Pedro Paulo de Figueiredo
nosso correspondente
MADRID — A polêmica sobre o divórcio atingiu o auge de sua intensidade na Espanha. Nas Cortes, os debates são acompanhados com vivo interesse pela opinião pública.
Nesse contexto, a Sociedade Cultural Covadonga dirigiu aos parlamentares e ao público espanhol um apelo em prol da instituição da família e contra a danosa e anticristã implantação do divórcio.
"A luz brilha nas trevas" (Jo. 1, 4) — A confusão moderna não encobre a clareza do preceito do Senhor: "Não separe o homem o que Deus uniu" (Mt. 19, 6). — Esse é o título do manifesto que Covadonga fez publicar no dia 9 de novembro p.p. na edição dominical do "ABC", o mais importante diário do país.
A associação explica sua tomada de posição, fiel à doutrina católica que a inspira e fiel também a si mesma: "Avançando às vezes em meio ao silêncio generalizado, outras vezes entre a incompreensão inclusive a hostilidade, Covadonga soube chegar com galhardia até o presente momento, em que afirma na sua totalidade, sem vacilações nem concessões, aquilo que aprendeu da Igreja Católica, Apostólica e Romana. Sua doutrina imutável, que permanece intacta — inclusive em meio a toda a confusão do mundo moderno — é a que reafirmamos no presente manifesto. 'Veritas Domini manet in aeternurn'. (`A verdade do Senhor permanece eternamente')", conclui Covadonga na apresentação de seu documento.
A entidade lembra inicialmente seu primeiro manifesto sobre o assunto, lançado em Zaragoza, em 1978, sob o título: "Como explicar o inexplicável? Eclesiásticos favorecem a implantação do divórcio" (ver "Catolicismo" no. 327, março de 1978). Esse pronunciamento teve o apoio de mil Sacerdotes espanhóis, conforme também noticiou "Catolicismo" na mesma ocasião. Mais de duzentos mil exemplares desse documento foram divulgados por Covadonga em todo o país, com grande repercussão. Não obstante, a constituição que abre o caminho ao divórcio foi aprovada por senadores e deputados. Agora, com os debates e a votação de uma lei ordinária nas Cortes, o tema volta a adquirir toda atualidade e candência.
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Basicamente, o manifesto de Covadonga divide-se em duas partes:
1) no plano da doutrina e das teses;
2) no plano dos fatos.
Não ocuparemos aqui o tempo do leitor reproduzindo a primeira parte desse documento, pois trata-se da fundamentação doutrinária que condena o divórcio. Aí são transcritos trechos dos mais insignes Doutores da Igreja, como São Tomás de Aquino, Santo Afonso Maria de Ligório e São Roberto Belarmino.
Em seguida, citam-se documentos do Magistério Eclesiástico, dos Papas Pio VI, Pio IX, Leão XIII e Pio XI.
Finalmente, o manifesto apresenta o ensinamento de reconhecidos autores eclesiásticos modernos, no sentido antidivorcista.
Depois de haver analisado no plano teórico qual é a verdadeira doutrina da Igreja sobre o tema, a Sociedade Cultural Covadonga passa aos fatos concretos que se verificam atualmente na Espanha.
"Nesse sentido — diz o manifesto —, o Episcopado espanhol, na Assembleia Plenária encerrada em 24 de novembro de 1979, publicou uma 'Instrução Coletiva', na qual levanta uma hipótese. Com efeito, o item 5 desse documento afirma: 'Não ignoramos que na sociedade atual nem todos os cidadãos entendem o matrimônio a partir de uma perspectiva cristã. Respeitemos a justa autonomia da autoridade civil, à qual corresponde legislar atendendo às exigências do bem comum composto por diversos elementos. Em ordem a esse bem comum, a prudência política do legislador, dentro de um marco legal que tutele e promova os bens da comunidade familiar, ao ponderar as consequências negativas que se pudessem seguir a uma absoluta proibição do divórcio civil, tenha também em conta os graves danos morais acima enumerados, que se derivariam de sua introdução em nossa legislação [destaque de Covadonga]".
Comentando essa tomada de posição, Covadonga observa: "É de temer que a frase sublinhada no item acima enunciado produza um efeito desastroso no modo pelo qual os membros das Cortes considerem a matéria. Não aludimos aqui aos parlamentares que não tenham consciência católica. Estes, presumivelmente, não analisarão nem estudarão o documento episcopal. O efeito negativo, que se pode temer, poderá ter pesado sobre os deputados e senadores que tenham consciência católica. Em primeiro lugar, esta os adverte que serão julgados por Deus. E, ademais, que tais deputados e senadores, votando a favor do divórcio, desagradarão aos eleitores católicos, inclusive aos que têm pouca formação religiosa e moral, com funesta e imediata repercussão sobre sua popularidade e, além disso, com reflexos a longo prazo sobre a reeleição desses parlamentares".
"Não obstante — continua Covadonga —, tememos que esses membros das Cortes, por pouco que simpatizem com o divórcio ou desejem assegurar para si a popularidade entre os antidivorcistas, mais numerosos em ambientes de direita e de centro, como também dos divorcistas, mais numerosos na esquerda, encontrarão na frase sublinhada do documento episcopal — tal como está redigida — uma escapatória cômoda para suas consciências ou suas aspirações políticas".
Em nota, Covadonga observa ainda que a atitude de omissão do Episcopado foi registrada em editorial por um diário madrilenho de 27/11/79, no qual se afirma que se tem a impressão de que os Bispos quiseram "pasar el toro" (no Brasil, popularmente, se diria passar a bola) aos governantes. E que, além disso, os deixaram em situação difícil e quase sem saída.
O manifesto comenta, a seguir, que o princípio sustentado pelo Episcopado na frase em questão é de si verdadeiro. Mas, nas circunstâncias atuais, não se poderia aduzir tal princípio sem uma advertência de que ele não tem aplicação na Espanha, porque se trata de uma nação com uma população compactamente católica e para a qual a indissolubilidade do vínculo matrimonial supera o desagrado que o reconhecimento desse princípio básico do Direito Natural provoque na ínfima minoria não católica.
Concluindo seu documento, a Sociedade Cultural Covadonga dirige suas súplicas a Nossa Senhora do Pilar, aos pés de cuja imagem iniciou sua campanha antidivorcista em 1978: "Rogamos à Mãe de Deus que estimule nossos Pastores e governantes, especialmente os parlamentares, na tarefa de impedir a introdução da praga divorcista na legislação espanhola". Por fim, manifesta a esperança de que, "nestes dias graves e decisivos, as católicas terras de São Fernando de Castela e Santa Teresa conservem suas admiráveis tradições de nação fidelíssima aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e à autêntica doutrina católica".
Em cima: cooperadores da Sociedade Cultural Covadonga durante campanha em Barcelona. • Ao lado: em 1978, uma delegação de membros de Covadonga e representantes de mil Sacerdotes solidários com a entidade, entregaram nas Cortes Espanholas seu manifesto contra o divórcio.
C. E. Schaffer
MONTREAL — Por ocasião de mais um aniversário da revolução bolchevista na Rússia, mais de mil pessoas de várias nacionalidades assistiram à Missa celebrada em memória das vítimas do comunismo na famosa Igreja de Notre-Dame, no centro de Montreal. O ato litúrgico foi oferecido também pelas almas de todos que morreram em consequência de atentados, revoluções e guerras causadas pelos vermelhos, bem como pela libertação de todos os povos por eles escravizados desde 1917.
O ato religioso foi realizado por iniciativa da associação Jovens Canadenses por uma Civilização Cristã, que contou com a cooperação de várias organizações de refugiados da Europa Oriental, China, Sudeste e Sul da Ásia, como a Federação das Associações Húngaras do Canadá, o Congresso dos Poloneses no Canadá, o Comitê Ucraniano-Canadense, a Associação Romena do Canadá, a União Croata do Canadá, a Comunidade Católica Chinesa, a Comunidade Católica Vietnamita, a Comunidade Cambodgeana do Canadá e a Associação de Auxílio aos Refugiados Afegãos.
Antes da Missa desfilou tocante procissão pelo corredor central da igreja, constituída por representantes dos Jovens Canadenses por uma Civilização Cristã e uma delegação da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — TFP, levando seus estandartes rubros marcados pelo leão rompante dourado, que precediam o andor com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Seguiam as bandeiras do Canadá e das nações subjugadas pelo comunismo, que se colocaram atrás do altar-mor, juntamente com os estandartes dos Jovens Canadenses e da TFP norte-americana.
Celebrou o Santo Sacrifício, em rito oriental, o Pe. Jean Hawryliuk, Vigário Geral dos ucranianos católicos das Províncias Orientais do Canadá, acolitado pelo Pe. Pietro Leoni, S.J., missionário italiano que cumpriu a pena de 10 anos de trabalhos forçados nos campos de concentração da Rússia, e pelo Pe. George Novotny, exilado da Tchecoslováquia.
Durante a consagração, todos os estandartes e bandeiras se inclinaram em honra ao Santíssimo Sacramento.
Mais de mil pessoas lotaram a Igreja de Notre-Dame, em Montreal, para rezar pelas vítimas do comunismo (foto abaixo). Após a Missa, representantes das nações cativas, da TFP norte-americana e dos Jovens Canadenses por uma Civilização Cristã promoveram um ato público anticomunista.