Plinio Corrêa de Oliveira
Neste mês de abril comemora-se a Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ocasião oportuna, pois, a tecer algumas considerações sobre a prisão do Divino Mestre no Horto das Oliveiras.
Narram os Evangelhos que estando Jesus ainda a falar aos Apóstolos no Horto, aproximou-se Judas para entregá-Lo, acompanhado de uma multidão de povo, esbirros armados, escribas e anciãos. Após o beijo da traição de Judas, perguntou Jesus aos que o acompanhavam: "A quem procurais?" — "A Jesus Nazareno", responderam eles. Disse-lhes Jesus: "Sou eu". E São Pedro, tirando da bainha sua espada, cortou a orelha de um servo do Sumo Pontífice chamado Malco.
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Quando foi preso, Nosso Senhor praticou duas ações aparentemente contraditórias, e é sobre isto que queremos meditar.
De um lado, falou tão alto, atroou tanto os ouvidos, que os esbirros caíram por terra. De outro lado, abaixou-se Ele mesmo até o chão, para tomar uma orelha, e a recolocar no lugar. O Mesmo que aterroriza, consola. O Mesmo que fala com voz insuportável para os tímpanos, reintegra uma orelha cortada. Não há nisto, para nós, algum ensinamento?
Nosso Senhor é sempre infinitamente bom, e foi bom quando disse aos que O procuravam, que era Ele Jesus de Nazaré, a Quem queriam, como foi bom quando consertou a orelha de Malco. Se queremos ser bons, devemos imitar a bondade de Nosso Senhor, e aprender com Ele, que há momentos em que é preciso saber prostrar por terra com santa energia os inimigos da Fé, como há ocasiões em que é preciso saber curar os próprios males daqueles que nos fazem mal.
Por que falou Nosso Senhor tão alto, quando respondeu "Ego Sum"? Só para atordoar fisicamente os que O prendiam? Mas para que, se Ele se entregava voluntariamente à prisão? É que Ele falou ainda mais alto a seus corações, do que a seus ouvidos, e se lhes falou tão alto aos ouvidos, não foi senão para lhes falar ainda mais alto aos corações. Não sabemos qual foi o proveito que aqueles homens fizeram da graça que receberam. Mas certamente o temor que sentiram, quando tombaram à voz do Mestre lhes foi salutar como foi salutar a Saulo, quando a mesma voz lhe gritou: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"
Nosso Senhor lhes falou alto aos ouvidos. Prostrou-os por terra. Mas Sua voz que abatia corpos e ensurdecia ouvidos, erguia almas que estavam prostradas, e lhes abria os ouvidos do espírito, que estavam surdos.
Às vezes, pois, para curar é preciso gritar.
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Com Malco, o Divino Redentor procedeu de outra maneira. Quando lhe restituiu a orelha cortada pela fogosidade de São Pedro, Nosso Senhor certamente lhe queria fazer um bem temporal. Mas curando-lhe o ouvido, Nosso Senhor lhe quis sobretudo abrir o ouvido da alma. E Ele mesmo que a alguns curara da surdez espiritual com o estrondejar divino da Sua voz, Ele mesmo curou da mesma surdez espiritual a Malco, dizendo-lhe palavras de bondade, e restituindo-lhe a orelha que perdera.
Vivemos em um século afetado, por certo, pela mais terrível surdez espiritual. Se há época em que os homens ouvem a voz de Deus, é a nossa. Se há época em que contra ela endureçam os corações, é por certo a nossa.
O Divino Mestre nos mostra que, se queremos dissolver em nós e no próximo esta terrível surdez, é Ele só que o pode fazer, e os meios humanos em si mesmos de nada valem.
Nesta ocasião, façamos nosso um pedido que se encontra nos Santos Evangelhos. Quando um cego viu, certa vez, Nosso Senhor, bradou-Lhe "Domine, ut videam!", "Senhor que eu veja!"
Aproveitemos as comemorações da Semana Santa para pedir a Ele que ouçamos: "Domine, ut audiam". Não sabemos, na sabedoria de Sua misericórdia, de que maneira Nosso Senhor curará nossa surdez espiritual. Sangramos como Malco e estamos surdos como os esbirros. Pouco nos importa que Ele queira curar-nos por este ou aquele meio: cumpra-se Sua vontade divina. Fale-nos Ele pela voz terrível das reprovações e dos castigos, fale-nos Ele pela voz branda das consolações, uma coisa sobretudo Lhe pedimos: "Senhor, que ouçamos!"
Que pelo menos nós, católicos, ouçamos plenamente a voz de Nosso Senhor, e que, correspondendo em nossa santificação interior, de modo completo e irrestrito, às graças que Ele nos dá, realizemos dentro de nós aquele pleno reinado de Nosso Senhor, de que os inimigos da Igreja parecem esperançados em arrancar os últimos vestígios sobre a face da terra.
Nosso Senhor prometeu a indestrutibilidade de Sua Igreja, e prometeu que se salvaria toda alma verdadeiramente fiel.
Confortados nessa esperança, meditamos com serenidade as tristezas destes dias de universal conturbação, como as agonias desta Semana da Paixão. Nosso Senhor é o grande Vencedor. Ele vencerá, e com Ele triunfará a Igreja.
A fisionomia do Redentor, detalhe da Prisão DE NOSSO SENHOR NO HORTO DAS OLIVEIRAS, um dos Passos da Paixão esculpidos pelo Aleijadinho em Congonhas, do Campo (MG)
Enquanto se realizava a Assembleia do CELAM em Puebla, no mês de fevereiro, uma suspeita conferência "paralela" tinha curso no luxuoso Hotel del Portal, daquela cidade mexicana. Participaram dessa reunião, promovida pelo Centro Nacional de Comunicação Social (CENCOS) —organismo que pertenceu outrora oficialmente ao Episcopado mexicano — corifeus da chamada "teologia da libertação" e representantes das posições mais "avançadas" do progressismo católico das Américas.
O Pe. Ernesto Cardenal, da Nicarágua, compareceu ao encontro acompanhado por dois guerrilheiros sandinistas. Na foto, o Pe. Cardenal (esq.) com um deles.
Caio de Assis Fonseca, enviado especial de "Catolicismo" a Puebla, descreve na página 6 o ambiente que presenciou na conferência "paralela", bem como as posições doutrinárias mais perplexitantes por ele constatadas durante o insólito congresso.
Eles atacam, saqueiam, espancam, matam... e fogem. A polícia francesa já não ousa enfrentá-los. Mas eles não surgem apenas em Paris. Começam a aparecer também em Estocolmo, Londres e outras capitais. Quem são eles? Dizem-se "autônomos", mas todos os chamam "os quebradores". Sua função, provocar o caos... dirigido. Página 3.