(continuação)

Agitação política agita a esquerda católica

Para melhor entender o alcance desse ato, que constitui como que o ósculo da guerrilha nicaraguense vitoriosa à guerrilha brasileira que está em gestação, basta ter presente o papel de relevo que D. Pedro Casaldáliga desempenha na "esquerda católica" nacional.

Assim, o ósculo da subversão nicaraguense se destinou de imediato à "esquerda católica" brasileira.

Esta parecia, aliás, inteiramente predisposta a recebê-lo. É sintomático que a "Noite Sandinista" se tivesse realizado num teatro cedido pela Pontifícia Universidade Católica, a qual tem por chanceler S.E. o Cardeal D. Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo.

Na coordenação dos trabalhos, um frade cúmplice do terrorismo

É também significativo que tenha sido designado para "coordenar" os trabalhos dessa noite Frei Betto, condenado a dois anos de prisão pela Justiça brasileira por sua participação na guerrilha urbana promovida pelo líder comunista Carlos Marighela. A cumplicidade de Frei Betto e de vários outros frades dominicanos (Sacerdotes e seminaristas) com o malogrado líder guerrilheiro, e a maneira infame como dois deles o traíram, constitui um dos maiores escândalos da História da Igreja no Brasil.

O "segmento político" não arrasta as massas

Como de costume, na América Latina, esse segmento político se mostra radicalmente insuficiente para obter, por si só, a conquista do poder. Bem sucedido em ambientes intelectualóides e de burgueses snobs, não logra verdadeiro apoio nas massas inertes e despreocupadas.

O "segmento religioso" é o fator de vitória

O segmento religioso é que lhes traz esse apoio, por força da tradicional e profunda influência da Igreja nos países de formação ibérica. O fator decisivo da vitória está, pois, no Clero esquerdista.

Influência da Igreja instrumentalizada pelos comunistas

Por isto, a grande pergunta, em função da qual se ordena a análise dos discursos proferidos na "Noite Sandinista", é esta: como pôde suceder que a influência da Igreja tivesse sido de tal maneira instrumentalizada para o êxito do plano comunista?

O depoimento do Pe. Uriel Molina é talvez o mais significativo e importante a tal respeito. Nele se vê como um grupo de jovens que chegaram ao Sacerdócio (o Pe. Uriel, depois de estudos em estabelecimentos conspícuos) constituiu terreno fácil para a pregação revolucionária. O que faz pensar na onda de esquerdismo que tem varridos largas áreas da Igreja nas últimas décadas.

Postos em contato com a subversão que começa a germinar na Nicarágua, os Sacerdotes, em lugar de averiguar, com imparcialidade, até que ponto existem abusos socioeconômicos, para, em seguida, trabalharem no sentido de os sanar segundo os métodos tradicionais da Igreja, pelo contrário envolvem-se com os subversivos e encetam uma caminhada que os levará ao apoio entusiástico (e até marcado por certo complexo de inferioridade) da subversão.

As várias etapas dessa caminhada aí estão historiadas: o choque interior entre a formação tradicional e os pendores para a subversão, as crises de consciência, o encontro com a Teologia da Libertação, os conflitos com a Hierarquia eclesiástica tradicionalista, e, pari passu, o envolvimento cada vez maior com a guerrilha, na qual desfechara a fermentação subversiva inicial.

Verdadeira "guerra santa" em prol do comunismo ateu

A guerrilha, assim vista, toma para o Sacerdote, como para as Comunidades Eclesiais de Base – também elas inteiramente tragadas pela Revolução Sandinista – o caráter de uma verdadeira "guerra santa". O objetivo dessa guerra é, aliás, temporal. Como se verá pelos discursos, visa o bem terreno de massas, real ou supostamente injustiçadas.

Em suma, no caso típico do "sandinismo cristão" se vê uma profunda revolução teológica que deságua na revolução social.

1 . Frei Betto introduz o tema

Frei Betto abre a sessão

Locutor– Para iniciarmos as solenidades e os trabalhos desta noite, chamo a coordenar esta mesa o nosso conhecido e popular Frei Betto (palmas calorosas).

Frei Betto– Bem, em primeiro lugar vocês já perceberam que estão presentes hoje, aqui conosco, os participantes do Congresso Internacional Ecumênico de Teologia, que representam 42 nações do mundo, sendo que a maioria do Terceiro Mundo e todas as nações da América Latina (3), com exceção de Cuba, porque o nosso Governo não mantém relações com o governo cubano (4).

(3) Declaração importante, porque deixa entrever que a esquerda ecumênica no Brasil integra uma imensa articulação internacional.

(4) A única razão alegada para a ausência de Cuba é essa. Num congresso de "libertação", nenhum outro obstáculo há a que se receba como parceiro o representante de um regime sob cujo jugo tirânico (jamais excedido em amplitude de poderes e em truculência de punições, em todo o mundo ibero-americano) jaz todo o povo cubano. O despotismo só é atacado como odioso, nessa sessão, quando é inculpado por ele o regime capitalista. É-se propenso a admitir que a hostilidade do Congresso contra o capitalismo visa muito menos a opressão do que o capitalismo em si.

Homenagem ao regime cubano

Mas, durante todo o Congresso nós fizemos questão de manter uma cadeira com a faixa de Cuba nas sessões do Congresso (palmas calorosas, assobios).

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LEGENDAS:
- D. Paulo Evaristo Arns, Cardeal-Arcebispo de São Paulo, Chanceler da Pontifícia Universidade Católica, cedeu o teatro da PUC para a realização da "Noite Sandinista".

- Frei Betto foi o coordenador dos trabalhos na "Noite Sandinista". Atrás, participantes do Congresso Internacional Ecumênico de Teologia, que reunia delegados de 42 nações.