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| Reforma Agrária em El Salvador... |Continuação da pág. 3

para atuar nos planos da produção e das finanças.

Basta dizer que, de acordo com o escritório de Costa Rica do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, somente nos primeiros oito meses de 1980, 35.000 salvadorenhos foram obrigados a deixar seu país devido à revolução socialista.

Eles não eram apenas os que perderam suas terras ou bancos particulares em março de 1980. Engenheiros, agrônomos, técnicos em agricultura moderna, financistas, administradores, médicos, advogados, contadores, editores, enfim, todo o sangue vital de uma economia, ou seja, as pessoas que sabem fazer as coisas, se esvaiu. Até trabalhadores rurais, que o golpe reformista pretensamente beneficiaria, preferiram deixar o país.

Muitos que ficaram foram vitimados por ataques terroristas. Em 15 de outubro de 1980, primeiro aniversário do golpe que iniciou a revolução socialista, a Agência France Press recebeu uma comunicação da Cruz Vermelha de El Salvador, na qual esta declarava ter socorrido 24.000 refugiados do terrorismo esquerdista no nordeste do país, durante a semana anterior. Estas são as "massas" que a Junta diz ter beneficiado... A Cruz Vermelha informou que 60% desses infelizes eram crianças.

Os entreguistas do "ceder para não perder"

Entretanto, se muitos fogem, outros preferem ficar e... negociar com o próprio carrasco.

São os adeptos do "ceder para não perder", que não se incomodam que seja tirado dos outros desde que não se tire o que é seu. Ou então, que tirem o que é seu não hoje, mas somente amanhã. Não se guiam por princípios, mas por um egoísmo imediatista, que deixa de ser humano para se tornar meramente animal.

Exemplo significativo desse tipo de gente é um grupo de empresários salvadorenhos que ainda não perdeu suas posses, mas que poderá vir a perdê-las na próxima etapa das reformas. Reconhecendo que o novo socialismo está arrasando com a economia do país, mostra-se disposto a conviver com as reformas já feitas, desde que possa contribuir para modificar o modelo econômico em favor da livre empresa. Ou seja, seus componentes aceitam como fato consumado o confisco dos bens alheios, desde que não haja novas leis que confisquem o que é deles. Tal grupo autodenominou-se "Aliança Produtiva", tendo declarado que não apoia nem se opõe à Junta (?!).

A História tem demonstrado que pessoas desse tipo costumam ser as primeiras a serem penduradas nos postes quando eclodem as revoluções cruentas...

A autora Virginia Prewett ainda apresenta em seu ensaio outras consequências funestas, não só em relação a El Salvador, como também ao próprio prestígio da política externa norte-americana junto à América Latina, resultante dessa desastrosa experiência da "nova diplomacia" cartesiana.

Ao comentarmos tais fatos, não tivemos a intenção de tripudiar sobre alguém já derrotado, como Carter e sua política dos "direitos humanos". Nosso intuito foi antes o de chamar a atenção dos leitores para a ação nefasta daqueles que, sem se declararem comunistas ou socialistas, ou mesmo negando sê-lo, aceitam entretanto que certas "mudanças" são inevitáveis.

Que os fatos ocorridos em El Salvador sirvam também de advertência para aqueles que julgam ser possível apaziguar o ímpeto da esquerda radical com concessões como as que foram feitas naquele país. Pois os comunistas só estarão satisfeitos quando conseguirem eliminar, não só seus adversários, como também seus "companheiros de viagem" e se instalarem sozinhos no poder. A única maneira de vencê-los é enfrentá-los com decisão e coragem, sem concessões de espécie alguma, discernindo neles toda a malícia de que são capazes, e agindo em consequência.

Eis porque a guerrilha comunista em El Salvador, apesar de não contar com o apoio da opinião pública da nação, ainda não foi definitivamente eliminada.


"Reconquista" inaugura sede em Lisboa

Ronaldo Baccelli

nosso correspondente

LISBOA — Foi oficialmente inaugurada em Lisboa a nova sede do Centro Cultural Reconquista, entidade autônoma e co-irmã das TFPs existentes nas Américas e Europa. A fim de dar maior ressonância ao ato, Reconquista - à semelhança do que já fizera em 1972 — lançou um manifesto dirigido aos jovens portugueses. É o seguinte o texto do documento:

"Nesta hora em que tantos olhos se voltam para a juventude, esperando dela o enunciado de rumos para o futuro, é de suma importância que se forme uma visão objetiva da mesma. É um lamentável equívoco considerar os jovens como um mare magnum marcusiano que tende a impor ao mundo as maiores aberrações. É preciso, também, que não se pense que a juventude de hoje é, quando não adepta da filosofia de Marcuse ou de Levy-Strauss, indiferente aos problemas do espírito, obcecada apenas pela conquista de um diploma profissional. Para que essas falsas imagens não perdurem é necessário que se levantem vozes de dentro da própria mocidade para demonstrar a existência em Portugal de inúmeros jovens desejosos de autêntico progresso, que seja um desdobramento harmônico da tradição e não uma brutal rejeição desta.

"Nesse sentido, apelamos para uma verdadeira mobilização dos espíritos sãos, capazes de conjurar as graves ameaças do presente e forjar assim um Portugal sempre mais cristão e fiel a si mesmo, sob a proteção de Nossa Senhora de Fátima. NEla encontraremos força, intrepidez e coragem para conduzir a luta ao seu vitorioso termo, profetizado na conclusão da sua sublime Mensagem: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!"

* * *

Os autores do manifesto esclarecem, em seguida, os objetivos de Reconquista: "A associação estimula, auxilia e difunde, sem fins de lucro, trabalhos de caráter filosófico, histórico, social e econômico, relativos aos problemas nacionais e à procura das respectivas soluções, segundo os preceitos do Direito Natural, entendidos em conformidade com os princípios da ortodoxia católica e o imutável Magistério da Igreja.

"Reconquista é uma associação cívica e não religiosa. Os seus membros, no entanto, são católicos, apostólicos, romanos. E em consequência católica é a inspiração que eles pretendem dar a todos os empreendimentos que a entidade levará a cabo para o bem do país.

"Portugal tem uma história grandiosa, marcada por feitos heroicos que despertaram a admiração até entre os seus adversários.

"Infelizmente não falta quem deseje impedir um futuro ainda mais glorioso para a nação; quem deseje apagar a chama sagrada da civilização cristã que os nossos antepassados nos legaram. [...]

"Jovem português, a luta é sagrada e pede heroísmo! Apresentamos-te saudações cordiais e pedimos-te que, no âmbito da tua influência e das tuas relações, não poupes esforços para defender os sagrados princípios pelos quais lutaram, morreram e venceram os "barões assinalados" que cobriram de glória o nome de Portugal!"

Campanha do Centro Cultural Reconquista, em frente à Igreja dos Mártires, de Lisboa.


Diálogo cristão-marxista: pouco cristão, muito marxista

Péricles Capanema

Em países de alta expressão cultural e de longa tradição no trato dos problemas ideológicos, têm especial importância as questões atinentes ao choque ou à convergência dos grandes sistemas de pensamento. Grandes quer pelo valor da elaboração doutrinária, quer pela importância que adquiriram na determinação dos destinos humanos. Uma dessas nações é a Alemanha.

Na atualidade, como se sabe, as duas maiores correntes de pensamento a orientar com dinamismo a vida dos homens são o cristianismo e o marxismo. E o chamado diálogo cristão-marxista ocupa, por isso mesmo, lugar de destaque na vida intelectual alemã.

Discorrerei brevemente sobre tal diálogo comentando passagens de um artigo-orientação de Robert Steigerwald, membro diretivo do PC alemão. A importância deste estudo é realçada por sua publicação no órgão oficial do movimento comunista internacional sujeito a Moscou, a "World Marxist Review", de maio de 1979.

Embora o artigo verse especialmente sobre a Alemanha, as táticas empregadas e o proveito que dele esperam tirar os comunistas certamente têm validade universal, pelo menos em suas linhas-mestras.

O que significa serem muito atuais também para o Brasil onde, sob várias formas, aplicam-se manobras táticas favorecedoras dos desígnios do Kremlin.

Diálogo sem condições

Kolner, um dos membros da Sociedade São Paulo, dedicada especialmente ao diálogo cristão-marxista, havia afirmado que uma preliminar para a ação conjunta de marxistas e cristãos seria a garantia da existência do cristianismo sob governos socialistas. É compreensível — embora ingênua — a proposta. Como as referidas ações conjuntas sempre favorecem a implantação do socialismo, que se garanta a um dos sócios a possibilidade de existir caso o outro triunfe, é o menor dos pedidos.

Contudo, o dirigente marxista Steigerwald opta pela negativa. A luta ideológica em prol do ateísmo será intensa sob qualquer regime comunista. O que se pode garantir é a liberdade de consciência e de religião. Segundo ele, como a já existente nos países da Europa Oriental...

Mas Steigerwald distingue dois tipos de ação conjunta e, neste ponto, o tema adquire atualidade para observadores lúcidos: o diálogo ideológico entre intelectuais dos dois lados e a luta conjunta para obter fins comuns.

Se houvesse uma só frente de cooperação, as imensas dificuldades doutrinárias atrapalhariam o combate ao que a sociedade ocidental tem de especificamente contrário ao comunismo. Os hábeis táticos do comunismo propõem então a divisão da colaboração para que todo o potencial utilizável não seja prejudicado pelos freios das dificuldades doutrinárias.

Eis o que diz Steigerwald: "Temos consciência dos formidáveis obstáculos no caminho da ação conjunta entre crentes e marxistas quando as discussões são tratadas em questões irrelevantes para a prática e que são apenas de interesse teórico. A ação conjunta de marxistas e crentes já produziu em alguns campos mais resultados que tais discussões. A ação conjunta é a luta socioeconômica da classe trabalhadora, a luta pela participação na direção e contra um maior pisoteamento da democracia".

As discussões entre intelectuais dos dois lados

O membro da direção do PC alemão nota que os marxistas acompanham com atenção as diferenças ideológicas entre os cristãos. Obviamente, em plano mundial, a atenção maior volta-se para a Igreja Católica, quer pelo número de seus adeptos, quer pela unidade propiciada por sua estrutura e doutrina. E as simpatias do articulista orientam-se, obviamente, para as correntes progressistas, tendentes a entrar em acordo com o comunismo. Chega mesmo ele a lamentar o fechamento de uma publicação dialogante: "Na Alemanha, a crescente atividade dos oponentes da détente e de reacionários está tendo um efeito negativo no desenvolvimento de tendências ideológicas e políticas positivas entre os crentes. Em relação ao diálogo também sucede o mesmo. Desta forma, o Internationale Dialog-Zeitschrift, que era publicado pelo teólogo Herbert Forgrimler, foi duramente atacado e aniquilado".

Entretanto, para Steigerwald, o que mais importa é isolar tais discussões, deixá-las desenvolver-se em redomas e colocar o acento tônico na cooperação prática. Como já afirmou Paul Bourget, "cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por se pensar como se viveu" ("Le Démon du Midi", Plon, Paris, 1914, vol. 2, p. 375).

O esforço para implantar a cooperação prática

Além de tais contatos e discussões, de importância óbvia, o desejo do PC germânico é lançar os cristãos na reivindicação dos mesmos pontos de seu programa de ação. Sem se deixar enredar por diferenças ideológicas e a diametral oposição no campo religioso, a grande vitória dos comunistas consistirá em unir as vozes de protesto, deixando de lado o que separa os dois campos. Estes pontos discrepantes seriam tratados em outro ambiente.

Comenta Steigerwald, a propósito de um congresso de jovens católicos na Alemanha: "Ao mesmo tempo, durante o Congresso, católicos e marxistas juntaram-se numa manifestação na cidade de Friburgo, em memória das vítimas do fascismo. Tal iniciativa evidenciou a urgência de um diálogo que iria além dos limites do círculo restrito dos intelectuais. Em relação ao que foi dito, notemos algumas tendências da nova focalização. Inicialmente, a enorme importância concedida aos esforços destinados a conseguir a cooperação prática".

A reafirmação nítida de antiga tática leninista salienta a esperança renovada na "política da mão estendida", rejeitada por Pio XI e Pio XII.

Esperança na América Latina

Steigerwald considera conservador o Clero da Alemanha, mas manifesta esperanças acentuadas quanto ao de outra região do mundo: "Há diferenças crescentes entre aqueles que desejam uma "renovação" da Igreja e as forças conservadoras. Os primeiros têm apoio sobretudo na América Latina".

Contrista o fato de um destacado representante do comunismo internacional julgar viável a utilização da influência católica para a consecução de seus fins. Mas é inegável que a visão igualitária da sociedade e o ódio rancoroso mesmo em relação a desigualdades proporcionais e legítimas, vão transformando, lenta mas, infelizmente, com resultado, ponderável número de católicos espalhados por todo o mundo em massa de manobra dos ateus do Kremlin.

A importância do artigo "Alguns aspectos do diálogo cristão-marxista" de Robert Steigerwald advém especialmente de um fato: o destacado dirigente do PC alemão considera com simpatia o desenvolvimento desse aspecto capital da estratégia da Internacional Comunista. E manifesta esperanças de ver imensos contingentes não-comunistas a reboque dos objetivos do movimento comunista internacional.


ÍNDIA ÉPICA

Soa a tuba legendária. É na cidade de Jaipur, projetada em forma de xadrez e colorida de rosa. As grades das muralhas externas se eriçam com suas pontas de lanças, que as protegem contra ataques de elefantes.

Ergue-se a tuba de tradições heroicas. O marajá de Jaipur dirige-se ao reino de Jaisalmer para assistir a um casamento de parentes, descendentes como ele de antigos guerreiros. O trombeteiro, arqueado para sustentar o longo instrumento de bronze, parece apontar a tuba para uma região feérica, perdida no firmamento, onde se refugiam a memória de seu povo e as lendas do passado. Os sons ecoam como uma conclamação à memória popular, onde repousam e se levantam intermitentemente nobres estórias e pretéritas fábulas.

* * *

Em todos os povos se encontram qualidades e deficiências, pequenas ou grandes. Mas o melhor, em todos eles, mesmo nos obscurecidos pela superstição pagã, reside em sua tradição épica, legendária e guerreira.

Essa sacia-se em dois mananciais que se enriquecem mutuamente. Um brota nas melhores zonas da alma, à maneira de um jato d'água iluminado. É o espírito de grandeza, de heroísmo, voltado para o maravilhoso e circundado de honra e esplendor. O outro mana dos ambientes que esse espírito plasma para manifestar suas potencialidades, reconhecer-se, diferenciar-se e corrigir suas lacunas e defeitos, em busca da perfeição, dos valores absolutos.

Na Índia, tais memórias e ambientes conservaram-se através dos séculos, constituindo para o mundo um quadro fabuloso. Foi o, objeto dos sonhos de Dario, Alexandre Magno, Júlio César, Gengis Khan, Alfonso de Albuquerque e outros grandes, sem falar dos planos divinos, cuja realização foi tentada pelo legendário empenho do Apóstolo São Tomé, ou pelo zelo abrasado de São Francisco Xavier.

Essa Índia das fábulas sobrevive ainda até nossos dias. Em estado de resto, dormiente, sufocada pelo pragmatismo materialista de nosso tempo, é verdade. Índia dos sonhos estrangulada pela Índia dos horrores, que um paganismo satânico levou a extremos inenarráveis: os banhos promíscuos de multidões supersticiosas nas águas do Ganges; os gurus, repelentes como os ídolos que adoram; populações de milhões de pessoas que padecem fome, enquanto o maior rebanho bovino do mundo permanece intocável, por considerá-lo sagrado a religião hinduísta...

A constituição atual da União Indiana, promulgada em 1947, estabeleceu a unificação política dos povos hindus. Em nada modificou, porém, os costumes pagãos das multidões.

E a índia dos sonhos?

É para ela que nos voltamos agora, comentando um fato não muito longínquo, ocorrido em 1948.

* * *

Ao sudoeste da capital hindu, Nova Delhi, existe uma região onde o povo celebrava com ativo entusiasmo as recordações épicas e seus ambientes fabulosos: Rajputana (de rajput, "filho de rei"). A cultivada memória de suas proezas apresentava a base para manifestações de esplendor.

É preciso lembrar que a Índia não conhecia a História verificativa e raciocinada, que apareceu com os gregos. A pujante imaginação oriental hindu não a podia conceber. O que de mais próximo à História existiu na Índia, nos séculos passados, foi uma narrativa da região de Cachemira, do século XVIII, escrita... em versos!

Há pouco mais de três décadas, os trinta marajás de Rajputana dirigiram-se à cidade e corte de Jaisalmer — um dos reinos da região — aninhada em um oásis do deserto de Thar. O marajá de Jodhpur casava-se com uma princesa de Jaisalmer. (Rajá significa rei e marajá, grande rei, embora alguns o traduzam por duque, soberano ou pequeno rei). A cerimônia parecia um conto de mil e uma noites.

* * *

Na foto acima, o marajá de Jodhpur entra na cidade de Jaisalmer. Ao fundo, entre um terreno sem vegetação e um céu sem nuvens, vê-se uma fortaleza destituída de adornos. Nada mais militar, em sua austeridade. Conta-se que ela jamais foi subjugada por inimigos, exceto uma vez, pela fome. Firme pedestal histórico para o desenrolar das magnificências cerimoniais, como o desfilar das plumas, que nos varões ficam bem sobre elmos austeros.

A essa cidade, que é uma espécie de capital do grande deserto hindu, chega o noivo em seu cavalo branco, com numerosos pares e parentes que, segundo a etiqueta nupcial, vão a pé. A figura equestre surge da penumbra como da noite dos tempos, tranquila e naturalmente como a aurora. Está recoberto de pedrarias e pérolas, e seu turbante dourado ostenta jóias e insígnias.

Conduzem seu cavalo e o seguem atrás os soberanos de Rajputana, cujos turbantes côr de ouro e rosa têm uma longa cauda como a refletir a tradição que os acompanha. Os turbantes de pessoas de outras categorias são gradativamente mais simples. O povo aplaude o cortejo e os marajás lançam moedas de ouro e prata.

O luxo e o deserto se encontram e ambos crescem em significado simbólico.

Um dos presentes é o senhor da cidade de Bundi, no Rajastão, por cujas portas saem seus elefantes a fazer o passeio matutino (última foto, embaixo). Poucas coisas há mais tipicamente hindus que esses enormes animais — pomposos, com seu pausado balanceio — transpondo os artísticos portais de uma cidade tradicional.

A iracunda algazarra dos elefantes bélicos de Aníbal ressoa ainda na História, bem como o cortejo de quarenta elefantes que precedeu uma das entradas triunfais de Júlio César em Roma. Evoca-se ainda o fato pitoresco de que na corte do imortal Imperador Carlos Magno brincava o elefante Abulabás. Nas crônicas francesas da Belle Époque recordam-se os elefantes da família de Broglie, no castelo de Chaumont, presenteados pelo marajá de Kapurtala, quando ali se hospedou.

Os elefantes — ornamento próprio do legendário ambiente hindu — não podiam faltar nas bodas de Jaisalmer, ao lado de camelos e cavalos.

Houve ainda lutas de tigre contra tigre, elefante contra elefante e tigre contra elefante, bem como a exibição de espadachins. Por fim, um festival de fogos de artifício que desenhavam no espaço noturno pavões reais.

* * *

Na última ilustração (à esquerda, embaixo), um cavaleiro rajput, bardo e genealogista da corte de Jaisalmer. Suas correias militares indicam o uso de cimitarra e adaga. Com a barba partida e solta mantém ele um costume de antiquíssima tradição. Herdou seus cargos e declama as nobres proezas dos antepassados rajputs, e com seus cânticos toca no mais fundo da imaginativa memória épica da corte e do povo.

Por isso mesmo poderá, talvez, dar-se conta de que vive em uma época pouco propícia às recordações e aspirações heroicas. E poderá sentir, com especial dor, o que significa o desvanecer das fábulas, nas quais os povos hindus encontravam sua alegria de viver.

Numa região desértica e de céu límpido, mas repleta de reminiscências, emerge das sombras o marajá de Jodhpur, como o nascer da aurora (acima)

Bardo da Corte de Jaisalmer (ao lado). Os cantares atravessaram trinta séculos, como as gerações de seus antepassados.

Os elefantes da Corte transpõem o portal da cidade de Bundi. Numa foto contemporânea, é focalizada cena milenar.