NOVA YORK (Especial para CATOLICISMO) — Está repercutindo intensamente nos círculos católicos norte-americanos um estudo que acaba de ser publicado em Nova York sobre as sangrentas perseguições comunistas aos católicos uniatas ucranianos. O estudo, baseado em mais de 70 documentos publicados no mundo livre e na Rússia, analisa também a política corrente no Vaticano de amistoso diálogo com os perseguidores comunistas russos e de silêncio e omissão em relação aos católicos perseguidos.
"Ouro, Luto e Sangue — Ucrânia, uma tragédia sem fronteiras" é o título do trabalho, preparado por uma equipe da TFP norte-americana e publicado na revista da entidade: Cruzade for a Christian Civilization.
Em apenas duas semanas, esgotou-se em vendas avulsas a edição de 5 mil exemplares da revista, devido, especialmente, ao grande interesse da numerosa colônia ucraniana nos Estados Unidos. Enquanto se prepara uma segunda tiragem, por iniciativa de um Sacerdote está sendo cuidada uma edição do trabalho em língua ucraniana. Diversas paróquias de refugiados ucranianos e uma diocese encomendaram grandes quantidades da revista para serem distribuídos entre os fiéis.
Vivamente impressionados com as revelações do estudo da TFP a respeito da política ucraniana do Vaticano, um grupo de católicos uniatas de Nova York, ligados à organização "Society for the Defense of Nations Under Communism" (Sociedade para a Defesa das Nações sob o jugo do Comunismo), decidiu lançar respeitoso abaixo-assinado a Paulo VI, expondo suas perplexidades e pedindo esclarecimentos sobre a Ostpolitik em relação à Ucrânia. A entidade promotora da petição congrega ucranianos e representantes de outros povos subjugados pelo comunismo. Seus dirigentes estão enviando o texto do abaixo-assinado para as cidades norte-americanas onde se concentram os maiores núcleos de católicos ucranianos. Iniciativa similar foi tomada no Canadá, por um grupo de católicos ucranianos de Toronto.
Informado de ambas iniciativas — a publicação do estudo e o abaixo-assinado a Paulo VI — o Cardeal Joseph Slipyj enviou, de Roma, carta à revista da TFP norte-americana, em que afirma: "Este trabalho valioso contribuirá ricamente para os católicos americanos e, também de outras nacionalidades, conhecerem nossa causa e nossa luta [...]. Que Deus abençoe vosso trabalho de alto conteúdo ideológico para nossa Igreja e nossa Nação e que ele obtenha os melhores sucessos. Que a benção de Deus desça sobre vós!"
É importante notar que o bem documentado estudo da TFP norte-americana, após passar em revista os mais importantes episódios da "Ostpolitik" vaticana em relação à Ucrânia, faz um apelo à resistência a essa política, nos mesmos termos e com a mesma sólida base teológica da declaração lançada pela TFP brasileira em abril de 1974, com o título de "A Política de Distensão do Vaticano com os governos comunistas - Para a TFP: omitir-se ou resistir?" (Catolicismo no. 280, abril de 1974). O estudo da TFP norte-americana conclui textualmente: “Tendo em vista o clamoroso silêncio de Roma e a gravidade da situação dos católicos ucranianos, apelamos à opinião pública católica do Ocidente para que levante sua voz em protesto pelo que está sucedendo na Ucrânia. As autoridades eclesiásticas e os déspotas comunistas são extremamente sensíveis às manifestações firmes da opinião pública ocidental. Da atitude que tomar essa opinião pública, dependerá o curso futuro dos acontecimentos. E, portanto, a ampliação ou a redução das grandes injustiças que estão sendo praticadas na Ucrânia”.
Para melhor informação de nossos leitores, reproduzimos abaixo, em primeira mão no Brasil, as perguntas dirigidas a Paulo VI.
"Os abaixo-assinados, fiéis preocupados com nossos irmãos perseguidos da Igreja do Silêncio, dirigimo-nos reverentemente a Vossa Santidade, para expor nossas perplexidades e apresentar-Vos um filial pedido.
Somos levados a isso pela fé e acatamento que, como católicos, apostólicos e romanos nutrimos amorosamente pelo Papado e a tudo que a doutrina católica ensina e o direito canônico dispõe a esse respeito.
A História registra que após a ocupação comunista da Ucrânia Ocidental e o aprisionamento do episcopado ucraniano, um falso sínodo reuniu-se em 1946 sob o bafejo de Stalin, para "abolir" a união dos católicos ucranianos com a Igreja Católica. Em seguida, a Igreja Uniata Ucraniana foi "incorporada" pela força da polícia comunista ao "patriarcado" de Moscou. Nessa ocasião, milhares de fiéis derramaram seu sangue pela união com Roma. A mais numerosa Igreja de rito católico oriental passou, assim, a ser ilegal e a ter que viver nas catacumbas, sob constante perseguição. A Santa Sé protestou contra estes fatos e Sua Santidade o Papa Pio XII lançou duas enérgicas Encíclicas a respeito.
Infelizmente, porém, a História também registra uma estranha modificação na posição de Roma com relação aos católicos ucranianos. No centro da Cristandade, fez-se um profundo silêncio e nada mais foi feito para ajudá-los. Ao mesmo tempo, foi iniciado um amistoso diálogo com os perseguidores. Após anos de silêncio e de diálogo, a perseguição continua tão atroz como antes. E então, sobre a Igreja do Silêncio, baixou o silêncio da Igreja.
[...]
Qual o pai que não acode seus filhos em perigo? Qual o pastor que não socorre as ovelhas atacadas pelo lobo? Por que, perguntamo-nos filial, mas angustiadamente, Vosso silêncio de tantos anos sobre essa grave questão?
Por que Filaret, chefe da Igreja de Moscou na Ucrânia, que em 1968 iniciou nova ofensiva contra os católicos uniatas, reclamando uma repressão comunista "mais efetiva" e que presidiu em 1971 às celebrações da "abolição" da Igreja Católica Ucraniana, foi recebido com honras oficiais pelo Vaticano?
Não menos angustiadamente perguntamo-nos por que Dom Velichkovsky, Bispo católico das catacumbas, descoberto por ação conjunta do mencionado Filaret e da KGB, não foi recebido como Bispo pelo Vaticano? Tratava-se de não reconhecer a existência da Igreja catacumbal na Ucrânia para não desagradar aos comunistas?
O prelado russo de Leningrado, Nikodin, homem de confiança do Cremlin, protestou contra a consagração da catedral ucraniana de Santa Sofia, em Roma, declarando que o ato, presidido pelo Cardeal Slipyj, era contra o diálogo ecumênico, e pediu a eliminação da Igreja Católica Ucraniana, também no Ocidente. Por que Nikodin foi recebido tão calorosamente no Vaticano permitindo-se-lhe presidir a uma cerimônia litúrgica cismática no próprio túmulo de São Pedro?
Em 1971, Pimen foi entronizado como Patriarca de Moscou. Em seu sermão, proclamou em tom de vitória a total destruição da Igreja Católica Ucraniana e seu "triunfal retorno à igreja ortodoxa russa". Por que o Cardeal Willebrands, que representava o Vaticano, não protestou nem no ato, nem posteriormente? Num assunto tão grave como este, calar é consentir.
Por que a negativa da instituição do Patriarcado Ucraniano, o mais numeroso rito oriental católico? Por que adotar deste modo um procedimento que corresponde aos desejos comunistas?
O Pe. Mailleux, S.J., da Congregação Vaticana para Os Ritos Orientais e Reitor do Pontifício Colégio Russo, afirmou que os católicos ucranianos, "não podem esperar que a Santa Sé se arrisque ao embaraço de levantar o problema da existência da Igreja Católica Ucraniana na União Soviética, quando há possibilidade de mantermos um diálogo com a igreja ortodoxa russa". Por que ficou sem desmentido essa gravíssima afirmação à qual os cargos ocupados pelo Pe. Mailleux S.J., conferem ares de oficiosa?
Nossas perplexidades podem ser resumidas na seguinte questão: há anos, tudo se passa como se o Vaticano aceitasse tacitamente, mas de bom grado, a sangrenta perseguição que o Cremlin e seus agentes do "patriarcado" de Moscou moveram e continuam a mover contra a Igreja Católica Ucraniana. Se confirmado, este será um dos maiores escândalos da História da Igreja. Por que se permite que os fatos se sucedam uns aos outros, sem exceção de absolutamente nenhum, de maneira a favorecer essa lúgubre hipótese?
Tanto mais que esse sacrifício inqualificável se realizaria no altar dos compromissos assumidos com os comunistas. Seria como um Pastor, que para manter relações amistosas com o lobo, permitisse que este devorasse suas ovelhas.
Expostas nossas angústias e perplexidades, fazemo-Vos um filial pedido. Esclarecei ante a Igreja e o Mundo, qual é a posição de Roma diante da situação terrível da Igreja Católica Ucraniana.
Como católicos, não poderíamos deixar de apelar a Vós e não poderíamos continuar silenciosos. Por isso, Vos dirigimos essa súplica, confiando obter a caridade de uma palavra esclarecedora [...]
J. S. G.
• Quem disser que Brejnev não permite que os soviéticos visitem o Ocidente estará enganado. O diretor do FBI, Clarence Kelley, informou em Washington que a presença de elementos da KGB — a terrível polícia política russa — naquela capital cresceu de 806 para 1955 em um ano (1975-76). Os agentes soviéticos entraram legalmente nos Estados Unidos, ostentando o título de "conselheiros". Há "conselheiros" técnicos, econômicos, políticos e militares.
Intercâmbio de pessoas... Mais uma conquista da détente.
Para abrigar tantos "conselheiros", os dirigentes do Cremlin mandaram construir novo prédio para sua embaixada em Washington.
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• Num mundo em que o desenvolvimento se mede pelo número de automóveis, a Rússia é sem dúvida subdesenvolvida. Esta conclusão se deduz das declarações de Mr. Johann Adler, consul-geral da África do Sul nos Estados Unidos. Segundo Adler, somente a população negra de seu país (20 milhões) possui mais automóveis do que todos os súditos do regime moscovita (250 milhões).
• A última feira do livro de Frankfurt, na Alemanha Ocidental, resultou em fracasso para a esquerda. Livros com surradas teses marxistas e anarquistas foram os menos vendidos.
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• Embora o governo da Guiana afirme que continuará protegendo a liberdade religiosa, confiscou três colégios e 55 escolas primárias mantidas por instituições católicas naquele país. Segundo o primeiro-ministro socialista Forbes Burham, "a liberdade de servir-se do sistema educativo para fazer prosélitos desaparecerá". E ainda mais. Proibiu o ensino religioso nos estabelecimentos de ensino de todos os níveis.
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• Não é Só o comunismo guianense, de sabor selvagem, que investe contra a cultura. Na Itália, o eurocomunismo fechou 268 colégios particulares, regidos na maioria por Padres e Freiras. Os comunistas — que dominam grande número de administrações regionais italianas — desafivelaram sua máscara sorridente e fecharam também centenas de jardins da infância.
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• Ainda as escolas. Na Rodésia, cerrou as portas um estabelecimento com 400 alunas nativas, como também um hospital de 100 leitos. Mas o motivo é diverso da Guiana e da Itália. Sete dos oito missionários brancos (três Jesuítas e quatro Freiras dominicanas) que cuidavam daquelas instituições foram assassinados por guerrilheiros do movimento de "libertação" da Rodésia. Segundo o sobrevivente da chacina, Pe. Duston Myrscough, S.J., a única explicação dos terroristas foi: "Queremos nosso país".
O mais incrível é que os missionários católicos e protestantes da Rodésia, em geral, fazem frente comum com a subversão guerrilheira que deseja derrubar o governo de Ian Smith e implantar o marxismo no país.
Em outro ataque, os "libertadores" mataram o Bispo de Bulawayo e dois religiosos. Nenhum dos organismos internacionais de caráter político, cultural ou mesmo qualificado como humanitário protestou contra essas chacinas.
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• Cada um exporta o que tem. A outra Alemanha, a dominada pelos comunistas, exportou o "muro da vergonha" para Portugal. Invadindo terrenos de domínio público, a embaixada da assim chamada República Democrática Alemã em Lisboa mandou construir um muro em torno de suas instalações.
Não se sabe se a muralha foi erguida para evitar depredações por parte do povo português ou se foi edificada para evitar fugas de diplomatas germânicos saturados com seu próprio governo.
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• A Rússia traçou um superplano para a construção de uma fábrica de caminhões, mas não conseguiu levá-lo adiante. Até aqui, nenhuma novidade. O fato novo é que nos últimos anos os soviéticos vêm apelando para os técnicos ocidentais. Desta vez quem socorreu os comunistas foi a Renault, que arcou com o planejamento e a construção do complexo industrial.
Mais uma vez: Rússia menos Ocidente, igual a zero...