Nelson Ribeiro Fragelli, nosso correspondente
ROMA — A Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio, às margens do Tibre, é um dos poucos monumentos góticos da cidade. A grandeza de seu estilo e a placidez de seu vulto são realçadas pelo histórico rio, que, entre altos muros de pedra e plátanos seculares, atravessa calmamente a Cidade Eterna. Tanto o estilo gótico quanto as torres, retilíneas, remetem possantemente para o Céu. No velho Tibre, as folhas dos plátanos, coloridas, espalmadas e desprendidas das árvores, desfilam sobre as ondulações da água em irregular cortejo, neste início de outono.
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O rio, o outono e a igreja. A transitoriedade de um curso que não se detém, as folhas que tombam e o gótico que parece subir à imutabilidade do Reino do Céu. Nesse ambiente sugestivo encontrei a igreja, destinada a receber as orações pelas almas do Purgatório. Foi em tal lugar que o Pe. Joet, em 1893, erigiu um primeiro oratório como sede da Associação do Sagrado Coração de Jesus pelo Sufrágio das Santas Almas, que chamadas desta vida, antes de entrarem na bem-aventurança eterna, purificam-se no Purgatório.
Sua obra progrediu. Naquele tempo, rezava-se incomparavelmente mais pelas almas padecentes. Em 1897, sobre o altar da capelinha antecessora da atual igreja, durante um ofício religioso, irrompeu um incêndio. Para muitos fiéis ali presentes pareceu surgir dentre as chamas, junto da parede à esquerda do altar, uma figura na qual reconheceram um rosto padecente. O fato despertou a admiração de todos. E também muito burburinho entre os vivazes romanos. Muito se falou sobre o acontecimento. As autoridades eclesiásticas não se pronunciaram. As conclusões foram deixadas às interpretações de cada um. Inúmeras pessoas se convenceram de que uma alma do Purgatório tinha realmente aparecido entre as chamas. A imagem vislumbrada durante o incêndio ficou retratada na parede com muita nitidez e constitui uma das peças mais tocantes que se pode ver no mostruário-museu da atual igreja. Aquela parede, retirada de seu primitivo lugar, encontra-se hoje na entrada do mostruário.
Essa primeira manifestação atraiu a atenção de toda a Europa. Soube-se então que sinais da mesma natureza haviam aparecido em outros países. E fiéis de quase todas as nações europeias começaram a afluir à Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio. Assim é que, entre muitos prodígios ali expostos, encontra-se a marca de fogo que deixou o defunto Joseph Schutz, tocando com a extremidade dos cinco dedos da mão direita o livro de oração de seu irmão Georg, em 21 de dezembro de 1838, numa cidade da Lorena.
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Outra marca de fogo, também feita com a mão, chamou-me particularmente a atenção. Foi deixada em uma mesa de trabalho bem como no tecido da manga da túnica e na camisa da Venerável Madre Isabella Fornari, Abadessa das Clarissas de Todi. São quatro marcas: uma da mão esquerda com o sinal da Cruz sobre uma pequena mesa; uma segunda, ainda da mão esquerda, em uma folha de papel; outra, da mão direita, na manga da túnica; e uma quarta — a mesma impressão anterior, que, ultrapassando a túnica, deixou também vestígios na vestimenta interna da freira. Essa última marca apresenta manchas de sangue. Madre Fornari, em virtude das circunstâncias que rodearam o fato, não teve dúvidas em atribuir os sinais a manifestações da alma do Pe. Panzini, Abade Olivetano de Mântua. Esse fato extraordinário ocorreu a 1.° de novembro de 1731.
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Com objetos como os acima descritos, recolhidos cuidadosamente em toda Europa, nasceu essa pequena exposição. Nela se encontram também documentos originais ou fotográficos de manifestações de vários gêneros. São Pio X ajudou e abençoou tal obra, contribuindo assim para combater o neopaganismo, que eclodia virulento em seu tempo.
Para nós que vivemos em 1980, tendentes a voltar-nos mais para o concreto e o tangível, a visita à referida igreja fala do sobrenatural e vivifica a fé. O sobrenatural existe, e portanto, queiram ou não os ateus, ele se manifesta. A doutrina católica ensina que as almas do Purgatório são almas eleitas. Rumam para o Céu. Cantam em meio a seus terríveis sofrimentos as bondades de Deus, que as livrou do inferno. São confortadas pelo sorriso de Maria. E tal como com os santos, podem se manifestar para fazer bem aos que na terra militam na Santa Igreja.
Caro leitor, aí estão algumas manifestações. Se algum dia viajar a Roma, não perca a oportunidade de visitar essa igreja, hoje desprezada pelos turistas neopagãos, insensíveis à grandiosa esfera do sobrenatural.
Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio, em Roma, onde se encontra um museu-mostruário de manifestações das almas do Purgatório.
Interior da Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio.
Celso Cavalcante
Uma das primeiras medidas tomadas pelos comunistas quando arrebatam o poder em qualquer país, consiste em promover uma Reforma Agrária marxista e confiscatória. A esse respeito, muito significativas são as palavras do Partido Comunista do Brasil (dissidência do Partido Comunista Brasileiro), sobre o assunto. Não que o PC do B ou o PCB tenham importância. Como dizia certa ocasião o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em artigo à imprensa, a importância de Luiz Carlos Prestes ou qualquer outro chefete vermelho "é folclore". Acrescentava o pensador católico: "Essa importância não é senão a que o capitalismo publicitário lhe conceda nos meios de comunicação social centristas" ("Prestes-PCB, tema secundário" — "Folha de S. Paulo", 10/ 10/79).
Importa, no entanto, conhecer o pensamento desses partidos, pois eles revelam, a seu modo, as intenções de Moscou ou de Pequim a respeito de nossa Pátria. Vejamos então o que diz uma publicação do PC do B (Edições Maria da Fonte, Lisboa, 1975, pp. 74-75), sobre o fracasso da ação comunista no meio rural brasileiro até há pouco:
"Os cinquenta anos de existência do Partido Comunista do Brasil ensinam que a pouca atenção dada ao trabalho entre os camponeses foi uma das mais sérias falhas da luta dos comunistas. Ainda que estes tenham definido, há muitos anos, o caráter da revolução como agrária e anti-imperialista e levantado continuamente a bandeira da reforma agrária, não se voltaram, durante largo período, para o campo. Mesmo no auge revolucionário de 1935 não houve maior atividade partidária entre os camponeses". -
Em outras palavras, o PC do B confessa que seu fracasso no Brasil se deveu à falta de ressonância no meio rural. E a falta de uma Reforma Agrária socialista e confiscatória impossibilitou que vicejasse no País o joio marxista. Mais adiante a publicação insiste:
"A experiência de meio século revela que o campo é o problema-chave da revolução. Os movimentos progressistas e revolucionários nas cidades não lograram êxito nem tiveram maior consequência porque não contaram com um combativo movimento camponês. O campo permaneceu atrasado em relação às cidades no que se refere ao nível de consciência, de luta e de organização. Por isso, não teve participação de maior vulto nas grandes ações políticas que se desenvolveram no país. Para alcançar a vitória, a revolução tem que contar com o apoio e a ação do campesinato".
Ora, dir-se-ia que algo está mudando em nossa classe agrícola. As atuais tensões, embora ainda confinadas, revelam em muitos casos a "conscientização" no sentido marxista, ou seja, o ódio à instituição da propriedade particular pelo simples fato de gerar desigualdades.
Deveríamos concluir então que comunistas estariam agitando o campo?
Talvez fosse precipitado afirmá-lo. E errôneo seria, certamente, generalizar uma acusação tão vaga.
Porém, existe um dado novo no panorama, que não pode ser desprezado por quem se interesse pelo problema: se o comunismo encontrou no povo brasileiro uma rejeição total a seus princípios e métodos, o progressismo, valendo-se do prestígio da sagrada Religião que herdamos de nossos ancestrais, faz hoje muito mais — infelizmente — pela causa nefanda de Marx e Lenine do que qualquer PC, por mais numeroso que fosse, poderia realizar.
Jean Goyard
PARIS — A notícia não causou surpresa aos que acompanham a vida nos países comunistas. Irritou, isto sim, e profundamente, os marxistas ocidentais. Refiro-me à bancarrota dos países sob o jugo da Rússia.
Órgãos de imprensa franceses, italianos e canadenses publicaram abundante informação sobre o assunto. A seriedade do noticiário não deixa lugar a dúvidas. Realmente, os países socialistas sofrem uma crise que só não lhes é fatal devido à ajuda que recebem do Ocidente.
O fracasso da socialização se manifesta em todos os campos. Na agricultura (além das sempre alegadas "más condições climáticas"), pela falta de adubos, de mecanização, de investimentos necessários, e, sobretudo, devido ao desinteresse dos camponeses nos resultados da exploração coletiva; Na indústria, o regime se revela incapaz de organizar os aprovisionamentos de matérias-primas e equipamentos às fábricas, ocasionando uma produção irregular. Em consequência da descontinuidade dos trabalhos, os operários, por vezes, chegam às fábricas sem saber se haverá trabalho ou não. Como é evidente, isto lhes serve de incentivo para permanecerem descansando em suas casas. Segundo o semanário francês "Le Point" (l.°/9/80), em todo o território soviético, de 10 a 15% dos operários estão sempre ausentes do local de trabalho.
Devido ao fracasso de sua economia, os países do leste empregam bilhões de dólares em compras de alimentos no Ocidente. Entretanto, apesar da boa receptividade dos países capitalistas em conceder-lhes crédito fácil e a longo prazo, nem todas suas necessidades são atendidas. Ainda este ano, na Romênia, Bulgária e Alemanha Oriental, operários entraram em greve por falta de carne e legumes em suas mesas. Na Polônia, a população dificilmente se regala com um prato de carnes. E as recentes greves deflagradas por operários revelam claramente a profunda insatisfação popular naquele país. Só a hipocrisia do Partido Comunista Francês tem a coragem de proclamar que a causa da crise polonesa não foi a penúria, mas excessiva abundância... ("L'Express", 6/9/80).
Por outro lado, a vida em condições precárias leva os habitantes dos Estados comunistas a lançar mão de um recurso extremo: a economia paralela. Calcula-se que o mercado negro na Rússia representa 16% do produto nacional. Os húngaros revidam com mais energia: "Exceto caminhões, fabrica-se quase tudo no mercado negro. Mas isso não tardará...", ironizou certo magiar ao correspondente de "L'Express". Na Hungria, de cada três assalariados, dois exercem uma atividade clandestina, sendo que 50% das rendas de particulares provêm do mercado paralelo, informa ainda "Express” (13/9/80).
Como vemos, não fosse a "filantrópica" ajuda dos países capitalistas, há muito teria ruído o império soviético, esgotado pelos consecutivos fracassos do sistema socialista.
Paradoxalmente, a própria Rússia — segundo "La Presse" de Montreal (4/7/80) — conseguia assegurar, entre 1971 e 1975, um terço de sua produção agrícola graças à ínfima porção de seu território entregue à iniciativa particular. A formiga produziu mais que o elefante!
O fracasso da economia socialista tornou-se tão evidente que Hungria, Polônia, Cuba, China e a própria Rússia o reconhecem. E agora procuram tirar partido do insucesso, fingindo uma "liberalização" que admitiria, em certa medida, princípios de propriedade privada. Os comunistas dão um passo atrás nos países que dominam, para avançar dois passos no Ocidente sonolento.
Carlos Sodré Lanna
O fim da hegemonia e da influência das potências ocidentais na América Central e nas Antilhas coloca em perigo todo o sistema de defesa do Continente americano. O Mar do Caribe, outrora chamado um lago americano, está se tornando um mar socialista.
Um arco de ilhas, das Bahamas a Trinidad y Tobago, passando pelas pequenas Antilhas, Virgens e Barbados, limita suas águas a leste. No poente, encontra o Golfo do México e as terras das três Américas circundam o resto. A única passagem para o Oceano Pacífico é através do Canal do Panamá.
As grandes Antilhas — Porto Rico, Haiti, República Dominicana, Cuba e Jamaica — constituem um hífen natural entre as Américas do Norte e do Sul. Cuba e Jamaica ocupam posição estratégica nesse mar coalhado de ilhas colonizadas e habitadas por múltiplos povos e raças.
Setenta por cento do petróleo importado pelos Estados Unidos (cerca de 30% do seu consumo interno) chegam pelo Caribe, cujas águas banham México e Venezuela, países possuidores de reservas de combustível das maiores do mundo.
Através das Antilhas e do Canal do Panamá transitam os petroleiros vindos do Oriente Médio, Equador e Alaska.
Nessa região, produtora de importantes metais utilizados na indústria estratégica, a Rússia atua, há mais de vinte anos, através de sua colônia: Cuba. Hoje o panorama é ameaçador.
Nicarágua e Panamá recebem influência direta de Havana. Não obstante, a própria administração norte-americana, depois de entregar o Canal do Panamá, concede agora ajuda de 75 milhões de dólares à Nicarágua sandinista.
Em meados de 1979, impelidas por governos populares e sacudidas pela subversão, várias colônias britânicas nas Antilhas foram empurradas para a órbita cubano-soviética, como Santa Lúcia e Granada.
Maurice Bishop, chefe marxista de Granada, vem pedindo a "libertação" de Porto Rico, El Salvador, Guatemala e Belize, ao mesmo tempo em que promove a intervenção de guerrilheiros cubanos nesses países.
No dia 30 de outubro passado foram realizadas eleições para o parlamento na Jamaica, pequena ilha a 145 quilômetros ao sul de Cuba. O Partido Trabalhista foi o vencedor por ampla maioria de votos, tendo seu líder Edward Seaga tomado posse como primeiro-ministro após oito anos de governo do marxista Michael Manley.
À primeira vista pareceu uma clara rejeição à experiência socialista do regime anterior, pró-cubano, de Manley. Mas já no discurso de posse, Seaga destacou que seu governo está decidido a manter "relações amistosas" com todos os países, inclusive Cuba. E acrescentou ainda: "Não antecipem uma pronunciada inclinação para qualquer lado. Somos membros do terceiro mundo, um país não-alinhado e nem ligado a nenhuma das superpotências"...
Na Guiana ex-inglesa, fronteiriça com o Brasil e a Venezuela, o primeiro-ministro Forbes Burnham foi aliado no passado de Fidel Castro, abrindo o aeroporto de Georgetown para escalas de aviões cubanos em suas viagens de intervenção no continente africano. Atualmente parece estar estreitando seus vínculos com a China comunista...
Cuba continua sem dúvida a grande base soviética na área. Moscou fez da ilha não somente um ponto de apoio para a guerrilha e uma potência para operações militares contra as nações americanas, mas também um eixo estratégico para a interdição de rotas de petróleo que cruzam o Atlântico.
A Rússia supriu seu satélite com equipamentos navais e aeronáuticos necessários. — Cuba conta hoje com dois submarinos, 18 navios de patrulha, 27 porta-mísseis, 24 contratorpedeiros e, na força aérea, com 120 caças-interceptadores Mig-19 e 21, 120 caças-bombardeiros Mig-17 e 23 e mais 80 aviões de transporte.
Há ainda uma brigada de combate russa estacionada na ilha, cuja presença suscitou séria polêmica há pouco menos de um ano atrás, tendo sido mais tarde misteriosamente camuflada e até hoje nada foi esclarecido a respeito.
As perspectivas em um futuro próximo não são nada promissoras para os países da América Central e Antilhas.
Guatemala, Honduras, Costa Rica e outros países estão seriamente ameaçados. Tudo indica que El Salvador será o próximo a ter a sua revolução.
Sucede que os agentes da subversão se sentem cada vez mais livres para conturbar a área, devido à inoperância dos Estados Unidos ou, de qualquer outro país.
Logo no início deste ano, membros do Comitê Central do PC russo visitaram um campo militar soviético em Cuba, seguindo depois para Nicarágua, El Salvador e Guatemala, onde falaram a representantes de movimentos marxistas e grupos revolucionários da América Central e Caribe.
O governo da Nicarágua assinou em Granada uma declaração oferecendo todo apoio à independência de Porto Rico e para a subversão em Guatemala, Honduras e Belize, colocando seu território à disposição para treinamento de guerrilheiros.
Também a embaixada cubana no México tem sido por muitos anos um dos pontos de coordenação dos esforços para a comunistização na América Central.
Os cubanos e seus aliados reconhecem a sustentação moral e logística promovida pelos esquerdistas mexicanos como sendo de vital importância para a continuação da luta na América Central. Em recente viagem feita a algumas nações da América do Sul e também Cuba, o presidente mexicano, José Lopez Portillo, afirmou que "qualquer ação contra este país [Cuba] será como se ela se voltasse contra o México". Recordou ainda que sua pátria sempre demonstrou solidariedade em relação a Cuba. Na ocasião, foram assinados onze acordos entre os dois países, sobre turismo, cooperação, tecnologia, educação, comércio, indústria e pesca, entre outros.
Países ocidentais consumidores de combustível temem pelos poços petrolíferos do Golfo Pérsico, muitos deles incendiados no decurso dos conflitos que ainda perduram naquela região. Entretanto, olvidam-se que as principais reservas latino-americanas — da Venezuela e especialmente do México — correm igualmente um risco não pequeno.
Membros do governo da Costa Rica auxiliaram a revolução sandinista na Nicarágua, permitindo que aviões carregados de armas procedentes de Cuba pousassem no país para que a remessa fosse entregue aos guerrilheiros nicaraguenses.
A denúncia foi feita por Maio Madrigal, ex-chefe do serviço de investigações porto-riquenho, acrescentando ainda que os armamentos eram levados por caminhões da força aérea aos acampamentos sandinistas, perto da fronteira entre os dois países.
Um candidato republicano pela Flórida à vaga no Congresso dos Estados Unidos, Evelio Estrella, advertiu que "dezenas de cubanos se infiltraram na Costa Rica, El Salvador e Guatemala com o objetivo de provocar agitações internas e criar desordens para forçar a queda desses governos".
Também o Subcomitê de Assuntos Interamericanos da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos divulgou documento afirmando que "o governo cubano armou e ajudou os guerrilheiros sandinistas para que derrubassem o regime anterior e, agora, estão fazendo o mesmo com relação a outros governos da América Central como em El Salvador, Guatemala e Honduras".
Outro documento, da Agência Interamericana de Defesa (AID), divulgado pelo Congresso norte-americano, afirma que "a vitória sandinista na Nicarágua deixou Cuba e a União Soviética certas de que podem agir nas Antilhas e na América Central com maior impunidade e menores riscos de confrontação com os Estados Unidos. Cuba retomou seu papel de exportar revoluções para os demais países do Caribe, e a fase posterior, a da luta armada, é financiada pela Rússia", conclui a análise.
Nesse sentido o jornal "Daily Telegraph", de Londres, informa que engenheiros soviéticos e cubanos estão construindo nova base aérea na costa atlântica da Nicarágua, para substituir a que havia durante a II Guerra Mundial.
Nicarágua, novo foco
No dia 19 de julho passado ocorreu o primeiro aniversário da revolução sandinista na Nicarágua. Fidel Castro chegou a Manágua para assistir às comemorações, chefiando uma delegação de 14 dirigentes do regime ou do PC cubano.
Os sandinistas excluíram a possibilidade de se convocar eleições na Nicarágua, pelo menos a curto prazo.
Muitos alunos nicaraguenses estão estudando em Cuba e os jovens que frequentam as escolas em seu país, assistem aulas ministradas por professores cubanos.
Agora o novo regime, à maneira do que Cuba vem fazendo há vários anos, começa também a exportar sua revolução. Segundo a revista norte-americana "The Review of the News" (11/ 6/ 80), a Frente Nacional para Libertação de Angola (FNLA) informou que os sandinistas enviaram 500 soldados para Angola em apoio aos 36 mil cubanos que estão lutando naquele Estado africano.
Também o exército boliviano denunciou a presença de agitadores cubanos e nicaraguenses, que organizam grupos de resistência ao golpe que depôs o governo de Lidia Gueiler.
O comandante da VII Brigada do exército boliviano disse que o objetivo desses agentes estrangeiros era destruir o exército, para transformar a Bolívia em uma república socialista, sob a tutela de Cuba.
Não seria necessário, no entanto, ir longe para conhecer os intuitos subversivos da revolução sandinista em relação ao Continente americano. Basta ler as declarações de Daniel Ortega, membro da junta nicaraguense, pronunciadas em São Paulo na "Noite Sandinista" (ver "Catolicismo" n.°s 355-356, de julho /agosto de 1980).
No dia 3 de agosto o jornal "Granma", órgão oficial do Partido Comunista Cubano, publicou na íntegra o discurso que Fidel Castro pronunciou por ocasião do aniversário do assalto de Moncada.
Tal pronunciamento é importante por três motivos: assume o ditador barbudo o papel de inspirador da revolução nicaraguense, confessa a manutenção de seu programa de exportação da revolução para toda a América Latina e define as relações de aliança entre o movimento comunista latino-americano e o setor "progressista" da Igreja Católica.
Só conhecíamos definições de relações entre o comunismo e a "Igreja progressista" enunciadas por católicos da chamada "teologia da libertação". Agora deparamos uma clara manifestação de Fidel, cujo regime é apresentado como exemplo pelos que preconizam o conluio entre a teologia e o marxismo.
É o próprio Castro que afirma: "Havíamos falado uma vez no Chile e na Jamaica a respeito da aliança estratégica entre cristãos e marxistas-leninistas. Se a revolução na América Latina adotasse um caráter antirreligioso, ela conduziria à divisão do povo. Em nosso país, a Igreja, em geral, era a Igreja da burguesia, dos ricos, dos proprietários feudais. Em muitos países da América Latina não é assim, até pelo contrário: a religião e a Igreja têm fortes raízes populares. As classes reacionárias haviam tratado de usar a religião contra o progresso, a religião contra a revolução e, efetivamente, durante muito tempo atingiram seus objetivos; todavia, os tempos mudaram e torna-se cada vez mais difícil para o imperialismo, a oligarquia e a reação utilizar a Igreja contra a revolução".
Na terminologia do tiranete de Havana, "progresso" e "revolução" significam socialismo ou marxismo.
Castro tece considerações históricas para justificar a tese de que a aliança entre o Cristianismo e o marxismo-leninismo, até hoje apenas estratégica, deveria transformar-se numa unidade efetiva.
E acrescenta: "Muitos dirigentes religiosos já não falam só dos bens do outro mundo e da felicidade do além, mas se referem às necessidades desta terra e à felicidade deste mundo, porque veem a fome do povo, a miséria, a insalubridade, a ignorância, o sofrimento é a dor humana. Não há dúvida de que o movimento revolucionário ganharia muito, o movimento socialista, o movimento comunista, o movimento marxista-leninista ganhariam muito na medida em que os dirigentes da Igreja Católica e de outras igrejas voltassem ao espírito cristão da época dos escravos de Roma".
É essa precisamente a posição dos "teólogos da libertação", dos "cristãos para o socialismo" e dos "padres do terceiro mundo", que desejam para todos a "felicidade" do "paraíso" comunista.
E finaliza Fidel: "Há alguns dirigentes religiosos na Nicarágua que nos diziam: por que só aliança estratégica, por que não falar de unidade entre marxistas e cristãos? Não sei o que pensarão disto os imperialistas. Eu, porém, estou absolutamente convicto de que essa receita é altamente explosiva".
No governo sandinista da Nicarágua três sacerdotes-guerrilheiros católicos ocupam ministérios. Com esse pronunciamento Fidel Castro aponta o objetivo final da corrente eclesiástica filo-marxista.
As figuras de Marx, Engels e Lenine dominam manifestação latino-americana de "solidariedade" socialista.
Daniel Ortega, da Nicarágua, Maurice Bishop, de Granada; e Fidel Castro, de Cuba: três promotores da revolução nas Américas, a qual tem contado com o apoio de eclesiásticos filomarxistas.