GREGÓRIO V. LOPES
Brasileiros de vários quadrantes do País não escondem sua preocupação ante o que consideram um grave perigo para as famílias da nação: a chamada educação sexual nas escolas.
Tal preocupação tem extravasado já o recinto dos lares e despontado, aqui e ali, na secção de correspondência de alguns dos maiores jornais do País. Agravada pelo fato de que certas correntes começam a se movimentar ativamente, com vistas a implantar nas escolas brasileiras o ensino da controvertida matéria.
Não é sem razão que tantas objeções se levantem contra a educação sexual ministrada em estabelecimentos de ensino. Os riscos a que ficam expostos, com tal "disciplina", nossos pequenos compatriotas tornam-se patentes mediante a análise do temário desenvolvido em recente Congresso realizado na capital paulista.
E não levará muito tempo para que numerosíssimos pais se encontrem em face de um angustioso problema: até que ponto podem permanecer tranqüilos com a educação moral recebida por seus filhos nas escolas do Brasil?
Realizou-se em São Paulo, em novembro do ano findo, o I Congresso Nacional de Educação Sexual nas Escolas, aberto oficialmente pelo Secretário da Educação daquele Estado, com cerca de 1500 participantes — "mulheres em avassaladora maioria" —, entre os quais "sexólogas", psicólogas e professoras. O Congresso visou lançar as bases e criar o clima psicológico para uma futura implantação desse tipo de ensino nas escolas.
Algumas das afirmações feitas durante o Congresso nos permitem entrever o rumo que se quer imprimir à exposição da delicada matéria.
Uma "sexóloga" — denominação até há pouco inusitada —, apontou, em palestra, o caminho a seguir: "A educação sexual permitirá o conhecimento real da vida, livre dos tabus".
O que são esses tabus que impedem o conhecimento da vida? Todos nós estamos fartos de ouvir certo tipo de propaganda da imoralidade que rotula impudentemente de tabus normas cristãs de vida: a proibição de assassinar as crianças que começam a formar-se no ventre materno (aborto), a guarda da virgindade até o casamento, a proibição do uso de pílulas e outros meios de impedir a concepção, a condenação da homossexualidade, e outras.
Não sabemos se da concepção de tabu, referida pela conferencista, está excluída alguma das referidas normas cristãs que opõem dique à imoralidade. O que sabemos é que a tão trombeteada libertação dos tabus em matéria moral costuma ser a negação de princípios católicos. E que, portanto, expressões genéricas como essa — livre dos tabus - vão preparando as mentes, trabalhadas por uma propaganda francamente imoral, para aceitarem uma educação sexual que dê livre curso às tendências mais desordenadas da criatura humana.
Uma "orientadora educacional" voltou à carga ao afirmar que se objetiva "acabar com o clima de tabus, de informações distorcidas, e, principalmente, com o grande número de alunas grávidas".
Note-se que não se trata de criar, através de uma sã educação para a castidade, um clima propício ao desabrochar da pureza entre as alunas. Trata-se de ensiná-las a evitar a gravidez. Para que possam entregar-se mais comodamente à luxúria? Não se caminha, com essa orientação, na direção exatamente oposta à do ensino católico, que floresceu em admiráveis exemplos para a juventude, como Santa Maria Goretti?
Outra conferencista defendeu a necessidade de "mostrar que a sexualidade está ligada ao gostoso, ao prazer". E afirmou que "o único critério para se saber o que é bom em matéria de sexo é saber o que é bom para você". Total ausência, portanto, de princípios morais objetivos. A oradora também falou contra a manutenção dos "mitos sobre a sexualidade".
Um menino ou uma menina que venham a ser educados segundo tais princípios, que tipo de jovens serão amanhã?
É sintomático que entre os presentes ao encontro não faltaram "críticas à proibição de filmes, livros e peças teatrais, por parte do Governo". Mais um sinal da orientação que terá a educação sexual, pois é notório que o princípio segundo o qual tais filmes, livros e peças teatrais podem ser proibidos é o de evitar a corrupção, especialmente da juventude.
Uma expositora defendeu a tese de que a moral deve ser apenas pessoal. O que equivale à ausência de verdadeiras regras morais. Pois, ou estas se baseiam em princípios gerais de valor universal ou é ridículo falar em moral.
Sigamos suas afirmações. Ao discorrer sobre o que denominou "moral humanística", definiu-a como sendo "não uma moral imposta com regras de fora, mas uma moral que venha de dentro do indivíduo, de modo que a pessoa saiba usar bem o sexo, ou melhor a sexualidade, através de escolhas livres e conscientes, mas sem normas fixas". E, a seguir, fez uma observação desconcertante e que causa espanto: "O importante é aprender a não se machucar e não machucar o outro".
O ensino, para essas conferencistas, parece consistir em desinibir completamente as crianças, inculcando-lhes que nessa matéria nada é pecado e destruindo qualquer noção de pudor e recato. É ao menos o que parece deduzir-se desta afirmação a respeito dos adolescentes: "É necessário livrá-los de associações negativas que ligam o sexo à vergonha, ao pecado e ao sentimento de culpa".
Ora, como ensina a doutrina católica, não se trata de ligar o sexo ao pecado, mas sim de ensinar que o pecado nessa matéria consiste em utilizar-se das faculdades próprias ao sexo fora das regras morais sintetizadas no 6.° e 9.° Mandamentos da Lei de Deus: "Não pecarás contra a castidade" e "Não cobiçarás a mulher do próximo".
Não foram só mulheres que falaram, embora elas tivessem preponderado. Também compareceu ao Congresso um conferencista norte-americano, Sol Gordon. Este apresentou como exemplo de bom êxito da educação sexual os países escandinavos que "nos últimos cinco anos registraram uma redução drástica da gravidez, doenças venéreas e também decréscimo de crimes sexuais".
Fica aqui claro o que se considera como sucesso da tal educação. Não é nem de longe um aperfeiçoamento moral ou espiritual daqueles a quem é impingida, mas sim a aquisição de um certo nível de esclarecimento científico para que as pessoas possam satisfazer à vontade seus instintos, sem arcar com os ônus da gravidez e os incômodos que dela decorrem, e sem o risco de contrair doenças venéreas ou envolver-se em crimes. Caminho desimpedido, pois, para o amor livre.
Gordon, para quem a criança deve começar a ser sujeita a esse processo aos seis anos de idade, diz que "é perfeitamente normal não se casar virgem, manter relações sexuais e gostar disso".
É notória, durante todo o Congresso, a insistência no aspecto gozo, como se homem e mulher estivessem neste mundo primordialmente para desfrutar dos prazeres da carne. E não fossem seres espirituais com um destino eterno, tendo árduos deveres a cumprir nesta terra de exílio.
Para Gordon "a única coisa considerada anormal, em termos de sexo, é reprimir pensamentos, fantasias, sonhos". Ou seja, exatamente o oposto do que ensina a Igreja sobre os efeitos do pecado original, que precisam ser combatidos para a prática da virtude.
O orador norte-americano não trepidou em vaticinar: "A grande e única esperança do Brasil é que as mulheres fiquem mais instruídas, controlem a própria fertilidade".
Esse arauto da educação sexual fez outra afirmação muito grave, tendente a acarretar a desunião dos lares. Após dizer que os maridos deveriam exercer as tarefas domésticas, aconselhou às mulheres presentes: "Se eles se recusarem a preparar o jantar, não preparem o jantar para eles amanhã; e se eles a abandonarem, não vão procurá-los. Se vocês não estiverem num beco sem saída, ainda terão muitas opções".
Essa é a educação sexual que desejam impingir a nossas crianças. Se ela vingar, a família, já atingida a fundo pela atual ofensiva da imoralidade, acabará por se desintegrar, tornando-se fácil presa do comunismo internacional.
Se os propugnadores da educação sexual conseguirem impor, nos estabelecimentos de ensino, tal programa, ter-se-á delineado uma terrível escolha para os pais: impedir os filhos de irem às escolas, ou sujeitá-los às gravíssimas consequências de uma formação contrária à Lei natural e à Lei de Deus.
Que a Mater Castíssima, Mãe de Deus e nossa, proteja as crianças brasileiras contra essa investida desagregadora que ameaça suas inocências.
Professor norte-americano Sol Gordon, arauto da educação sexual nas escolas
NOTA: As citações deste artigo foram extraídas dos jornais "Folha de São Paulo", de 7 e 8/ 11/ 78; "O Estado de S. Paulo", de 7/ 11/ 78; "Jornal da Tarde", de 10/ 11/ 78; e revista "Visão", de 27/ 11/ 78.
MURILLO GALLIEZ
Um dos argumentos mais utilizados pelos corifeus e entusiastas de uma educação sexual precoce, pública, mista e compulsória é a de que ela vai fornecer aos meninos e meninas os conhecimentos necessários para que mais tarde saibam conduzir-se convenientemente nesta matéria, evitando um desregramento de vida fruto de informações provindas de colegas mal-intencionados ou mal preparados.
Entretanto, bem outro parece ser o resultado de uma "educação sexual" assim conduzida. Daremos dois exemplos de situações em que ela é invocada diretamente como causa.
Segundo notícia publicada no "Deutsche Tagespost" de 13/10/76 e transcrita em "Chiesa Viva" de Brescia (Itália), de fevereiro de 1977, os dados estatísticos abaixo relacionados constam de um livro editado pelo Ministério da Saúde da Suécia. São eles:
- A partir de 1956 foi instituída nas escolas da Suécia a educação sexual.
De 1956 a 1972 a gravidez em menores de 14 anos aumentou 900%.
- Em 1973 houve 681 partos em meninas de 14 a 16 anos.
- De 1968 a 1974 o aborto em meninas de 15 anos aumentou em 200%.
- De 1973 a 1974 os delitos por homossexualidade entre menores de 15 anos duplicaram.
- De 1950 a 1972 as doenças venéreas entre menores de 14 anos aumentaram em 900%.
* * *
A publicação "Cavaleiro da Imaculada" de Lisboa, de 25/ 5/ 78, comentando os frutos das aulas de educação sexual na Alemanha, refere os seguintes dados: "Assim, na Baviera, o número de alunas grávidas entre os 13 e 15 anos, com esta aula famosa, aumentou 23%. No começo do ano letivo 73/74 esperavam bebês 49 alunas do curso primário, 150 do secundário e 2 mil das escolas profissionais".
Alguns dados sobre a decadência moral nos Estados Unidos, embora sem citar diretamente a educação sexual como causa, deixam transparecer a influência que ela pode ter exercido para que se chegasse a esta situação.
A edição de 17/5/78 do "Diário Las Américas", publicado em Miami (Estados Unidos), apresenta os seguintes elementos referentes à Flórida:
"Os nascimentos ilegítimos continuam aumentando na Flórida. O relatório do Departamento de Saúde e Serviços de Reabilitação afirma que o número de nascimentos de mães solteiras é de 21.191, 20,3% do total de nascimentos no Estado, em 1976. Muitos nascimentos ilegítimos foram evitados mediante o aborto que atingiu o número de 37.340 em 1976. Entre as mães solteiras de 15 a 19 anos o número de nascimentos passou de 20,8% em 1960 para 48,1% em 1976".
Por sua vez, o "New York Times" em sua edição de 31/ 1/ 78, no artigo "1976 survey finds teenage frequency rose 33% in 5 years" por Jane E. Brody, oferece os seguintes dados:
Cerca de 10% das moças brancas entre 15 e 19 anos teve uma gestação pré-matrimonial, o que representa um aumento de 1/3 em relação a 1971. O uso de contraceptivos entre jovens desta idade quase dobrou em relação a 1971. Numa pesquisa realizada em cerca de 10 milhões de moças de 15 a 19 anos, aproximadamente 4 milhões tinham tido experiências pré-matrimoniais e mais de um milhão tinha engravidado uma ou mais vezes; destas, 45% haviam recorrido ao aborto.
Pode-se objetar que nas duas últimas notícias a educação sexual não está explicitamente responsabilizada. É significativo porém, que os dados que elas apresentam coincidam com aqueles em que ela é apontada e também com a época em que tal "educação" foi sendo introduzida nas países mais "avançados" do mundo ocidental.
JÚLIO DE ALBUQUERQUE
Estando o tema da educação sexual na ordem do dia - quase como obsessão para certo tipo de publicações e de pessoas ligadas a problemas pedagógicos —"Catolicismo" julgou oportuno apresentar a matéria a seus leitores, tendo em vista uma reta orientação a respeito da mesma, sob diversos ângulos. Entretanto, como é natural, todos eles se baseiam na doutrina perene da Igreja sobre o assunto. Em vista disso, expomos, de início, os meridianos princípios doutrinários sobre educação sexual defendidos pelo Magistério Eclesiástico, desde várias décadas até nossos dias. Todos os negritos que figuram nos documentos abaixo foram inseridos pela Redação, a fim de ressaltar as partes mais importantes dos textos citados.
Em sua Encíclica "Divini Illius Magistri", sobre a educação cristã da juventude, Pio XI, após condenar o naturalismo pedagógico, faz sérias advertências a respeito da educação sexual. Diz o Pontífice:
"É falso, portanto, todo o naturalismo pedagógico que, na educação da juventude, exclui ou menospreza por todos os meios a formação sobrenatural cristã; é também errado todo o método de educação que, no todo ou em parte, se funda sobre a negação ou esquecimento do pecado original e da graça e, por conseguinte, unicamente sobre as forças da natureza humana".
E mais adiante acrescenta o Papa:
"Mormente perigoso é, portanto, aquele naturalismo que, em nossos tempos, invade o campo da educação em matéria delicadíssima como é a honestidade dos costumes. Assaz difuso é o erro dos que, com pretensões perigosas e más palavras, promovem a chamada educação sexual, julgando erradamente poderem precaver os jovens contra os perigos da sexualidade com meios puramente naturais, tais como uma temerária iniciação e instrução preventiva, indistintamente para todos e até publicamente e, pior ainda, expondo-os por algum tempo às ocasiões para os acostumar, como dizem, e quase fortalecer-lhes o espírito contra aqueles perigos.
"Estes erram gravemente, não querendo reconhecer a natural fragilidade humana [...], e desprezando até a própria experiência dos fatos a qual atesta que, nomeadamente nos jovens, as culpas contra os bons costumes são efeito não tanto da ignorância intelectual quanto, e principalmente, da fraqueza da vontade, exposta às ocasiões e não sustentada pelos meios da Graça.
"Se, consideradas todas as circunstâncias, se torna necessária, em tempo oportuno, alguma instrução individual acerca deste delicadíssimo assunto, deve, quem recebeu de Deus a missão educadora e a graça própria desse estado, tomar todas as precauções conhecidíssimas da educação cristã tradicional" ("Sobre a Educação Cristã da Juventude", Coleção Documentos Pontifícios, n.° 7, pp. 25 e 27, Ed. Vozes, Petrópolis, 1950).
* * *
Em seu cuidado de preservar a juventude dos perigos a que se expõe por uma educação mal conduzida, Pio XI vai mais além, condenando também as chamadas escolas mistas, ou seja, as que admitem alunos de ambos os sexos:
"De modo semelhante, errôneo e pernicioso à educação cristã é o chamado método da "co-educação", baseado também para muitos no naturalismo negador do pecado original e ainda, para todos os defensores deste método, sobre uma deplorável confusão de ideias que confunde a legítima convivência humana com a promiscuidade e igualdade niveladora. [...] não há na própria natureza, que os faz diversos no organismo, nas inclinações e nas aptidões, nenhum argumento donde se deduza que possa ou deva haver promiscuidade na formação dos dois sexos. Estes, segundo os admiráveis desígnios do Criador, são destinados a completar-se mutuamente na família e na sociedade, precisamente pela sua diversidade, a qual, portanto, deve ser mantida e favorecida na formação educativa, com a necessária distinção e correspondente separação, proporcionada às diversas idades e circunstâncias " (Doc. cit., p. 28).
Em sua Encíclica "Casti Conubii", sobre o matrimônio cristão, o mesmo Pontífice, abordando ainda o tema da educação sexual, já agora em seu aspecto de preparação para o casamento ou de instrução para os já casados, faz a seguinte advertência:
"Mas esta sã instrução e educação religiosa acerca do matrimônio cristão estará bem longe daquela exagerada educação fisiológica, com que em nossos dias certos reformadores da vida conjugal dizem vir em auxilio dos esposos, gastando com estas coisas fisiológicas muitas palavras, com as quais, no entanto, se aprende mais a arte de pecar habilmente do que a virtude de viver castamente" ("Sobre o Matrimônio Cristão", Coleção Documentos Pontifícios, n.° 4, Ed. Vozes, Petrópolis, 1951, p. 48).
Outro importante documento sobre a matéria, considerado mesmo um complemento da "Divini Illius Magistri", é o Decreto da Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício de 21 de março de 1931, publicado durante o pontificado de Pio XI, e que responde a uma consulta sobre educação sexual. Contém ele as seguintes recomendações:
"É absolutamente preciso, na educação da juventude, seguir o método até agora empregado pela Igreja e pelos homens de virtude, e recomendado pelo Santíssimo Senhor Nosso na Carta Encíclica sobre "A Educação Cristã da Juventude", datada de 31 de dezembro de 1929. A saber, é preciso cuidar em primeiro lugar de uma formação religiosa da juventude de ambos os sexos, plena, firme e sem interrupção; é preciso excitar na juventude uma estima, desejo e amor da angélica virtude; e, acima de tudo, inculcar que seja constante na oração, assídua nos Sacramentos da Penitência e da SSma. Eucaristia, que tenha uma contínua e filial devoção à Bem-aventurada Virgem Maria, mãe da santa pureza, e que à sua proteção totalmente se consagre; evite cuidadosamente as leituras perigosas, os espetáculos obscenos, a conversação dos maus e quaisquer outras ocasiões de pecar".
Depois de dar esses conselhos, para indicar como se deve orientar a juventude em matéria de sexo, censura aquela Sagrada Congregação os livros que propugnam o método de educação sexual, escritos alguns até mesmo por autores católicos (A.A.S., 23, p. 118, apud "Por um Cristianismo Autêntico", de D. Antonio de Castro Mayer, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1971, pp. 86 e 87).
Em sua Alocução às Mulheres da Ação Católica, no dia 26 de outubro de 1941, Pio XII apresenta sábias e preciosas diretrizes aos pais de família sobre a orientação sexual que devem ministrar a seus filhos:
"Vós inspirareis [aos filhos] alta estima e acendrado amor pela virtude da pureza, indicando-lhes como guarda segura a materna proteção da Virgem Imaculada. Vós, enfim, com vossa perspicácia de mãe e de educadora, graças à fiel abertura de alma que tiverdes sabido infundir em vossos filhos, não deixareis de perscrutar e de discernir a ocasião e o momento, em que certas questões delicadas se apresentam a seu espírito, em razão de perturbações especiais dos sentidos. Caber-vos-á então a vós, para vossas filhas, ao pai para vossos filhos — na medida em que julguem necessário — levantar, cautelosamente, o véu da verdade, e dar uma resposta prudente, justa e cristã a tais questões e inquietudes.
Recebam-no de vossa autoridade de pais cristãos, no momento oportuno, na oportuna medida, com todas as devidas cautelas; e as revelações sobre a misteriosa e milagrosa lei da vida serão ouvidas num misto de respeito e gratidão; suas almas se esclarecerão com muito menos perigo do que se o aprendessem ao acaso, por meio de encontros indignos, em conversas clandestinas, na escola, de companheiros de pouca confiança e que já sabem demais sobre o assunto, por intermédio de leituras às ocultas, tanto mais perigosas e perniciosas quanto mais o segredo inflama a imaginação e excita os sentidos. Vossa palavra, se sábia e discreta, poderá tornar-se uma garantia e uma advertência em meio às tentações da corrupção que os circundam" (A.A.S., Ano XXXIII, Série II, vol. VIII, 1941, pp. 455-456).
Em 18 de setembro de 1951, o referido Sumo Pontífice, numa Alocução aos pais de família, condena a maneira como muitos autores católicos abordam essa matéria, sem a discreção que o assunto pede. E recomenda as mesmas precauções prescritas por Pio XI na Encíclica "Divini Illius Magistri":
"Há um terreno no qual esta educação da opinião pública, e sua retificação, se impõem com uma urgência trágica. Ela se acha, neste campo, pervertida por uma propaganda que não se hesitaria de chamar funesta, se bem que desta vez ela emane de fonte católica, e vise agir sobre os católicos [...].
"Queremos falar aqui dos escritos, livros e artigos, concernentes à educação sexual, que hoje em dia obtém frequentemente enorme sucesso de livraria e inundam o mundo inteiro, invadindo a infância, afogando a geração adolescente, perturbando os noivos e os jovens esposos".
E após censurar severamente o referido tipo de publicações, prossegue Pio XII:
"Essa literatura, se é que a podemos chamar assim, não parece ter em conta alguma a experiência geral de ontem, de hoje e de sempre, porque fundada na própria natureza, experiência esta que dá testemunho de que, na educação moral, nem a iniciação, nem a instrução apresenta em si vantagem alguma, que uma e outra são, pelo contrário, gravemente malsãs e nocivas quando não estão fortemente ligadas a uma constante disciplina, a um vigoroso domínio de si mesmo e ao uso, sobretudo, das forças sobrenaturais, da oração e dos Sacramentos" (cfr. "Catolicismo", n.° 13, janeiro de 1952).
O mesmo Pontífice, em sua Encíclica "Sobre a Sagrada Virgindade", tece ainda uma consideração importante e oportuna sobre o assunto: "Contudo, com frequência demasiada em nossos dias, certos professores e educadores julgam-se obrigados a iniciar as crianças inocentes nos segredos da geração, de uma maneira que lhes ofende o pudor. Ora, nesse assunto tem de se observar a justa moderação que exige o pudor" (Encíclica "Sacra Virginitas", Coleção Documentos Pontifícios, n.° 107, Ed. Vozes, Petrópolis, 2ª. edição, 1960, p. 26).
Outro documento digno de nota sobre o assunto, publicado há um ano apenas, é a enérgica e oportuna "Carta Pastoral sobre a Formação na Castidade de Crianças e Escolares", de autoria de S. Excia. Revma. Mons. Bernard D. Stewart, Bispo de Sandhurst, Austrália, de 2 de fevereiro de 1978 (Cambridge Press, Bendigo, 1978).
Após relembrar o ensinamento tradicional da Igreja sobre a virtude da castidade, o autor chama a atenção para a imutabilidade da lei moral, condenando modernas correntes "teológicas" difundidas por católicos progressistas, como a "moral da situação" e outras que se opõem à teologia moral tradicional.
Censura também movimentos catequéticos e obras teológicas que penetraram em sua Diocese devido à ação dos progressistas.
O Prelado chama a atenção para a maneira séria e delicada com que a Sagrada Escritura, em múltiplas referências, trata de assuntos e problemas ligados a essa matéria.
Ensina a Carta Pastoral de Mons. Stewart: "Onde a terminologia correta é adotada as crianças aprendem a evitar vulgaridades. As palavras e o modo de ser são de grande importância. Desenhos, fotografias, ilustrações são desnecessários" (p. 9).
Sobre educação sexual, afirma o Prelado que os Documentos de Pio XI e Pio XII têm plena validade nos dias de hoje e apresenta diretrizes de orientação sobre o tema:
"Ninguém está em melhor posição que o pai e a mãe para saber quando e em que medida seus filhos estarão preparados para esse conhecimento, tão íntimo e delicado. O próprio crescimento da criança e do adolescente traz uma atenção e uma curiosidade própria sobre assuntos concernentes ao sexo; é um desenvolvimento individual, pessoal. Atento para ele, o progenitor, antes de tudo, deve esclarecer a curiosidade e inculcar a modéstia para acompanhar o conhecimento então adquirido. A instrução em grupo ou padronizada torna-se logo ineficaz ou perniciosa" (p. 17).
E acrescenta Mons. Stewart:
"As escolas devem apoiar os pais. Isto não significa que os professores devam engajar-se em aulas de informação sobre o sexo; de fato, tais aulas devem ser proibidas. Mas significa que a escola deve incentivar uma atmosfera de modéstia, pureza e castidade" (p. 17).
E mais adiante observa: "Devemos tomar a sério o dever e o privilégio de ajudar meninos e meninas a se tornarem homens e mulheres castos" (p. 18). Em outro trecho acentua que "a Igreja Católica ainda sustenta sua doutrina tradicional, e sua formação tradicional na castidade" (p. 19).
E, muito oportunamente, o Prelado lembra aquelas palavras terríveis de Nosso Senhor: "Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que creem em Mim, melhor seria que fosse afogado no mar com uma pedra de moinho atada ao pescoço" (Mt. 18, 6; p. 18).
Pio XI: A educação sexual, com que certos reformadores da vida conjugal dizem vir em auxilio dos esposos, mais ensina "a arte de pecar habilmente do que a virtude de viver castamente".
Pio XII: A educação da opinião pública se acha pervertida por uma propaganda que não se hesitaria de chamar funesta: escritos, livros e artigos, concernentes à educação sexual.