O PROF. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA concedeu à "Folha de Paulo" a entrevista que aqui reproduzimos.
Numa pequena introdução, o repórter Ricardo Kotscho explica que a razão que o fez solicitar a entrevista foi o interesse despertado pelo artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — "Sê coerente..." — publicado no dia 9 de maio p.p. por aquele matutino paulista (cfr. "Catolicismo" n.° 365, de maio deste ano). Quatro dias depois — precisamente no dia 13 de maio, dia de Nossa Senhora de Fátima — ocorria o sacrílego atentado contra João Paulo II.
Como, em seu artigo, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira aventava justamente a hipótese de que estivéssemos no limiar do cumprimento das catástrofes anunciadas em Fátima, o espantoso do atentado de que foi vítima o Pontífice impressionou vivamente grande número de leitores, parecendo confirmar, de algum modo, as terríveis previsões do artigo.
A mencionada introdução do repórter da "Folha de S. Paulo" apresenta, pois, um valor documental que a torna merecedora de ser reproduzida aqui. Afirma o jornalista Ricardo Kotscho em sua introdução (as afirmações sobre o caráter profético do artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira correm, evidentemente, por conta do mesmo repórter):
"Tensões? Crises? É só do que se ouve falar". Assim começava um artigo do pensador católico tradicionalista Plinio Corrêa de Oliveira, presidente da TFP, publicado pela "Folha" no último dia 9 de maio, no qual fazia uma relação entre a aurora boreal vista nos céus de Portugal em 38, às vésperas da eclosão da 2ª. Guerra Mundial, e o mesmo fenômeno, que teria sido observado nos Estados Unidos, na noite de 12 de abril deste ano, profetizando: "Parece que o fenômeno luminoso insólito de 1981 é simétrico com o de 1938". E concluía: "Quem avisa amigo é".
"Pouco depois, ocorreria o atentado contra o Papa, no dia de Nossa Senhora de Fátima — exatamente... em cujas revelações feitas em 1917... Plinio Corrêa de Oliveira fundamentou sua tese sobre os castigos advindos após a aparição da aurora boreal. Houve quem visse nas profecias do presidente da TFP uma interpretação apocalíptica para os atentados praticados contra o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e o Papa João Pauto 2.° — prenúncio de novas desgraças que poderiam desaguar na 3ª. Guerra Mundial".
A entrevista do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicada no dia 24 de maio p.p. pela "Folha de S. Paulo", foi compreensivelmente comprimida pelo jornalista, dentro das limitações de espaço habitualmente utilizadas pela grande Imprensa, tendo em vista seu público específico, majoritariamente pouco afeito à reflexão, no corre-corre do dia-a-dia.
"Catolicismo" se compraz, pois, em oferecer a seus leitores o texto in extenso da entrevista — extraído da gravação em fita magnética — certo de que a riqueza de pensamento e de expressão do grande líder católico brasileiro interessarão a um público mais afeiçoado a precisões e matizações de caráter histórico e doutrinário. É o seguinte o teor da entrevista:
"Folha" — O Sr. poderia explicar sua tese, relacionando as revelações de Nossa Senhora em Fátima, a aurora boreal de 38 e a II Guerra Mundial, a aurora boreal de 81 e a iminência de uma nova Guerra Mundial?
PCO — Minha teoria parte das revelações feitas por Nossa Senhora a três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta, no local chamado Cova da Iria, em Fátima, no ano de 1917. Nossa Senhora disse então que o mundo estava em estado de pecado generalizado muito grave. O pecado é uma ofensa a Deus e atrai a cólera dEle. Como Mãe de Deus e Mãe dos homens, Nossa Senhora se empenhava em evitar isso, rezando pelos homens, e aparecendo aos pastorinhos para pedir que o mundo se emendasse, isto é, cessasse de pecar e fizesse penitência. Os pecados eram a impiedade (ou seja, a falta de fé) e a impureza. Nossa Senhora pedia, além disso, que o Papa consagrasse a Rússia ao Imaculado Coração dEla, e introduzisse na Igreja a Comunhão reparadora nos primeiros sábados de cada mês.
Na aparição do dia 13 de julho, Nossa Senhora comunicou aos pastorinhos um segredo em três partes, duas das quais já foram reveladas. A primeira foi a visão do inferno, para onde vão as almas dos pecadores que morrem impenitentes. A segunda é um castigo que sobreviria para o mundo, se os homens não se emendassem: a Rússia espalharia seus erros por toda parte, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Várias nações seriam aniquiladas. O sinal do início desses castigos seria uma noite iluminada por uma luz desconhecida. Entretanto, no mesmo segredo Nossa Senhora anuncia a conversão da Rússia e o triunfo final do seu Imaculado Coração. A terceira parte do segredo, ou simplesmente "terceiro segredo", como comumente se fala, foi transmitido pela Irmã Lúcia, por escrito, ao Bispo de Leiria, em 1944, e desde 1958 está em poder da Santa Sé. Sabe-se que João XXIII tomou dele conhecimento, dando-o ainda a ler, sob sigilo, a algumas altas personalidades do Vaticano. Mas o seu conteúdo é inteiramente desconhecido do público.
"Folha" — Chegou-se a cogitar, na semana passada, que esse terceiro segredo falaria exatamente de um atentado contra o Papa.
PCO — Meu comentário é o seguinte. De 1917 para cá, a impiedade e a corrupção dos costumes cresceram enormemente. De fato, a Rússia espalhou seus erros por toda parte. As condições essenciais pedidas por Nossa Senhora não foram atendidas. É de se temer o castigo. Esta é, pois, a teoria.
Por brevidade, não tratei, em meu artigo, de uma objeção: a II Guerra Mundial, precedida por uma aurora boreal insólita, já não foi esse castigo? Então, os fenômenos luminosos vistos nos Estados Unidos recentemente aurora boreal ou não, a natureza científica pouco importa — seriam uma espécie de bis in idem, porque anunciariam uma III Guerra Mundial, quando já houve o castigo da segunda. — A resposta é: por declarações que a Irmã Lúcia fez posteriormente às aparições, o castigo teria começado com a II Guerra Mundial. Mas, na concepção dela, esta já se iniciou com o "Anschluss" (a anexação da Áustria pela Alemanha, em 1938). O que é uma coisa que se pode sustentar: foi, por assim dizer, a primeira extravasão do III Reich. Desse modo, a próxima guerra seria uma continuação da segunda.
Para entender isso, é preciso, naturalmente, familiarizar um pouco a vista: a famosa "Guerra dos Cem Anos", na Idade Média, teve interstícios; não foram cem anos consecutivos de guerra. Nesta perspectiva, se compreende que a III Guerra Mundial seja vista como continuação da segunda.
"Folha" — Qual o significado dos atentados praticados contra Reagan e o Papa dentro deste contexto?
PCO — Eu não tive isso em vista, quando escrevi esse artigo, pois não me passou pela cabeça que pudesse haver o atentado contra João Paulo II. Mas acaba sendo que, a posteriori, pode-se fazer uma pergunta. Naturalmente, tomar só o atentado contra Reagan e Fátima, a aproximação dos fatos é um pouco forçada. Mas uma vez que houve, depois do atentado contra Reagan, o atentado contra João Paulo II, cabe a pergunta que o Sr. fez sobre o atentado a João Paulo II, e por conexão, sobre o atentado contra Reagan.
A resposta é a seguinte: esses atentados tiveram causas próximas específicas, que nós do público ignoramos, pois não foram suficientemente investigadas, ou ainda não foram publicadas. Mas o estado geral de desordem, de tensão e de descontentamento do mundo inteiro, de algum modo se refletem nesses atentados. E esse descontentamento, essa desordem podem ser vistos como efeitos da impiedade e da corrupção moral.
No que diz respeito ao atentado contra João Paulo II, noto um nexo especial com Fátima no seguinte. — O Sr. me fez uma pergunta genérica sobre os dois atentados. Eu respondi genericamente. Agora trato especificamente do atentado contra o Papa. — Antes do atentado, muitas pessoas não tomavam a sério o aviso de Fátima, levadas pelo otimismo geral: "é improvável", "essas coisas não acontecem", "desastres assim não há" etc. Depois sobreveio o atentado, o qual traumatizou, a justo título, o mundo inteiro. São incontáveis os que se dizem agora que nunca pensaram que as coisas fossem chegar tão longe. O atentado lhes faz ver que vivemos em dias excecionais, e que se não tivermos os ouvidos abertos para a Mensagem de Fátima, bem pode acontecer que sejamos surpreendidos pelas punições previstas por Nossa Senhora.
"Folha" — Segundo esse raciocínio, o atentado contra o Papa seria um aviso?
PCO — Até lá não chego, porque Deus não encarregaria um bandido de executar um crime para exprimir um aviso dEle. Deus permite que isso aconteça, mas não ordena, não dispõe. O atentado pode ser visto como a expressão da profundidade de um estado de desordem, a qual, por sua vez, pode originar as guerras e outras catástrofes previstas em Fátima.
"Folha" — O que não consigo entender é como o próprio Papa seria castigado por isso. O castigo, então, atinge o próprio Papa?
PCO — É que o Sr. está aceitando como líquido um ponto que eu não admiti na resposta que lhe dei: o de que esse castigo tenha sido ordenado por Deus. Eu disse o contrário: esse castigo resulta de circunstâncias gerais que Nossa Senhora em Fátima denunciou como más. Dessa corrupção sai, como uma bolha de dentro de um pântano, entre outras coisas, o crime contra o Papa. Ele é uma das vítimas. Assim como a humanidade é atingida em mil pontos, o Papa, que é um membro muitíssimo insigne da humanidade, também foi atingido. Não foi Deus que mandou o criminoso castigar o Papa. Não se trata disso.
É como numa epidemia. Uma epidemia é um castigo; morre durante a epidemia — vamos imaginar — o Papa. Isso não significa que a epidemia foi desfechada contra o Papa. Aqui também: trata-se de uma onda de crimes. Um crime desses atinge o Papa: não quer dizer que isto tenha sido ordenado diretamente como castigo contra a pessoa do Papa. Trata-se de um fato que, de si, é fruto de uma desordem (a qual, por sua vez, é fruto e castigo do mal), e que atinge vários homens, entre outros, um homem insigne, eminente, como é o Papa.
"Folha" — Os atentados terroristas praticados ultimamente no Brasil, especialmente o do Riocentro, também fariam parte deste quadro?
PCO — A TFP tem evitado de se manifestar sobre assuntos de política interna. O que posso dizer é que o estado atual do Brasil participa da agitação do mundo — e, como tal, ele está integrado no conjunto de fatores que podem ocasionar uma expansão ainda maior dos erros do comunismo no mundo, bem como tensões e agitações, das mais variadas ordens, dentro do panorama descrito por Nossa Senhora em Fátima.
"Folha" — Qual a posição da TFP diante dos últimos acontecimentos que abalaram a vida nacional?
PCO — A TFP é uma organização extrapartidária e ela só intervém na vida pública no que toca à defesa dos princípios fundamentais da civilização cristã. Tomamos como critério de julgamento os Dez Mandamentos da Lei de Deus.
Se confrontarmos os costumes em vigor no Brasil em 1917, com os que estão em vigor hoje, veremos que se naquele tempo os Mandamentos eram transgredidos com uma amplitude e uma gravidade igual a "x", hoje o são na amplitude "x" multiplicada por "x". De outro lado, o divórcio implantado no Brasil e a extensão do controle da natalidade marcam bem o distanciamento dos costumes sociais em relação aos Mandamentos.
No campo socioeconômico, a socialização, não só de metade do parque industrial, mas progressivamente de todo o patrimônio privado, por meio de impostos gigantescos; a concentração de populações, parte das quais gravemente carente, em centros urbanos hipertrofiados, quando nosso País tem abundância de terras devolutas, que deveriam ser povoadas; os recursos quase inesgotáveis do mar, insuficientemente aproveitados para manter a população etc., tudo isso compõe um quadro que causa preocupações profundas.
O quadro é morboso, doentio. Por vários lados, o comunismo infecciona esse gênero de doenças, agrava-as e nutre-se delas. Aproximamo-nos então da fase anunciada em Fátima: o comunismo espalhará seus erros. Aí está o nexo entre uma coisa e outra.
"Folha" — Gostaria que o Sr. definisse melhor a posição da TFP diante dos atentados terroristas praticados no Brasil.
PCO — A TFP uruguaia publicou um livro (“Esquerdismo na Igreja, companheiro de viagem do comunismo”) muito bem pensado, que mostra como o terrorismo dos "tupamaros" foi um artifício da guerra psicológica revolucionária — psy-war em inglês — para fazer caminhar no público uruguaio a aceitação do comunismo. O fundo de quadro da tese é que as guerrilhas na América do Sul também foram, em última análise, artifícios da guerra psicológica revolucionária com fim propagandístico: digamos assim, uma show-war como artifício da psy-war. Cabe uma pergunta: o terrorismo não será também um artifício da show-war?
"Folha" — Ocorre, Dr. Plinio, que há uma diferença fundamental entre os atentados terroristas praticados na época dos "tupamaros", no início dos anos 70, e os atuais. E que aqueles foram todos esclarecidos, mostrando-se que se tratava de organizações de esquerda em luta armada contra os regimes militares de direita, enquanto os atuais, ao contrário, embora não esclarecidos, visam exatamente impedir a democratização.
PCO — Na minha opinião pessoal, nada disso foi demonstrado. Sou muito cético a esse respeito, porque vejo de permeio a suspeita, inteiramente infundada e tola, veiculada de cá e de lá, de que a TFP teria ligação com isso.
É totalmente falsa a acusação de que a TFP tem adestramento para a violência, armamentos, e que seria ao menos propensa ao terrorismo. Isso não tem sequer semelhança de fundamento, e tanto é assim, que um ou outro indício que se tem pretendido alegar nesse sentido, é fraudulento. Há anos que, de vez em quando, sai essa cantilena.
Uma vez se publicou, para dar aparência de verdade, a foto de uma das nossas sedes. Aparecia um longo muro e, no alto, uma caixa d’água para dar a ideia de uma torre de comando, de observação. E o muro, um longo muro sem portão; portanto misterioso. — Esse terreno, em concreto, onde há o tal muro, tem duas de suas faces cercadas por uma tela de arame, de modo que o terreno é todo visível. O repórter fotografou o muro do outro lado e omitiu de dizer que o terreno é todo visível. Está-se vendo o artifício.
De vez em quando colocam a TFP entre as organizações que estariam promovendo esse terrorismo dito de direita. Ainda recentemente fizeram isso. A TFP não pratica e condena os que praticam o terrorismo.
"Folha" — Para finalizar, Dr. Plinio, diante desse quadro todo conturbado que existe hoje no Brasil e no mundo, qual é o trabalho que a TFP faz para mudar isso? Qual é a saída, diante desse quadro?
PCO — Nossa atuação não visa, fazer tudo, para mudar tudo. Ninguém é capaz disso. Sugestões nos vêm: por que não cuidamos do problema do menor, da ação social etc.? Simplesmente porque outros o fazem, outros o devem fazer. Nós não podemos nos incumbir de tudo. Somos uma componente de um esforço geral. Não podemos arcar com ele.
Nossa atuação comporta, sem dúvida, um aspecto caritativo. Nas caravanas de jovens que temos por todo o País, eles costumam visitar hospitais, orfanatos, favelas, levando auxílios, ora materiais, ora de caráter espiritual: Rosários, medalhas, e outras coisas assim: um bom conselho, uma boa palavra, uma conversa com um doente.
Mas qual é o nosso ponto específico? Nós partimos da convicção de que a difusão de erros contrários à Doutrina Social ensinada pela Igreja prejudica a fundo toda solução que se queira dar a qualquer problema socioeconômico. Reciprocamente, a difusão da doutrina positiva, nos seus acertos, favorece a fundo a solução. Nós temos agido no sentido de combater, no plano ideológico, esses erros e difundir essas verdades. A TFP é, portanto, uma organização essencialmente doutrinária.
PROF. PLINIO CORRÈA DE OLIVEIRA: "De 1917 para cá, a impiedade e a corrupção dos costumes cresceram enormemente. De fato, a Rússia espalhou seus erros por toda parte. As condições essenciais pedidas por Nossa Senhora não foram atendidas. É de se temer o castigo".
Hitler entra em Viena, em 15 de março de 1938, para proclamar oficialmente a anexação da Áustria("Anschluss') ao domínio nazista. — Na noite do dia 25 para 26 de janeiro do mesmo ano, um grande clarão iluminava os céus da Europa. Era o sinal previsto em Fátima, que anunciava a IIa. Guerra Mundial.
Embaixo: operários alemães de uma fábrica de bombas, dizimados durante a II Guerra Mundial.
Impressionante concentração popular diante da Basílica de Fátima. Nossa Senhora, em 1917, advertiu o mundo naquele local para a eventualidade de um castigo, caso não se convertesse.
P. Ferreira e Melo
Nós, brasileiros, nos acostumamos a apreciar a particular profundidade do pensamento alemão. Sempre nos chamaram a atenção as manifestações da intelectualidade dessa grande nação do Velho Mundo. Em vista disso, pareceu-me oportuno oferecer aos leitores de "Catolicismo" um apanhado de duas obras que repercutem atualmente em vastos círculos de destaque do Ocidente. Como não foram divulgadas no Brasil, seu conhecimento, embora restrito aos limites acanhados de um artigo, possibilitará melhor apreciação do panorama internacional, objeto delas.
Por que dois livros num só comentário?
Em primeiro lugar, porque, como foi dito há pouco, tratam de temas conexos, próprios a serem analisados numa só visão. Um deles tem como título "O ataque — investida de Moscou rumo à dominação mundial", publicado em Munique. O segundo foi editado em Washington pelo Instituto de Relações Internacionais e pelo Centro por uma Sociedade Livre, e se intitula: "Somos todos Afeganistão".
Em segundo lugar, porque o autor é o mesmo. Destacado deputado federal alemão, eleito pela União Social Cristã (CSU) bávara, o Conde Hans Huyn aborda os referidos temas com finura de espírito e penetração de análise.
A característica mais notável, comum às duas obras, procede da consideração ampla dos planos imperialistas de Moscou. O Conde Huyn demonstra que a Rússia tem um desígnio constante, imutável, de dominação universal. Isso, que é conhecido pelos homens dotados de visão objetiva, adquire relevo por conter explanação rica em dados e conhecimento seguro da matéria. Ex-diplomata, especialista em assuntos internacionais, o autor traça as várias etapas do plano soviético destinado a asfixiar gradualmente o Ocidente e, por fim, subjugá-lo. Trato agora sumariamente dessas etapas.
O comunismo tinha por primeiro e grande fim convencer as multidões do mundo. Nunca o conseguiu. Fracassou na persuasão. Como persegue incansavelmente seus planos de dominação universal, vieram para primeiro plano as táticas de debilitamento do adversário.
Trata-se então, ao lado do fortalecimento militar do império soviético, de enfraquecer psicológica e materialmente o Ocidente. Em posição de proeminência estão as grandes manobras psicológicas e de conquista ideológica de setores-chaves dos países não comunistas. Dentre elas convém ressaltar a infiltração e difusão das tendências comunistas nas várias igrejas, especialmente na Igreja Católica; o trabalho intenso pela aceitação do espírito entreguista, ingênuo e desprevenido da détente; as contínuas e extensas atividades de desinformação para desorientar o público. E ainda se poderia acrescentar a influência nos meios de comunicação social e disseminação em círculos da burguesia de ideias esquerdistas, tornando-os virtualmente inaptos a reagir eficazmente contra as investidas dos estrategistas do comando soviético.
Diante do adversário carcomido e desorientado, os manejos do Kremlin adquirem especial periculosidade, com ponderáveis perspectivas de vitória. E aí passamos para outro campo da luta, o político e econômico, descrito com acerto no primeiro livro mencionado acima —"O ataque — a investida de Moscou rumo à dominação mundial" — como fases da III Guerra Mundial. Incluem o domínio das rotas do petróleo, de suas regiões produtoras, dos países africanos ricos em matérias-primas estratégicas, com o fito de colocar a economia do Ocidente à mercê dos russos, forçando desta forma o processo de "finlandização" da Europa e, finalmente, a circunvalação dos Estados Unidos.
Tal manobra, de dimensões ciclópicas, apresenta, contudo, uma retaguarda enfraquecida. Sobre as debilidades do comunismo, o experiente autor aduz dados significativos.
A reação do povo afegão à brutal investida do poder militar soviético evidenciou as limitações da força das armas, quando estas encontram diante de si uma nação que não se rendeu no interior de sua alma. Assim descreve o Conde Huyn o ânimo afegão: "Quem conheceu esta raça montanhesa, amante da liberdade, altiva e brava, quer como hóspede em um de seus refúgios nas escarpas que fecham os altos vales de Hindu Kuch, ou nos bazares dos comerciantes de armas em Peshawar, onde os armeiros copiam manualmente qualquer tipo de arma, sabe que nunca se renderão voluntariamente a um conquistador estrangeiro".
Porém, o perigo maior para os senhores do Kremlin parece localizar-se não em suas aventuras imperialistas, mas no instável interior de seus domínios. A pujante reação de inconformidade manifestada pelas bases do operariado polonês constitui sintoma expressivo do desagrado generalizado reinante atrás da cortina de ferro, onde, significativamente, nunca se teve a coragem de realizar o que seria o maior golpe propagandístico do comunismo: uma eleição livre, sujeita à verificação imparcial de observadores do mundo inteiro. Entre os numerosos fatos relatados pelo autor, destaco um de especial significação para o católico autêntico. Só na pequenina e católica Lituânia, há sete publicações clandestinas — samizdats — que são distribuídas de mão em mão com evidentes riscos.
Estes dois livros, pela clareza dos problemas colocados, sugerem de imediato a seus leitores uma conclusão. Se houvesse da parte de ponderáveis setores responsáveis no Ocidente atenção seriamente posta na luta ideológica, na disputa das almas, ficaria por várias décadas debilitado o plano russo de conquista mundial. Pelo menos. Ele se torna viável por encontrar diante de si um adversário dormitante, iludido, confundido e pouco apto à resistência. Trata-se de trabalhar, já se vê, especialmente junto àqueles que não desejam o comunismo, mas que se encontram desconcertados e abatidos face à aspereza do viver atual e das táticas acima expostas em poucas palavras.
O comunismo perdeu a arma na qual havia posto sua grande esperança. Fracassou em convencer. Os povos não seguem suas ideias, vestidas com enganosas roupagens de justiça social, e a cujo serviço há plêiades de grandes especialistas em propaganda, incontável quantidade de dinheiro e multidões de homens dedicados.
Além disso, o revigorar de opiniões sadias no Ocidente influiria seguramente as populações de além-cortina de ferro, onde as pessoas de boa orientação — raciocinando na lógica dos fatos — devem sentir-se abatidas ao ver o abandono em que as deixa o mundo ocidental. Essa prostração extinguir-se-ia na medida em que sentissem crepitar do outro lado da fronteira os mesmos sentimentos de calorosa inconformidade e o mesmo desejo de pôr fim a um estados de coisas tirânico e inumano. Mas, sobretudo — razão preponderante para uma alma verdadeiramente católica — contrário aos princípios do Evangelho e da Lei Natural.
E, através do gelo das fronteiras, poder-se-ia estabelecer promissor arco voltaico da união dos inconformados, dispostos a combater, segundo dos princípios da Lei Divina e da Lei Natural, os ditames ímpios dos ateus do Kremlin.
Manobras soviéticas na Alemanha Oriental. — Os russos só avançam porque encontram um Ocidente dormitante, iludido, sem vontade de lutar.
"Quem conheceu esta raça montanhesa, amante da liberdade, altiva e brava,[...] sabe que nunca se renderão voluntariamente ao conquistador estrangeiro", diz o Conde Huyn a respeito dos afegãos, cuja indômita oposição aos soviéticos vale como lição ao mundo ocidental. É que aqueles resistiram à guerra psicológica revolucionária, desenvolvida intensamente pelos russos no Ocidente, e não se deixaram anestesiar.