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"Covadonga" defende tradições hispânicas

Córdoba, cidade espanhola, famosa há séculos especialmente pelos embates que nela travaram católicos e muçulmanos, terra do Bispo Eulógio, morto no século IX em virtude de sua recusa em aceitar um modos vivendi com os infiéis, tornou-se foco novamente de polêmica religiosa. O prefeito comunista da cidade, tendo promovido recentemente a entrega de monumentos de caráter religioso, artístico e histórico aos maometanos, provocou veemente protesto da Sociedade Cultural Covadonga — entidade hispânica afim às TFPs.

Transcrevemos a seguir a íntegra do manifesto da referida associação, publicado em seu boletim "Covadonga informa" n.° 41 e difundido pela imprensa de Córdoba:

“Uma polêmica de fundo essenciamente religioso concentrou novamente a atenção da maioria dos espanhóis, provocando em todos os recantos do país os mais variados comentários, com repercussões nos principais meios de informação nacionais.

Desta vez, o conflito foi causado pelo prefeito comunista da cidade de Córdoba, sr. Julio Anguita, que, num ato solene realizado no dia 26 de dezembro passado, entregou ao conselheiro do rei da Arábia Saudita, Ali Al Kattani, as chaves do antigo Convento de Santa Clara. Meses atrás, a mesma prefeitura também já havia cedido a uma comunidade islâmica denominada El Morabito, uma mesquita situada nos jardins do Campo de la Merced.

Valendo-se de tais atos, Al Kattani advogou o retorno do islã a terras andaluzas, chegando a pronunciar esta frase que certamente terá efeito estremecer o corpo incorrupto do Rei São Fernando: "Os muçulmanos de Andaluzia rezarão na grande mesquita de Córdoba quando forem centenas de milhares!"

Tal atitude provocou viva reação popular, obrigando o Bispo da diocese, D. Infante Florido, a intervir no assunto, qualificando de "erro histórico" a decisão do prefeito. O mesmo Prelado acrescentou que isso "suporia para os cordobeses desandar o caminho de séculos e trocar o Cristianismo — que chegou muito mais longe em sua perfeição espiritual — por uma religião muito mais simples e menos desenvolvida".

É lamentável que a declaração de D. Infante Florido não tenha sido suficientemente precisa e completa, deixando de qualificar devidamente a religião muçulmana. Por alguma razão sempre mereceram os adeptos dela, desde o início, o qualificativo de infiéis, dado pela própria Igreja Católica.

O prefeito, entretanto, respondeu ao Prelado em declarações à imprensa que se caracterizam por uma irreverente ousadia, muito própria de um membro do Partido Comunista Espanhol.

* * *

As causas do reaparecimento do problema muçulmano na Espanha remontam ao congresso islâmico-cristão reunido em Tripoli, em fevereiro de 1976. Na declaração final desse congresso havia uma cláusula, na qual os muçulmanos sugeriam à parte cristã que envidasse todos os esforços e tentativas para que a mesquita de Córdoba, hoje catedral católica, lhes fosse restituída.

Desde então, a Sociedade Cultural Covadonga ficou sempre receosa de que os inimigos da Civilização Cristã inventassem todos os pretextos, mais ou menos disfarçados de irenismo, para que o culto maometano transpusesse uma vez mais o Estreito de Gibraltar e se instalasse na Espanha, com vilipêndio da gloriosa obra da Reconquista, culminada pelos Reis Católicos.

Os verdadeiros espanhóis têm consciência de que a entrega dos mencionados edifícios históricos de Córdoba, proposta pelo sr. Julio Anguita, não constitui apenas um ato com repercussões nacionais e culturais, aliás muito importantes. Mais do que isso, é uma atitude assumida por um prefeito comunista em desdouro da Religião verdadeira e com vantagem para uma religião falsa. A partir desse ponto, Covadonga, inspirada na Fé católica e não num laicismo irenista, levantou seu mais veemente protesto.

Já em 1976, procurando continuar fiel à memória dos numerosos santos, mártires e confessores - pedras angulares da Reconquista ibérica — esta entidade julgou necessário alertar todos os católicos espanhóis (cfr. boletim "Covadonga Informa", n.° 32, 33 e 34).

Agora, em vista desses fatos recentes, a Sociedade Cultural Covadonga levanta novamente seu clamor às autoridades religiosas e civis, sem esquecer, entretanto, aqueles espanhóis que souberam reagir em tempo. Assim, lembra de um modo especial o Cônego e historiador D. Manuel Nieto Cumplido, o qual saiu em defesa da preciosa obra religiosa-artística da nação hispânica, nesta e noutras ocasiões. Este acadêmico e arquivista da Catedral de Córdoba declarou recentemente à imprensa que "embora no citado convento [de Santa Clara] se veja um alminar e restos de uma portada árabe, o templo é cristão desde o século XV, época em que as irmãs clarissas nele se instalaram, tornando-se então o convento mais antigo de Córdoba. Portanto, deve ficar claro que o que se dá aos muçulmanos não é uma antiga mesquita, mas uma igreja incontestável e claramente cristã".

Renovando o brado de alerta de anos anteriores, Covadonga eleva as suas preces a uma figura exponencial da Reconquista, o santo e extraordinário Rei Fernando III de Castela, a fim de evitar este autêntico delito religioso-cultural que se está articulando contra a Igreja na Espanha."

Sócios e cooperadores da Sociedade Cultural Covadonga, durante o ato de desagravo realizado no Pado de los Naranjos, em Córdoba, no ano de 1975.

O corpo incorrupto do Rei São Fernando III, em sua urna funerária de cristal, na Catedral de Sevilha (são visíveis na foto os contornos de sua cabeça e as mãos entrelaçadas sobre o peito). As vitórias militares desse extraordinário monarca reduziram o domínio árabe na Espanha apenas ao Reino de Granada.

Interior da célebre Catedral de Córdoba — Originariamente mesquita muçulmana, transformada em igreja católica em 1523, ela bem simboliza todo o cuidado da Igreja em preservar e assimilar dos povos pagãos as manifestações culturais e artísticas oriundas da retidão natural. O prefeito comunista de Córdoba, entretanto, está promovendo a entrega de monumentos católicos, análogos a este, aos seguidores de Mafoma.


Criminalidade e senso moral

Luiz Solimeo

A criminalidade, sobretudo nas grandes cidades, tomou em nosso País proporções tais, que vem criando um clima de pânico meio difuso e generalizado, que aumenta ou diminui de proporção conforme os meios de comunicação social tratam de modo mais especial ou não do assunto. E aflora então a velha problemática: de quem é a culpa?

Da polícia, que deveria ser melhor aparelhada, mais numerosa, mais dedicada? Das "injustiças sociais", que criam problemas insolúveis, como o dos menores abandonados, das favelas, da miséria, enfim? Da urbanização descontrolada e excessivamente rápida, para que os necessários melhoramentos acompanhem o ritmo das construções?

Mil causas ainda poderiam ser levantadas e o são comumente no debate do assunto. Mas raramente se analisa, pelo menos com a suficiente profundidade, o cerne do problema: a criminalidade, em todas as suas formas - não somente a da mão armada ou do assalto espetacular, mas da desonestidade mais ou menos corrente e da imoralidade aberrante e agressiva não é senão o reflexo de uma causa mais profunda, que é a perda do senso moral.

Os problemas sociológicos, estruturais ou funcionais, embora possam contribuir para criar condições favoráveis à eclosão do crime, não são entretanto a sua causa, como pensavam os positivistas, para quem, "abrir escolas" era "fechar cadeias". Na realidade, as cadeias não se fecharam, e seus ocupantes em geral frequentaram os bancos escolares. Ou seja, do ladrão, do escroque, do assassino ou traficante analfabetos, passamos ao bandido alfabetizado, não raro portador de título universitário.

De outro lado, atribuir à miséria e às "injustiças sociais", ou então às desigualdades da estrutura social como fazem marxistas e clérigos progressistas - a fonte do crime, eximindo, em muitos casos, os malfeitores de qualquer culpa, é cair num determinismo que faz do homem uma simples peça de engrenagem, sem capacidade de decidir sobre o próprio futuro. É politizar um problema doloroso e atual, para utilizá-lo como arma para derrubar as estruturas sócio-políticas e econômicas baseadas na propriedade privada e livre iniciativa. E querer utilizar-se de um mal para implantar outro ainda maior: o socialismo.

A verdadeira raiz do problema, como ficou dito, encontra-se no senso moral, a noção de pecado e de virtude, existente em cada homem. E tal senso moral inclui um fator preponderante: o temor de Deus.

Sem ele, o qual é o princípio da sabedoria, como diz a Escritura, que outro temor poderá impedir os homens de se matarem ou roubarem uns aos outros, sempre que tenham vontade ou oportunidade para isso? A polícia? Só se fosse possível constituir um corpo policial praticamente igual ao número de habitantes, e que ele próprio fosse inteiramente imune à corrupção reinante.

Ou o homem teme a Deus e vê em seu semelhante uma imagem do Criador, a quem deve respeitar, ou transforma-se num lobo para outro homem, segundo a expressão de Hobbes, pronto a devorá-lo.

Como dizia o Papa Leão XIII, na Encíclica "Rerum Novarum", a chamada "questão social" é eminentemente uma questão religiosa e portanto só pode ser resolvida, em última análise, por meio de uma restauração religiosa, pela implantação do Reino de Cristo na Terra. De outro modo, seria correr inutilmente de utopia em utopia, as quais apenas aumentam a insolubilidade de todos os problemas modernos.

É aliás o conselho que o próprio Divino Salvador formulou: "Procurai primeiramente o Reino de Deus e sua justiça, e tudo mais vos será dado de acréscimo" (Mt. 6, 33). Um desses acréscimos - e não pequeno é a segurança de se levar uma vida normal em sociedade, de se andar tranquilamente pela rua a qualquer hora do dia ou da noite, sem o pânico de ser atacado por malfeitores.

Quando o Clero, em sua generalidade, se preocupava sobretudo com o ensino dos Mandamentos da Lei de Deus e em zelar pelo cumprimento da moral e dos bons costumes, a população ainda gozava dessa relativa tranquilidade. Havia uma diferença bem nítida entre a maioria dos homens comumente honestos e ordeiros e os depravados e malfeitores.

Hoje em dia, existe tal diferença bem definida na opinião pública? Pelo menos no que diz respeito a um homem honrado, e um desonesto ou perdido quanto aos costumes? Quem é considerado atualmente um homem ou uma mulher imoral para o cidadão comum?

Estas linhas têm apenas o fito de chamar a atenção dos leitores para o denominador comum a todos os problemas da sociedade moderna, cada vez mais insolúveis: o afastamento de Deus, a perda do senso do bem e do mal, o desprezo da vida casta e virtuosa.

Deus parece estar longe... Não poderá ser isto um dos efeitos do castigo que Nossa Senhora anunciou, em 1917, em Fátima?