdio total à ameaça comunista, em todos os seus aspectos: ateísmo, materialismo, totalitarismo, dissolução dos costumes, etc.

Peçamos à Consoladora dos Aflitos e Auxiliadora dos Cristãos que apresse a conversão da Rússia, prometida em Fátima, e preserve o Brasil da barbárie vermelha.

NOTAS

1) Até fevereiro de 1918, as datas mencionadas neste trabalho estão de acor. do com o calendário juliano, adotado pelos russos, 13 dias atrasado em relação ao nosso calendário gregoriano. Este entrou em vigor na Rússia em 1918, substituindo-se o dia 19 de fevereiro pelo dia 14.

2) François-Xavier Coquin, La Revolution Russe, coleção Que sais-je?, Presses Universitaires de France, Paris, 1967, p. 35.

3) Frédéric Rossif e Madeleine Chapsal, Révolution d'Octobre, Hachette, Paris, 1967, p. 68.

4) Coquin, ibidem, p. 105.

5) Richard Kohn, La Révolution Russe, Ed. René Julliard, Paris, 1963, p.328.

6) Gérard Walter, Lénine impose la paix de Brest-Litowsk, in Historia no. 136, março de 1958, p. 248.

7) Kohn, ibidem, p. 422.

8) Discurso de Molotov no VII Congresso dos Sovietes, apud Pe. Jorge Lojacono, S.J., O Marxismo, coleção Temas de Pregação dos Padres Dominicanos, no. 25, Ed. Paulinas, São Paulo, 1968, p. 122.

9) Civiltà Cattolica, novembro de 1962, apud Pe. Lojacono, S.J., ibidem, pp. 122-123.

10) Revista Soviética, março de 1961, p. 64, apud. Pe. Lojacono, S.J., ibidem p. 119.

11) Pe. Lojacono, S.J., ibidem, p. 119.

Fome, filas, desordens: os primeiros frutos da Revolução comunista.

O "Patriarca" Pimen de Moscou.

Lobo vermelho sob a pele de imponentes paramentos eclesiásticos.


EM MAIO, O COSTUMEIRO MILAGRE DE SÃO JANUÁRIO NÃO OCORREU. POR QUÊ?

ÁLVARO ORTIZ

A região da Campânia, recortada pelos golfos de Gaeta, Nápoles e Salermo, foi o cenário dos episódios da vida de São Januário.

O Bispo-mártir nasceu em Neápolis, hoje Nápoles, no ano 270 D.C. Ordenado Sacerdote em 302, logo depois foi indicado para ocupar a sede episcopal de Benevento.

"Não posso imolar aos demônios...”

Em março de 304, o Imperador romano Deocleciano, através de seu quarto Edito Geral, estendia a todos os cristãos a obrigação de oferecer sacrifícios às divindades pagãs.

Os católicos, dos Bispos aos simples fiéis, viram-se diante da dupla opção: apostatar ou sofrer morte cruel. Foi grande o número de mártires que afrontaram o suplício, nessa ocasião, entre os quais se. destacaram Santa Inês e São Sebastião, em Roma; Santa Justina, em Pádua e Santa Luzia, na Sicília (1).

Destemidamente, São Januário prega, exorta e obtém conversões, sem descanso, percorrendo as cidades e arredores de Benevento, Nápoles, Cumes e Puteoli. Porém, não tarda em ser preso, por ordem de Dracôncio, governador da Campânia.

Levado diante do tribunal, São Januário é reprovado por Timóteo, Procônsul, que lhe apresenta a alternativa: "Ou ofereces incenso aos deuses, ou renuncias à vida".

"Não posso imolar aos demônios — respondeu com sobranceria o santo Bispo — pois tenho a honra de sacrificar todos os dias ao verdadeiro Deus" (2). Referia-se ele à celebração da Santa Missa.

Desta forma, São Januário e seis outros cristãos foram condenados à morte e conduzidos a Puteoli (hoje Pozzuoli).

O povo lotou o anfiteatro da cidade. No centro da arena, São Januário e os companheiros oravam ardentemente. As feras famintas, libertadas das jaulas, precipitaram-se furiosamente contra o indefeso grupo de vítimas. Porém, estacam e, como pacíficos cães, prostraram-se diante daqueles que deveriam estraçalhar...

A massa dos pagãos, maravilhada, irrompeu em aplausos e pedidos de clemência. Não obstante, o Procônsul, cego em seu ódio contra o Cristianismo, ordenou que os réus fossem mortos à espada.

Conduzidos à praça Vulcânia, foram ali decapitados a 19 de setembro de 305. Terminada a ímpia execução, um grupo de cristãos tomou posse dos corpos dos mártires, a fim de sepultá-los, ocasião em que — segundo relatam as crônicas — uma piedosa mulher recolheu em duas ampolas o sangue que escorria do corpo de São Januário.

Os restos mortais do Bispo martirizado foram trasladados para Nápoles em 432; depois, no ano 820, para Benevento. Finalmente, em 1497 retornam a Nápoles, e repousam até hoje, em majestosa Catedral gótica, onde se realizam, em certas datas do ano, as milagrosas liquefações de seu sangue.

Milagre: sinal de Deus

Antes de analisarmos a prodigiosa liquefação e coagulação do sangue de São Januário, ou San Gennaro para os italianos, vejamos o que, de acordo com a Teologia Católica, deve-se entender por Milagre.

São Tomás de Aquino, com inigualável clareza, define Milagre como a maravilha que o fato incomum desperta por ser excepcional e inexplicável, segundo a ordem normal e natural das coisas (3). Milagre, para o Doutor Angélico, é também prodígio pela sua excelência e sinal porque manifesta algo de sobrenatural (4).

Desta forma, define-se Milagre como um fato sensível, externo, produzido por Deus no mundo, fora do modo de agir de toda a natureza criada. Ou seja, Milagre não é qualquer fenômeno extraordinário que, por um motivo desconhecido, escapa ao curso habitual da natureza, mas sim, um fato extraordinário, que constitui um sinal de Deus.

Em outros termos:

1) Só Deus pode realizá-lo, como Causa primeira e principal, pois unicamente Ele é o Criador e Senhor absoluto do Universo e das leis que o regem, e somente Ele pode passar por cima delas.

2) Nossa Senhora, os Anjos, os Santos da Igreja podem operar milagres como causas instrumentais.

3) Os demônios, feiticeiros, etc. não possuem poderes para realizar verdadeiros milagres, mas, no máximo, obras prodigiosas, as quais são impropriamente denominadas milagres.

Colocadas essas preliminares, vamos agora examinar o que ocorre em Nápoles com o sangue de São Januário.

A notícia escrita mais antiga e segura do milagre consta de uma crônica do século XIV: "No dia seguinte [17 de agosto de 1391], realizou-se uma grande procissão por causa do milagre do sangue de São Januário, que estava em ampolas, e então se liquefez, como se neste mesmo dia tivesse sido extraído do corpo de São Januário" (5).

Esse documento é tanto mais importante, pois refere que o milagre ocorreu fora das datas previstas, afastando, portanto, qualquer possibilidade de explicação por expectativa ou sugestão popular.

Desde 1659, estão rigorosamente anotadas todas as liquefações, que já perfazem mais de dez mil!

O sangue de São Januário está contido em duas ampolas de vidro, hermeticamente fechadas, dispostas em um ostensório circular de metal (teca em italiano), de 12 cm de diâmetro, protegido por duas lâminas de cristal transparente.

A ampola maior, semelhante a uma pêra achatada, possui sessenta centímetros cúbicos de volume; a menor, de forma cilíndrica, tem capacidade de 25 cm cúbicos. Em geral, o sangue endurecido ocupa até a metade da ampola maior; na menor, encontra-se disperso em fragmentos.

O milagre renova-se em datas fixas

Os dias predeterminados para a realização do prodígio são: o sábado precedente ao primeiro domingo de maio (aniversário da primeira trasladação das relíquias do Mártir, de sua sepultura para as catacumbas de Capodimonte em Nápoles), e nos oito dias seguintes; e a 19 de setembro (comemoração do martírio, ocorrido no ano 305), e como também nos oito dias seguintes. Raramente se renova a 16 de dezembro, Festa do Patrocínio. Nessa data, em 1631, uma terrível erupção do Vesúvio provocou a morte de quatro mil pessoas em lugarejos próximos ao vulcão, mas não causou vítimas ou danos à cidade de Nápoles. O sangue permaneceu liquefeito durante um mês inteiro.

Além dessas datas fixas, a liquefação se repete com frequência por ocasião de calamidades públicas ou de visitas de personalidades ilustres à Capela do Tesouro. De 1489 a 1859, considerando-se o total de setenta visitas importantes, somente em catorze delas não ocorreu o milagre (6).

São Januário desconcerta os céticos, e maravilha os fiéis...

A liquefação do sangue produz-se espontaneamente, sob as mais variadas circunstâncias:

1) Ocorre — opondo-se às leis da física — em ambiente de temperaturas diversas; e mesmo sob uma mesma temperatura, varia o tempo para a fusão.

Em 1602, a fusão ocorreu tão logo o ostensório foi colocado sobre o altar-mor. Em 1794, o matemático N. Fergola verificou que a liquefação se deu à temperatura de 19,4 graus centígrados em maio, e de 25,6 graus centígrados em setembro. O Prof. De Luca, em 1879, observou que a liquefação, com a temperatura ambiente de 30 graus centígrados adveio após duas horas, no dia 19 de setembro, enquanto a 25 do mesmo mês, ocorreu a 25 graus, após trinta minutos... (7).

2) Varia de volume, o que é uma decorrência natural da fusão. Contudo, algumas vezes o volume diminui e outras vezes aumenta até o dobro. Este aumento não é, de modo algum, proporcional à dilatação natural devida ao sangue!

3) Varia quanto à massa e portanto ao peso! (Define-se massa de um corpo como sendo a quantidade de matéria que o constitui).

Em janeiro de 1911, o Prof. G. Sperindeo utilizando-se, com o máximo cuidado, de aparelhos de alta precisão, encontrou uma variação de cerca de 25 gramas. O peso aumentava enquanto o volume diminuía. Esse acréscimo de peso contraria frontalmente o princípio de conservação da massa (uma das leis fundamentais da Física) e é absolutamente inexplicável, pois as ampolas encontram-se hermeticamente fechadas, sem possibilidade de receber acréscimo de substância do exterior.

4) Outras formas de variação: independentemente da temperatura ou do movimento, o sangue passa do estado pastoso ao fluído e, até, fluidíssimo, assemelhando-se ao álcool. A liquefação ocorre da periferia para o centro e vice-versa. Algumas vezes, o sangue liquefaz-se instantânea e inteiramente, ou, por vezes, permanece um denso coágulo em meio ao resto liquefeito. Altera-se o colorido: desde o vermelho mais escuro até o rubro mais vivo. Não poucas vezes surgem bolhas e o sangue fresco e espumante sobe rapidamente até o topo da ampola maior.

5) Trata-se verdadeiramente de sangue humano. A análise espectroscópica, realizada em setembro de 1902 e repetida em 1904, constatou "as faixas de linha, características da hemoglobina, entre as D e E de Fraunhofer na região amarelo-verde" (8).

São Januário acalma o Vesúvio

Os restos mortais de São Januário estão conservados na magnífica capela da cripta da Catedral de Nápoles. No mesmo templo, existe outra capela atrás do altar-mor, denominada Capela do Tesouro, onde são guardadas as preciosas relíquias.

O povo napolitano construiu essa capela especial em agradecimento por se ter livrado de uma peste em 1529, por intercessão do santo padroeiro. Milagre idêntico ocorreu a 13 de janeiro de 1497, quando as relíquias de São Januário chegaram a Nápoles: nesse mesmo dia, a cidade se viu livre de uma peste.

São Januário sempre se mostrou pródigo em proteger sua cidade natal, especialmente contra as erupções do Vesúvio. O vulcão situa-se a apenas oito quilômetros a sudeste de Nápoles.

Por ocasião de uma erupção em 1707, as ampolas foram levadas em procissão até o sopé do Vesúvio: imediatamente a erupção cessou!

As erupções mais célebres, pelo seu caráter destruidor e terrificante, foram as de 1631, 1832, 1872, 1906, 1924 e 1944. Nesta última, o vulcão expeliu lava, cinzas, pedras e uma poeira escura e arenosa, formando uma densa nuvem, que alcançou grande altura (foto nesta página). O vento levou essa poeira através do Mediterrâneo, a qual chegou a atingir a Grécia, a Turquia, a Espanha e o Marrocos (9).

As Cerimônias: magníficas manifestações de fé

As datas da liquefação do sangue de São Januário são celebradas sempre com grande brilho e esplendor, atraindo, por isso mesmo, multidões de fiéis, apesar da tendência progressista de simplificar, quando não eliminar, a pompa das cerimônias religiosas.

Em maio, realizam-se duas solenes procissões. Uma transporta as relíquias do Mártir e outra as imagens de vários santos, cuja veneração é popular na cidade. Em razão de exuberantes arranjos florais, essas procissões receberam a denominação de "Inghirlandati".

Mais solene ainda é a celebração da festa de 19 de setembro, realizada na própria Catedral gótica de Nápoles. Nessa data é retirada da Capela do Tesouro um busto de prata dourada, contendo a cabeça de São Januário. Colocam-no à direita do altar-mor, após ser revestido de preciosos paramentos episcopais (foto nesta página). De outro compartimento, retira-se a custódia com as ampolas.

Se a liquefação não ocorre imediatamente, iniciam-se as preces coletivas: o Credo, invocações à SSma. Trindade, a Nossa Senhora, ladainhas e cânticos. Se o milagre tarda, os fiéis estão compenetrados de que a demora se deve a seus pecados. Assim, com grande humildade, rezam o "miserere", salmo penitencial composto pelo Santo Rei Davi.

Quando o milagre da liquefação ocorre, o cabido metropolitano entoa solene Te Deum, a multidão irrompe em vivas, o som majestoso do órgão enche as naves do templo, repicam os sinos. A cidade toda se rejubila.

O oficiante, em geral o Cardeal de Nápoles, sobe ao último degrau do altar-mor, elevando o relicário para que todos possam constatar que o sangue se encontra liquefeito (foto nesta página).

Em seguida, os fiéis, um por um, têm a grata felicidade de oscular o relicário, numa cerimônia que se estende por horas.

Tentativas de explicação natural do milagre

Não causa estranheza que o milagre de São Januário tenha encontrado, ao longo dos séculos, adversários implacáveis e irredutíveis.

Em nossos dias, há quem se obstine em explicar gratuitamente a liquefação como fenômeno natural. Segundo os céticos atuais, ela seria efeito de um fator foto-higroscópico, resultante da repentina passagem da relíquia da obscuridade da Capela do Tesouro para o ambiente muito aquecido e iluminado da Catedral, em razão de grande número de velas acesas e da presença da multidão de fiéis...

Ora, se fosse devida a um fator físico, a liquefação deveria normalmente perpetuar-se. Não obstante, o sangue se endurece. Para essa coagulação não é apresentada nenhuma explicação natural. Aqueles que "explicam" a passagem do sangue de São Januário do estado sólido ao líquido, silenciam, entretanto, quando ocorre o processo inverso...

Acresce-se a isso que tentativas para repetir a liquefação resultaram inteiramente infrutíferas (10).

Antes de concluir, consideremos dois outros fatos miraculosos (11).

• A família Ferrara, residente à Via Vecchia Capodimonte, no. 45, em Nápoles, possui coágulos do sangue de São Januário, conservados em pequenina ampola. Simultaneamente ao milagre da liquefação na Catedral, ocorre um vivo avermelhamento e escorrem traços de sangue dentro dessa pequena ampola!

• No dia 6 de maio de 1889, depois de as ampolas terem sido melhor acomodadas, a teca foi novamente fechada com o uso de solda e maçarico. Toda a peça ficou, em consequência, fortemente aquecida. O sangue, contudo, permaneceu endurecido. Meia hora depois, quando o ostensório, inteiramente esfriado, já havia sido recolocado em seu nicho na Capela do Tesouro, o sangue, então, se liquefez instantaneamente...

"Creio, Senhor. E prostrando-se O adorou"

Do que acabamos de narrar, conclui-se com toda a segurança:

1º. - A conservação do sangue de São Januário é milagre realizado por Deus, pois datando de mais de 1600 anos, o sangue do Bispo-mártir torna-se fresco e vivo, durante a liquefação.

2º. - A liquefação desse sangue constitui milagre ainda maior.

3º. - A variação de volume e peso do sangue liquefeito é um terceiro milagre.

Esse conjunto admirável de fatos pede de nós a prática da virtude teologal da Fé, a exemplo do cego miraculado do Evangelho: "Creio, Senhor. E prostrando-se O adorou" (Jo. 9, 38). Convida-nos também a incrementar em nós a devoção aos Santos e, especialmente, à Rainha de todos os Santos, a Virgem Mãe de Deus. Em seus santuários (Lourdes, Fátima, Salette, etc.) operam-se milagres que constituem sinais claros da presença de Deus na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo; na expressão da Escritura "sem mancha nem ruga, santa e imaculada" (Ef 5, 27), "coluna e sustentáculo da Verdade" (I Tm. 3, 15).

Terremoto ou comunismo, qual o pior?

O milagre de São Januário não ocorreu em maio último. De acordo com a tradição — confirmada pelos fatos — isso representa o aviso de tristes acontecimentos vindouros.

O terremoto que abalou o norte da Itália poderia ser a catástrofe prenunciada.

Sem descartar essa interpretação, observadores assinalam que a não liquefação do sangue do Padroeiro de Nápoles poderia prenunciar para a península itálica um desastre muito maior: após as eleições do dia 20 de junho, a eventual participação dos comunistas no poder.

De fato, o bem das almas é superior ao bem dos corpos. O que é, pois, um tremor de terra, comparado ao desabamento das instituições da Civilização Cristã, que o comunismo acarreta?

O terremoto ocasiona mortes e destrói riquezas materiais. O comunismo, além de empobrecer as nações e eliminar, muitíssimas vezes, existências humanas, procura extinguir no homem o que ele possui de mais sagrado: a vida sobrenatural.

No regime marxista, o homem é reduzido à condição de mero animal produtivo, peça anônima do Estado opressor, a serviço de uma seita, cujas raízes teológicas e filosóficas remontam, em última análise, ao primeiro brado de rebelião proferido por uma criatura — o “Não servirei!” — lançado por Lúcifer contra Deus.

NOTAS

1) Pe. Bernardino Llorca, S.J., "História de la Iglesia", Editora B.A.C., Madrid, 1964, tomo I, p. 297.

2) "Vies des Saints", Ed. Maison de la Bonne Presse, Paris, Vol. V, p. 979.

3) São Tomás de Aquino, "Suma Teológica", I., q.105, a.7, c.

4) Idem, "Suma Teológica" II, II, q. 178, a.11, ad 3um e MI, q.113, a.10, c.

5) "Enciclopédia Cattolica", Vol. 6, p.9 e ss., Vaticano, 1949, citando G. de Blasiis, "Chronicon Siculum incerti auctoris ris ab a. 1340 ad a. 1396", Ed. Nápoles, 1887, p.85.

6) "Biblioteca Sanctorum", Vol. VI, Roma, 1966, colunas 135, 148, reproduzido em brochura pela Tipografia Laurenziana, Nápoles, 1967: "Cenni Storici su S. Gennaro e compagni", do Pe. D. Ambrasi.

7) "Enciclopedia Cattolica", citando o livro de P. Silva "Il miracolo di S. Gennaro. Note scientifiche", 4a. ed. Roma, 1916.

8) "Enciclopédia Universal Ilustrada Europeo Americana", Ed. Espasa-Calpe, Madrid, 1936, Vol.II, p.1346.

9) "Campanha", Ed. G.C.Sansoni, Firenze, Vol.1, p. 274.

10) "Enciclopedia Cattolica", ibidem.

11) Prof. G.B.Alfano e A.Amitrano, "La storia e il miracolo di S. Gennaro — confutazione di un recente opuscoló del Signor G.A.Ricci", Nápoles, 1952, p.12.

O Cardeal de Nápoles ostenta as ampolas com o sangue liqüefeito de São Januário. Neste busto de prata (1306), encontra-se a cabeça do Bispo-mártir.

A última erupção do Vesúvio, em 1944 - Em 1707, por intercessão de São Januário, uma erupção do Vesúvio cessou instantaneamente.