P. Ferreira e Melo
As fronteiras entre a paz e a guerra virtualmente desapareceram. A disputa ideológica acesa fez cessar, na prática, os longos períodos de paz que se sucediam ao violento entrechoque das armas. O mundo vive em contínua guerra dos espíritos, entremeada descontinuamente pelo embate dos exércitos.
O clarividente Winston Churchill, escrevendo em "The Gathering Storm" ("O acumular da tormenta") sobre as negociações que se sucederam à I Guerra Mundial, já afirmava: "Passados estavam os dias dos tratados de Utrecht e Viena, quando aristocráticos estadistas e diplomatas, vitoriosos e vencidos, se encontravam em polida e cortês disputa e, livres do estrépito e confusão da democracia, podiam dar nova forma aos sistemas cujos fundamentos eram aceitos por todos".
O fenômeno exacerbou-se extraordinariamente nestes 60 anos. A luta, mesmo quando não cruenta, tornou-se universal, pois os contendores não estão mais de acordo nem sobre os princípios básicos que constituem a natureza humana.
Brian Crozier, um dos mais conceituados especialistas ingleses, figura de repercussão mundial, cofundador e atual diretor-geral do Institute for the Study of Conflict, desenvolveu com invulgar competência o tema no livro "Strategy of Survival" ("Estratégia de Sobrevivência"), editado em Londres, em 1978.
Discorre especialmente sobre o período 1944-1978 (data da edição), no qual se deu "a guerra que não ousou dizer o próprio nome". Nesta, a Rússia, utilizando as mais variadas tramas, hostilizou continuamente o mundo não-comunista. O autor qualifica esse período de III Guerra Mundial, "uma espécie diferente de guerra, empreendida na maior parte com técnicas não militares como a subversão, a desinformação, o terrorismo, a guerra psicológica e as negociações diplomáticas, inclusive conferências".
Não me alongarei na já bastante conhecida conquista feita pela satelitização de países, pela utilização das campanhas anticolonialistas, pelo incitamento às guerrilhas e sublevações populares. Comentarei matérias menos conhecidas do citado trabalho.
Arma: o vídeo; campo de batalha: o lar
Crozier relembra a importância crucial da opinião pública como fator decisivo do embate: "Mais importante ainda que as armas é a guerra psicológica na própria frente do inimigo — a batalha pela opinião pública nas sociedades livres da área visada. Isto aconteceu com os franceses na Indochina em 1954 e na Argélia em 1962. E os norte-americanos perderam a 2.a guerra da Indochina, não nos campos de batalha, mas nas telas das televisões de seu povo. [...] Os camponeses doutrinados e os trabalhadores do Vietnã do Norte não podiam protestar contra o recrutamento obrigatório. Nos Estados Unidos, entretanto, este era impopular. A crescente espiral dos gastos militares incomodou. Parecia que os norte-americanos gastavam sempre mais e obtinham cada vez menos. Essencialmente, o movimento de protesto era genuíno, mas vantajoso para a grande máquina do movimento comunista internacional, que forneceu ajuda — habitualmente não reconhecida como tal pelos favorecidos — em escala maciça. Os contestadores encapelaram a onda da opinião pública contra o envolvimento norte-americano no Vietnã. O moral foi minado e quase completamente destruído. No Vietnã do Sul, um bem organizado tráfico de drogas (no qual os comunistas chineses estavam envolvidos, segundo Chu En-lai) devastou terrivelmente os soldados americanos. A guerra já estava perdida quando Nixon e Kissinger decidiram negociar com os comunistas vietnamitas" (pp. 57-58).
Cara ou coroa?
O autor coloca a détente entre as vitoriosas operações de opinião pública. Diante do atraso econômico russo e da necessidade de tecnologia avançada, era preciso enganar o mundo livre. Brian Crozier assim a descreve: "A maneira mais fácil, verdadeiramente a única maneira perceptível para resolver isto, era cultivar a ilusão da détente e atrair o Ocidente e o Japão com visões de um enorme mercado russo, completamente aberto para os produtos do odiado sistema capitalista. Havia algumas vantagens colaterais, além da principal de manter o sistema intacto. Se os governos ocidentais (e em larga escala a opinião pública) podiam ser persuadidos de que não estava vindo a 3.a Guerra Mundial (4.a Guerra Mundial pelos critérios deste livro), poderiam ser levados a "comprar" a idéia de ajudar a desenvolver a economia soviética, de maneira que os russos, enriquecidos pela ajuda, continuariam a adquirir tudo o que o Ocidente e o Japão pudessem oferecer.
Entrementes, os líderes soviéticos aumentariam ainda mais sua já preponderante força militar, fomentando desta forma a noção, especialmente na Europa Ocidental, de que não havia possibilidade de resistir aos russos, pois eram fortes demais para serem desafiados. Essa era a lógica da Operação Détente, e funcionou quase na perfeição. A détente tornou-se um prodigioso exercício de relações públicas. Brejnev — o sombrio, melancólico, laborioso chefe de partido, o apparatchik — repentinamente pareceu mais humano" (pp. 81-82). Crozier considera que para os russos a détente poderia ser qualificada com a fórmula: "Se sair cara nós ganhamos, se der coroa eles perdem".
Durante os anos do auge distensionista, os Estados Unidos passaram também por uma "orgia de autoflagelação" (felizmente em regressão). Jornalistas e seus aliados no Congresso, cavalgando a onda do escândalo Watergate, apoiados por generalizado sentimento público de vergonha do suposto mau uso do poderio norte-americano e, como afirma o especialista inglês, "ajudados e instigados pela máquina soviética de subversão", lançaram-se à tarefa de erodir a influência do país no mundo. Na ocasião, desmantelaram muito da agilidade operativa da nação.
Os espiões da mente
Discorrendo ainda sobre ações de opinião pública, Brian Crozier relata atividades específicas do Departamento de Desinformação da KGB, cuja função é debilitar, confundir e desconcertar o adversário. Espalha boatos falsos sobre os mais variados assuntos, difama oponentes do comunismo, sempre na intenção de predispor favoravelmente o público do Ocidente em relação aos desígnios do Cremlin.
Nesta gama de atividades se localiza a insidiosa ação do agente de influência (cfr. "Catolicismo" n.° 358, outubro de 1980). As sociedades ocidentais são tolerantes em relação às opiniões, sendo raros os códigos penais que, contemplam o delito de opinião. A punição à mera exposição de idéias contraria os fundamentos do regime democrático. O agente de influência, por isso, à primeira vista, nada faz de ilegal. Pois sua missão é difundir os pontos de vista que Moscou deseja ver em circulação nos ambientes de destaque do Ocidente.
Talvez sua ação fosse ilegal apenas no quesito de agir favorecendo potência estrangeira. Mas isso não é fácil de provar. Devido a tal situação, suas atividades se desenvolvem, na maior parte das vezes, desembaraçadas. Crozier julga que para cada agente de influência consciente e escolado nos métodos da KGB pode haver dezenas de inconscientes, gente que repete o que ouviu do experiente funcionário dos serviços secretos russos. Não parece haver outra resposta à ação desta hábil espécie de novos espiões, os espiões da mente, senão inteligentes e eficazes campanhas de esclarecimento.
Como se vê, o livro do intelectual inglês analisa fenômenos para os quais o grande público, imerso na tumultuada agitação do quotidiano, não tem o olhar voltado. Habitualmente, os meios de comunicação social não se alongam no trato desse imprescindível flanco dos acontecimentos, induzindo inúmeros leitores a desconsiderar realidades mais abarcativas que lançariam luzes no panorama dos fatos.
Uma simples rescensão não pode abranger a totalidade dos aspectos examinados pelo competente especialista. Antes de terminar o comentário do livro, deixo ao leitor a tentativa de deslindar um problema diante do qual Brian Crozier, na sisudez da reflexão britânica, confessa-se vencido. O autor transcreve declarações de líderes comunistas que inequivocamente afirmam desejar a destruição do capitalismo, através da détente, considerada por eles uma etapa neste caminho. Depois expõe a questão: "Os ricos e poderosos dirigentes das empresas gigantes que ajudam a manter no poder seus inimigos mortais conhecem isto? Sabem que a política não mudou? Que motivo os impele, senão o desejo da morte? Se o motivo é lucro, que lucro imediato compensa sua própria extinção? Expus essa questão, sob várias formas, para grupos de destacados homens de negócio, em diversos países, e só tenho recebido respostas evasivas".
Ao leitor, o enigma... O que pensar dele?
Nixon (à esquerda), Podgorny e Brejnev (à direita) brindam à inauguração da era da détente, em Moscou (1972). As viagens de Nixon à China e à Rússia determinaram a queda das barreiras ideológicas.
Nas escadarias do Pentágono, manifestação contra a participação dos EUA na guerra do Vietnã. A campanha pacifista representou importante conquista soviética na guerra psicológica, pois enfraqueceu rapidamente o poderio norte-americano.
Jean Goyard
PARIS — Uma bomba explode em Munique, outra em Paris. Na Espanha como na Itália, militares e civis são vítimas de atentados. Não só na Europa e no conturbado Oriente Médio, como agora também nas Américas, o terrorismo vai tirando ao cidadão comum a tranquilidade da ordem da qual usufruía outrora.
Em alguns casos, organizações armadas chamam a si a autoria deste ou daquele atentado. Outras vezes, o autor esconde-se no anonimato e os rumores correm num ou noutro sentido, atribuindo-o ora à "direita", ora à "esquerda". O observador inteligente não se contenta, no entanto, com a camada superficial do noticiário e indaga: "não haverá nessa orquestração de fogos um só maestro?'
Especialista no assunto é o general Frank Kitson, recentemente laureado com o título de "Sir" e o posto de vice comandante das forças armadas britânicas. Comandante da "Universidade da Guerra" inglesa — o Camberley College — durante dois anos, o general Kitson ministrou aí seus conhecimentos adquiridos em longa prática de combate ao terror no Quênia, Malásia, Chipre, Oman e Irlanda do Norte.
Considerado um dos melhores teóricos e estrategistas do antiterrorismo no mundo, Sir Kitson declarou à BBC: "A subversão de nossas instituições já está posta em prática na indústria e na imprensa. O maior perigo de nossa sociedade é o comunista, mas se com isto entendemos sobretudo a massa dos carros de combate de além, cortina-de-ferro, então cometemos um grande erro".
Reforçando a opinião dos melhores teóricos militares, segundo os quais a guerra psicológica tornou-se, em nossos dias, muito mais importante do que as próprias operações bélicas, prosseguiu o general inglês: "A Rússia e seus satélites europeus já começaram a subverter os países da Europa Ocidental, e as eventuais aventuras militares programadas para esta área serão favorecidas pelo trabalho preparatório realizado nos vários países". E acrescentou que as desordens internas em cada nação, provocadas por agentes russos ou de outro país comunista (só na Alemanha Ocidental há 16 mil em operação), destinam-se a desgastar os exércitos ocidentais no caso de uma invasão vermelha.
"Os russos poderiam criar, nos países que pretendem ocupar, uma frente nacional, ou dos movimentos extremistas revolucionários, aparentemente alheios ao partido comunista oficial". É a tática da "frente única", aliada aos atos de terrorismo e sabotagem, para executar depois, "no momento oportuno, a formação de um governo com os comunistas".
Um exemplo do modo como, no entender do general Kitson, poderiam agir os russos, é ilustrado com a "operação cidade dos dois rios". Executada como parte do treinamento dos oficiais de Camberley, a operação foi filmada como documentário e transmitida pela televisão da BBC, no início do ano passado. A "cidade dos dois rios" é Aberdeen, na Escócia, figurada na operação como foco de uma revolução organizada por nacionalistas escoceses, operários comunistas e estudantes marxistas, aos quais se aliam elementos da burguesia. Uma turba em armas domina as estradas, as forças policiais são submetidas e o governo de Londres não sabe o que fazer. Por fim, decide pela intervenção das tropas. Ao que um líder revolucionário responde: "Ótimo! Agora devemos provocar os soldados, para fazer com que matem algum dos nossos. Se não o fizerem, pensaremos nós mesmos como criar nossos mártires..."
O leitor não nota algo dessa tática nos movimentos que agitam também as Américas, inclusive o Brasil?
Murillo Galliez
Que pensará o leitor de um país em que o número de nascimentos era, há dois séculos, maior que o atual? Em que as mulheres vão tendo cada vez menos filhos e as crianças que nascem já não são suficientes para substituir a geração que as antecede? Em que as pessoas idosas ou aposentadas ocupam um percentual cada vez mais elevado da população à custa da diminuição do número de crianças e adolescentes?
Certamente julgará que é uma nação envelhecida, a caminho da extinção. Que se tornará presa fácil de outros povos dotados de mais juventude, mais energia e vitalidade, de maior poder de expansão.
Parece tão absurdo pensar que um povo se lance voluntariamente ao próprio extermínio, que seria cabível perguntar se tal país realmente existe. Infelizmente, a resposta é afirmativa. E o mais lamentável é que uma das nações a que se aplicam essas tristes características foi outrora a filha primogênita da Igreja e um baluarte da Cristandade: a França.
Mas não é só ela. São também quase todos os países da Europa Ocidental, os Estados Unidos e o Canadá, que se lançaram nas sendas da auto extinção.
Triste paradoxo! Os países mais ricos do mundo, entre os quais figura a "Europa dos nove" - Estados que compõem o Mercado Comum Europeu - desfrutam de uma abundância de bens materiais, ao mesmo tempo que caminham para o desaparecimento enquanto nações...
Um brado de alerta contra o descalabro dessa situação é o livro "La France ridée" - "A França enrugada" -, da Collection Pluriel (Librairie Générale Française, Paris, 1979), que tem por autores Pierre Chaunu, Gerard-François Dumont, Jean Legrand e Alfred Sauvy. Dele tiramos os dados que passamos a apresentar aos leitores. Fatos de importância inconteste, próprios a sugerir graves reflexões.
Há dois séculos decrescem nascimentos
A França é o único país da Europa onde o número de nascimentos hoje é menor que há dois séculos.
No reinado de Luís XVI, antes portanto da Revolução Francesa, havia anualmente mais de um milhão de recém-nascidos. A França era então o país mais populoso da Europa. Em 1801 ela tinha 28 milhões de habitantes, possuindo 22 milhões a Alemanha e 10 milhões a Inglaterra.
A limitação voluntária da natalidade na França começou um século antes que em outros países. A supressão do direito de primogenitura efetuada pela Revolução Francesa levou os habitantes de várias regiões a ter somente um ou dois filhos a fim de não serem obrigados a repartir os bens.
É muito significativo que uma lei que atentou contra a integridade da propriedade privada de caráter familiar, vai fornecer pretexto para uma alteração dos costumes, estimulando infrações da reta moral na vida conjugal.
Em consequência, a França começou a envelhecer precocemente. As pessoas com mais de 60 anos já constituíam 8% da população no final do século XVIII, enquanto na Inglaterra e na Alemanha o mesmo só ocorreu em torno de 1910. No transcurso do século XIX os óbitos muitas vezes eram mais numerosos que os nascimentos; no fim do mesmo século cada família francesa tinha, em média, uma criança a menos que famílias inglesas ou alemãs.
Durante a primeira metade do século XX a situação foi piorando progressivamente, com fases especialmente críticas por ocasião das duas guerras, quando foi grande o número de homens mortos ou aprisionados.
Após a II Guerra Mundial, de 1946 a 1972, houve uma certa recuperação, com o número de nascimentos mantendo-se acima dos 800 mil por ano. Porém, desde 1964, o índice de fecundidade começou a diminuir de modo praticamente ininterrupto. Essa queda se tornou mais acentuada a partir de 1973, devido a dois fatores: a difusão dos contraceptivos e a liberação do aborto.
Assim, em 1964 o índice de fecundidade (ver quadro abaixo) foi de 2,90, com 874 mil nascimentos. Em 1968 caiu para 2,58 e em 1972 para 2,40, embora os nascimentos se mantivessem em 833 mil e 875 mil. Isto se deve ao maior número de mulheres em idade de procriar, nascidas no período de após-guerra, mas já com o índice de fecundidade sensivelmente diminuído.
Em 1973 os nascimentos caíram para 855 mil e a fecundidade para 2,3. Em 1974: 799 mil e 2,08; em 1975: 745 mil e 1,88.
A lei de 17 de janeiro de 1975, liberando o aborto na França, contribuiu poderosamente para a queda da natalidade. Os 720 mil nascimentos ocorridos em 1976 confirmam essa suposição; o índice de fecundidade foi de 1,83.
Apesar da discreta reação observada em 1977 (745 mil e 1,86), a França não está mais substituindo suas gerações, pois para isso seria necessário um índice de fecundidade de 2,10 e um índice de reposição igual ou superior à unidade. Ora, nos três últimos anos assinalados o índice de reposição foi de 0,89, 0,87 e 0,88, respectivamente.
Persistindo essa tendência, aquele país marcha irremediavelmente para o envelhecimento e a redução de sua população, com a consequência inevitável de seu enfraquecimento como nação livre e soberana.
Índice de reposição e envelhecimento
É fato constatado que, à medida que o índice de reposição decai, o envelhecimento se acentua. Se o índice for de 0,9, as pessoas com mais de 60 anos tornam-se tão numerosas como as de menos de 20. Com uma reposição de 0,8 são os de mais de 65 anos que igualam os de menos de 20. Com o índice de 0,62, que corresponde a 1,3 de fecundidade (observado atualmente na Alemanha Ocidental para as mulheres de origem alemã), haveria 28% com mais de 65 anos e apenas 15% com menos de 20; metade da população teria mais de 50 anos, sem condições de procriar. Ou seja, extinção à vista.
Se a população envelhece, ela também diminui, pois o equilíbrio nascimentos-óbitos se deteriora. O atual índice de reposição da França (0,87) levaria a 3 óbitos para cada 2 nascimentos por volta do ano 2040. O índice da Holanda e da Suécia (0,77) a dois óbitos por nascimento, e o da Alemanha (0,66) a três óbitos por nascimento.
Com a população de tal maneira envelhecida e reduzida, pode-se vislumbrar qual será o trágico destino da Europa se algum novo fator, interno ou externo, natural ou sobrenatural, não intervier possantemente para impedir que tal aconteça.
A persistir a atual tendência, a partir de 1981 a proporção de jovens de menos de 20 anos na França cairá ao nível mais baixo de sua história (29,5%).
A liberdade das gerações futuras estaria fatalmente comprometida em países povoados de anciãos e submetidos à pressão de outros com população mais jovem.
Possível extinção de países europeus
Como já dissemos, esse mal não atinge somente a França. São todos os países desenvolvidos do Ocidente que caminham rumo ao envelhecimento e à redução de suas populações. O índice necessário à reposição das gerações não é alcançado na Suécia desde 1967; na Finlândia e Dinamarca desde 1968; na Suíça e Alemanha Ocidental desde 1969; na Áustria, Bélgica, Estados Unidos e Canadá desde 1971; na Holanda e Inglaterra desde 1972; na França e Noruega desde 1974; na Itália desde 1975.
A chamada "Europa dos nove", ou seja, os países que constituem o Mercado Comum Europeu (Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Irlanda e Dinamarca) teve 4.541.000 nascimentos em 1964, enquanto em 1971 apenas 3.153.600, quando lhe faltaram 800 mil recém-nascidos para assegurar-lhe tão-somente a sobrevivência. No mesmo período (1964-77) o número de mulheres em idade de procriar aumentou em 12%, enquanto o de nascimentos diminuiu em 30%.
O índice de fecundidade dessa comunidade econômica europeia era de 2,75 em 1964 e caiu para 1,72 em 1977. Esta cifra de 1,72 inclui igualmente os nascimentos de filhos de imigrantes, muito mais fecundos, e originários principalmente de países muçulmanos, africanos e asiáticos. Se formos considerar apenas a população de origem europeia o índice seria de 1,66.
Na Alemanha Ocidental, por exemplo, os filhos de trabalhadores imigrantes, que representavam 1% dos nascimentos em 1960, passaram a 19% em 1975, enquanto a fecundidade das mulheres de origem alemã caiu de 2,55 em 1964 para 1,3 em 1977.
A reposição das gerações só alcança 65% na Alemanha, 75% na Holanda, 78% na Inglaterra, 81% na Bélgica e 89% na França e Itália. Nos outros países ocorre o mesmo, pois em 1977 o índice de fecundidade era de 1,66 na Dinamarca, 1,50 no Luxemburgo, 1,63 na Áustria, 1,67 na Finlândia, 1,77 na Noruega, 1,64 na Suécia, 1,52 na Suíça e 1,80 nos Estados Unidos e Canadá.
Considerando-se que para a reposição das gerações é necessário um índice de 2,10, vê-se que a Europa, mantendo-se a atual tendência e sem a intercorrência de nenhum fator externo, vai ser transformada, durante o século XXI, em um imenso asilo de velhos, com um número de óbitos duas vezes maior que o de nascimentos, e cuja população nativa será paulatinamente substituída por habitantes de outras raças, de outras religiões e de outros costumes, provenientes de países que outrora se constituíam nos maiores inimigos da velha Cristandade medieval. É a autodestruição de uma civilização. Pior que isso, será o suicídio do que outrora foi, em larga medida, a gloriosa Civilização Cristã!
Exceção: três países mais católicos
Dessa débâcle geral salvam-se apenas três nações: Espanha, Portugal e Irlanda. Justamente aquelas cuja população se conserva mais fiel aos princípios tradicionais da moral católica. Porém, se ainda não transpuseram o limite que marca a falta de reposição das gerações, já se observa uma diminuição flagrante no índice de fecundidade. Comparando-se seu valor em 1964 e 1977, vê-se que na Espanha caiu de 3,00 para 2,60; em Portugal de 3,14 para 2,45; e na Irlanda de 4,10 para 3,40.
Na medida em que seus habitantes forem aceitando a "moral nova" que admite a contracepção e o aborto, também elas se colocarão na via do suicídio em que já se encontram seus infelizes vizinhos.
Conclusão
Todos esses dados, rigorosamente científicos, nos fornecem uma salutar lição. As nações que violam as leis de Deus e da natureza já são punidas nesta terra, conforme sustentava Santo Agostinho. Com efeito, os países europeus, que atualmente nadam na riqueza, violando tais leis pelo emprego de métodos contraceptivos e pela prática do aborto, estão cavando a própria sepultura. E caso não interfira algum fator externo ou dado de caráter sobrenatural, os europeus mais abastados do continente serão primeiramente dominados por imigrantes, em sua maioria de outras raças e religiões. E, dentro de algumas décadas, já sujeitos a uma dominação humilhante, caminharão para uma extinção inglória.
Na capa do livro "La France ridée", um casal-símbolo do futuro francês, se o país não resolver o problema da queda dos nascimentos, que vem se acentuando particularmente nos últimos anos
Na Alemanha, como em outros países membros do Mercado Comum Europeu, há cada vez menos crianças e mais velhos (foto: Impressões da Alemanha/Hamburgo)
• ÍNDICE DE FECUNDIDADE
Consiste na relação entre o número de nascimentos num determinado ano e o número de mulheres em idade de procriar (15 a 49 anos). Nas condições atuais, considera-se o índice de 2,10 como necessário para garantir a reposição das gerações.
• ÍNDICE DE REPOSIÇÃO DAS GERAÇÕES
Esse é constituído pelo índice de fecundidade acima exposto, dividido por 2,10. Tal algarismo corresponde ao número de filhos que cada mulher em idade de procriar deve ter, em média, para assegurar a simples substituição quantitativa das gerações.
Nota: A maneira de obter esses e outros índices utilizados em demografia é explicada com detalhes nas páginas 21 a 34 da obra "La France ridée", que serviu de base para o presente artigo. Não transcrevemos aqui tal método para se elaborar os diversos índices apresentados no referido livro, devido à sua extensão e à linguagem bastante especializada empregada pelos autores nessa parte de seu trabalho. Pareceu-nos que a inserção de tal matéria transcenderia os limites e as características de nosso artigo, o qual procura apresentar ao leitor comum de "Catolicismo" - e não precipuamente a demógrafos e especialistas no assunto - uma visão sintética e o quanto possível acessível de um tema, de si, consideravelmente complexo.