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E JOÃO PAULO II?

Plinio Corrêa de Oliveira

Julgamos oportuno transcrever neste número de "Catolicismo" o presente artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicado na "Folha de São Paulo", em sua edição de 28 de outubro último.

As reflexões do eminente escritor católico sobre a eleição de João Paulo II refletem perfeitamente o pensamento da direção de "Catolicismo" sobre o tema.

Sinto-me muito mais à vontade no atual clima pós-conclave, do que no que sucedeu à eleição de João Paulo I.

I — Ressalvado o respeito devido aos mortos — sobretudo se eclesiásticos, e de tão alta hierarquia como foi João Paulo I — devo dizer, com efeito; que a euforia geral, oriunda do sorriso dele, me deixava algum tanto contrafeito. Pois era um sorriso tão avassalador que varria do espírito público a lembrança dos problemas que de toda parte nos cercam. O que tinha sem dúvida a vantagem de repousar as almas exaustas, e de distender as super-tensas. Mas que, de outro lado, poderia vir a criar uma generalizada despreocupação. Ora, a despreocupação não suprime os problemas, nem os resolve. Muitas vezes até os agrava tragicamente. Pois é a grande adormecedora das sentinelas...

Ora, a eleição para o Pontificado de um Bispo de além cortina de ferro, como João Paulo II, produz um efeito diametralmente oposto.

Ele põe em foco o mais trágico dos problemas contemporâneos, em torno do qual os demais executam sem cessar a sua farândola infernal.

Qual seja esse problema salta aos olhos: deve o mundo dizer sim ou não para o comunismo?

Por isso mesmo, a atmosfera atual é toda de expectativa, ao contrário do que ocorria nos breves e etéreos dias em que Albino Luciani governou a Igreja.

O contraste entre a "desemproblemação" promovida pelo primeiro João Paulo e o jorrar de problemas provocado pelo segundo sugere até uma pergunta, que levanto apenas de passagem. Os psicólogos, os pastores de alma, os peritos em propaganda e os políticos de grande envergadura reconhecem hoje a importância, por vezes decisiva, das ambientações. Não é de se crer que o conclave haja ignorado as qualidades "ambientantes" do risonho Patriarca de Veneza. E as tão opostas, do político preocupado, e cauto, que afloram na fisionomia do Arcebispo de Cracóvia. Pode-se dizer que o primeiro parecia de encomenda para amortecer no espírito público a lembrança dos problemas que o segundo parece de encomenda para avivar. Não é de crer que uma assembleia do porte de um conclave haja subestimado esse contraste. Terá ela mudado bruscamente de política, ao fazer uma segunda escolha tão diversa da primeira? E por que?

As perguntas importantes nunca se apresentam sozinhas. Esta traz pela mão uma outra. A ser escolhido um cardeal polonês, por que foi preferido o menos ilustre deles, quase um desconhecido para o grande público do Ocidente? Por que ficou de lado o Cardeal Wyszynski, o "Cunctator", do qual me ocupei em meu artigo de 24 de agosto p.p.? Será João Paulo II um "Cunctator" também? Ou será um homem afeito a decisões inesperadas e enérgicas?

II — Vejo em torno de mim muito desacordo sobre se João Paulo II vai aproximar o Oeste do Leste, ou se vai combater o Leste para defender o Oeste. Tudo bem pensado, os prognósticos interessam pouco. Pois tanto correm hoje os fatos, que importa mais analisá-los do que prevê-los.

Ora, parece-me que precisamente sobre o critério de análise das eventuais atitudes de João Paulo II face ao mundo comunista, existe no espírito público formidável confusão. Um número incontável de pessoas sabe de modo apenas imperfeito o que é o comunismo. E de modo também imperfeito o que é o catolicismo. Como então aquilatar bem se está na lógica das coisas que um Papa deve ser anti ou pró-comunista?

A tal respeito, esquematizemos o ensinamento tradicional dos Papas:

1. O comunismo é um sistema filosófico que inclui uma noção do universo e do homem. E, em consequência, das relações entre os indivíduos e as sociedades: do modelo da economia, da política e da sociedade.

2. Por sua vez, a doutrina católica, baseada na Revelação, ensina toda uma concepção do universo, das relações entre o homem e a sociedade, de como devem ser a política, a sociologia e a economia regidas pela lei de Deus etc.

3. Sistemas — chamemo-los assim — de tal amplitude, ou se harmonizam em seus mais altos ápices doutrinários, ou são incompatíveis. Está isso na própria lógica interna de um e de outro.

4. Ora, dado que entre os princípios ateus, materialistas e evolucionistas, que são o fundo do cone abismático do comunismo, e de outro lado a crença em um só Deus, puro espírito, perfeitíssimo, onipotente e eterno, e em Jesus Cristo, Homem-Deus, no qual está o mais alto do vértice alcandorado da Religião católica, há contradição total, não pode haver em uma e outra doutrina qualquer ponto de conciliação.

5. Daí se deduz que a única atitude mútua coerente dos adeptos de uma doutrina com os da outra é o embate.

6. Isto tudo é claro para os espíritos lógicos. Mas é mais ou menos nebuloso para um número infinito de espíritos que dormitam agradavelmente nas penumbras das contradições, e para os quais nada é tão desagradável como a lógica, máxime quando levada aos mais claros confins dela.

7. Um católico, ou um comunista, ainda que seja lógico no puro campo da doutrina, pode ser mais ou menos ilógico e acomodatício na apreciação dos fatos. — Na condução de sua política, como será, sob este ângulo, João Paulo II? É a grande questão.

8. O problema é cheio de matizes. Tanto mais quanto, mesmo nos casos em que a lógica leva à luta, esta última pode assumir formas incontáveis. Lutar não significa só atacar rijamente e de frente. Atacar é também colher desprevenido o adversário, desnorteá-lo, confundi-lo, e assim enfraquecê-lo etc. Tudo isso, os comunistas o sabem perfeitamente. E segundo sua máxima de que, na luta de classes, os fins justificam os meios, o praticam também constantemente.

Bem entendido, os católicos sabem que os fins não justificam os meios. Mas o uso dos meios lícitos comporta, também ele, uma considerável gama de destrezas. Nosso Senhor aconselhou que seus discípulos conjugassem a inocência da pomba à astúcia da serpente (Mt. 10, 16).

9. Ora, nas lutas de opinião pública entre as minorias lógicas, a maioria acomodatícia sói constituir uma "terra de ninguém". Vencerá aquela das minorias que souber atrair a maioria.

10. Nessa atração da maioria, está empenhado a fundo o comunismo internacional. Pela ação dos doutores da ilogicidade, postados por ele como mentores das famosas "linhas auxiliares", procura seduzir aos da "terra de ninguém" como uma saída: a) os católicos, recusando embora o ateísmo e o materialismo comunistas; aceitem-lhe os princípios políticos e socioeconômicos; b) os comunistas, em troca dessa aceitação, concedam liberdade de culto à Igreja, desde que esta não ataque o regime socioeconômico comunista. Em suma, no interior da Igreja haveria tolerância e livre curso para o comunismo socioeconômico. E no interior da sociedade civil haveria tolerância e livre curso para a Religião, amputada embora de suas implicações socioeconômicas. Em consequência, o Estado não combateria a Igreja. E esta recomendaria a seus fiéis que colaborassem com o Estado coletivista.

11. E assim chegamos ao ponto sensível. Os Papas até João XXIII ensinaram e agiram de tal forma que todos os católicos sabiam ser impossível tal saída, pois fundamentalmente contraditória com a doutrina e a missão da Igreja. É fato notório que, no decurso dos Pontificados de João XXIII e Paulo VI, a convicção da aliás indiscutível inviabilidade dessa saída se foi apagando no espírito de muitos e muitos católicos. E que não poucos chegaram a afirmar, impunemente, a conciliação entre a Religião católica e o comunismo.

Qual será, nesta matéria, a atuação de João Paulo II? Que reflexo terá, a este respeito, sobre a opinião pública?

A cada dia iremos tendo respostas a isto. Quer ele seja claro, quer seja ambíguo. Pois também a ambiguidade ante o inaceitável pode ser uma forma de aceitação.

Oremos para que a atuação dele encha de clareza os espíritos, de força os ânimos, e de glória a Igreja santa de Deus.


Imagem de Fátima afervora Diocese de Campos

A Imagem Peregrina Internacional de Nossa Senhora de Fátima, que durante o mês de outubro percorreu diversas cidades do norte fluminense, foi conduzida em solene procissão para a Catedral de Campos, onde, no dia 30 de outubro, se encerrou sua visita àquela Diocese.

A Imagem, que nas décadas de 40 e 50 percorreu o mundo, reapareceu aos olhos do grande público em 1972, quando as agências internacionais noticiaram o fenômeno milagroso da lacrimação, ocorrido quando ela se encontrava na cidade norte-americana de Nova Orleans. O Sacerdote que a acompanhava, Pe. Elmo Romagosa, convocou fotógrafos e repórteres para documentarem o fenômeno, o qual não apresentava qualquer explicação natural.

A expressão impressionante do olhar dessa Imagem pode ser notada hoje por qualquer pessoa, e relaciona-se com a mensagem revelada em 1917 aos pastorinhos de Fátima, que visava primordialmente a conversão da humanidade, através da penitência e oração.

Na Diocese de Campos foram percorridas as seguintes paróquias: Bom Jesus do Itabapoana, Varre-Sai, Natividade, Porciúncula, Miracema, Muriaé, São Fidelis, Cambuci, Santo Antonio de Pádua e Cardoso Moreira.

Miracema

Um dos pontos altos da peregrinação foi atingido na cidade de Miracema, pelo fato de ter sido o Vigário dessa Paróquia, Pe. José Olavo Pires Trindade, recentemente atacado por um programa de televisão de âmbito nacional. A solene procissão que percorreu as principais ruas da cidade contou com a participação de milhares de pessoas, tendo à frente o Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mayer, e também a presença de várias autoridades, entre as quais o deputado federal Eduardo Galil, o Cel. Yeddo Bettencourt da Silva, Comandante do 8.° Batalhão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, e o Capitão João Bosco Barbosa, representante do Comandante do 56.° Batalhão de Infantaria.

Em sua alocução pronunciada naquela cidade, D. Mayer afirmou: "Sorrateiramente o comunismo procura dessorar as consciências, desencadear as paixões, procura desviar nosso pensamento do Céu e da virtude, para focalizar fortemente o prazer da terra, o prazer sensual. Vós, meus filhos, tivestes, não faz muito, um exemplo vivo dessa campanha, toda ela voltada contra a Diocese de Campos, contra a Paróquia de Miracema, contra os Padres de Campos. Por quê? Precisamente porque, graças a Deus, nós procuramos manter esta disciplina dos bons costumes, através de uma austeridade de vida, através de uma modéstia no apresentar-se, através do recato que é a salvaguarda de nossas famílias.

"Esta campanha em que procuraram difamar, denegrir, anular esta grande organização que é a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.

"Por quê? Porque a TFP é a maior entidade cívica anticomunista do País. Porque intrepidamente defende nossa Pátria, intrepidamente procura elucidar as consciências, intrepidamente combate o comunismo onde quer que ele se apresente, porque sabe perfeitamente que existe um comunismo difuso, que está precisamente no relaxamento dos costumes, na maneira sensual como os inimigos de nossa Pátria procuram conduzir a sociedade, porque esse é o caldo de cultura com que se alimentam esses inimigos que são os vermelhos!"

Por sua vez, no encerramento da procissão luminosa em Miracema, o Pe. Fernando Areas Rifan sublinhou a relação entre a mensagem de Fátima e a difusão do comunismo no mundo. Apontou como único antídoto contra o credo vermelho a fidelidade às advertências feitas por Nossa Senhora de Fátima, relativas ao temor de Deus, à austeridade de vida e à pureza dos costumes.

Em todas as cidades por onde passou a milagrosa Imagem, verificou-se intenso clima de renovação espiritual, tendo os Sacerdotes sido solicitados a atender grande número de penitentes, muitos dos quais se confessavam pela primeira vez na vida. Formaram-se extensas filas diante dos confessionários, até mesmo à noite.

Os campistas lotaram a catedral durante a estadia da Imagem que chorou em Nova Orleans, verificando-se um afervoramento geral dos fiéis

A Imagem de Fátima entra processionalmente em Campos