Por ocasião de mais um aniversário da implantação do regime comunista na Rússia, há 61 anos, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição. Família e Propriedade (TFP), promoveu no dia 17 de outubro, às 21 horas, no auditório do Hotel Hilton na capital paulista, uma conferência do Cel. Antonio Erasmo Dias, ex-Secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Presidiu o ato e apresentou o orador — que discorreu sobre o tema "Comunismo, seus erros e sua ação maléfica" — o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP. O auditório foi pequeno para conter o numeroso público presente, boa parte do qual assistiu de pé a sessão.
Comparecimentos
Além dos diretores, sócios e cooperadores da TFP brasileira, estiveram presentes o Sr. José Luis de Zayas, diretor da Sociedade Cultural Covadonga, entidade espanhola afim à TFP, o Dr. Cosme Beccar Varela Hijo, presidente da TFP argentina, bem como representantes das TFPs francesa, norte-americana, venezuelana, colombiana, equatoriana e uruguaia.
Compareceram também ao ato o Sr. Miguel Colassuono, ex-prefeito de São Paulo e assessor do Ministério do Planejamento; o desembargador Ítalo Galli; o deputado estadual Agnaldo Rodrigues de Carvalho; o ex-ministro de Viação e Obras Públicas, Otávio Marcondes Ferraz; o consul-geral e o consul-adjunto da República da Coréia; o vice-presidente do Comitê Pro Liberdade das Nações Cativas, Sr. Karel Baloun; representante da União Cívica Feminina; o comendador Mário Antunes Maciel Ramos; o engenheiro Joaquim Procópio de Araujo, presidente do Centro Democrático dos Engenheiros; representante do delegado-geral da Secretaria da Segurança Pública; Sr. Tien Yu Shih, presidente da União de entidades chinesas no Brasil; representante do Centro Comercial do Extremo Oriente; o presidente da Associação dos Ex-combatentes Poloneses; o presidente da Associação dos Ex-combatentes Tchecoslovacos, bem como representantes das seguintes colônias de nações subjugadas pelo comunismo: Alemanha Oriental, Bulgária, China, Coréia, Croácia, Hungria, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e Ucrânia.
Sócios e cooperadores da TFP envergavam suas vistosas capas rubras. Atrás da mesa de conferência jovens cooperadores portavam estandartes da entidade, marcados com o leão áureo.
No saguão de entrada do salão de conferências, vários "stands" atestavam a pujança da atuação da TFP em todo o Brasil. Assim, mapas e gráficos, bem como projetores automáticos apresentavam o trabalho das caravanas de cooperadores, percorrendo todo o território nacional; indicavam também o grande número de publicações do material distribuído pelo Serviço de Imprensa da TFP e pela Agência Boa Imprensa.
Abrindo a sessão, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira acentuou que a TFP, há vários anos, promove alguma comemoração no triste aniversário da revolução bolchevista. Aniversário este que "comporta uma oração pelas almas daqueles que faleceram no campo da luta, em defesa da civilização cristã e da Igreja Católica".
Advertiu também ao público que deve ser evitado o "otimismo sistemático, mole e imprevidente" que julga "cada recuo uma condição para a vitória".
Lembrou que o governo de Kerensky na Rússia, precisamente por estar intoxicado desse espírito, capitulou diante de "adversários que não temiam lutar, que previam o perigo, que avançavam: os bolchevistas".
O Cel. Antonio Erasmo Dias, no início de sua exposição, referiu-se à tradução inglesa da obra prefaciada pelo Cardeal Arns, na qual se apresenta de modo unilateral e demagógico a situação socioeconômica da população paulistana.
O orador, após referir-se à Revolução de 1964, fez um histórico de importantes lances do movimento subversivo em nossa Pátria, a partir dessa data.
Tendo enfrentado a escalada terrorista e mantido contato pessoal com diversos subversivos, observou que para estes assassinatos é justiça, e roubo é considerado expropriação.
O orador foi chefe da operação contraguerrilha do Vale do Ribeira, no início da década de 70, e nesta qualidade relatou o pseudojulgamento de um tenente da Polícia Militar, efetuado pelos terroristas, e sua morte brutal, ocasionada por coronhadas.
Encerrando a sessão, o Presidente do Conselho Nacional da TFP ressaltou que, apesar da grave conjuntura em que se encontra o País, deve-se ainda confiar na fibra anticomunista do Brasil, que se patenteou em 1964. E para comprovar esse sentimento do povo brasileiro, lembrou a favorável aceitação das publicações da TFP, vendidas pelas caravanas de cooperadores da entidade em todos os quadrantes do País. E, além disso, o auxílio oferecido com simpatia, nas mais diversas localidades, aos jovens caravanistas que, há vários anos, percorrem o vasto território nacional.
Finalizando, ressaltou que Nossa Senhora de Fátima, cuja imagem presidia a sessão, apareceu em 1917 na Cova da Iria, prevenindo o mundo contra os castigos que adviriam. Seu aviso profético foi feito poucos meses antes que os bolchevistas galgassem o poder na Rússia.
A maneira de enfrentarmos o perigo comunista atual é alimentarmos o espírito de previsão e de fé. Uma fé profunda — acentuou o pensador católico — a qual fará com que "quaisquer que sejam as provações futuras, estas não toldarão em nossos olhos a perspectiva de vitória. E é rumo a essa vitória que todos caminhamos com passo resoluto e a alma cheia de fé".
O auditório do Hotel Hilton foi pequeno para conter o numeroso público que compareceu à conferência organizada pela TFP
Continuação
povos ocidentais. O pêndulo já se move para o outro extremo.
É nesse quadro que devemos considerar, por exemplo, a revolução da Sorbonne, de maio de 1968, com seus "slogans", como por exemplo — "A imaginação tomou conta do poder". Foi uma tentativa de tornar incandescente a utopia que vivia na mente dos franceses. Fracassou em seus objetivos imediatos, mas permaneceu — numa parte recôndita da alma daqueles mesmos que a combateram, movidos pelos seus interesses pessoais e não por princípios católicos — como um marco de algo a ser atingido no futuro.
Nesse contexto, se inserem os movimentos ditos da juventude, como o dos "hippies" — já um tanto envelhecido — e o atualíssimo dos "punks". Uma nova missiologia no campo católico procura apresentar a sociedade indígena — não como ela é, mas como a Revolução deseja que ela seja imaginada — como o ideal a ser atingido pela humanidade (1).
Também o terrorismo, tipo "Brigadas Vermelhas", representa em nossos tristes dias, o papel que o anarquismo representou em fins do século passado.
É para levar os homens à implantação dessa utopia — ou seja a IV Revolução, como tão bem a situa e tão brilhantemente a descreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — que as forças revolucionárias mais se empenham nos dias de hoje. É ela o paroxismo para o qual tendiam as três revoluções anteriores: Protestantismo, Revolução Francesa e Comunismo.
Jogar-se na contradição de uma tal utopia implica numa tão radical negação de Deus, que poderia parecer algo além da maldade humana. Em vista disso, cabe a pergunta: até que ponto não divisamos nesse espantoso processo "as fulgurações enganosas, o cântico a um tempo sinistro e atraente, emoliente e delirante, ateu e fitichisticamente crédulo com que, do .fundo dos abismos em que eternamente jaz, o príncipe das trevas atrai os homens que negaram a Igreja de Cristo?" (2).
Aquela que sozinha esmagou todas as heresias, a Virgem Santíssima, conceda-nos o discernimento para constatar que apenas a doutrina católica, retamente entendida — hoje por tão poucos ensinada — constitui o caminho, afastado de todas as utopias, que conduzirá os homens para o Reinado do Imaculado Coração de Maria. Época esta predita por Nossa Senhora na aparição de Fátima, em 1917, quando afirmou: "Por fim, meu Imaculado Coração triunfará".
(1) Cfr. "Tribalismo Indígena — ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI", Plinio Corrêa de Oliveira, "Catolicismo" n.° 323/324, nov./dez. de 1977.
(2) "Revolução e Contra-Revolução", 20 anos depois", Parte III de "Revolução e Contra-Revolução", Plinio Corrêa de Oliveira, "Catolicismo", n.o 313, janeiro de 1977.
Entre a Normandia e a Bretanha, num lugar muito distante, habitava um senhor de grande renome. Perto do mar, ele possuía um castelo fortificado, tão bem guarnecido e defendido, que não temia nem Rei, nem conde, nem duque, nem príncipe, nem visconde. Este senhor era de grande estatura e de belo porte, vaidoso, rico de haveres e de alta linhagem. Entretanto, mostrava-se cruel, desleal, orgulhoso, não temendo a Deus nem aos homens. Espalhava o terror pelas regiões circunvizinhas. Emboscava-se junto aos caminhos, para aí matar os peregrinos e destroçar os mercadores. Não observava jejum, não fazia abstinência, não assistia à Missa, nem ouvia sermão. Não se conhecia homem que fosse tão mau.
* * *
Numa Sexta-Feira Santa, tendo-se levantado de bom humor, bradou a seus cozinheiros:
- Aprontai-me a presa que ontem cacei, pois hoje quero almoçar mais cedo.
Seus vassalos, ouvindo isto, exclamaram:
- Hoje é Sexta-Feira Santa, Senhor, todos jejuam. E vós quereis comer carne? Crede-nos, Deus acabará por vos punir!
- Até que tal aconteça, terei enforcado e roubado muita gente!
- Estais seguro de que Deus tolerará mais isto? Vós devíeis, sem nenhuma demora, vos arrepender, implorar perdão e chorar por vossos pecados. Em um bosque vizinho habita um Padre-eremita, varão de grande santidade. Vamos até lá e nos confessemos.
- Confessar-me? Aos diabos! Só iria até lá se ele possuísse algo que eu pudesse roubar.
- Vinde ao menos fazer-nos companhia.
- Por vós, concedo em ir. Mas por Deus nada farei!
E puseram-se a caminho.
* * *
Chegando à ermida, na floresta solitária e quieta, os vassalos entraram na morada do santo varão. Seu senhor, porém, continuou do lado de fora, montado em seu cavalo.
Os cavaleiros confessaram-se o mais sincera e brevemente que puderam. Em seguida, rogaram ao eremita:
— Senhor, nosso amo está lá fora. Por Deus, chamai-o, e convencei-o a se confessar!
Apoiando-se em seu bastão, saiu o eremita de encontro ao cavaleiro.
- Sede benvindo, Senhor. Visto que sois cavaleiro, deveis ser cortês. Desmontai, e vinde falar comigo.
- Falar convosco? Por que diabos? Falar de quê? Não temos nada em comum! Estou com pressa, e quero ir logo embora.
- Entrai, e conhecei minha capela e minha morada.
- Céus, resmungou aborrecido o cavaleiro, que péssima ideia tive hoje de levantar-me cedo e de vir até aqui! E muito a contragosto, desceu de seu cavalo. O eremita, tomando-o pelo braço, conduziu-o à capela. E diante do altar, disse-lhe:
— Senhor, considerai-vos meu prisioneiro. Matai-me, se quiserdes, mas daqui não escapareis sem antes ter-me contado todos os vossos pecados.
Fora de si, o cavaleiro fixa o eremita tão furiosamente, que este se sente invadido pelo medo.
- Não contarei nada! — retruca peremptório o cavaleiro. Não sei o que me impede de vos matar!
O santo eremita arrisca-se ainda uma vez:
- Irmão, dizei-me um só pecado, que Deus vos ajudará a confessar os demais.
- Diabos! Vós não me dareis sossego? Já que é assim, eu farei! Mas de nada, de nada me arrependerei.
E com grande arrogância contou de um só fôlego todos os pecados de sua turbulenta vida.
Com o coração partido ao ver tal falta de arrependimento, o eremita se pôs a chorar. E tentou ainda uma vez:
- Senhor, dai-me pelo menos o consolo de sujeitar-vos a uma penitência!
- Penitência? Caçoais de mim? Que penitência dar-me-eis?
- Para pagar vossos pecados, jejuareis todas as sextas-feiras, durante três anos seguidos.
- Três anos! Estais louco? Jamais!
- Então, um mês...
- Também não!
- Ireis a uma igreja e direis ali um Padre-Nosso e uma Ave-Maria.
- Para mim seria enfadonho, e, ademais, tempo perdido.
- Pelo amor de Deus Todo Poderoso, pegai pelo menos este barrilzinho, enchei-o no regato próximo, e trazei-o de volta para mim!
- Como isto não me custa tanto, e sobretudo para ficar livre de vós, concedo. Só descansarei depois de devolvê-lo cheio. Nisto empenho minha palavra.
* * *
O cavaleiro estabanadamente dirigiu-se à fonte e de um só golpe afundou na água o barrilzinho. Neste não penetrou uma gota sequer! Tentou novamente, de um jeito, de outro, mas nada! O barril continuou vazio.
- Por Deus! — exclamou. O que significa isto? E outra vez introduziu na água, sem melhor resultado. Intrigado e rangendo os dentes de raiva, levantou-se de um salto e dirigiu-se à ermida.
- Por todos os santos que estão no Céu, vós me metestes numa enrascada com o diabo desse barril enfeitiçado! Não consigo meter-lhe dentro nem uma gota d'água.
O eremita ouviu-o, e depois lamentou:
- Senhor, que triste estado é o vosso! Uma criança tê-lo-ia trazido transbordando. E vós... vós não conseguistes que nele entrasse uma gota! Isto é um sinal de Deus, por causa de vossos pecados.
- Pois eu vos juro — disse o cavaleiro num assomo de cólera e de orgulho — que não lavarei minha cabeça, não farei a barba, nem cortarei as unhas, enquanto não cumprir minha palavra. Mesmo que tiver de dar a volta ao mundo, eu encherei este barril!
* * *
E assim partiu o cavaleiro, o barrilzinho preso ao pescoço, sem levar consigo senão a roupa do corpo, nem dispor de outra escolta que Deus. Em todos os regatos que encontrava, experimentava encher o pequeno tonel, mas sempre em vão.
Caminhava sem cessar, quer fizesse frio ou calor, por vales e montanhas, por sarças e espinhos, os quais lhe rasgavam a carne e faziam correr-lhe o sangue.
Seus dias eram penosos, e as noites ainda piores. Premido pela fome, viu-se obrigado a mendigar. Jejuava, por vezes, dois ou três dias inteiros, sem conseguir uma côdea de pão velho para matar a fome. Tinha de suportar as chacotas e os insultos, e nem sempre encontrava onde se hospedar.
As pessoas desconfiavam dele, vendo-o tão grande, tão forte, tão rude e já curtido pelo sol. Por isso, temiam recebê-lo. Numerosas vezes teve que dormir ao relento.
E andava assim, sem que ninguém conseguisse diminuir-lhe o orgulho, nem abrandar, por pouco que fosse, seu miserável coração. Peregrinou pela França e pela Itália, pela Espanha e Alemanha, pela Hungria e Inglaterra. Não houve país que não tivesse visitado, nem águas onde não houvesse experimentado encher o barrilzinho, sempre sem resultado.
Tanto andou, tanto andou, que aos poucos foi definhando. Ninguém o reconhecia: cabelos desgrenhados, corpo esquelético, olhos afundados dentro das órbitas, veias à flor da pele. Ficou tão fraco que necessitava de um bastão para apoiar-se. O barrilzinho lhe pesava enormemente, mas ele o trazia sempre amarrado ao pescoço.
Ao cabo de um ano de fracassos, ele decidiu voltar à ermida. Foi uma dura viagem, mas ele aí por fim chegou, justamente na Sexta-Feira Santa.
* * *
O eremita não o reconheceu. Porém, ao notar o barrilzinho, perguntou-lhe:
- Caro irmão, o que vos trouxe aqui? Quem vos deu este barrilzinho? Há um ano entreguei-o a um belo cavaleiro. Ignoro se está vivo ou morto, pois não voltou mais aqui.
Ao que o outro respondeu, enraivecido:
- Esse cavaleiro sou eu, e este é o estado em que me colocastes! E contou ao eremita toda sua aventura, sem dar, entretanto, nenhuma mostra de arrependimento.
O santo homem tudo escutou, e indignou-se com tanta dureza de coração:
- Vós sois o pior dos homens! Um cão, um lobo, ou outro animal qualquer teria enchido esse barril.
Ah! vejo bem que Deus não aceitou vossa penitência, porque a fizestes sem vos arrepender!
E pôs-se a chorar, vendo o tão lamentável estado daquela alma empedernida:
- Meu Deus, contemplai esta criatura que formastes, e que joga com tanta insânia com a salvação de sua alma. Ah! Santa Maria, implorai misericórdia para este homem. Doce Jesus, se tendes de escolher entre um de nós, descarregai sobre mim a Vossa cólera, mas salvai esta criatura!
O cavaleiro observava perplexo o pranto e a prece do eremita. E pensava, de si para si:
— À vista de meus pecados, este homem, que comigo não tem outro vínculo senão Deus, sofre e chora. Devo ser o pior dos homens, o maior dos pecadores, pois por minha causa ele se abisma e se desola e está pronto ao sacrifício. Ah! Deus, dai-me um grande arrependimento, para que este santo varão possa receber, ao menos, o consolo de minha contrição. Eu Vos peço perdão, Rei de misericórdia, por tudo aquilo de que sou culpado!
E Deus fez nesta alma a Sua obra. O arrependimento foi tão vivo, que comoveu aquele coração tão duro. Seus olhos se turvaram, e uma grossa lágrima lhe rolou pela face, caindo diretamente dentro do barrilzinho, amarrado ao pescoço. Esta única lágrima bastou para encher o barril até os bordos! Era sinal de que Deus lhe perdoava os pecados.
O eremita e o cavaleiro se abraçaram, e ambos choraram de alegria.
- Padre, quero acusar-me novamente, desta vez arrependido, de todos os meus pecados. E assim o fez, sempre chorando, e com grande contrição.
Dada a absolvição, o eremita perguntou ao cavaleiro se ele queria receber a comunhão.
- Sim, meu Pai. Mas apressai-vos, pois, sinto que vou morrer.
Tendo comungado, purificado e limpo estava o cavaleiro. Em sua alma não restava mais qualquer mancha de pecado.
- Meu Pai, fizestes-me toda espécie de bem. Em retribuição, todo meu ser é vosso, e me ponho em vossas mãos. O fim se aproxima, rezai por mim.
O eremita, tomando-o em seus braços, recebeu seu último suspiro. Neste momento a capela encheu-se toda de luz, os anjos desceram, e em cortejo magnífico, levaram aquela alma para o Céu. O eremita, graças às suas virtudes, pôde ver tudo aquilo. Pouco depois, diante do altar restavam apenas, coberto de andrajos, o corpo do cavaleiro... e o barrilzinho.
(*) Sintetizado com base nos livros "Beauté du Moyen Âge", de Régine Pernoud (Ed. Gautier-Languereau, 1971) e "Poetes et Prosateurs du Moyen Âge", de Gaston Paris (Ed. Hachette, 1921).
— "Meu pai, fizestes-me toda espécie de bem. Em retribuição, todo meu ser é vosso... O fim se aproxima, rezai por mim".
Em todos os regatos que encontrava, experimentava encher o barrilzinho, mas sempre em vão.
As pessoas desconfiavam do cavaleiro, vendo-o tão grande, tão forte, tão rude e já curtido pelo sol. Por isso, temiam recebe-lo.
Apoiando-se em seu bastão, saiu o eremita de encontro ao cavaleiro. — "Sede benvindo, Senhor..."