UM CONGRESSO CERCADO DE SIGILO

São Paulo - Os mais conhecidos defensores latino-americanos da chamada "Teologia da Libertação" reuniram-se durante urna semana em Taboão da Serra, município vizinho de São Paulo. Com sua programação interna cercada do maior sigilo, essa reunião foi rotulada de "Congresso Internacional Ecumênico de Teologia", e contou, segundo os organizadores, com a participação de representantes de 42 países.

Foi vedada a aproximação de qualquer pessoa que não constasse da lista dos convidados, sendo liberados para a imprensa apenas pequenos e sintéticos comunicados. O rigoroso sigilo de que se cercou o Congresso dos "teólogos da libertação" causou estranheza.

Em sessões noturnas no teatro da PUC, em São Paulo, promoveu-se uma comunicação selecionada do "Congresso" destinada sobretudo a padres, religiosos e leigos das Comunidades de Base.

LEGENDA:
- A "Teologia da Libertação" leva a freira a pegar o fuzil ao lado da guerrilheira, na Nicarágua, cuja revolução é agora apresentada como exemplo para toda a América Latina.


CARDEAL APROVA VIAGENS A NICARÁGUA "PARA APRENDER"

Coube ao Cardeal-Arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, na qualidade de presidente-honorário do Congresso Internacional Ecumênico de Teologia, encerrar o ciclo de conferências no TUCA, a 1º de março p.p. Eis suas significativas palavras, na ocasião:

"Como concluir? Não há uma conclusão. A coisa apenas começou. [ ... ]

"Vejam esta pergunta - chega de teologia e vamos à prática: onde estão os grupos que vão para a Nicarágua, para aprender? Eu respondo: sei que, em São Paulo, há grupos se preparando e de malas prontas para partir. Até com a permissão do Arcebispo de São Paulo...

"Agora, não convém encerrar. Não é noite. Estamos na aurora. Vamos agradecer aos mártires aqui na América Latina e no Brasil. Eu recordaria aqui os mártires posseiros e os mártires índios. [. .] Não se trata de uma libertação romântica, mas uma libertação da fome, do mau salário, da favela. Que esta semana seja um compromisso no sangue de Cristo. Importa agora traduzir a palavra num testemunho real" (cfr. "O São Paulo", 7 a 13 de março de 1980).

Na saída do teatro, uma jovem oferecia um produto à venda: – "É um pôster muito bonito. Você não quer levar?" Tratava-se da figura do guerrilheiro "Che" Guevara, a cores, em custosa apresentação gráfica. Preço: 180 cruzeiros.