O Vaticano intervém na polêmica suscitada pelo "best-seller" da TFP chilena

O Vaticano interveio na polêmica suscitada em torno do livro A Igreja do Silêncio no ChileA TFP proclama a verdade inteira, através de uma carta do Cardeal Villot, Prefeito do Conselho para os Assuntos públicos do Vaticano, aos Bispos chilenos.

Baseada em 220 documentos, a obra da TFP chilena analisa o papel do Episcopado e do Clero na conquista e manutenção do poder pelos marxistas em seu país. O livro prova que, derrubado o regime de Allende, os mesmos eclesiásticos continuaram agindo a favor da volta dos marxistas ao governo.

É o seguinte o texto atribuído ao Cardeal Villot, divulgado pelo Centro Nacional de Comunicação Social do Episcopado chileno, conforme reproduziu a imprensa andina:

"Diante dos reiterados ataques de Fiducia contra a Igreja, e da publicação e difusão de novos folhetos que podem confundir os católicos, julgamos necessário dar a conhecer à opinião pública o apoio da Santa Sé aos Bispos do Chile.

O Episcopado chileno recebeu uma carta do Cardeal Villot, Prefeito do Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja, que na parte relativa ao livro de Fiducia diz o seguinte: O Cardeal-Prefeito dá a conhecer "a profunda dor com que o Santo Padre viu as graves e inadmissíveis acusações dirigidas contra seus irmãos no Episcopado e seus colaboradores imediatos, motivo pelo qual deseja que chegue a todos Vós a segurança de seu particular afeto e de sua plena confiança. A manifesta cegueira dos culposos, a enormidade mesma das calúnias que se atreveram a urdir e o convite à rebelião contra a legítima Autoridade da Igreja, deixam bem claro o censurável de tais atitudes e fatos".

Juan Francisco Fresno Larrain, Arcebispo de La Serena e Presidente da Conferência Episcopal do Chile; Carlos Camus Larena, Bispo Secretário da Conferência Episcopal do Chile / Santiago, 19 de junho de 1976"

A Sociedade Chilena de Defesa- da Tradição, Família e Propriedade replicou com o seguinte comunicado:

“Quia nominor Leo”

Considerações da TFP chilena sobre recente comunicado dos Bispos de seu país

"Como católicos, quiséramos que os altos interesses da Pátria e da Civilização Cristã não nos tivessem obrigado a publicar o livro "La Iglesia del Silencio en Chile — La TFP proclama la verdad entera". Entretanto, a consciência do dever cumprido compensa de sobejo, em nosso íntimo, a tristeza sentida pelo lance que tivemos de dar. Compensa-nos também o apoio insofismável da grande maioria dos chilenos, expresso não só pelas numerosas manifestações de solidariedade que recebemos — entre elas, a mensagem escrita de trinta e três valorosos Sacerdotes — como pela saída caudalosa de nosso livro em Santiago e em todo o resto do país.

Sintoma expressivo desse apoio é o caráter contrafeito da reação do Comitê Permanente do Episcopado e de vários Prelados chilenos. Em seus pronunciamentos públicos, não deram provas para contestar um só fato nem para rebater um só argumento. Sua reação cifrou-se em afirmar simplesmente que eles não tinham as culpas apontadas em nosso livro, e a dar como prova o argumento de autoridade: são Bispos, e por isso está provado automaticamente tudo quanto afirmam. A réplica episcopal lembra o dito do leão na fábula de Fedro: tenho razão "quia nominor leo" — "porque sou o leão".

Ante a recente resposta da TFP, franca mas respeitosa, mantiveram por fim o silêncio. — Que interesse tinha o leão em prolongar um debate que ele esperava ter encerrado com seu rugido?

Acontece que o leão não contara com um dado fundamental da situação. Tudo quanto lhe imputáramos, o Chile inteiro o presenciou, e está registrado em todos os jornais. De sorte que, cessados na indiferença geral os ecos do rugido, o leão se deu conta de que não impressionara ninguém — fora, bem entendido, da área allendista, mirista e demo-cristã. Dentro do Chile, não havia remédio para a má situação em que ele se lançara.

Cumpria-lhe, pois, procurar apoio fora do país, isto é, na grande propaganda internacional.

A tarefa era difícil, pois a própria Rádio Moscou, pelo menos através de quatro de seus programas em idioma castelhano, irradiados a partir de 23 de fevereiro, já se precipitara com invectivas contra nosso livro, em pressurosa defesa do Episcopado chileno. Foi tudo em vão.

Nossos Bispos dão-nos a impressão de haver pedido então o apoio do Vaticano em arrimo à situação deles, como parecem confessar ingenuamente no comunicado do dia 19 do corrente.

Esse apoio não lhes faltou. Segundo informam no mesmo comunicado, o Cardeal Villot, Prefeito do Conselho para os Assuntos Públicos do Vaticano, escreveu-lhes uma carta sobre o livro da TFP.

Essa carta nos acusa de "enormes caluniadores". E nessa acusação nos sentimos pesadamente caluniados. Assim, ninguém se espantará que usemos aqui de todos os direitos que a lei natural, a lei canônica e a lei civil conferem aos caluniados.

Quando se acusa alguém de caluniador, manda a justiça que se lhe diga no que consiste a calúnia, e com que fundamento se afirma que é calúnia.

Nada disso se encontra na pena do Cardeal Villot. Ainda uma vez, o argumento é o do leão da fábula. E nada mais.

Assim se tratam filhos da Igreja, numa época em que o Vaticano se extrema ecumenicamente na abertura para todas as seitas heréticas, cismáticas e até pagãs. Bem como na distensão com Moscou...

* * *

Tudo quanto nosso livro alega e documenta contra a conduta do Episcopado chileno diante da escalada marxista, a implantação do regime comunista no Chile e as presentes tentativas de o restaurar, a carta do Cardeal Villot qualifica sumariamente de "graves e inadmissíveis acusações".

Que as acusações são graves, é bem certo. Que sejam inadmissíveis, eis a asserção a ser provada.

— Inadmissíveis por quê? — Razões, o Purpurado não as dá. Parece que ele as considera inadmissíveis pelo simples fato de serem graves. Como se considerasse absurdo que a um Episcopado se fizessem fundadamente acusações graves.

Ora, sustentamos como católicos, apostólicos, romanos, que a um Episcopado se podem fazer, com toda a justiça, acusações graves. E como prova disso não necessitamos outro argumento senão os diversos pedidos de perdão dirigidos por Paulo VI, em nome da única Igreja verdadeira de Nosso Senhor Jesus Cristo, a todas as Igrejas heréticas e cismáticas pelas injustiças que dEla teriam recebido ao longo dos séculos. Pedidos de perdão estes que, ao que parece, inspiraram ao mesmo Paulo VI um lance da mais alta dramaticidade: o ósculo que — em cerimônia na Capela Sixtina, no dia 15 de dezembro do ano passado —, ajoelhando-se em terra, ele depôs nos pés do Bispo cismático Meliton da Calcedônia. Como exprimir com mais ênfase que essas atitudes, o fato de altas autoridades da Santa Igreja terem, por vezes, procedido outrora muito mal em relação a comunidades dEla separadas pelo cisma ou pela heresia?

A nosso ver, bem considerado tudo quanto se passou antes, durante e depois de Allende, o Episcopado chileno deveria ter imitado, em relação ao país, o gesto de Paulo VI em relação ao cismático Meliton de Calcedônia. E Paulo VI deveria ter abençoado, enternecido, esse pedido de perdão.

O Chile inteiro teria, então, estremecido de júbilo, e sua reconciliação com os Pastores teria sido unânime e profunda. Teríamos vivido um dos lances mais emocionantes da História Nacional.

Pelo contrário, o que a Nação, sempre fiel, sempre respeitosa, mas profundamente entristecida, ouve descer sobre ela das sagradas alturas do Vaticano, é o mesmo "quia nominor leo".

Imaginará realmente o Cardeal Villot que, por esta forma, sustenta aos olhos do público chileno — que tudo leu, tudo ouviu, tudo presenciou — a posição de nosso Episcopado?

Mas — dirá alguém — com que direito os membros da TFP, que dizem honrar-se de ser católicos, afirmam tão peremptoriamente discordar da apreciação de Paulo VI a respeito dos fatos concretos da vida política chilena, narrados e qualificados no livro que publicaram?

Todos os católicos sabem que, sem prejuízo da obediência devida ao Magistério Supremo, lhes é lícito discordar, até profundamente, de atitudes concretas tomadas pela Autoridade eclesiástica, por mais alta que esta seja. Basta que o fiel tenha para tal argumentos suficientes.

Na declaração "A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas — Para a TFP: omitir-se? ou resistir?", publicado em abril de 1974, em que a TFP se afirmou oficialmente em estado de resistência à "Ostpolitik" vaticana, tivemos ocasião de desenvolver toda a argumentação a este respeito. Por amor à brevidade, não a reproduzimos aqui.

Tão evidente é que estávamos com razão, que nossa declaração não recebeu então a menor réplica das mesmas Autoridades eclesiásticas.

No livro "La Iglesia del Silencio en Chile — La TFP proclama la verdad entera", não fizemos senão transpor para a prática aqueles princípios que, ao longo dos dois anos que desde então se escoaram, ninguém nos censurou por professarmos.

— Por que, pois, se nos acusa agora, e tão duramente?

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Aludindo ainda aos autores do livro "La Iglesia del Silencio en Chile — La TFP proclama la verdad entera", a carta do Cardeal Villot profliga "a manifesta cegueira dos culposos, a enormidade mesma das calúnias que se atreveram a urdir, e o convite à rebelião contra a legítima autoridade".

Já falamos das calúnias. Por fim, uma palavra sobre a rebelião.

Nosso procedimento publicando o mencionado livro inspira-se em escritos de Santos, bem como de numerosos Doutores, canonistas e moralistas célebres. Para não alongar demais, citemos simplesmente um Prelado de tão alta confiança de Paulo VI, que este o elevou ao cardinalato. Já estava escrita a obra "L'Église du Verbe Incarné", e já a conhecia portanto o Vaticano, quando Mons. Journet recebeu a púrpura romana. Leia-se na referida obra (Desclée, 3a. ed., 1962), as págs. 215, 222, 533-539, 547-548, 625-627 do vol. I, e as págs. 839, 1063-1065 do vol. II, e se verá que, em princípio, o Cardeal Journet admite a legitimidade de atitudes que vão consideravelmente além das que tomamos.

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Tudo isto dito, fica provado que estamos muito longe de ser os "enormes caluniadores", de que fala o Cardeal Villot. Do que se infere, data vênia, que fomos enormemente caluniados. É o que, em defesa de nossa própria honra e em defesa da verdade, nos compete afirmar perante Deus e os homens.

Fazemo-lo cumprindo um dever. Mas esse dever, cumprimo-lo com a maior tristeza. Tristeza filha do amor indizível, da veneração sem nome que professamos para com a Santa Igreja Católica Apostólica Romana e especialmente para com a Sagrada Cátedra de Pedro. Sejam as nossas últimas palavras, portanto, a afirmação de toda a nossa fidelidade à Igreja e à Santa Sé. Não foi apesar dessa fidelidade, mas para nos mantermos dentro dela, que escrevemos quanto acima ficou dito.

Santiago, 5 de junho de 1976

SOCIEDADE CHILENA DE DEFESA DA TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE


Imagem Peregrina de Fátima na Diocese de Campos

Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Reprodução em cedro brasileiro, feita sob a indicação da Irmã Lúcia da figura da Virgem Santíssima, como apareceu em 1917 em Portugal. Esta imagem verteu lágrimas milagrosamente, em Nova Orleans (EUA), no ano de 1972.

Ela percorre atualmente a Diocese, numa verdadeira Missão. No mês de maio esteve em Itaperuna, Natividade, Varre Sae, Pádua, Miracema e Lage do Muriaé. Por toda parte atraiu multidões, tocando profundamente as almas. Pois o número de pessoas, afastadas dos Sacramentos que retornaram ao Confessionário e à Mesa da Sagrada Comunhão é incontável. Nas três primeiras paróquias, registraram-se mais de cinco mil confissões e perto de doze mil comunhões.

Não chegou ainda a nosso conhecimento o relato das outras paróquias percorridas. Mas o movimento de confissões superou a capacidade dos Sacerdotes (quatro, por vezes cinco) para atender os fiéis.

Queira a Virgem Mãe completar Sua obra, afervorando toda a Diocese no amor e fidelidade a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Cardeal Villot.

A TFP chilena sai às ruas em Santiago.