WILSON G. DA SILVA
O artigo “Pela força o comunismo implantou-se e se mantém na Rússia” publicado em nossa edição de junho último, descreve a Revolução Bolchevista de 1917 e suas trágicas consequências para aquele país.
Com a cumplicidade e traição de muitos, o império vermelho estendeu-se pela Europa Oriental, China, Coréia do Norte, Indochina, África e América. Como se deu tal expansão? É o que oferecemos ao leitor neste número. Em destaque, uma vista sucinta sobre as origens e a doutrina do comunismo.
A expansão comunista da Rússia para outras nações foi precedida de algumas tentativas fracassadas. Em 1919, os comunistas alemães, aproveitando a proclamação da República após a abdicação de Guilherme II, tentaram a conquista do poder pela violência. Forças do Exército e voluntários monarquistas impediram o êxito da rebelião. Os dirigentes comunistas Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo foram mortos.
No mesmo ano, Bela Kun tentava implantar o comunismo na Hungria, fracassando igualmente.
Em 1920, a Internacional Comunista (Komintern) planejava agir na clandestinidade ao lado das atividades legais dos PCs dentro dos sindicatos e dos movimentos operários. Quatro anos mais tarde forma-se a aliança socialista-comunista e uma organização sindical internacional. Através dos sindicatos, a influência vermelha começa a penetrar nos países do Ocidente.
Os limites de um artigo não permitem relatar com pormenores a ascensão comunista em todas as nações do mundo. Por isso, descreveremos sumariamente a expansão internacional do bolchevismo. O leitor poderá notar que quase sempre tal expansão se deveu mais à omissão ou cumplicidade das potências ocidentais do que à capacidade de persuasão do comunismo.
A entrega da Europa Oriental à Rússia começou em 23 de agosto de 1939, com a assinatura do pacto germano-soviético Ribbentrop-Molotov. A 28 de setembro do mesmo ano, era firmado novo pacto, passando os países bálticos à órbita soviética. Em 30 de novembro, a Rússia atacou a Finlândia, que resistiu durante três meses, impondo derrotas vergonhosas aos soviéticos. Por fim, estes conseguiram romper a linha de defesa do general Mannerheim. Para evitar a intervenção anglo-francesa, a Rússia suspendeu a ofensiva, contentando-se em abocanhar alguns territórios finlandeses. Era a primeira conquista de uma série. Em junho de 1940, o Exército Vermelho ocupou a Lituânia, a Letônia e a Estônia. No mês seguinte, invadiu a Bessarábia e a Bucovina do Norte, após apresentar um ultimatum à Romênia, à qual pertenciam esses territórios.
Hitler, preocupado com suas baixas reservas de trigo e de petróleo, decidiu invadir a Rússia. A 22 de junho de 1941, a ofensiva é desencadeada, levando as divisões blindadas alemãs às portas de Moscou. A Rússia procura a aliança da Inglaterra e do governo polonês no exílio. Os Estados Unidos oferecem ajuda militar aos comunistas, com a qual estes se colocam em condições de iniciar a contra-ofensiva no inverno de 1941. A partir da batalha de Stalingrado (janeiro-fevereiro de 1945), a vitória da guerra inclina-se em favor dos russos.
Nos países ocupados pelos alemães, inclusive a França, os comunistas organizaram movimentos locais de resistência. Eram os partisans. Graças à aliança dos Estados Unidos e Inglaterra, os russos, que em 1940 não conseguiram vencer a contento o pequenino exército finlandês, em 1944 estavam em condições de se lançarem sobre a Europa Oriental, ocupada pelo III Reich.
Como foi possível essa mudança de situação? Um documento secreto do Presidente norte-americano Franklin Roosevelt parece fornecer elementos para a explicação do assunto.
Trata-se de uma carta que Roosevelt dirigiu, a 20 de fevereiro de 1943, a um certo Sr. Zabruski, agente de ligação entre ele e Stalin. Eis alguns trechos significativos desse documento:
"Os Estados Unidos da América e a Grã-Bretanha estão dispostos — sem nenhuma restrição mental — a dar paridade absoluta e direito de voto à URSS, na reorganização do mundo de após-guerra [...].
Concederemos à URSS um acesso ao Mediterrâneo, atenderemos a seus desejos no que concerne à Finlândia e ao Báltico, e exigiremos da Polônia uma judiciosa atitude de compreensão e compromisso; Stalin conservará um vasto campo de expansão nos inconscientes paisinhos europeus do Leste — tudo levando em conta os direitos que são devidos à fidelidade da Iugoslávia e da Tchecoslováquia — e ele recuperará totalmente os territórios que foram temporariamente arrebatados à Grande Rússia [...].
A Ásia: de acordo com seus pedidos [de Stalin], salvo complicações posteriores. Quanto à África: o que querem? É preciso entregar qualquer coisa à França e mesmo compensar suas perdas na Ásia" (1).
Assim o chefe de Estado norte-americano repartia o mundo como um bolo de aniversário. E os melhores bocados estavam destinados à Rússia comunista. Dois anos antes da conferência de Yalta, a entrega da Europa Oriental aos soviéticos já estava decidida.
Na Conferência de Teerã (28 de novembro-19 de dezembro de 1943), Churchill propunha o desembarque das tropas aliadas no sul da Europa, ocupando os Balcãs e atacando a Alemanha na frente sul-oriental. Desse modo, os russos seriam contidos em suas fronteiras naturais. O plano de Stalin era outro: os aliados deveriam desembarcar na frente ocidental (França), deixando a Europa Oriental livre à ação do Exército Vermelho. Mais uma vez, Roosevelt jogou do lado de Stalin.
Tendo Hitler engajado todas as suas forças na frente ocidental (Normandia) as tropas soviéticas puderam iniciar sua ofensiva nos Cárpatos, em março de 1944. Em abril, cruzavam as fronteiras tchecas e romenas. Em junho, entravam na Polônia e na Prússia Oriental. Derrotada a resistência anti-russa, um governo organizado por Moscou instalou-se em Varsóvia. Dezesseis líderes do governo polonês no exílio foram convidados a participar de conversações francas sobre problemas da Polônia.
Mas não houve conversações. Os poloneses foram levados a Moscou, onde treze foram condenados à morte e três a prisão perpétua...
Em setembro, a Rússia invadia a Bulgária e em seguida a Estônia, Letônia e Hungria. Em fevereiro de 1945, os russos estavam às margens do Oder. Em abril, tomavam Viena e começava a ofensiva contra Berlim. Hitler desapareceu, e a antiga capital do Reich capitulou a 2 de maio. Seis dias mais tarde, deu-se a rendição geral das forças alemãs em Reims. Um mês depois, Bulgária, Hungria, Romênia, Tchecoslováquia e Iugoslávia estavam acorrentadas à URSS por meio de uma "aliança militar", embrião do Pacto de Varsóvia.
Com todos esses trunfos, Stalin compareceu à abertura da Conferência de Potsdam (17 de julho de 1945), a qual ratificou todas as conquistas soviéticas. Como alguns meses antes, na Conferência de Yalta (19-11 de fevereiro), o Presidente dos Estados Unidos, embora possuísse em suas mãos o maior poderio militar do mundo (11 milhões de homens), apresentou-se timidamente diante de Stalin, que ditou as regras do jogo. Os ocidentais cederam aos comunistas toda a área que haviam ocupado além do rio Elba, os Sudetos, a Boêmia e até o acesso a Berlim. Alemanha Oriental, Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia, Tchecoslováquia, Hungria, Iugoslávia, Romênia, Bulgária, estavam transformados em novos satélites russos. Quanto à Finândia, trêmula e obediente, daria origem a um novo vocábulo que exprime sua condição: finlandizada.
Estava terminada a conquista da Europa Oriental. A Rússia podia então voltar suas armas para o Oriente.
Uma das concessões feitas pelos Estados Unidos e Inglaterra à Rússia em Potsdam, foi a manutenção do status quo (ocupação, no caso) na Mongólia Exterior, direitos sobre a Mongólia Interior e portos do Pacífico, ocupação das ilhas Kurilas e da parte sul da ilha Sakalina. Dois dias após a bomba atômica de Hiroshima e uma semana antes da capitulação dos japoneses, a Rússia lhes declarou guerra. Era o meio de poder tirar proveito dos despojos.
Em seu livro "How the Far East was lost", Anthony Kubek, Professor de História da Universidade de Dallas, apresenta este preâmbulo altamente significativo a respeito da expansão comunista na Ásia:
"Em 19 de julho de 1935, o embaixador dos Estados Unidos em Moscou, William C. Bullitt, enviou um despacho ao Secretário de Estado Cordell Hull. Nele estava incluída esta observação profética:
"É... a mais profunda esperança do governo soviético, que os Estados Unidos se envolvam na guerra com o Japão... Pensar na União Soviética como um possível aliado dos Estados Unidos em caso de guerra com o Japão, é admitir a vontade de ser o autor da ideia. A União Soviética certamente tentaria evitar tornar-se aliado até que o Japão estivesse completamente derrotado e então simplesmente aproveitaria a oportunidade para obter a Mandchúria e sovietizar a China.
Assim foi planejado. E assim deveria ser.
Os líderes soviéticos planejaram ainda estabelecer um governo no Japão derrotado. Mas isso não seria realizado. Seus agentes no governo norte-americano, Harry Dexter White e sua coorte, trabalharam de modo brilhante para assegurar esse objetivo. Eles não contaram com um grande talento de incorruptível integridade O conquistador do Japão tornou-se o seu salvador — general de Exército Douglas MacArthur.
Não houve ninguém para salvar a China. Alguns traíram" (2).
Mao Tse-tung foi o organizador do primeiro círculo marxista na China, em 1919. Sun Yat-sen, fundador da república chinesa e líder do Kuomintang (Partido Nacional do Povo), lutava pela hegemonia do poder. Em 1921, fundava-se o Partido Comunista. Em 1923, Sun Yat-sen aceitava a colaboração comunista. Dois russos, Borodin e Blucher, organizaram segundo o modelo soviético, o Partido e o Exército chinês. Os comunistas foram então admitidos no Kuomintang.
Sun morreu em 1925. No ano seguinte Chang Cai-chec era o comandante do exército. Em sua campanha contra os chefes militares do Norte e Centro da China, não submetidos ao Kuomintang, Chang conquistou várias cidades importantes. Os comunistas estavam a seu lado e tentavam aumentar sua influência. Em 1927, Chang rompeu a aliança com o PC e passou a persegui-lo. No ano seguinte, a China inteira estava sob a hegemonia do Kuomintang e Mao organizava o Exército Vermelho.
A guerra com o Japão obrigou os exércitos de Mao e de Chang a uma trégua. Na luta contra os japoneses, Chang foi reconhecido como único chefe nacional, reiniciando-se a colaboração entre o Kuomintang e o Partido Comunista. Ao fim da II Guerra Mundial, Estados Unidos e Rússia envidaram todos os esforços para estabelecer na China um governo de coligação. Após o fracasso das conversações nesse sentido, os soviéticos ocuparam a Mongólia e a Mandchúria. Era o momento de os Estados Unidos sustentarem o regime nacionalista contra o invasor e o PC chinês. O gal. MacArthur sustenta que assim teria agido, para evitar a expansão comunista. Mas MacArthur não era o governo dos Estados Unidos. A ajuda norte-americana aos chineses durante a guerra redundou em alto benefício para os comunistas, pelo modo como foi ministrada.
O Presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, desejava um governo com participação comunista e a fusão dos exércitos de Mao com os de Chang. Este dizia que aceitaria os comunistas no governo quando estes depusessem suas armas. Mas a diretriz do general norte-americano George Marshall era o contrário: coloque primeiro os comunistas no governo e então eles deporão suas armas.
Graças a Marshall, o Exército Vermelho pôde desencadear a grande ofensiva contra os nacionalistas. Mao recebeu da Rússia toda ajuda que precisou. Os Estados Unidos não a forneceram a Chang.
Em 1949, a China foi conquistada pelos comunistas, enquanto dois milhões de chineses fugiam para Formosa. Erguia-se assim a cortina de bambu.
Um dos despojos japoneses entregues à Rússia pelos Aliados no fim da II Guerra Mundial foi a Coréia, ocupada ao norte do paralelo 38 pelos soviéticos e ao sul pelos norte-americanos.
Em 1947, a ONU era impedida de entrar na Coréia do Norte para controlar as eleições. Em fevereiro de 1948, os russos estabeleciam um "tratado de amizade" com os chineses de Mao. No mesmo ano, realizavam-se eleições na Coréia do Sul, determinando a saída dos soldados norte-americanos. Logo depois, a rádio de Pyongyang, sede do quartel-general soviético, anunciava a proclamação da "República Popular da Coréia". Na madrugada de 25 de junho de 1950, começava a invasão maciça do Sul pelos comunistas.
O presidente Truman manifestou-se então "preocupado, mas não alarmado". O otimismo inculcado pelos norte-americanos custou caro aos sulcoreanos. A "surpresa" da invasão não lhes permitiu reagir. A população foi esmagada. Em pouco tempo, somente um pequeno território em torno de Pusan, a sudeste da península coreana, não estava ocupada pelos comunistas.
A ONU decidiu intervir com tropas de 15 nações, comandadas pelo general Douglas MacArthur. Em setembro, os comunistas eram obrigados a recuar até a fronteira da China. Em novembro, os chineses intervinham maciçamente do lado comunista, forçando novo retrocesso das tropas da ONU (o primeiro deu-se logo no início da guerra). Em 1951, MacArthur planejava liquidar a intervenção dos chineses, destruindo suas bases aéreas e de abastecimento. Mais uma vez o presidente Truman agiu em favor dos comunistas: MacArthur foi destituído.
O armistício de Panmunjon, assinado em 1953, estabilizou a linha de fronteira ao longo do paralelo 38. Rússia e China cuidaram, então, de reconstruir a Coréia do Norte, definitivamente entregue ao domínio vermelho.
Em 1933, um indivíduo chamado Nguyen Ai-quoc encontrava-se na Rússia, a fim de receber sua formação de agitador. Algum tempo depois, ele está em Cantão, ao lado de Borodin, "conselheiro" soviético de Chang Cai-chec e organizador do PC chinês. É nessa cidade da China que Ai-quoc cria e organiza o PC indochinês. Posteriormente Ai-quoc mudaria de nome duas vezes: Song Man-tcho e finalmente Ho Chi-Minh.
Durante a II Guerra Mundial, o Japão ocupou a Indochina francesa, favorecendo sua independência. O Vietnã era então governado pelo Imperador Bao Dai, que mantinha boas relações com os franceses.
A capitulação dos japoneses deu-se a 16 de agosto de 1945. No dia seguinte, um governo "nacionalista" tomava o poder em Hanói e exercia seu controle sobre quase todo o Vietnã, constituído pelo Tonquim (norte), Anam (centro) e Cochinchina (sul). Seu chefe, Ho Chi-Minh, é o presidente de uma "frente nacional" — Vietminh —controlada pelos comunistas, já se vê. No dia 18, Bao Dai abdica, contentando-se com o cargo de conselheiro junto ao governo de Ho Chi-Minh.
Diante disso, a Grã-Bretanha decidiu ocupar a Cochinchina. Ho Chi-Minh preferiu negociar a volta dos franceses ao Tonquim, desde que reconhecessem a "República Democrática do Vietnã". Os franceses voltaram. Porém, não para sustentar o novo regime vietnamita. Os ingleses se foram. A guerra da Indochina começou entre a França e o Vietminh. Este recebeu logo o apoio diplomático e militar da China e da Rússia. Em 1954, os franceses capitularam, após heróica resistência em Dien Bien Phu.
No mesmo ano, reuniu-se a Conferência de Genebra, cujas resoluções determinaram a divisão da Indochina em três países independentes: Vietnã, Laos e Cambodge. Era o fim do protetorado francês... e o início do protetorado russo-chinês. Os comunistas infiltraram-se por toda parte, formando "exércitos de libertação nacional": Pathet Lao, no Laos; Vietcong, no Vietnã do Sul; Khmer Rouge, no Cambodge.
Em 1955, foi destituído o imperador Bao Dai, que nominalmente ainda conservava a chefia do Estado no Sul. Ngo Dinh Diem, católico praticante, tornou-se primeiro-ministro com o apoio dos Estados Unidos. O Vietcong iniciou então a guerra de guerrilhas.
Em 1961, Diem havia logrado estabelecer um eficiente sistema de autodefesa das aldeias contra os ataques comunistas. Quando a luta obtinha os melhores resultados, eclodiu um golpe militar esquerdista, apoiado pelos Estados Unidos. Ngo Dinh Diem foi barbaramente assassinado ao procurar refúgio numa igreja. Um de seus irmãos, governador de Hué, foi entregue pela embaixada norte-americana aos comunistas, que o executaram em praça pública. A partir de então, os Estados Unidos entraram maciçamente na guerra. Não para vencer os comunistas, mas para chegar à "paz" do Acordo de Paris (1973), promovida pelo secretário de Estado Henry Kissinger. Um ano depois, o mundo inteiro viu — na indiferença e na letargia — o Vietnã ser inteiramente abandonado à sanha marxista.
No Cambodge e no Laos, a história se repetiu. Ainda em nossos dias chegam até o mundo ocidental, entorpecido pela propaganda distensionista, notícias dos gemidos daqueles povos, deportados em massa para o trabalho forçado no campo.
Em seus últimos estertores, o Vietnã recebeu um rude golpe: o Arcebispo de Saigon, Dom Nguyen Van Binh, colocou-se ao lado dos "libertadores", transformando os templos de Deus em centros de "reeducação" marxista.
Esses fatos impressionantes, os jornais os puderam publicar todos, sem que se tenha levantado um só protesto condigno e proporcionado das potências ocidentais a favor dos povos da Indochina. Até esse extremo a propaganda comunista anestesiou-as. "Catolicismo" não poderia deixar passar esse infausto acontecimento sem manifestar sua profunda reprovação, associando-se ao calvário da Igreja do Silêncio no Vietnã. Assim, em seu no. 304, Gregório Vivamo Lopes abordou o assunto no artigo "Ovelhas afastam-se de maus Pastores".
A influência comunista na África começou com a chamada "descolonização", acelerada na década de 60. O colonialismo europeu — imperfeito, talvez; civilizante, certamente — deu lugar ao neocolonialismo massificante da Rússia e da China. Os últimos territórios "descolonizados" foram os de Portugal. Moçambique, Angola, Guiné-Bissau são hoje focos de subversão no continente africano.
Na Somália e na Guiné, a Rússia possui bases militares das quais pode controlar o Indico e o Atlântico. Na Tanzânia, os chineses organizam e dominam setores vitais do país, como os transportes. Nos demais países africanos, poucos se subtraem à influência russa ou chinesa. A Rodésia, ao lado de uma África do Sul cambaleante, destaca-se como o derradeiro bastião anticomunista daquele continente.
No mundo islâmico, pelo menos um país passou inteiramente para a órbita comunista: a República Popular do Iêmen do Sul.
O Velho Continente, berço da civilização ocidental e cristã (melhor diríamos ex-civilização ex-cristã), vai sendo inexoravelmente devorado por um processo de comunistização gradual.
Em muitos países nórdicos e anglo-saxões, governam os socialistas, precursores da via comunista. O "Eurocomunismo" vai lentamente destruindo as resistências de uma população que já não manifesta disposição de resistir. A NATO torna-se dia a dia mais débil ante as forças do Pacto de Varsóvia.
Como e com a Europa, os Estados Unidos submergem no ocaso de seu poderio. A política kissingeriana leva os norte-americanos a se fecharem num isolacionismo que deixa à mercê de Moscou seus antigos aliados.
Se examinássemos esse panorama do ponto de vista meramente humano, seria forçoso considerar a América Latina gravemente ameaçada. Cuba vai adquirindo todos os direitos de cidadania na família interamericana, da qual foi expulsa por se ter transformado na ponta-de-lança da subversão vermelha em nosso hemisfério.
Este rápido sumário da expansão comunista mundial — omisso em muitos pontos, por brevidade — não poderia deixar de registrar, ainda que de passagem, os meios mais modernos de conquista utilizados pela seita marxista.
Quando os soviéticos ocuparam a Alemanha, em 1945, ali encontraram fabulosa indústria bélica, abandonada intacta pelos norte-americanos. Os 5 mil cientistas que ali trabalhavam para os nazistas foram transportados, com suas usinas e laboratórios, para território russo. Lá, seriam construídos os modernos foguetes balísticos (3).
Hoje, os comunistas possuem não só especialistas em armamentos. Eles contam com o maior poderio publicitário da História, a serviço da ciência de manipular, deteriorar e conquistar as mentes. A guerra psicológica dá maiores resultados do que uma guerra atômica. Foi pela guerra psicológica que o comunismo tirou do Ocidente a vontade de lutar.
Em artigos para a imprensa paulista, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, presidente do Conselho Nacional da TFP, alertou repetidas vezes para esse novo tipo de ação que o falecido general Humberto de Souza Mello chamou de revolução comunista invisível. Esta se opera "na utilização dos nossos meios de difusão: jornais, revistas, cinema, teatro, rádio e televisado; ou ainda através das artes e da literatura das coleções populares de grandes escritores socialistas". Como vê o leitor, trata-se de uma propaganda feita com ardil, pelo largo uso de meios tons, de afirmações apenas discreta e implicitamente comunistas, pela difusão de doutrinas ou programas para-comunistas, capazes de evoluir, aos poucos para posições pré-comunistas e, por fim, comunistas.
O general aponta outros elementos dessa ação solerte: sexualismo despudorado, uso de tóxicos e todo o imenso processo de deterioração moral, religiosa e cultural que vai devastando sempre mais nossa juventude. E conclui: "a revolução comunista invisível [é] tão importante, ou talvez mais, do que a pregada por Fidel Castro" (4).
O Serviço de Arquivos do
Os levantes esmagados
Budapeste, 1956 — O povo húngaro ergue-se contra a opressão comunista (foto). Os poloneses seguem o exemplo. Mas a intervenção brutal dos tanques soviéticos esmaga a Hungria e silencia a Polônia, como em 1953 fizera com análoga reação em Berlim. Em 1968, a história se repete na Tchecoslováquia. Em 1970, é sufocada a revolta das cidades bálticas da Polônia. Em todos os casos, os dramáticos apelos daqueles povos não foram ouvidos pelos países do mundo livre.
Vietnã: Esta mulher chora sobre os restos mortais do marido, massacrado pelos comunistas do Vietcong em Hué.
As resistências vitoriosas
Espanha, Brasil e Chile servem de lição à História, pela resistência que opuseram à investida comunista.
Na guerra civil espanhola (19361939), os comunistas chacinaram milhares de Padres, freiras e leigos. Venceu,porém o ardor e o heroísmo dos católicos espanhóis.
Em março de 1964, o Brasil levantou-se para extirpar a agitação comuno-janguista. As "Marchas da Família com Deus, pela Liberdade" em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte levaram às ruas centenas de milhares de brasileiros que desejavam exprimir seu repúdio ao credo vermelho. O consenso anticomunista nas Forças Armadas evitou o derramamento de sangue.
No Chile, a 1º. de setembro de 1973, a ação eficaz das Forças Armadas varreu do palácio presidencial de La Moneda (foto) os governantes marxistas que subjugaram o país durante três anos. Manifestações de protesto de todos os setores da população — destacando-se os "camioneros" com seus acampamentos e as donas de casa com suas "marchas das panelas vazias" — precederam a derrocada final do regime de Allende.
Nas três resistências vitoriosas o fator religioso teve um papel decisivo. Nem sempre os Pastores estiveram ao lado de suas ovelhas para as alentar na luta contra o lobo vermelho.
O comunismo é uma seita filosófica que pretende conquistar o mundo para sua maneira de pensar, de querer e de ser. Para a consecução desse objetivo os comunistas se congregam em partidos políticos e organizações internacionais.
Tal caráter de seita do comunismo foi apontado já pelos Papas Pio IX e Leão XIII, no século passado. O que anima a ação da seita comunista e lhe dá energia, coesão interna e clareza de fins é sua ideologia.
O socialismo atual teve precursores em movimentos heréticos da Idade Média e em seitas protestantes da época da Pseudo-Reforma: os Albingenses (século, XIII), na França; os Irmãos morávios (século XV), na Checoslováquia; os Anabatistas (século XVI), na Alemanha, Suíça e Holanda, etc. Também em algumas manifestações extremistas durante a Revolução Francesa, como a Conspiração dos Iguais, de Babeuf († 1797).
Nos séculos XVI e XVII apareceram alguns romances políticos e filosóficos de caráter comunista, como a “Utopia” e a “Civitas Solis” . Os séculos XVIII e XIX viram surgir as escolas socialistas ou comunistas chamadas utópicas, representadas por Saint-Simon († 1825), Fourier († 1873), Louis Blanc († 1882), etc.
O comunismo moderno; dito cientifico, tem sua origem em Karl Marx (1818-1883), que escreveu algumas de suas obras em colaboração com Friedrich Engels (1820-1895). Sua doutrina, continuada por Engels e desenvolvida por Lenine (1870-1924), forma o sistema que hoje se denomina marxismo-leninismo, que além dos aspectos político, social e econômico, possui uma fundamentação filosófica inteiramente falsa.
EVOLUCIONISMO MATERIALISTA. — A base de toda a concepção marxista do mundo é o evolucionismo materialista: no universo só existe a matéria; ela é eterna, necessária. Uma força misteriosa e cega impele a matéria num processo de desenvolvimento irreprimível, numa evolução irrefreável, a partir da forma mineral e inorgânica, rumo a formas mais perfeitas. Da matéria bruta emanou a vida, da planta nasceu o animal; entre os animais houve um aperfeiçoamento até aparecer o animal atualmente mais perfeito, o homem. Com o tempo, o mesmo processo levará o homem atual a um desenvolvimento que produzirá um homem novo, o qual está para o homem atual assim como este está para o macaco.
MATERIALISMO DIALÉTICO. — A força metafísica que impele o universo para essa evolução é a luta entre os opostos. Essa luta perpétua é a essência do "kosmos". Para explicar essa luta, o marxismo adota a concepção do filósofo alemão Hegel († 1831): num primeiro momento a matéria parece em repouso; é a tese. Aos poucos, a contradição que nela existe (antítese) começa a aparecer e a entrar em choque com a tese. Desse choque resulta um novo estado que parece definitivo: a síntese. Mas esse estado, que vem a ser uma nova tese, traz em si sua própria contradição, isto é, a antítese; surge então um novo conflito, e daí nova síntese; e a história recomeça. Esta série interminável de conflitos leva — segundo os marxistas — a matéria a uma perfeição cada vez maior, mas sempre relativa e instável.
ATEÍSMO. — Nessa concepção, como se vê claramente, não há lugar para a ideia de Deus, não há diferença entre espírito e matéria, entre alma e corpo; não existe sobrevivência da alma depois da morte, nem há portanto, vida eterna, céu, nem inferno. Nada existe de fixo e permanente; tudo está em contínua mudança.
RELATIVISMO. — De onde se segue que não existe verdade objetiva, nem moral. O que é verdade para um, não o será para outro "menos evoluído". Então, não existe igualmente bem nem mal: bom é o que ajuda a Revolução; mau o que a prejudica. "Há uma moral comunista? — pergunta Lenine. Certamente sim... É moral o que contribui para a destruição da antiga sociedade de exploradores".
LUTA DE CLASSES. — O princípio do conflito entre os opostos que, segundo o sistema comunista, rege a matéria e o universo, dirige também a sociedade humana. As desigualdades existentes na sociedade gerariam conflitos no fim dos quais surgiria uma síntese; depois do que haveria novos conflitos até chegar à sociedade sem classes, sem desigualdades. Este processo — dizem os marxistas — pode ser acelerado por meio de uma técnica: a luta de classes. Descobrindo os opostos, atiça-se a luta entre eles, lançando um contra o outro. Assim, um processo que naturalmente levaria séculos pode desenvolver-se em poucos anos. A isto os marxistas chamam "dialética".
IGUALITARISMO. O objetivo final dos sectários de Marx é, portanto, o nivelamento total, a abolição das classes, o igualitarismo; pois, segundo eles, é a desigualdade entre os homens (de fortuna, de talento, de cultura, de virtude, etc.) que impede a evolução rumo à sociedade perfeita. É preciso então acabar com elas. Esse igualitarismo é essencial ao comunismo: é por ser igualitário que ele destrói e suprime o direito de herança, a família, a propriedade privada, as elites sociais e culturais, a tradição.
ABOLIÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA. — A propriedade privada é especialmente combatida, por ser fonte de desigualdades: "A doutrina dos comunistas pode ser resumida numa única frase: a abolição da propriedade privada" — escreveram Marx e Engels. E o socialista francês Proudhon († 1865) exclamava: "a propriedade é o roubo!"
PRIMAZIA DO ECONÔMICO. — Uma vez que para os marxistas o homem não é senão matéria, as necessidades materiais dele devem ocupar o primeiro lugar. Daí o papel primordial do econômico no sistema de Marx. O homem, nessa concepção, não passa de um animal produtor que, pelo trabalho, transforma o mundo. Mais: pelo trabalho o homem transforma a si mesmo.
A História humana é a história da ação produtora do homem. Cada época histórica — na visão marxista — define-se pela luta entre os homens tangidos pelas forças da produção em choque.
REVOLUÇÃO "REDENTORA". — Essa luta não tem fim. Por isso a Revolução marxista não tem meta fixa. Realizado o programa negativo de destruição das "alienações" (tudo aquilo que, na concepção marxista, limita a liberdade do homem e impede a evolução como Religião, família, tradição, cultura, etc.), abre-se para o homem uma perspectiva infinita. A Revolução é para os marxistas a redenção e a criação.
Ao lado do marxismo, que é a forma mais radical do socialismo, há variantes que procuram implantar uma sociedade igualitária e materialista sem lançar mão dos recursos brutais usados por ele. Essas variantes preferem os meios legais, as transformações menos radicais das instituições para chegar a uma sociedade sem classes, igualitária, em que o Estado domina, tudo provê e providencia.
Não há, portanto, diferença de doutrina e de meta final entre o comunismo e o socialismo, mas apenas de métodos. Por onde se vê que ele prepara o caminho ao comunismo, debilitando as instituições que este quer destruir.
É por tudo isso que Pio XI declarou, na Encíclica "Divini Redemptoris", o comunismo "intrinsecamente perverso" e incompatível com a doutrina católica.